30 de novembro de 2020

Um substituto para ...

 

A postagem do Carlos Lopes Filho (Calf), ou Carlinhos para alguns sobreviventes contemporâneos do Liceu Nilo Peçanha, sobre comparações descabidas, acabou por me oferecer um mote para esta matéria de hoje, que encerra (por ora) o ciclo futebol.

Contratar um substituto ou comemorar e enaltecer  o aparecimento de um novo fora de série era uma forma de comparar. Pouco mais ou menos, claro. Buscar um substituto implicava conseguir alguém de mesmas característica, habilidades e desempenho.

Foi assim, por exemplo, quando o Vasco perdeu o Vavá para o Palmeiras. Era premente contratar um novo artilheiro, com características de combatividade e faro de gol semelhantes ao do centroavante campeão mundial.

O Vasco foi além, foi ao extremo na busca pela substituição. Foi ao Nordeste, região de origem, na esperança de que lá encontraria o substituto a altura.

Trouxe de lá um certo Pacotí. Quem se lembra? Não deu certo e a busca continuou; vieram Oswaldo e outros testados e reprovados. Até o Wilson Moreira, de linhagem de técnicos consagrados. Quem solucionou em parte o problema foi o Delém, de quem não tínhamos referências. Mas não foi o "novo Vavá".

Delém foi um bom centroavante e propiciou a um certo narrador apregoar seu gols com uma tirada interessante (para nós vascaínos). Gritava ele - o narrador: "Delém, delém, delem, bate o sino da matriz de São Januário". Era gol do Gigante da Colina.

Substitutos ou "novo Pelé" surgiram muitos. Todo neguinho habilidoso que fazia gols virava um novo Pelé. Muitas frustrações, obviamente. Pelé é único, como Michel Jordan, como Senna, como Da Vinci, como Shakespeare, se me permitem a exagerada e eclética prateleira.

Alguns jogadores tiveram estilos semelhantes, e resultados práticos consistentes. Cito por exemplo Walter (Marciano de Queiroz), comparável ao Rubens (Dr. Rubis), do Flamengo. Dirceu cujo papel em campo o aproximava de Zagalo. E paro por aqui.

E há casos em que aquele que seria o substituto supera o substituído. Tipo discípulo que supera o mestre. Mas sem comparações, cada qual com suas competência, habilidade, arte.

Nem a genética assegura transferência de habilidade, talento e vocação, pois que se assim fosse o filho de Pelé iria além de um goleiro razoável e nada mais.

São poucos os casos de herança de habilidade técnica. Lembro de poucos casos. Os filhos do Zico, do Bebeto e do Roberto Dinamite, só para exemplificar, não vingaram e não atingiram o sucesso deles.

Um caso, em particular, chama minha atenção. O Thiago Alcântara joga melhor do que o pai -campeão mundial - o Mazinho.

Comparações são perigosas, por vezes odiosas, por vezes pretenciosas se quem compara não tem cabedal para avaliar e julgar.

Quem foi melhor, quem deixou mais ensinamentos? Sócrates, Platão ou Aristóteles?

Pelo conjunto da obra sou mais Pelé do que Maradona. 

#tenhodito.

28 de novembro de 2020

AMADOR E PROFISSIONAL...

 


“MEU CLUBE DE CORAÇÃO...”

Identidade clubística...


     


Calfilho

Carioca de Olaria, botafoguense de coração, niteroiense por adoção, copacabanense por predileção, parisiense e europeu por admiração ... 78 anos de idade, tentando chegar aos 80, se Deus ajudar.




Até os primeiros anos da década de 60, quando o amadorismo já tinha sido totalmente erradicado do futebol dos principais países do mundo, os jogadores ainda tinham uma forte afinidade com os clubes em que começaram suas carreiras.  

