Antes das Escolas de Samba ganharem o prestígio e a popularidade que têm hoje, a grande atração no Rio de Janeiro, em matéria de desfiles carnavalescos, eram as Grandes Sociedades. Tinham sócios e simpatizantes.
As sedes ficavam localizadas no centro do Rio (acho que algumas ainda sobrevivem e estão por lá) e num passado mais recente realizavam animados bailes em seus salões. Para quem não conheceu ou sequer ouviu falar: Embaixada do Sossego, Pierrôs da Caverna, Tenentes do Diabo (a preferida de meu pai), Democráticos, eram algumas delas.
Os desfiles, ao som de marchas lentas, tinham como grande atração os carros alegóricos, ricamente decorados, sobre os quais ficavam mulheres bonitas, em maiô, algumas das quais vedetes conhecidas.
Antes da industrialização dos desfiles das Escolas de Samba, elas desfilavam na Praço Onze, e eram compostas somente por pessoas das comunidades. Não tinham penetras e o negócio era samba no pé. Bons sambas de enredo, com andamento bem característico, sem a batida acelerada e frenética de hoje, davam suporte aos desfiles.
Lembro que ir a um ensaio do Salgueiro, em 1960, só foi possível graças ao Salgueirinho, que era o contínuo do banco onde trabalhei e membro da comunidade.
Pude acompanhar a transição das sociedades carnavalescas para as escolas de samba, em matéria de prestígio, popularidade, luxo e riqueza nos desfiles. Aquelas tornaram-se decadentes e as escolas foram conquistando espaço, ganharam uma passarela especial e seus desfiles alcançaram fama internacional.
Onde entra a Portela, título deste post, nisso tudo? Bem, eu era simpatizante da Democráticos, que era uma das mais importantes sociedades carnavalescas. A sede ficava na Rua do Riachuelo, no centro do Rio, onde brinquei bons carnavais na segunda metade dos anos cinquenta, (sem trema, como querem os filólogos).
As cores da Democráticos eram o azul e o branco. Dai que a Portela tem as mesmas cores e, além de tudo, era a campeoníssima dos desfiles, ainda não oficiais. Ganhava um ano sim e outro também. Por isso até hoje, passados tantos anos sem título, ainda é a maior vencedora de carnavais. Sem falar, não obstante a importância que tinha - como de resto ainda tem - uma ala de compositores de primeiríssima grandeza. Monarco, Paulo e Noca da Portela, Casquinha e um ainda menino Paulinho da Viola, compositor de um dos melhores sambas de enredo de todos os tempos (1966): “Memórias de um sargento de milícias”, cuja letra é absolutamente fiel ao texto do único romance de Manuel Antônio de Almeida, com o mesmo título.
Martinho da Vila gravou em um de seus CDs este belíssimo samba do Paulinho. Aliás, ambos vascaínos.
Então, a passagem Democráticos/Portela deu-se por semelhança das cores e por serem grandes campeãs. Torcer para o melhor é sempre mais fácil. Pena que os tempos mudem. Para o bem e para o mal.
Assim, tanto o Vasco quanto a Portela não têm, no momento, a expressão que tinham nas décadas de quarenta e cinquenta, quando tive que fazer minhas opções.
Fique claro que não me arrependo nem um pouco. Como diz o hino do América (segundo preferido nos corações de outras torcidas): “temos muitas glórias surgirão outras depois”.
Vale ressaltar que Acadêmicos do Cubango e Unidos do Viradouro, só tinham prestígio em Niterói, onde se alternavam nas vitórias a cada desfile.
26 de novembro de 2009
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