11 de abril de 2023

Vocabulário

Muito constrangido, afinal tinha "apenas" (ou já?) 12 anos de idade e cursava, ainda, a segunda série do ginasial, quando esperei meu pai chegar, à noite, para esclarecer uma suspeita e curiosidade.

Disse para ele que ouvira, dentro da sala de aula, da boca de um colega, uma palavra que eu achava que seria feia, desrespeitosa com a professora, que ainda estava em sala.

Hoje, este fato não  seria nem engraçado, todas as crianças sabem que bucéfalo nada tem a ver com buceta.

Ora, acabei por antecipar o nome "feio" que eu queria esclarecer perguntando ao meu pai.

Retomando o que disse para ele, com incentivo dele - fala, pode falar - mencionei a palavra que eu julgava inadequada: bucéfalo.

Num contexto em que o aludido colega acusava o outro: você é um bucéfalo!

Os personagens eram os coleguinhas Alírio e Otávio. Tinham muita afinidade e jogavam bem futebol.

Bem, devidamente esclarecido, já sabendo que  bucéfalo nada mais seria do que individuo ignorante, rude ou pouco inteligente, incorporei o vernáculo ao meu ainda modesto (até hoje) acervo de palavras.

Outras palavras vieram com o tempo e geralmente em situações hilariantes.

EPCAR - Barbacena - MG.

Eutanásia, por exemplo, foi tema de uma "redação" no colégio. Masturbação foi pergunta em um questionário a ser preenchido por postulantes a ingresso na Força Aérea Brasileira, via Escola Preparatória de Cadetes do Ar, então localizada em Barbacena -MG. E miscigenação ouvi pela primeira vez numa Escola ... de Samba, num samba-de-enredo.

Para quem é BEM mais novo esclareço que antigamente havia mais ênfase no estudo da língua portuguesa, com preocupação não só de enriquecer o vocabulário, como também,  e principalmente, obedecer a grafia correta.

Assim, neste particular, as primeira aulas eram de "cópia", ou seja copiar um texto erudito, de autor consagrado.

A segunda fase era de "ditado", ou seja, a professora ditava e nós íamos escrevendo o exto.

A partir da terceira fase complicava. Tínhamos que "dissertar", usando o nosso vocabulário para descrever, narrar, por exemplo, uma festa junina ou outro fato ou episódio. 

A quarta e última etapa era a mais difícil porque envolvia, criação, imaginação. Chamava-se "composição".

Já não se tratava de narrar algo que presenciáramos, mas sim criar uma história. Com princípio, meio e fim.

Para amenizar o tom desta postagem já antecipo que a piada "e você não aprendeu nada" já não tem a graça que teve num passado bem remoto.


Notas:

1. Teria ingressado na EPCAR, em 1955, não fora a constatação de que tenho discromatopsia.

2. O irmão mais velho do Alírio, jogava no Carioca, clube que disputava o campeonato gonçalense.

3. A professora se chamava Arlinda.


4 comentários:

Jorge Carrano disse...


A ingenuidade foi uma marca de minha infância. Diria melhor, o respeito era muito importante.

Nunca mencionei um "palavrão" diante de meus pais.

Jorge Carrano disse...


Comentário de um amigo que, por óbvio, é da velha-guarda. Como foi veiculado em e-mail, portanto de teor restrito, não me atrevo a identifica-lo.
Mas não resisto a tentação de publicar porque além confirmar minhas mal traçadas linha, na postagem, ainda acrescenta um caso p'ra lá de inusitado.
O comentário tem duas partes, porque enviado em duas deferentes mensagens:

PRIMEIRA:

"Bem, Carrano. A minha experiência em descobrir palavrões foi em casa, apesar de tê-lo apreendido no colégio, antigo Grupo Escolar Getúlio Vargas, onde cursava o primário. Num joguinho de bola de gude, um colega de turma pronunciou alto "BUCETA"

SEGUNDA

"É, deu tilt aqui no computador, não consegui concluir o pensamento. Continuo: fiquei com a palavra presa na mente, sem saber o significado e,chegando em casa, na frente da minha mãe, soltei um vigoroso "BUCETA". Ela me olhou espantada e, severa como era, logo perguntou: Onde você aprendeu isso? É um palavrão, um nome feio, não pode ficar falando isso por aí. Eu, do alto dos meus 10 anos de idade, encabulado, tentei enganá-la: "Foi num filme que eu vi lá no cinema Rink (lembra dele?) O mocinho, o Roy Rogers, usava uma boceta pendurada no ombro". Não sei se a desculpa colou , mas nunca mais disse "BUCETA" em voz alta.
Mas, o pior aconteceu em outra oportunidade: todo dia eu saía do prédio onde morava (você conheceu o apartamento), na esquina de Amaral Peixoto com Visconde do Uruguai e caminhava até o Getúlio Vargas,onde cursava o primário. Passava sempre por uma loja que vendia diversos artigos, na esquina de Conceição com Visconde do Uruguai (não me recordo se o nome era loja Primavera ou Casas Tauil), E, ali, exposto bem visível, na porta da loja, estava um monte de produtos femininos, inclusive, uns pacotes de papelão azul escuro que logo me chamaram a atenção, até pelo nome bonito, Modess. Como o aniversário de minha mãe estava próximo, decidi comprar um daqueles pacotes, que a mim parecia alguma coisa sobre moda feminina. Inocentemente, de calças curtas do uniforme do colégio primário, pedi para a vendedora embrulhar um para presente. Ela me olhou desconfiada, esboçando um pequeno sorriso maliciosa no canto da boca. Riu muito mais com suas colegas ao lado, quando eu perguntei: "pra que serve isso? É pra mulher usar, não é?" Como elas não me responderam e continuassem a rir, deixei a loja sem comprar o presente."




Jorge Carrano disse...


CaromAmgo,

A loja "Primavera", localizada no endereço citado por você, é dedicada à venda de tecidos. Portanto voltada, basicamente, para as mulheres.

Já a loja "Tauil", pertencente a tradicional família libanesa, vende roupas masculinas, principalmente.
Fica na Rua da Conceição, na primeira quadra, próxima a antiga "Leiteria Brasil".

RIVA disse...

Comprei muitas camisas na TAUIL, com o vendedor Vitor. Ao lado da falecida Leiteria Brasil, um símbolo na nossa querida cidade.

Engraçado ler tudo isso .... eu nunca falei um PÔ ou PORRA na frente dos meus pais. Sequer fumava na frente deles. Nem pensar !

Estou me lembrando da 1ª vez que ouvi a expressão "bicho", que foi largamente utilizada na Jovem Guarda - na verdade até hoje .....

Eu tinha aulas particulares de Matemática na 4ª série Ginasial, com um cara que já estava na faculdade. E numa dessas aulas, ele puto porque eu errei algo, me chamou de BICHO !!!

Mas numa boa, tipo, "porra bicho" ....

Cheguei em casa super ofendido e nunca mais voltei pras aulas .....kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Estava vendo filmes da galera no Maracanã anteontem, festejando a nossa vitória ..... caramba, não é ofensa, é exclamação mesmo vc ver mulheres, crianças, pessoas de idade eufóricas falando caralho ! vai tomar no cu !! vai se foder !! puta que pariu !!!

Tudo isso na maior alegria e ambiente familiar, de comemoração.