26 de novembro de 2016

Lamento ter acabado 2

De todas as coisas que acabaram ou rarearam, uma que lamento muito mais que outras, foi a amizade em tempo real, física, olho no olho,  tête à tête, ao vivo.

O companheirismo, a cumplicidade, a fidelidade, como existia antes das redes sociais, antes dos amigos virtuais aparecerem  e desperecerem como se fossem ilusionistas fazendo uma apresentação.

Eram amigos como nós, com virtudes e defeitos. Não, nunca tive amigo rubro-negro, agora me dou conta. Eu era muito seletivo. Brincadeirinha, o Bazhuni acho que era torcedor do time da mulambada, mas nunca conversamos sobre futebol. Ele gostava mesmo era de política.

Tive amigos de tal sorte, que chegavam a minha casa num domingo, na hora do almoço, de surpresa,  e sentavam para almoçar conosco. E ambos tínhamos telefone em casa.

Foi assim com Castelar e Francisca. Uma vez ou outra, saíamos os quatro para almoçar fora, para variar.

Foi também com o Castelar que fui assistir a um Vasco e Corinthians, no Morumbi, debaixo de um dilúvio e ainda tendo que conviver com rivalidades. E saímos de cabeça erguida, com o 2X2 do placar.

Na casa do Hermes, então em seu primeiro casamento, com Syrlea, e morando na Vila Pereira Carneiro, chegava sem avisar  para jogarmos botão ou uma partida de buraco. Ou simplesmente conversar sobre um livro ou um filme. Ele era casado mais eu ainda não.

Ellen de Lima
Os grupos gostavam e compartilhavam as mesmas coisas, os mesmos programas, como ir para a boite "Drink", ou a "Dominó", ou ao Teatro da Lagoa (assistimos três shows do Chico Anysio lá) e depois esticar na "Sucata". Helio e Marly Cury, José Carlos Senna e Hermínia, Mario Castelar e Emerita, gostávamos de ouvir Ellen de Lima, Helena de Lima ("Estão voltando as flores",) de Marisa Gata Mansa (e as canções de Antonio Maria).











E sempre era pedida a interpretação de “Minha namorada”, do Vinicius. Nos copos os indefectíveis Cuba Libre e Hi-Fi, porque além de mais baratos, o run e a vodka eram eram mais confiáveis.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Hi-fi_(bebida)

Muitos bailinhos (Românticos de Cuba na vitrola, ou Ray Conniff) na casa do Helio e Marly, cada um dos convidados levava uns salgadinhos e dançávamos e bebíamos até às 10 da noite (eles moravam em apartamento e havia horário de silêncio).

Tudo era motivo para nos reunirmos, conversar, dançar e beber. A mãe da Marly chegou dos USA. Ôba vamos festejar. O Alfredo está convidando ex-colegas de trabalho na Fiat Lux, para um encontro em sua bela casa em São Francisco. Tâmos dentro: Joel com Jailza, Álvaro com Iara, Zacarias Roberto de Mendonça e sua esposa, Lerruth Pinheiro, enfim muita gente.

Já em outros momentos organizávamos torneios de biriba, jogando em dupla: Alfredo e Nancy, Álvaro e Iara, Bonard com sua esposa cujo nome me escapa.

Certa feita, na casa do Álvaro Cardozo de Oliveira, o jogo acabou na madrugada e ficamos todos por lá mesmo. Homens num quarto, e mulheres no outro.

Na manhã seguinte todos com as caras amarrotadas, resolvemos fazer um cozido e lá fomos os homens para o supermercado e a quitanda, atrás de carnes e legumes. Enquanto as mulheres descascavam, os homens preparavam as carnes, cortando e escaldando.

Depois do almoço, regado a cerveja, fomos cada casal para sua casa jiboiar.

Essa amizade este tipo de relacionamento acabou. E acabou mesmo antes das mortes do Alvaro, da Nancy, do Fernando Palma, do Bonard, do Castelar, do Vantelfo Garcia, do Bazhuni, (com quem revezávamos, a cada 15 dias na casa de um de nós, para jantar e jogar biriba).

E em matéria de bem receber, com mesa farta e gostosa, os Bazhuni, de origem libanesa, eram mestres.

