17 de dezembro de 2016

Cinquenta e dois anos

Quando nos conhecemos cinqüenta era escrito assim, com trema. E em Cachoeiro de Itapemirim não havia rede telefônica.

Grande trecho da estrada, a partir de Campos, da divisa entre os dois Estados (RJ e ES), não tinha asfalto e a viagem se tornava ainda mais penosa. Mas antes isso do que viajar de trem. Indo de trem, a gente tinha uma ideia aproximada de quando ele partiria, mas nem suspeitava a que horas chegaria à estação de Cachoeiro. Poderiam ser doze horas ou mais, de viagem.


As meninas escreviam para as emissoras de rádio, no Rio de Janeiro, e pediam fotos de seus artistas favoritos, principalmente cantores, como Francisco Carlos (isso mesmo, conhecido como “el broto”) e Anísio Silva.

Quem nunca ouviu falar, pode acessar os links abaixo:





Wanda ainda se lembra do endereço da rádio Tupi. Av. Venezuela, 43.

As fotos, autografadas, faziam sucesso, como no caso do Francisco Carlos, embora fosse baixinho. Mas às vezes causavam decepções, como no caso do Anísio Silva, cujo tipo físico não agradava  a todas.

Enquanto isso o serviço de alto-falantes da Praça Jerônimo Monteiro, principal da cidade, anunciava que Jorge e Wanda formavam um belo casal. Enquanto passeávamos de mãos dadas. Cidade pequena todo mundo conhecia todo mundo, inclusive os forasteiros mais habituais naquelas plagas. Assim como eu.

Praça Jerônimo Monteiro
As mulheres eram muito, muito mais românticas. Ainda sonhavam com príncipes encantados. E estes príncipes definitivamente não moravam em Cachoeiro. Isto se deve ao fato de que não havia rapazes em idade de namorar. Eles saiam da cidade para cursar faculdade em Vitória, Rio ou Niterói. Mas os pais não deixavam que as filhas fossem morar em outro lugar longe de casa.

Os rapazes retornavam a cidade noivos ou até casados e as moçoilas dependiam de excursionistas, visitantes ou parentes de vizinhos que iam a cidade vez ou outra.

Foi numa dessas excursões de estudantes que nos conhecemos. E quando ela veio a Niterói, também em excursão, e voltamos a nos encontrar, começamos o namoro que durou dois anos, quando então ficamos noivos, por mais dois anos, e só então nos casamos, em duas cerimônias: a civil, com Juiz de Paz, na casa de meus sogros, às onze horas da manhã,  e a religiosa na igreja de N. S. da Consolação, às dezoito horas.

Gente, este casamento ocorreu há cinquenta e dois anos. Mas não notei o transcurso de todo este tempo. Mais de meio século de vida em comum.

Nenhuma outra mulher seria tão parceira, tão cúmplice, tão devotada, tão amiga. Sempre solidária me acompanhou sem um resmungo, sem uma lamúria, nas várias mudanças de endereço, cidade e estado.

Esteve, como está, ao meu lado, nos momento de alegria e de tristeza como no juramento que fez diante do padre, no altar.

Tivemos treze endereços fixos de residência e três temporários, em flats.

Deu-me dois filhos e muitas alegrias.

O que posso dizer sobre nosso casamento, que seja algo de minha cabeça, de minha emoção? Não sei... Dizer que a amo seria chover no molhado. Digo com frequência. Muitas vezes telefono só para isso: I just called to say I love you.

Socorro-me em alguém que ouvi, há muito tempo, dizendo que casaria de novo com a mesma mulher.

Eu casaria com Wanda, de novo. 

12 comentários:

Freddy disse...

Bela declaração.
Felicidades ao casal, que assim se mantenha por todo o sempre.
Abraços
Freddy

Jorge Carrano disse...

Até que a morte nos separe, como juramos no altar (rsrsrs).

Temos, na verdade, computados os 4 anos de namoro e noivado, 56 anos de parceria.
No dia 31 próximo completaremos 52 de casados. A comemoração dos 50 foi presenciada por você e Mary, para nossa alegria.

