18 de setembro de 2025

Ainda o voto do ministro Fux, também pudera.

Encontro dileto amigo no calçadão durante a caminhada dominical. Caminhamos juntos durante um trecho.

Inevitavelmente a conversa resvalou para política. O julgamento da tentativa de golpe de estado acabara na sexta-feira. 

Ele não é advogado, não é ativista político, mas comentou, e pediu minha opinião, se o voto do ministro Fux não teria sido elaborado por IA (inteligência artificial)?

Ponderei que não descartava a hipótese, mas que a meu juízo ele tencionava dissentir e valeu-se, o que é normal, de sua assessoria para coligir argumentos, em especial doutrina,  para sua tese.

Concordamos em dois pontos: o voto foi muito longo e muito chato para um leigo acompanhar a transmissão.

Quanto a ser longo não havia como contestar, posto que 13 horas de lero-lero ninguém aguenta. Comentei que tive um diretor a quem reportava como gerente da área, que tinha a seguinte filosofia (e falo de esfera administrativa): "ideia, sugestão, que não caiba numa folha de papel e prescinda de explicação, pode ir para o lixo".

Acresce a assertiva de Hegel, que tem claro fundamento:

Provoquei, em e-mail, outro grande amigo, este sim com passado na área criminal (não como réu 😂😂😂), mas nas qualidades de promotor de justiça e magistrado, para que me desse sua abalizada opinião e pudesse balizar minha opinião que julgava um pouco virulenta.

A resposta veio com a presteza que só a generosidade de amigo pode oferecer:

"Carrano, meu amigo de mais de 60 anos: no Brasil de hoje, já não tenho mais opinião abalizada sobre coisa alguma.

Realmente, muito chato o voto de ontem: repetitivo, cheio de citações que só interessavam ao prolator e, a meu ver, repleto de contradições. Como já disse em outro espaço, de um juiz exige-se imparcialidade, independência,  divergências (quando for o caso), mas, acima de tudo, coerência. Nunca a contradição, ou seja, renegar o que já decidiu de uma forma anteriormente para assumir uma posição completamente diferente em outro processo que trata do mesmo assunto. É assim que se firma a jurisprudência: reiteradas  decisões no mesmo sentido sobre um determinado tópico."  

Com efeito, retomo a palavra, a propósito das preliminares acolhidas por Fux, não se  pode ter como absolutamente incompetente um juízo que antes entendeu como competente e ter condenado outros réus que nunca tiveram foro privilegiado.

Ad argumentandum seria plausível, legítimo discutir sobre se a competência caberia ao tribunal pleno ou a uma turma fazer o julgamento.

Ocorre que mesmo nesta questão, foi o tribunal em sua composição plena - inclusive ele, Fux - que decidiu sobre a matéria, em modificação de Regimento Interno.

Por fim, para não me estender além da conta "e prejudicar a causa" (conceito do Friedrich Hegel supracitado), registro o pronunciamento público do decano do STF, ministro Gilmar Mendes que, atropelando a liturgia do cargo, mandando às favas a cortesia ... e até a ética, desqualificou o voto de seu par na alta  corte.

Dito isto, ponderado muito mais mas ressalvando minha absurda limitação intelectual e cultural no escopo jurídico, minhas criticas explicitadas aqui no blog estão alinhadas com quem tem bagagem e respeitabilidade para analisar o voto açoitado.

Não esqueci de mencionar, é que não quero provocar risos: absolver o mandante (chefe) e condenar o mandado (ajudante) é non-sense.

4 comentários:

Jorge Carrano disse...

Lembrem que o major era ajudante de ordens do presidente. Ou seja, obedecia, não decidia.

RIVA disse...

Fico realmente absolutamente boquiaberto ..... será que muitas pessoas não vêem as midias sociais, as dezenas de filmagens existentes com esses mesmos "juízes" TODOS caindo em contradição, esmerdalhando há pouco tempo a quem hoje defendem ou até elogiam (pessoas, partidos, instituições) ?

Escrevo isso em cima do texto postado acima :

"Como já disse em outro espaço, de um juiz exige-se imparcialidade, independência, divergências (quando for o caso), mas, acima de tudo, coerência. Nunca a contradição, ou seja, renegar o que já decidiu de uma forma anteriormente para assumir uma posição completamente diferente em outro processo que trata do mesmo assunto."

É amnésia (seletiva ou não), alienação ou hipocrisia ?

RIVA disse...

Complementos :

1 Sobre nosso Congresso :

Acho que não paira nenhuma dúvida sobre o estágio de esculhambação ética e jurídica do país, tendo em vista nossos legítimos representantes.
Ou paira ?

2 Sobre IAs :

Ontem fiz um teste com a IA da Meta, pois fiz o download do M365 Copilot da Microsoft no meu celular.

Pedi à IA para fazer uma Carta de Apresentação para mim, baseada em meu Curriculum Vitae completo, que tem 3 páginas. Ela me pediu o arquivo com o meu CV, e o enviei na mesma mensagem.

Acreditem, em menos de 1 segundo, sim, eu disse 1 segundo, ela me entregou uma excelente Carta de Apresentação em Word, completa, muito bem elaborada.

Ao fim, ainda me perguntou se queria em inglês ........ !!

Jorge Carrano disse...

Pois é, Riva, por esta razão não descartei a opinião do amigo que encontrei no calçadão, e que disse com alguma propriedade que o voto do Fux foi feito com auxílio luxuoso de IA.