16 de outubro de 2021

Inaceitável, indesejável, discricionário, aspone

 

Já contei aqui (mais de uma vez), um episódio que casualmente presenciei, na sede da Matarazzo Têxtil, então localizada no bairro do Belenzinho, em São Paulo, capital.

Um amigo era diretor da supramencionada empresa, e ao telefone informava a um outro amigo onde estava. Supostamente este outro  amigo não conhecia bem a cidade e deve ter manifestado algum tipo de dúvida.

Foi quando o Marcos Teles de Almeida Santos, (um de meus personagens inesquecíveis) explicou: fica entre o degradante e o deprimente.

Claro que para quem como ele, morador dos Jardins,  e viajado, o bairro em questão era muito feio e mal conservado. Uma espécie de São Gonçalo no início do século XX, se me faço entender.

Noutro dia, lendo a coluna do Merval Pereira, jornalista e acadêmico (ABL), que ele intitulou de "Inaceitável e indesejável", referindo-se e adjetivando as candidaturas Lula e Bolsonaro, lembrei-me, de novo, do comentário ferino, mas pertinente, sobre o Belenzinho.

O aspone mais recente é o ex-ministro Pazuello. Acaba de ser nomeado como "Assessor Especial da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos". Muito especial, notaram?

Esta nomeação foi feita como reconhecimento a sua lealdade. Afinal um manda e o outro obedece.

Essa benesse acrescenta aos R$ 32.000,00 que o "estrategista" recebe como general, mais R$ 12.000,00 por mês. Nada mal para não fazer por...caria nenhuma.

https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2021/10/15/interna_politica,1314194/a-agenda-vazia-do-assessor-pazuello.shtml

https://noticias.r7.com/brasilia/pazuello-perde-status-de-secretario-e-vira-assessor-no-governo-federal-01102021

A discricionaridade aludida no título, qualidade atribuída a alguns titulares de cargos e funções públicas, tem sido objeto de muitas criticas.

O que me chama a atenção é que quando o poder discricionário é exercido por alguém que está do nosso  lado, nada comentamos sobre o exercício do poder de forma ilimitada.

Dou como exemplo o caso do presidente da Câmara dos Deputados, que tem a prerrogativa de colocar em trâmite naquela casa legislativa, ou engavetar, os pedidos de impeachment do presidente da República. 

Os bolsonaristas, por óbvio (já são mais de 130 os pedidos lá apresentados), emudecem sobre o caso, achando sensato.

Mas quando o presidente da comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal, que tem a competência privativa, deixa de apreciar, para programar a sabatina de indicado pelo Bolsonaro para cadeira no STF, os mesmos bolsonaristas ficam indignados, recorrem à via judicial, apelam para que o presidente do Senado intervenha, achando um absurdo que um único senador, que representa um Estado sem expressão nacional (opinião deles), detenha tanto poder.

Mais polêmica nesta linha, dá-se com ministros do STF que têm competência para decidirem monocraticamente algumas demandas.

Se estas decisões singulares ocorrem na direção do que gostaríamos ou apoiamos, o ministro prolator revela coragem profissional, saber jurídico, apego à democracia e defesa da Constituição Federal.

Em todos estes casos aplica-se a lendária pauta atribuída a um jornalista que deveria fazer uma matéria sobre Jesus Cristo. 

Assim que lhe foi delegada a tarefa indagou do editor-chefe: mas deve ser contra ou a favor? 

Um comentário:

Jorge Carrano disse...


Não sei como andam as conversas de corredores nos grandes conglomerados ou empresas de grande porte, mas quando habitei este bioma, o aforismo (um dos) reinantes era de que a folha e pagamento acabou com os heróis.

Na mesma linha, lembro de um episódio do Coronel Limoeiro célebre personagem criado pela genialidade artística do Chico Anysio.

O coronel e sua companheira - Maria Tereza - foram cercados por cangaceiros que pretendiam assalta-los.

Limoeiro cai na risada e fala para Maria Tereza: eles querem desafiar o poder econômico. E virando-se para o chefe do bando diz: quanto quer na espingarda?

Entenderam ou terei que desenhar?