1 de julho de 2025

Falcão, pombo ou colibri ?

 


Nelson Falcão Rodrigues foi um escritor, jornalista, romancista, teatrólogo, contista, cronista de costumes e de futebol brasileiro. É considerado o mais influente dramaturgo do Brasil. Nasceu no Recife, Pernambuco, em 23 de agosto de 1912 e faleceu em 21 de dezembro de 1980, no  Rio de Janeiro. 

Sua escrita é visceral, perfurocortante, crua, é rejeitada ou aclamada, ao mesmo tempo, pela crítica e pelo leitor, sempre desperta reações.

Não sendo unanimidade, não se encaixa em conceito que cunhou de que toda unanimidade é burra. Analista e exegeta da alma humana, criou personagens inesquecíveis, sejam imaginários, alegóricos, sejam verossímeis.

Nelson já foi citado e referenciado aqui no blog inúmeras vezes. Numa das oportunidades mencionei uma obra teatral. Vide em:

https://jorgecarrano.blogspot.com/2017/07/nelson-rodrigues.html

Emérito frasista, consagrou aforismos definitivos. Selecionei, pinçando na rede mundial, algumas especiais. Todas devem ser lidas como entre aspas:

"O jovem só pode ser levado a sério quando fica velho.

O que se está fazendo aqui é uma música popular brasileira que não é popular, nem brasileira e vou além: - nem música.

Amigos, eis uma verdade eterna: - o passado sempre tem razão.

No Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio e, se quiserem acreditar, vaia-se até mulher nua.

Todo óbvio é ululante.

Toda mulher gosta de apanhar. O homem é que não gosta de bater.

Tarado é toda pessoa normal pega em flagrante.

O marido não deve ser o último a saber. O marido não deve saber nunca.

A grande, a perfeita solidão exige a companhia ideal.

Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar.

O homem só é feliz pelo supérfluo.

A maioria das pessoas imagina que o importante, no diálogo, é a palavra. Engano, e repito: – o importante é a pausa. É na pausa que duas pessoas se entendem e entram em comunhão.

Desconfio muito dos veementes. Via de regra, o sujeito que esbraveja está a um milímetro do erro e da obtusidade.

Deus está nas coincidências.

Dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro.

As grandes convivências estão a um milímetro do tédio.

Com sorte você atravessa o mundo, sem sorte você não atravessa a rua.

Começava a ter medo dos outros. Aprendia que a nossa solidão nasce da convivência humana.

Existem situações em que até os idiotas perdem a modéstia.

Invejo a burrice, porque é eterna.

Jovens: envelheçam rapidamente!

O Brasil é muito impopular no Brasil.

O grande acontecimento do século foi a ascensão espantosa e fulminante do idiota.

O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: o da imaturidade.

O Ser Humano, tal como imaginamos, não existe.

Os homens mentiria menos se as mulheres fizessem menos perguntas.

Se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém.

Sem sorte não dá nem para chupar Chicabom. Ou você se engasga com o palito ou sai é atropelado pela carrocinha.

Só acredito nas pessoas que ainda se ruborizam.

Tarado é toda pessoa normal pega em flagrante.

Toda coerência é, no mínimo, suspeita.

Toda unanimidade é burra.

Todo amor é eterno. Se não é eterno, não era amor.

A Igreja está ameaçada pelos padres de passeata, pelas freiras de minissaia e pelos cristãos sem Cristo. Hoje, qualquer coroinha contesta o Papa.

As feministas querem reduzir a mulher a um macho mal-acabado."

Perdão amigos, desafetos et caterva, classifiquem como queiram: heresia literária, ignorância, parvoíce, disparate, imbecilidade, idiotice, mas encontro na obra de Nelson Rodrigues a mesma agudeza de Dostoiévski, de Shakespeare e de Saramago, em se tratando de análise da alma humana.