É verdade que nossos filhos cresceram, alguns de nós mudamos de cidade, como  o meu caso, e aí os interesses passaram a ser outros.

Nossa relação era tão sólida que quando eu e Wanda íamos mudar para São Paulo, fizeram uma festa de despedida para nós, no salão de festas de um  condomínio na Mariz e Barros, onde moravam o Castelar e o José Carlos Senna.

Gratas lembranças.


Outra coisa que acabou, nem sei porque, foi a aplicação de injeção nas farmácias. Os farmacêuticos aplicavam até em domicílio levando os apetrechos, estojo metálico com seringa e agulhas, que eram colocados no fogo para esterilizar.

Alguns balconistas, mais práticos, também aplicavam injeções. E, creiam, nem sempre as medicações haviam sido compradas lá.

E acabou a época em que o time do Vasco era formado por campeões mundiais.

Nunca mais tivemos Belini e Orlando (1958), formando a zaga de meio; ou Brito e Fontana (1970), também zagueiros de área. Nem jogadores que lembrem, mesmo de longe, Romário ou Bebeto. Ou o artilheiro Vavá, ou o meio campista Mazinho e até, pasmem, o Dunga.



Saudosos 1956/1957:


1987
Muitas outras coisas que acabaram deixaram saudades. Cada qual que faça reflexão.

10 comentários:

Jorge Carrano disse...

Logo mais, às 17:30 horas, muito sofrimento.

Até lá estaremos cantando, com sotaque lusitano:
"Não sei se vou ou se fico
Não sei se fico ou se vou
Se vou eu cá não fico
Se fico eu lá não vou"

Ficar na segunda divisão será pior do que três rebaixamentos e até mesmo do que os 7X1 na Copa 2010.

Poderá representar o fim do futebol, para quem foi muito apaixonado.

GUSMÃO disse...

E o Philippe Coutinho, não foi formado no Vasco?

Jorge Carrano disse...

Hoje, na caminhada na praia, nem uma viva alma com a camisa do Vasco. O que é raro.

Acho que está todo mundo inseguro.

É mesmo, Gusmão, esqueci, mas porque ele saiu muito jovem.

Riva disse...

Não dá para comentar o post, porque eu teria que escrever umas 200 páginas A4.

Foram tantas coisas legais que aconteceram comigo na infância e juventude, muitas já comentadas pelo blog .... muito parecidas com as relatadas acima.

Em relação aos amigos, não rolava nenhum tipo de seleção devido a times de futebol. Nem sacanagem de um com o outro nas derrotas. Sei lá, não lembro disso. Na minha tchurma do Pé Pequeno tinha muitos tricolores, alguns Daquele Time do Mal, raros vascaínos e alvinegros. E as amizades eram muito focadas no bairro onde morávamos.

Na faculdade, só se falava de estudar. Não fiz grandes amizades na faculdade, até porque comecei muito cedo a trabalhar, logo no 2º ano. E aí era trabalhar, estudar e namorar. E quando me formei me enterrei 18 anos em Cordovil, indo e voltando de carro. Tudo isso me afastou dos grandes amigos da infância e juventude.

Quando fui trabalhar no Citibank em 95, e passei a usar as barcas, foi um recomeço maravilhoso, reencontrando pessoas que não via há muito tempo. E de lá para cá tem sido assim, ainda bem. Todos os dias encontro alguém, conversamos, matamos a saudade de coisas antigas. Muito bom isso.

Ficam as recordações de coisas que nunca mais acontecerão. Estamos em um outro mundo, que nos isola também por insegurança, por comodidade, por causa da web, etc.

That´s all folks.




Jorge Carrano disse...

Riva, vamos corrigir a alça de mira. O foco é sobre coisas que acabaram para todo mundo, não só para cada um de nós pessoalmente.

Não se trata de coisas boas acontecidas conosco, individualmente.

Você poderia dizer que amizades não acabaram. Que você continua encontrando amigos, visitando e sendo visitado.

Eu teria que admitir que posso ter sido o responsável pela perda dos contatos pessoais. Mas que amizades assim ainda existem.

Nos dois posts falei de segurança pública (Cosme & Damião) falei de injeção nas farmácias, falei do serviço militar obrigatório, do trabalho de menores, etc.

Coisas que eu reputo que eram importantes e que desapareceram.