Obrigado pelo votos.

GUSMÃO disse...

Parabéns Carrano.

Que esta união perdure ainda por muitos anos.

Por que não fui convidado para as bodas de ouro (he he ehe he)?

Jorge Carrano disse...

Pois é, Gusmão. Quando eu nasci a expectativa de vida era inferior a 52 anos.

Acabei completando 52 de casado. E ainda quero mais.

Riva disse...

Parabéns, caros Jorge e Wanda. Uma parceria sobre sólidas fundações, construída com os valores e conceitos de família. Como nossos pais e avós.

Desejamos ao casal muita saúde e muitas alegrias pela frente.

PS1: gosto muito desse número, pois nasci em 52. E do 2 em especial, pois nasci em 52, num dia 2, numa 2ª feira às ..... 2 horas da manhã. rsrsrs E sou geminiano !!!!!

PS2: e hoje tem Manchester City x Arsenal

Bom domingo a todos.

Jorge Carrano disse...

Obrigado Riva.

Esse ano não haverá comemoração especial, apenas um encontro intimista de família (com licença dos poetas).

Quanto ao futebol, que vença o melhor ... o Arsenal (rsrsrs).

Ana Maria disse...

Eu sou testemunha deste casamento, desde o namoro até os dias de hoje. Lembro com clareza da ida a Cachoeiro com meus pais e irmã, com o intuito de conhecer a família da namorada do Jorge. Claro que papai não nos avisou de seus planos. Nas férias , saímos pela estrada, de carro aparentemente sem rumo, e fomos parando pelo caminho, em Cabo Frio, Campos e finalmente em Cachoeiro do Itapemirim, onde conhecemos os pais e os irmãos de Wanda.

Cerca de dois anos depois, já sem papai, voltamos de trem para o casório. Jorge conseguiu deslocar parte de nossa família materna para esta longa e cansativa viagem em pleno 31 e dezembro.
Daí pra cá, meu convívio com o casal e filhos foi constante e posso atestar a parceria e afeto que os mantém unidos até hoje. Isso é raro e por isso os parabenizo.

Jorge Carrano disse...

Gente, nesta época a Ana Maria estava na flor da idade. Uma mulher bonita, elegante, culta e inteligente.

Ao cabo deste 52 anos perdeu parte do viço (inevitável) e da elegância (engordou um pouquinho), mas manteve intactas a cultura e a inteligência.

E agora, tadinha, está acidentada.

Com efeito meus pais não acreditaram quando disse que estava namorando uma moça de Cachoeiro de Itapemirim e que pretendia pedir a mão dela em casamento.

Esperaram o momento certo para, sem minha presença, viajar atá Cachoeiro para conhecer minha namorada. Eu estava em Volta Redonda disputando uma olimpíada estudantil.

Quando eles regressaram da viagem e me disseram que estiveram no Espírito Santo levei o maior susto.

Como meu sogro era bastante conhecido na cidade, foi fácil para eles conseguir quem indicasse onde morava o Campanha. E na cara de pau foram até lá.

Deixei a parte mais estarrecedora para contar aqui no final: eu não tinha sequer um emprego. Não trabalhava. Só estudava.

Foi um ousadia. Uma irresponsabilidade. Que acabou dando certo graças a mulher que elegi.

Jorge Carrano disse...

E não venceu o melhor, Riva.

Coisas do futebol.

Estava com pena do Guardiola. Outra derrota e seria o fim para ele, na Inglaterra, onde vem sendo muito questionado.

Gastou muito dinheiro para pouco resultado, até o jogo de hoje.

Freddy disse...

Caraca...
Mulher não gosta que lhe apontem as mazelas da idade.
Se eu fosse a Ana dava um gelo de uns 3 meses no blog !! No mínimo !

Riva disse...

3 meses se tiver bom comportamento, porque a pena deve ser de uns 48 meses !!! rsrsrsrs

Jorge Carrano disse...

Nem Renan Calheiros cumprirá pena tão longa (rsrsrs).