7 de novembro de 2016

Pirataria, clonagem, patentes e marcas

O sorvete nasceu com o nome Hébom, em 1970. Claro que era uma clara alusão ao sorvete mais conhecido e apreciado na época, o Kibon.


Era evidente que a General Foods, detentora da marca Kibon, na época, não iria se conformar. Foi para a Justiça, e depois de longa batalha nos tribunais, conseguiu que fosse proibida a comercialização do sorvete Hébom, com este nome.

Numa sacada criativa, bem original mesmo, e que funcionou, o fabricante mudou o nome para “Sem Nome”, numa referência ao fato de ter perdido o nome no Judiciário.


Este é um exemplo, e não estou julgando a ética e postura da empresa, de oportunismo. Não sei se a formulação do sorvete “Sem Nome” era diferente ou se havia, também, cópia do processo de fabricação.

Este e vários outros exemplos de clonagem, pirataria, de fórmulas e nomes comerciais, são encontráveis em vários ramos de atividade.


Para entrar no tema do título, vou relatar para vocês o que chamo genericamente de picaretagem.

A Matarazzo têxtil promoveu um concurso de desenhos de estamparia. Organizou um cocktail, na Sociedade Harmonia de Tênis (clube fechado e seletivo), para premiação dos vencedores dos desenhos que estampariam tecidos finos (teriam as matrizes, fotolitos, inutilizadas depois), um investimento alto como se pode avaliar, e que teve um final decepcionante.

Sociedade Harmonia de Tênis


O Harmonia era tão exclusivo que se murmurava à sorrelfa, durante o cocktail de lançamento de coleção dos tecidos Matarazzo, que o Silvio Santos, já empresário e rico, não poderia comprar título do clube por faltar-lhe berço (pedigree).

Vejam vocês que estes desenhos, que precisariam ser exclusivos, dado o público alvo, pois estampariam tecidos da mais alta qualidade, acabaram copiados por pequenas tecelagens, do sul de Minas. Pior, aplicados em tecidos de qualidade bem baixa, populares, como chita ou fustão.

Como reagiria a mulher que comprou um tecido caro, foi  ao atelier de um costureiro famoso para fazer um modelo exclusivo, e depois teve o dissabor de ver a sua estamparia no vestido da caixa do supermercado, com todo o respeito às caixas, que entram aqui como Pilatos no credo. Poderia ser uma bancária, uma funcionária pública, etc.

Os advogados estudaram um meio de coibir, mas acho que nunca tiveram sucesso.

Essa pirataria, nociva sob todos os aspectos, não ocorria apenas nas fábricas de tecidos.

Também em Laboratórios Farmacêuticos ocorriam muitas piratarias. Medicamentos tinham as suas fórmulas copiadas, eram lançados no mercado com nomes parecidos, que poderiam ser associados ao original e até as embalagens (os cartuchos ou caixinhas) eram bem parecidas.

Esses medicamentos eram chamados de “similares”. Nada a ver com os genéricos, que foram aprovados por lei e lançados muito depois. O espírito é parecido. São formulações iguais a de produtos de marca, desenvolvidos e lançados por laboratórios grandes (multinacionais), fruto de muitas pesquisas, e que são fabricados e comercializados por outros, sem nome comercial, e apenas com indicação do princípio ativo.

Se querem um exemplo bem simples, a Novalgina, marca registrada, pode ser comercializada como dipirona sódica, nome do sal principal.



Aqueles similares eram vendidos nas farmácias porque oferecidos como alternativa ao cliente, que ia com a receita indicando o produto original e o balconista oferecia este outro parecido, segundo ele de mesmo efeito.

Essa prática era conhecida como "empurroterapia". Esses laboratórios pagavam bônus aos farmacêuticos.

Quando você vê CDs piratas, de artistas famosos ou de jogos, vendidos nas calçadas a preços aviltados, acaba comprando e estimulando a pirataria, a clonagem. Acha que o mal é pequeno.

Mas saiba que você já comprou muito gato por lebre, e não foi nos espetinhos na porta do estádio ou na quermesse da igreja.

Bem feito! O esperto é imediatista e caminha a passos curtos.

4 comentários:

Riva disse...

Existem também os nocivos prefeitos genéricos, deputados genéricos, vereadores genéricos. Que mal fazem à sociedade.

Na cidade onde vivo e adoro (mas começo a pensar seriamente na Operação Êxodo Lusitano), temos também a Prefeitura Genérica, com todas as suas secretarias genéricas.

A única coisa por enquanto autêntica aqui na minha cidade é a bandidagem. São autênticos, com armas de guerra e de grosso calibre importadas, utilizadas nas guerras e conflitos mais acirrados do planeta. Esses são REAIS. Fazem parte da nossa "REALIDEZ" (realidade + estupidez).

Jorge Carrano disse...

Genéricos ou similares, Riva?

GUSMÃO disse...

Acho que o Riva se refere aos similares, já que os genéricos são legais, se bem entendi.

NO mérito estou de acordo, é assim Carrano ?

Jorge Carrano disse...

Sim e sim. A picaretagem era dos similares. Os genéricos são legais, no sentido que tem lei regulando.

No mérito o Riva tem razão. Alás que picaretagem na política é default.