Segundo li e pesquisei, o profissionalismo foi introduzido no futebol brasileiro no início dos anos 30 do século passado. Por isso, alguns contestam o tetracampeonato carioca do Botafogo (1932/33/34 e 1935). Houve uma cisão no futebol do então Distrito Federal, alguns clubes continuaram com jogadores amadores, enquanto outros aderiram de vez ao profissionalismo. A AMEA (Associação Metropolitana de Esportes Amadores) até então tinha os clubes amadores como filiados. Em janeiro de 1933 foi criada a LCF (Liga Carioca de Futebol), tendo quase todos os clubes do Rio migrado para ela, menos o Botafogo, que continuou na AMEA. Em São Paulo, o mesmo ocorreu, tendo a liga local, a APEA (Associação Paulista de Esportes Atléticos) se dividido em duas, a profissional e a amadora. Na Argentina, isso já ocorrera desde 1931 (informações colhidas na internet, no site “Imortais do Futebol”). O Botafogo, continuando na liga amadora, ganhou facilmente o campeonato. Na Copa do Mundo de 1934, como a liga profissional não era reconhecida, o Brasil foi representado por jogadores, em sua maioria, do Botafogo. Ainda em, 1934, o Vasco, São Cristóvão e Bangu voltaram para a AMEA e, juntos com o Botafogo mudaram o seu nome para FMD (Federação Metropolitana de Desportos), que passou a regular, apoiado pela CBD, o profissionalismo carioca em1935, quando o Botafogo conquistou seu inédito tetracampeonato consecutivo (material da mesma fonte). Leônidas da Silva, o “Diamante Negro”, jogou pelo Botafogo nesse ano. Logo depois, transferiu-se para o Flamengo.

A transição do amadorismo para o profissionalismo não foi difícil, pois muitos jogadores que disputavam a liga amadora já recebiam prêmios por vitórias, além de outros “agrados”. A década de 40 talvez tenha sedimentado um pouco mais o profissionalismo, mas os jogadores ainda permaneciam muito ligados aos clubes que os formaram. Ainda eram raras as transferências de atletas de um clube para outro, na mesma cidade onde atuavam. Para outros Estados, ainda mais. Para o exterior, praticamente não ocorreram. A grande transferência entre clubes no futebol carioca foi a de Ademir Menezes do Vasco para o Fluminense em 1945, dando origem à famosa frase proferida pelo técnico Gentil Cardoso, então dirigindo o Fluminense: “Contratem-me o Ademir e eu lhes dou o título”. O Fluminense contratou Ademir e foi o campeão de 45. No ano seguinte, Ademir voltou para o Vasco. Nessa década de 40, jogadores totalmente identificados com seus clubes foram Heleno de Freitas, Nílton Santos (começando no Botafogo), Ademir, Barbosa, Augusto, Eli (Vasco), Zizinho, Biguá, Bria (Flamengo). São os que me lembro, apenas por ler ou ouvir falar.

Para o exterior, soube apenas de Yeso Amalfi, que se transferiu em 1948 para o Boca Juniors, no ano seguinte para o Penarol, em 1951 para o Nice (da França), em 1951 para o Torino, em 1952 para o Mônaco, tendo encerrado a carreira no Olympique de Marseille em 1959 (fonte: Wikipedia).

Na década de 1950, depois da Copa do Mundo realizada no Brasil, o profissionalismo enraizou-se de vez no futebol brasileiro. Mas, as transferências eram raras e, até consideradas como “traição” por parte dos clubes e jogadores envolvidos. Lembro-me bem de uma, que ficou bem marcada em minha memória: no início da década, um jogador da base (os antigos juvenis) do Botafogo, Joel, foi aliciado pelo Flamengo, que o contratou, desrespeitando seu coirmão que havia formado o jogador. Joel teve uma carreira vitoriosa no Flamengo, participando do time tricampeão de 1953/54/55, e foi convocado para a Copa do Mundo de 1958, sendo titular nas duas primeiras partidas, contra a Áustria e a Inglaterra. Na terceira e decisiva partida da fase eliminatória, Garrincha entrou em seu lugar e “acabou” com o jogo, sendo o titular até o final da competição, vencida pelo Brasil. Na Copa seguinte, Joel nem foi convocado, sendo Jair da Costa o reserva de Garrincha, que foi eleito o melhor jogador da equipe bicampeã mundial. Foi a “vingança” do Botafogo contra a “traição” do Flamengo e de Joel.

