Contei que estava no velho Maracanã em junho de 1950, aos 10
anos de idade, e assisti ao jogo Brasil
e Espanha.
No ano seguinte eu iria iniciar o curso ginasial, que antecedia o
científico (ou clássico), essenciais e obrigatórios para quem pretendia fazer
curso universitário.
Na época, para os homens, as opções seriam a carreira militar
numa das forças armadas: Marinha, Exército ou Aeronáutica. A carreira na
Marinha era a mais atraente, mais charmosa, por várias razões: era considerada
mais seletiva; o bonito e vistoso uniforme branco que
atraia as mulheres; tinha viagem de instrução de volta ao mundo no navio-escola
“Saldanha da Gama” e, como resultado de tudo isto, ótimo posicionamento na
arquitetura social.
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Navio-escola "Saldanha da Gama" (foto Google) |
Nas carreiras ditas civis, a medicina, a engenharia e o direito
eram as que atraiam o maior interesse dos jovens, seguidas de perto pela
odontologia e a arquitetura.
As mulheres, que tinham a opção de fazer o curso normal no
ensino médio (os homens também, mas pouquíssimos faziam), depois optavam por
pedagogia, medicina ou psicologia.
Bem, já era alfabetizado desde os 6 anos de idade. Aprendi em
casa e em aulas particulares com uma professora cujo nome não lembro (pudera
são passados 67 anos), mas lembro que morava numa casa de vila, que ficava na
Rua Visconde de Uruguai, antes do cruzamento desta com a Rua Marechal Deodoro.
As brincadeiras de então eram baseadas em correrias:
brincava-se de pique, de escambida, de esconde-esconde e outras que tais, como guerra de mamonas,
com atiradeiras (ou setas).
Tinha, é bem de ver, as peladas na Rua São Diogo, ainda sem
calçamento, o que permitia inclusive cavarem-se buracos (búricas) para jogar
bola-de- gude.
Quem podia comprava botões especiais industrializados, com escudos dos times,
para jogar com os amigos. Quem não tinha (meu caso), utilizava botões de calças
e camisas e principalmente (os melhores) de capas de shantung (moda na época).
Podia-se, também, utilizar pedaços de casca de côco e polir
bem a superfície e os bordos, porque viravam ótimos zagueiros.
Nos jornais de segunda-feira, eram publicadas as fichas
técnicas dos jogos do final de semana, com as escalações.
Eu cortava, com todo o cuidado, os nomes dos jogadores do
Vasco e colava-os (com goma árabica), também com cuidado, para não besuntar o botão.
Por sorte, na época, os jogadores tinham nomes simples e
pequenos. Não como hoje que temos Thiago Silva, Renato Silva, Thiago Alcântara
(filho do Mazinho), Diogo Silva e por aí vai. Qualquer dia teremos nome,
sobrenome e número de CPF. Será assim: Diego Cavaleiro de Almeida, CPF
00.111.222-33.
Bem, como os nomes eram simples: Eli, Danilo, Jorge, Friaça,
Maneca Ademir, Chico, etc. era fácil
recortar os nomes e colar nos botões. E com isso poder “narrar” as partidas quando tinha a “posse” da bola.
Tinha uma exceção que era o Ipojucan, cunho nome quase não
cabia no botão, sem atrapalhar o uso da palheta. Barbosa era grande, mas como era goalkeeper não atrapalhava pois era estampado na caixa de fósforos que fazia as vezes do guarda-metas.
Hoje, por exemplo, no jogo contra o Fluminense, que ganhou por 3x1, o time do Vasco tinha os seguintes jogadores em campo: Diogo Silva, Renato Silva, Eder Luiz, Juninho Pernambucano,
Sandro Silva, Rafael Vaz, Pedro Kem.
Onde estão os nomes simples, os apelidos tipo Vavá, Pelé, Dida, Didi, Zico, Cafú ?