3 de novembro de 2016

Do jantar no La Casserole para Ribeirão Preto

Falei de ter jantado com Ermelino Matarazzo, no La Casserole,  mas não disse  o porquê.

O Grupo Matarazzo era poderoso, presente em vários setores da economia, era, talvez, mais fácil listar o que eles não faziam ou não tinham, do que relacionar o que  produziam, vendiam  ou prestavam de serviços.

Além de tudo que fabricavam, geravam energia em algumas cidades, tinham um banco e um bem equipado hospital, na capital paulista. E uma enorme fazenda em Santa Rosa do Viterbo onde exerciam atividade agropecuária.

Quando ingressei no Grupo, contratado para  área de Recursos Humanos, na administração central, não tinha ideia do poderio dos Matarazzo.

Afinal, carioca e criado em Niterói, conhecia a família, de nome, por causa das colunas sociais e das feiras de moda (FENIT) nas quais pontuavam os tecidos fabricados pela empresa têxtil do Grupo.

Mas me surpreendi com o tamanho dos negócios, os mais diversificados, e verticalizados. Nunca saberei, mas talvez apenas o Votorantim se aproximasse em faturamento.

Falo de verticalização e explico. Se você planta e colhe algodão, quando o beneficia obtém muitos resultados, muitos produtos, sem prejuízo de um em favor de outro. Vejam que além de aproveitar o algodão para fiar e com os fios fabricar tecidos, você pode trabalhar os caroços, dos quais obtém óleo comestível e até a pasta resultante do esmagamento dos caroços, vira tortas que servem de alimentação para gado e suínos.

Dizem que do boi só se perde o berro, porque tudo o mais tem valor de mercado. Até mesmo seu excremento é um bom adubo. Assim, couro tem várias aplicações; os ossos e chifres têm valor como matéria prima para botões; até a gordura (sebo) é útil, eis que utilizada para fabricação de glicerina, que por sua vez é empregada na fabricação de sabonetes e alguns cosméticos.

Visto isso, nada de anormal, vou contar, como me contaram, duas bizarrices para uma família com título de nobreza. O título, por sinal, conferido pelo rei Vitor Emanuel III, e depois confirmado por Benito Mussolini.

Não conheci este conde, conheci o filho dele, Francisco Matarazzo Junior, que deu continuidade ao trabalho de expansão do pai, nos negócios da família.

Estive em seu sepultamento, tendo ido ao velório que aconteceu na mansão da Avenida Paulista. Nesta época trabalhava em Ribeirão Preto, na empresa têxtil do grupo.

Mas quando contratado, como já mencionei, fui lotado no escritório central, no bairro do Belenzinho. Pouco tempo depois, por causa da minha qualificação, fui remanejado para responder pela área administrativa, como gerente, na empresa mais nova do grupo, que atuava no ramo de supermercados, sob a denominação de Superbom.

E foi por causa desta empresa de supermercados, que rapidamente cresceu e se espalhou em São Paulo, Minas e Paraná, que fui jantar no La Casserole, porque o Dr.  Ermelino resolveu homenagear a direção da empresa pelo bom desempenho. Assim, foram convidados o diretor e os gerentes: administrativo, financeiro e comercial.

Tenho em meu currículo a inauguração de várias lojas de supermercados e hipermercados. Gente! É uma loucura.

Foram lojas em Maringá e Londrina, no Paraná; Uberaba e Uberlândia, em Minas;  e na capital paulista dois hipermercados grandes, nos bairros de Tuiuti e Água Branca  (Lapa), uma próxima do Corinthians, na zona leste,  e outra ao lado do Palmeiras, na zona oeste.

Para selecionar e, sendo necessário, treinar mão-de-obra para as inaugurações, muita criatividade, improvisação e um pouco de falta de ética.

Em São José dos Campos, por exemplo, como o prédio estava em construção e não havia como receber os candidatos a emprego, alugamos a garagem de uma casa bem próxima e além de um pequeno aluguel ao proprietário, pagamos o estacionamento para ele, em outro local.

As duas selecionadoras ainda ganharam, como cortesia e gentileza da dona da casa, o café da tarde (pão com manteiga e por vezes bolo). Gente muito educada e gentil ao extremo, de certo modo contentes porque seriam vizinhos de um moderno supermercado na cidade.

Tinha outra rede já instalada na cidade. E foi de lá que através de sedução e oferecimento de melhores salários, tiramos o pessoal com certa especialização, cujo treinamento demandaria tempo que não teríamos.

Falo de padeiros e açougueiros, principalmente.

Por isso um dia o Gelsomino, que era o diretor, convocou-me para ir até a sala dele porque teríamos uma reunião com a direção da rede concorrente chamada Peg-Pag (tinha loja no Rio). Eles telefonaram propondo uma reunião, porque estávamos tirando o pessoal da loja deles e queriam estabelecer um protocolo para evitar a continuidade da prática.

Foi uma reunião delicada, inicialmente tensa, porque de um lado o Gelsomino teria que admitir que a prática resvalava na falta de ética, mas por outro lado (internamente) estava feliz com o desempenho da nossa área de recursos humanos. Claro, estávamos resolvendo um problema que poderia complicar a inauguração.