Nessa década, ainda os jogadores permaneciam muito tempo em seus clubes, mesmo, às vezes, não tendo sido formados por eles. Assim, o Fluminense de Castilho, Píndaro, Pinheiro, Clóvis, Vítor, Lafayette, Telê, Orlando Pingo de Ouro, manteve esses mesmos jogadores por quase toda a década em sua equipe. O Vasco de Barbosa, Augusto, Eli, Danilo, Jorge, Friaça, Maneca, Ademir, Jair da Rosa Pinto (que se transferiu para o Santos no início da década). O Flamengo de Garcia, Tomires e Pavão; Jadir, Dequinha e Jordan; Joel, Rubens, Índio, Evaristo e Esquerdinha. O Botafogo de Osvaldo Baliza (depois Gilson), Gérson e Santos; Arati, Pampolini e Didi; Garrincha, Edson, Paulinho, Quarentinha e Neivaldo. O América, de Osny, Dimas, Ranulfo, Oswaldinho, Alarcon, João Carlos, Maneco. O Bangu, de Ubirajara, Mario Tito, Zizinho, Ari Clemente e tantos outros. A garotada da época, eu aí incluído, sabia de cor a escalação de todos os times cariocas. Até do Madureira, com Irezê, Bitum e Weber (muito mais tarde, juiz de Direito na antiga Guanabara), Frazão, e outros. O Canto do Rio de Carango e Jairinho. O Olaria, de Olavo “Sarrafo”. O São Cristóvão, de Santo Cristo etc...

Vai perguntar hoje a um garoto de 10 anos qual a escalação do seu time: vai te dizer uma num dia, outra no mês seguinte, mais outra completamente diferente um ano depois... Sobre a seleção brasileira, nem se fala...

Enfim, o profissionalismo foi avassalador...

Recordo-me que naquela década de 50, a grande transferência de um jogador brasileiro para o exterior foi a de Julinho Botelho da Portuguesa de Desportos de SP para a Fiorentina, da Itália. Julinho disputara a Copa do Mundo de 1954 pela seleção brasileira e, em 1955, transferiu-se para o futebol italiano. Ponta direita de rara habilidade, foi convocado por Feola para a Copa do Mundo de 1958, juntamente com Joel, do Flamengo. Num gesto de rara humildade e grandeza, não aceitou a convocação, dizendo que não tomaria o lugar de um jogador que estivesse jogando no Brasil. Resquício forte do amadorismo, quando defender a seleção brasileira significava defender as cores do Brasil... Igual aos dias atuais, não lhes parece?

Feola não gostava de Garrincha, por achar que ele “driblava demais, sem produtividade para a equipe...”. Com a recusa de Julinho, foi quase obrigado a convocar o “anjo das pernas tortas”, já que a “grita” popular era muito forte... Vejam só o absurdo: quase deixamos de ser campeões do mundo em 1958, não fosse o ato de grandeza de Julinho...

Dino da Costa e Vinicius (Leão), atacantes do Botafogo, também foram duas outras transações marcantes do futebol brasileiro na década de 50. Foram jogar em equipes italianas, o Milan foi uma delas, a outra não me recordo... Evaristo foi para o Barcelona e, lembro-me bem da festa que a cidade preparara para ele, quando eu passei por lá, em fevereiro de 1957, numa viagem de navio em direção a Nápoles... Paulinho Valentim e Orlando Peçanha foram para o Boca Juniors, da Argentina...

No Brasil, internamente, duas transferências marcantes: a de Didi, do Fluminense para o Botafogo; a de Gilmar, do Corinthians para o Santos... ajudem-me a lembrar de outras...

Já na década de 60, Brasil bicampeão do mundo, os jogadores brasileiros valorizaram-se rapidamente. Transferência milionárias para o futebol europeu, que, constatando a superioridade da individualidade brasileira sobre os rígidos esquemas de seus países, decidiram importar em massa os “craques” tupiniquins: Amarildo para o Milan; Vavá, para o Atlético de Madrid; Didi, para o Real Madrid, Jair da Costa para a Internazzionale, Dino Sani para o Boca Juniors,  Joel Martins para o Valência... bem, quem mais?

