6 de abril de 2017

O golpe da lista fechada

Leiam esta criativa parábola sobre o projeto de eleição com lista fechada, que visa perpetuar as mesmas moscas sobre o dejeto criando ademais um escudo protetor para os indiciados na Lava-Jato.

"- Garçom, me veja o cardápio, por favor.


- Nós não trabalhamos mais com cardápio, senhor.



- Vocês usam uma tabuleta, você me fala os pratos?



- Não, senhor, trabalhamos agora com lista fechada.



- Como assim, "lista fechada"?



- O senhor escolhe o restaurante (no caso, escolheu o nosso), e o nosso gerente escolhe o que o senhor vai comer.



- E o que é que eu ganho com isso?



- O senhor não precisa perder tempo escolhendo. 



- Mas como vou saber o que vou comer?



- O senhor come o que o gerente achar que o senhor deve comer.



- Mas baseado em quê, se ele não sabe do que eu gosto.



- Baseado nos critérios dele. 



- Que são...



- Ele pode querer que sejam os pratos mais caros. Ou os que usam ingredientes que estão com prazo de validade perto de vencer. Ou os que já estão prontos. Ou os que dão menos trabalho. Isso não cabe ao senhor decidir. 



- Então eu me sento e...



- Senta, come o que o gerente quiser, e paga a conta. 



- E se eu não gostar do prato?



- Nós não trabalhamos com essa possibilidade, senhor. Gostando ou não, vai pagar a conta do mesmo jeito. 



- Bem, acho que vou então para outro restaurante...



- Todos agora trabalham assim, senhor.



- Mas quem decidiu isso?



- O Sindicato dos Donos dos Restaurantes. 



- Pois então eu não vou mais comer fora. Vou comer em casa.



- Não tem problema, senhor. Posso trazer a conta?



- Que conta? Não vou comer nada...



- A do Fundo Suprapartidário dos Restaurantes. Comendo aqui ou em casa, o senhor tem que financiar os restaurantes. 



- Por que é que eu tenho que financiar vocês?



- Porque se não financiar por bem, nós vamos conseguir o financiamento de outra forma, que é assaltando o senhor - um método também conhecido como Caixa Registradora Dois. O senhor pagar diretamente é muito mais civilizado, não acha?



- E quem me garante que eu pagando, vocês não vão me assaltar do mesmo jeito?



- Ninguém, senhor. Ah, não aceitamos cartão. E os 10% são obrigatórios."

2 comentários:

Ana Maria disse...

Típico de ditaduras. O grande chefe sabe o que é melhor para o país.
E nas nações em que os cidadãos consideram desagrádavel o exercício do voto, e que delegam aos ativistas a defesa de seus interesses, cria-se o espaço para surgimento dos déspotas.

Jorge Carrano disse...

Bem-vindo Claudio Tavares.

Se e quando queira opine, sugira, critique.