Como o intuito aqui não é tratar de aspectos de ética e moral, e sim dar uma dimensão das dificuldades enfrentadas quando há necessidade de contratar mão-de-obra com alguma especialização, vou relatar um último caso que envolveu muita ação e tarimba.

A loja da Água Branca, ao lado do Parque Antártica, antigo estádio do Palmeiras, foi toda remodelada. Melhor, reconstruída, porque virou um imenso hipermercado, com dois andares (mezanino), vendendo praticamente tudo, desde gêneros alimentícios, passando por bazar, confecções masculina e feminina, eletrodomésticos, enfim seria quase um shopping ou loja de departamentos.

Aí surgiu um problema. Em algumas lojas já tínhamos padarias e lanchonetes, mas em nenhuma tínhamos sorveteria. E ninguém da área comercial entendia de sorvetes. Solução? Importar um sorveteiro do Rio de Janeiro. Na época os sorvetes tipo italiano faziam o maior sucesso, e foi em Copacabana que conseguimos encontrar um disposto a ir para São Paulo, com casa, comida e roupa lavada, além de um razoável salário, para treinar pessoal e gerenciar a sorveteria.

Falei de duas bizarrices, mas não contei quais eram. Como está ficando muito grande esta postagem e como certamente voltarei à minhas aventuras na área administrativa, vou direto às duas coisas estranhíssimas, pouco verossímeis.

Ambas envolvendo a condessa Mariangela, esposa do conde Matarazzo ( o segundo). Uma é que ela mantinha uma loja de tecidos (de boa qualidade), chamada "Étoile", na Rua Augusta, tradicional da cidade, com comércio elegante na época, onde havia um jardim de inverno, decorado com bela mesa de armação metálica e tampo de vidro, com cadeiras estofadas, para ela poder, vez ou outra, tomar chá com amigas.

A outra é que a empresa do grupo que fabricava sabonetes, passou a fabricar, também, velas coloridas e de diferentes tamanhos, porque a condessa gostava de decorar a mesa de refeição com convidados, na mansão da família, com vários castiçais e velas especiais. Vender mesmo, como produto do grupo, não vendia nada. Não havia mercado para aquele produto.

Outro dia escreverei sobre a mansão, o que Luiza Erundina pretendia fazer com ela, quando foi eleita prefeita de São Paulo, e a solução encontrada pelo meu amigo, engenheiro, espanhol de Valencia, cujo nome preservarei, da diretoria do grupo, para abortar o plano da prefeita então petista. 

Nota do editor: sobre São José dos campos clicar em
http://cclbdobrasil.blogspot.com.br/2011/10/como-nasceu-sao-jose-dos-campos.html

6 comentários:

Kayla disse...

Aiaiai, Jorge. Que susto você me deu!
quando vi - jantar no Casserole - fiquei bege ou bolada, como fala meu sobrinho. Pelamordedeus!! Não falem em comida. Ashuashuashua.

Jorge Carrano disse...

Não mencionei o cardápio, Kayla. E nem o vinho, exatamente para não judiar.

Não sei hoje, mas na época era um bom restaurante. O Dr. Ermelino foi atendido pelo Roger. Eram velhos conhecidos.

Achei na rede:

http://www.lacasserole.com.br/home.php

GUSMÃO disse...

Acessei. Não conhecia nem de nome.

Mas conta o que seu amigo engenheiro aprontou para cima da Erundina.

Jorge Carrano disse...

Gusmão,

Erundina era, ou é (sei lá), uma mentecapta, esquerdista daquelas que acham que empresário é inimigo de empregado, só pensa em escravizar o trabalhador.
Sabe a velha rivalidade capital x trabalho? Pois é, coisa rançosa, arcaica, discurso esfarrapado de quem não se atualiza. Tem gente que até, e parece ser o caso do Lula, tem rancor e ódio no coração.
Pois bem, Erundina queria desapropriar a mansão dos Matarazzo para lá instalar, acredite, um museu do trabalhador. Na época eu era trabalhador. Ainda sou, apenas agora autônomo. Não queria museu e nem trabalhador nenhum. E num prédio bem acabado e localizado em área nobre da cidade.
Só para argumentar, digamos que o Conde tenha sido um mal empregador. Transformar a casa dele em museu iria redimir seus pecados, punir seus erros?
Claro que esta coisa seria uma bandeira do PT. Idiotice a ser usada como propaganda enganosa.

Bem, o que meu amigo fez, na tentativa de inviabilizar a cretinice, só posso contar se o crime prescreveu (vou verificar).

O imóvel ainda era da família, por isso ele teve a ideia.

GUSMÃO disse...

Caramba! Só rindo mesmo.
Recebi o e-mail com a explicação. Quero distância deste seu amigo.

Jorge Carrano disse...

Não é mesmo?

Mas se fosse você gostaria de ter aproximação com ele. É dono da melhor adega particular que conheço. E olha que conheço algumas. E sabe receber com fidalguia. Tem prazer em receber.