Por Gusmão
rodneygusmao@yahoo.com
Existem aguns tipos de novelas. As que se levam a sério, nas quais o autor pensa estar produzindo alta dramaturgia; aquelas que são adaptações livres de obras literárias famosas, e algumas que são comédias leves, sem pretensão de contato com a realidade, pura alegoria, onde a liberdade poética, o nonsense, o inusitado e o surrealismo predominam.
rodneygusmao@yahoo.com
Existem aguns tipos de novelas. As que se levam a sério, nas quais o autor pensa estar produzindo alta dramaturgia; aquelas que são adaptações livres de obras literárias famosas, e algumas que são comédias leves, sem pretensão de contato com a realidade, pura alegoria, onde a liberdade poética, o nonsense, o inusitado e o surrealismo predominam.
Estas últimas, para as quais abro exceção e sempre que possível assisto, sem escravidão ao horário, podem até conter diluídos na história (diálogos e situações) algum sentido ou objetivo moral, filosófico ou ético.
Mas o fazem disfarçadamente, sutilmente, num contexto que é muito mais de entretenimento, diversão, do que retrato realístico da vida.
Aquelas que se levam a sério e pretendem discutir temas polêmicos, levantar questões sociais são um pé no meu saco, se me permitem a expressão chula.
Dão-me engulhos e me irritam com situações absolutamente inverossímeis – toleráveis nas comédias escrachadas – e coincidências de fazer corar Sidney Sheldon. Autor de romances, ai ao lado, mestre em coincidências que nem em histórias escritas pelo Criador seriam críveis.
Personagem que fala sozinho para poder transmitir aos telespectadores o que se passa em sua cabeça, é coisa de débil mental, caso de internação em manicômio ou interdição judicial.
Faltam recursos para os autores destes veradadeiros imbróglios que massacram intelectualmente os telespectadores.
Estas novelas agridem nossa inteligência com decretações de falências, interdições, partilha de bens e mudanças de contrale societário numa rapidez inimaginável mesmo em países desburocratizados e que já ataingiram plena civilização.
Não é necessário ser advogado ou mesmo bacharel em direito (meu caso) para perceber que algumas pessoas perdem seus bens em duas ou três cenas gravadas, sem que haja no roteiro uma passagem significativa de tempo.
No capitulo de segunda-feira o protagonista bonzinho é o controlador da empresa, com a maioria das ações e na quarta-feira ele já foi deposto da presidência da empresa e perdeu suas ações para um filho bastardo, personagem que nem constava do script inicial, e foi criado e incluído apressadamente porque os índices de audiência estavam baixos e era necessário agitar a trama.
Já nem falo das partilhas de bens, que na vida real implicam certidões negativas de todo gênero, taxas, impostos e emolumentos que fazem a alegria dos tabeliães e oficiais de registro de imóveis (pelo menos foi assim no caso que tive, não é Carrano?).
Tentem interditar uma pessoa incapaz, com sérias e aparentes deficiências mentais, comprometimento total da capacidade cognitiva, e vejam se é simples e rápido como as novelas nos levam a crer. Minha vizinha pode testemunhar.
São necessários laudos médico-periciais, audiências com presença de membro do ministéio público, publicação de editais, averbações, o diabo a quatro.
Ora, se as novelas são, como alegam os autores - alguns dos quais com sérios distúrbios psíquicos, portadores de perversões, que mereceriam tratamento rigoroso - um espelho da vida, uma realidade, então estes acontecimentos intercorrentes, como internações hospitalares, diagnósticos, curas e recuperações rápidas de tretraplégicos e vítimas de derrame cerebral, deveriam ser exibidos, com as dificuldades, cuidados, e exames necessários.
Absurdos têm limites mesmo em obras de ficção, pseudo dramaturgia.