15 de novembro de 2016

As trocas

Você está no supermercado, vai  pagar as compras e se depara com algumas filas. Dá uma olhada e opta pela que, aparentemente, está menor.

Notem que escrevi, aparentemente menor. Mas não tem controle sobre variáveis. Ou pelo menos sobre todas. E muitas vezes ocorre da fila ao lado, que você desprezou, andar mais rápido.

Você considera a hipótese de mudar para aquela que parece fluir mais rapidamente. Deu-se mal. Arrependimento não mata, porque se matasse sua hora havia chegado. Era só encomendar o caixão.

O que você não contava é que na nova fila, que o seduziu pela velocidade no atendimento, começariam a surgir problemas inesperados. Uma consumidora tinha um produto não etiquetado, ou etiquetado de tal sorte que a máquina não fazia a leitura do código de barras.

A operadora de caixa aperta uma campainha. Alguns minutos depois surge uma outra empregada do supermercado, com ar enfadonho, que é solicitada pela operadora de caixa a ir até a gôndola para verificar o preço, ou, quem sabe, trazer outra embalagem que tenha a etiqueta íntegra, sem danos.

Alguns minutos de espera e a empregada volta com outra embalagem. Agora sim, vai andar rápido. Qual o quê. Totalizada a compra, a consumidora, antes de digitar a senha do cartão na maquininha, resolve conferir a fita da máquina com as mercadorias e preços.

Você faz um muxoxo, ela ouve, e para a conferência para explicar que certa feita ela viu um preço do produto na prateleira e na hora de pagar, na máquina foi registrado outro valor, bem mais caro. Daí que todo cuidado é pouco.

A fila onde você estava está andando bem. Você verifica que o cidadão de blusa xadrez, atrás de quem você estava, está quase chegando para atendimento. Pô, deveria ter ficado lá (pensa com seus botões).

Mas já irá mudar de ideia e achar que fez bem um mudar, porque a mulher que acompanhava no visor, a medida que os preços eram registrados, pediu a operadora de caixa, para tirar da esteira rolante do check-out um pacote de biscoito e um pote de sorvete porque a conta estava ficando além do valor que ela podia pagar.

O velho, na outra fila, estava atrapalhado com o abrir as sacolas plásticas. Não conseguia, e a operadora de caixa teve que parar o atendimento e ajudá-lo. Não exitem mais os "empacotadores", meninos (e algumas poucas meninas) que ficavam ali na frente dos caixas, ajudavam a empacotar as mercadorias e muitas vezes ajudavam os clientes a levar as sacolas até o veículo no estacionamento. Levavam em carrinhos da própria rede de supermercados, que traziam de volta.

Aqui faço uma pausa na história das trocas, para criticar os hipócritas em geral, graduados ou não (psicólogos, pedagogos, educadores, sociólogos), que alegavam que os supermercadistas estavam escravizando as crianças. Como assim escravizando? As crianças estavam, honestamente, ganhando dinheiro que ajudava no sustento da família. As gorjetas, por si só, já valeriam o tempo empregado pelos menores naquela tarefa, não tão penosa.

E digo que se fossem só as gorjetas e já compensaria trabalhar como empacotador, porque em grandes redes, inclusive na que trabalhei, os menores eram empregados registrados, com salário fixo, usavam uniforme e tinham ticket refeição.

Mas os hipócritas aos quais me referi, quase todos de esquerda, filósofos de araque, criticaram tanto que os menores foram demitidos.

Graças àqueles sociólogos de meia tigela, eles agora praticam pequenos furtos no comércio, ou vendem balas nos sinais de trânsito. Ou são explorados por maiores de idade (muitas vezes os pais), que ficam à distância recebendo as moedas que recebem, por esmola ou porque fizeram malabarismos com bolinhas de frescobol.

Voltando às filas, abro outro parêntesis para comentar que também em rodovias que têm mais de uma pista de rolamento o fenômeno ocorre. Você muda de faixa e aquela na qual você trafegava passa a andar mais rapidamente.

No supermercado pode acontecer da operadora de caixa não ter troco. Você tem que esperar que alguém do setor  providenciei dinheiro trocado. Ou dá erro de leitura no cartão de crédito do cara que estava na sua frente. PQP, ele esqueceu a senha. Na terceira tentativa frustrada, complicou de vez.

Bem, eu passaria aqui horas relatando situações que podem influir na andamento mais ou menos veloz de filas. Além do estado de humor das operadoras (noite mal dormida, menstruação, está na hora do almoço, etc).

Mas a moral do post de hoje é o seguinte: quando você troca uma via velha (e conhecida) por uma nova, você sabe como começa mas não sabe como termina.


Ou, no dizer italiano, com o mesmo sentido, em outras palavras:

Chinês poliglota, replicando provérbio italiano


Notas do autor:
1) Um exemplo de sucesso (será?) na troca de caminho conhecido pelo novo e desconhecido, foi o de Colombo. (Cercando una nuova  strada per le Indie, Cristoforo Colombo ha trovato qualcosa  che non si aspettava, l’America)

2) Imagens colhidas na rede mundial de computadores, via pesquisa Google.

10 comentários:

Kayla disse...

Meninos eu adoro me esconder, pra vocês sentirem minha falta. Ashuashua
Ah, Jorge. Tô querendo um aplicativo que me mostre o melhor caminho nessa parada de decidir entre o velho conhecido, confortável e estável pela novo excitante, desconhecido e instável.
Quando eu escrever minhas memórias vou contar pra vocês o que aprendi. Minha vó dizia pra não trocar o certo pelo duvidoso.
Só que não foi o que fiz. Ashuashuashua

Jorge Carrano disse...

Conselho de avó não se ignora.

Riva disse...

Muito bom o post, realidade pura, engraçado como hoje mesmo vivenciei quase tudo isso.

Como sempre saímos os dois juntos, eu e a Matriarca Vascaína, nos dividimos em 2 filas para ver quem teve mais sorte .... rsrsrsrs. As chances melhoram !

PS1 : Kayla, vou desenvolver esse App para o seu celular. Customizado rsrsrs.

PS2: Kayla, adora essas brincadeiras de pique-esconde.

PS3: Kayla, arrisque-se sempre. E não olhe para trás.

GUSMÃO disse...

Que susto, Carrano.
Quando li o titulo pensei que você ia falar de swing, o troca-troca de casais.
Não seria melhor colocar o titulo "As mudanças" ?

Jorge Carrano disse...

Ô Gusmão, esse troca-troca você discute lá no Twitter.

Quanto ao título do post, se coloco "As Mudanças" provavelmente você iria pensar que o tema era a Lusitana (O mundo gira e a Lusitana roda).

Jorge Carrano disse...

Riva,
Na linha de seu conselho, no comentário para a Kayla, lembrei de uma frase (filosofia de para-choque de caminhão):

"Aquele que não se movimenta não percebe a corrente que o aprisiona."

Kayla disse...

Riva querido, você me entende. Kisses e mais kisses .

Ana Maria disse...

O texto reflete a realidade. Outro terror são as filas prioritárias. Parecem mais castigo que bonus.
Acabei de saber que o ex governador Garotinho foi preso. Isso é um absurdo. Garotinhos devem ser apreendidos. Rs
Kayla, sua loka, tome juizo!!! Rsrs

Jorge Carrano disse...

Meninas, que bom tê-las aqui.

Riva disse...

Muito bom tè-las de volta mesmo hehehe

PS: Ana Maria e Kayla, ainda não sei o que vou ser quando crescer.