E eu e Wanda, casados há sessenta anos, mais de meio século, se somados os 36 do século XX aos 24 do século XXI.
Dissenso, para usar vocábulo que entrou na moda por causa do voto do ministro Fux, por certo aconteceu, na verdade no plural pois foram alguns; diferentes gostos culinários também estão presentes, sempre nos limites do respeito, da sinceridade e da afeição.
Fazendo jus à associação de ideias contidas no título, já que falei do ministro Fux e de seu voto divergente, quero acrescentar que se fora eu, numa petição, num arrazoado, ou contrarrazões recursais que colocasse no papel tantas incongruências o magistrado decretaria a inépcia ou a parte contrária açoitaria minha peça.
A pior (será?) foi absolver mandante e condenar mandado. É notório que ajudante é quem ajuda. Pois muito bem, o major que se valeu do instituto da "colaboração premiada", era "Ajudante de Ordens" do Presidente da República, ou seja, cumpria ordens.
Entretanto S. Exa. ministro do STF, condenou quem cumpria ordens (ajudando, como ajudante que era) e absolvendo quem mandava.
Duvido e faço pouco que alguém justifique, à luz do Direito, da razão, do senso comum, do consuetudinário, esta compreensão.
Voltando aos meus sessenta anos de casado (com a mesma mulher), recorro a excerto de um texto que recebi, via WhatsApp, encontrado no Instagram, que emoldura perfeitamente nossa relação.
O contexto é o de uma mãe respondendo a indagação de seu filho se ainda amava o seu pai, mesmo depois de sessenta anos de casados.
A resposta (parte dela), é que pretendo subscrever, com a devida vênia do desconhecido autor:
“Às vezes me perguntas se ainda estou apaixonada por ele. Sorrio, não porque a pergunta é tola, mas porque a resposta não é simples. Como dizer sim — mas não como antes?
Já não é com borboletas no estômago nem fogos de artifício. É com raízes.
O amor, depois de tantos anos, já não é um furacão que te arrebata. É o chão firme que te sustenta. Não acelera o coração — acalma a alma. Não faz as mãos tremerem — dá força para levantá-las todos os dias.
Já não existem surpresas, mas existem rituais: o café tomado à mesma hora, as pequenas discussões sobre toalhas, o cobertor puxado quando o outro espirra. Não parecem grandes coisas… mas são.
Hoje, não espero gestos grandiosos. Espero que ele perceba quando minhas costas doem, que me abrace quando desmorono, que não me deixe sozinha nem quando eu mesma não sei lidar comigo.
Amar depois de uma vida inteira juntos não é como nos livros. É como ter uma língua secreta que só nós falamos. É entender o peso de um olhar cansado, a pausa no silêncio, o respirar ao mesmo tempo.
Então, sim. Ainda estou apaixonada por ele. Mas não pelo encanto do começo. Estou apaixonada por tudo o que construímos. Pela paz de saber que, em qualquer tempestade, ele ainda é — e sempre será — o meu abrigo.”
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