Pelé ficou no Santos, recusando propostas milionárias. Garrincha permaneceu no Botafogo até 1966, quando preferiu deixar o clube, indo para o Corinthians, porque não conseguia recuperar-se de uma violenta lesão nos joelhos. Nílton Santos, em clubes, só vestiu a camisa do Botafogo. Gilmar, Djalma Santos, Zito, Pepe, permaneceram em seus clubes até abandonar o futebol, ou transferiram-se para equipes menores apenas para encerrar a carreira e ganhar um dinheirinho extra. Lembro bem, já no final da década de 60, que, Gerson, morador de Niterói, recusou propostas da Europa por detestar viajar de avião...

As décadas seguintes, após a conquista do tricampeonato mundial em 1970, marcaram, a meu ver, o declínio do futebol brasileiro. Mesmo conquistando mais dois outros títulos mundiais, a qualidade do nosso futebol foi caindo a olhos vistos. As transferências para a Europa e, depois, para o Japão e para o resto do mundo multiplicaram-se em velocidade exponencial. Hoje, o que vemos, são jovens com menos de quinze anos sendo recrutados pelo futebol europeu e lá aprendendo a jogar futebol como eles. Acabaram-se a improvisação, o jogo de cintura, a boa molecagem do futebol brasileiro...

Grande culpa desse declínio cabe a nós mesmos... acabando com os campos de futebol que existiam pelas cidades, com os terrenos onde animadas peladas eram jogadas, acabou-se também a improvisação, o gosto pelo futebol bem jogado... Nossos campinhos transformaram-se em prédios de cimento, e com eles nosso futebol foi afundando... Lembro-me bem que, só em Niterói, joguei nos campos do Niteroiense, Ypiranga, Fluminense, Vienense, Henrique Lage, Manufatora, Cruzeiro, Country, Caio Martins. Quantos deles existem atualmente? Hoje, as crianças começam a jogar futebol de salão (ou futsal), que nunca foi a mesma coisa que o futebol de campo... Quando vão para este, já estão viciados com o pouco espaço que o salão lhes proporcionou, obrigados a  passes curtos e rápidos, e são incapazes de levantar a cabeça,  procurar um companheiro desmarcado lá na frente e fazer um lançamento...  Não, bola pro lado, que “não quero ficar com a responsabilidade de tentar uma jogada de profundidade, uma jogada mais aguda, de tentar o drible... afinal, se perder a bola...”

Dá pena de ver a seleção brasileira em campo, atualmente... conheço apenas um ou outro jogador que esteve por algum tempo num clube brasileiro... a grande maioria é desconhecida ou só esteve aqui na base de nossos times... Não são maus jogadores, mas nem parecem brasileiros... vestem a camisa da seleção como vestem a camisa de seus clubes na Europa, sem amor, sem identidade com a mesma... alguns até se naturalizam europeus para poder jogar pelas seleções dos países de seus clubes... Os jogos do campeonato brasileiro também são duros de assistir... A comparação com o futebol europeu é inevitável e saímos perdedores, de longe, em qualidade técnica... Hoje, é muito mais agradável assistir um jogo dos campeonatos europeus pela TV do que outro do Brasileirão... Por isso, em nossas ruas já vemos algumas crianças (e até adultos) desfilando com camisas do Real Madrid, do Barcelona ou de uma seleção europeia...

           Vou falar apenas de dois exemplos mais recentes que conheço e que, por acaso, são do meu clube: o Túlio, pouco conhecido meio de campo do Botafogo na década passada, passou um tempo jogando fora do Brasil e, quando voltou, procurado por outros clubes, disse:

“-- Primeiro, quero ouvir a proposta do Botafogo, que é meu clube do coração”.

Acabou voltando para o clube, apesar de ter recebido uma proposta um pouco mais elevada de outra equipe.

O outro exemplo é Lucio Flavio, durante alguns anos meia armador do Botafogo, que, depois de ter parado de jogar, ao receber um convite do clube para trabalhar na Comissão Técnica, aceitou imediatamente.