Você não precisa concordar com todas as minhas opiniões, e pode acrescentar outras tantas coisas quem a seu juízo eram legais e acabaram.

O Vasco foi um caso particularizado por causa da situação de hoje (rsrsrs).

Riva disse...

Hmmmm....dando um ajuste na alça de mira, coisas que todos nós perdemos :

- nossa segurança, e com isso perdemos :
- dormir com a casa aberta
- namorar na areia da praia à noite
- fazer lual em Piratininga
- andar pra onde quiser a qualquer hora, cinema, bar, viajar à noite

- educação .... crianças saem das escolas e não retornam mais

- qualidade na prestação de qualquer serviço de qualquer natureza

- mobilidade urbana

- saúde pública

- governantes e políticos honestos

- etc etc etc

Perdemos o BRASIL, e não sei se é possível reconstruir. Saco cheio de ser beija-flor levando gotinha dágua para apagar incêndio na floreta.

Freddy disse...

Para ficar apenas no primeiro parágrafo, direi que NADA mais é como antes. Teremos saudade de tudo que prezamos no passado, compensado decerto por coisas que nos aborreciam e que agora são fáceis. Compra-se de tudo pelo computador e a pesquisa de preços não gasta sola de sapato, além de ser realizada em âmbito mundial, on line.

O comentarista Guga Chakra, da Globo News, disse que depois de 2003 (ou seria 2006?) o mundo virou de pernas para o ar e tudo será vivenciado sobre uma plataforma que jamais existiu antes: a conectividade total e imediata. Ele desafia qualquer um a fazer uma perspectiva de como será o cotidiano daqui a 20 anos. Tá certo, para vários de nós isso não tem importância, mas para nossos filhos e netos tem.

Guga tem razão. Nossa experiência de vida é pífia, tudo que pensamos saber, seja em âmbito profissional ou de lazer, foi achatado num mil folhas virtual simplesmente... inútil para o futuro. É bem verdade que um mil folhas de chocolate recheado com verdadeiro creme chantilly da Doces Húngaros de Petrópolis é algo respeitável, mas creio que você, leitor, entendeu o que eu quis dizer.

Tenho pena de quem tem de preparar uma grade de matérias para educar nossos jovens hoje em dia. Falo de jovens em âmbito mundial, não o nosso atual caos brasileiro. Como um professor vai se comunicar com um carinha que consegue escutar música num ouvido, navegando na rede social e prestando atenção (?!) ao que o mestre diz lá na frente com o ouvido que sobrou... Sim, os nascidos depois de 2006 poderão fazer isso e muito mais, suas habilidades serão inacreditáveis para nós, dinossauros, que lamentamos ter perdido tanta coisa legal... E que para o mundo de hoje não faz a mínima falta...
Ou faz?

Jorge Carrano disse...

Freddy,
Estou saindo para ver se na Colonial tem o mil folhas de chocolate recheado com creme chantilly.

Mais uma razão para não assistir ao jogo do Vasco daqui a pouco (rsrsrs).

Riva disse...

Vi o jogo.
1º tempo sofrível do Vasco, podia ter sido pior.
Mas futebol é uma cx de surpresas, e em 4 minutos o Vasco virou logo na saída do 2º tempo.
Se acomodou, correu riscos, mas os resultados o favoreciam.

Grande vitória para um Maracanã bem cheio. Mas com esse time na série A, sei não, embora o nível esteja rastejante.

E o Náutico, hein ?

Hoje, 26-11-2016, faz exatamente 11 anos daquela histórica derrota para o Grêmio em casa. Eu estava em Floripa, e por acaso entrei numa loja de roupas e acabei vendo os 15 minutos finais daquele jogo que ficou conhecido como a Batalha dos Aflitos. E hoje, repetiu-se.

Estou feliz pelo Vasco da Matriarca Vascaína, de vcs Freddy e Carrano, pelo Rio ter os 4 grandes na série A. Um 2017 com grandes clássicos cariocas e brasileiros.

PS: E Pedro ABAD é o novo presidente do FLU. Espero que seja AGOOD.








Jorge Carrano disse...

Muito bom trocadilho, Riva.
Minha mulher, meus dois filhos e neto também estão contentes.
E aqui no blog também o teu xará Paulo Bouhid.