No século passado eu estava Gerente de Recursos Humanos numa multinacional.
Atuava no Departamento
Jurídico, ainda recém-formado, voltado para a área trabalhista.
A Deloitte foi contratada
para redesenhar e modernizar a gestão administrativa. Entre outras medidas
sugeriu a criação de uma área de recursos humanos e implantar novos conceitos
de recrutamento e seleção de pessoal; treinamento e desenvolvimento; administração
de cargos e salários (fringe benefits)
e atividades correlatas, inclusive basicamente as funções de um departamento de
pessoal.
Desta área de
administração de recursos humanos chegando ao Brasil, em algumas empresas
denominada como “Relações Industriais”, nada ou quase nada eu sabia.
A empresa onde trabalhava
resolveu investir em mim e patrocinou cursos no IAG, da PUC, e básico de
administração na Fundação Getúlio Vargas, entre outros.
Bem, isto não é um curriculum,
pois aos 84 anos, já aposentado, não pretendo voltar ao mercado de trabalho.
Tampouco é um reconhecimento e agradecimento à empresa que acreditou em mim e
investiu na minha formação, porque isto já o fiz pelos meios próprios e
adequados.
Este introito é para
comentar a especulação, no mercado, de que o Grupo JBS, gigante multinacional do segmento alimentício pretende adquirir o
Bradesco. Isto mesmo, um dos maiores bancos do país.
Agora, para esclarecer
o contexto, devo comentar um fato que será novidade para muita gente,
principalmente das novas gerações.
No passado, até os anos
1960, o pagamento dos salários era feito em espécie, através de envelopes que continham
o nome do empregado e os dados referentes a remuneração e encargos incidentes deduzidos.
Era uma operação cara,
trabalhosa e com riscos de segurança. Era sacado o total pela tesouraria e um
empregado envelopava, segundo a folha de pagamento rodada em máquina de
tabulação holerite (Hollerith), que
virou sinônimo de pagamento.
Algumas instituições financeiras passaram a oferecer o serviço, creditando diretamente em conta corrente de cada empregado o valor líquido da remuneração.
Inicialmente houve uma certa
resistência à sistemática, houve até litígio judicial, mas acabou por
prevalecer o bom senso.
O empregado abria uma “conta
salário” e movimentava como uma conta corrente padrão através de cheques.
Agora chegou o momento
de juntar as pontas.
A sede da empresa
mencionada lá no início, era na Rua Visconde de Inhaúma (próximo ao Largo de Santa
Rita) e nas duas esquinas do quarteirão existiam bancos: numa o então denominado
Banco Brasileiro de Descontos (agora Bradesco) e na outra esquina o banco Irmãos
Guimarães que desapareceu na esteira de fusões, incorporações e quebras.
Este último era o predileto
dos ceboleiros (atacadistas) da Rua da Quitanda, ali próxima.
Quando chegou o momento
de escolher em que banco seria depositado o pagamento de nossa folha salarial e
dos honorários da diretoria, sugeri, por competência funcional, o Bradesco.
Era um banco novo, com
atendimento diferenciado. Bem treinados, gentis e atanciosos os empregados
foram os responsáveis pela escolha.
Eram tempos de Amador
Aguiar, lendário banqueiro que começou na instituição como bancário lá por
baixo, em funções modestas, e virou controlador acionário.
Agora este por enquanto
boato, ou rumor, de que as herdeiras pretendem vender o controle para o Grupo
JBS, deixa o mercado financeiro
apreensivo.
Estou preocupado porque
eles não são do ramo, embora seja um conglomerado multinacional, e sou cliente do
Bradesco desde os anos 1960.
Já mudei de cidade,
algumas vezes, e mudei de agência, claro, mas sempre fiel ao Bradesco.
Lembro de uma surrada
piada, hoje esquecida. Havia um pipoqueiro no porta de uma agência do Bradesco.
Um vendedor ambulante procurou o pipoqueiro para lhe pedir dinheiro emprestado.
Este retrucou que fizera um pacto com Amador Aguiar. Ele não emprestaria
dinheiro e o banco não venderia pipoca.
Um comentário:
A empresa onde trabalhei era o Cia. Fiat Lux, de Fósforos de Segurança.
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