Parabéns aos dois, amor à camisa não se demonstra apenas no momento da assinatura do contrato, quando o escudo do clube é invariavelmente beijado. Esse amor é muito mais importante quando o jogador deixa o clube, precisa dele, mesmo quando não mais joga futebol...Por isso, os dois atualmente, fazem parte da Comissão Técnica do Botafogo... Não foram jogadores excepcionais, apenas medianos, mas respeitam e têm carinho pelo time que defenderam...

O amor ao clube, coisa rara...

Os jogadores atuais trocam de camisa, como quem troca... de “camisa...”.


27 de novembro de 2020

Os chutadores

 

            


         J
orge Carrano

          Carioca, do Andaraí, octogenário, vascaíno.




Os narradores adjetivavam de petardos os chutes mais fortes. Ou bomba. Pepe, jogador do Santos, contemporâneo  de Pelé, tinha uma “bomba” nos pés.

Vi jogar alguns excelentes chutadores. Quando menciono excelentes, quero dizer que o chute era forte, e tinha precisão. Acertavam o alvo, no caso o gol adversário. Caso contrário alguns zagueiros botinudos seriam relacionados entre os melhores.

Pinheiro, zagueiro do Fluminense, chutava com o bico da chuteira, inclusive na cobrança de penalidades.

Aqui em Niterói, no futebol local, havia um chutador que foi lenda. Chamava-se Draga. Atribuíam a ele ter provocado tuberculose num goleiro que ousou agarrar no peito um de seus poderosos chutes.

Um dia fui ao campo do Vianense porque me disseram que ele iria jogar. Perdi meu tempo, nem jogo teve naquele dia citado. Acabei não vendo o chute do Draga.


Chico, ponta esquerda

Jair da Rosa Pinto - Jajá

Silvio Parodi, ponta esquerda

Um dos mais famosos chutadores foi o Jair da Rosa Pinto, apelidado de “Jajá de Barra Mansa”, que integrava o ataque da seleção de 1950.

O Vasco teve um paraguaio chamado Silvio Parodi, que certa feita furou a rede com seu potente chute. Menos pela força e velocidade da bola, e mais porque a rede (de barbante) estava já desgastada pelo sol e chuva.

Chico, também do Vasco e seleção brasileira,  chutava forte.

Nelinho, do Cruzeiro e seleção nacional, chutava forte, com efeito e precisão. Canhoteiro, do São Paulo, também tinha bom chute, além de habilidade para drible.

E Rivelino, ídolo do Corinthians e de boa parte da torcida do Fluminense, campeão mundial em 1970, chutava muito forte. Sobre ele o Riva, nosso confrade, pode falar melhor porque ganhou o apelido em função do profissional.

Chutar forte nem sempre é a melhor opção. Por vezes é melhor jeito. Que o digam Didi, criador da “folha seca”; Gerson, o canhotinha de ouro; Rubens, o “Dr. Rubis”, que antes do Zico, no Flamengo, era o cobrador oficial de faltas, o que fazia à perfeição, com chutes colocados, em curva ou por cima da barreira.

 


Nota: 

1) Claro que foi coincidência colocar fotos do jogadores do Vasco. Rsrsrsrs😁😁😁

2) Pepe, ex-jogador referido no texto, acaba de superar a Covid-19, aos 85 anos.  Que boa notícia.

26 de novembro de 2020

COMPARAÇÕES INFELIZES...

     


Calfilho

Carioca de Olaria, botafoguense de coração, niteroiense por adoção, copacabanense por predileção, parisiense e europeu por admiração ... 78 anos de idade, tentando chegar aos 80, se Deus ajudar.



Uma das coisas mais perigosas, quase infeliz, que se pode fazer no futebol, é querer comparar qualidade de jogadores tidos como craques em seus times ou seleções. Arriscamo-nos a cometer graves injustiças que nem nós mesmos conseguimos perceber.

Isso porque não se podem comparar coisas diferentes, apesar da aparente semelhança que possam ter. Quando se tenta fazer a comparação entre jogadores de um mesmo time ou de uma mesma seleção, temos que atentar, em primeiro lugar, se jogaram ou não na mesma época. Depois, se a posição dos dois era exatamente a mesma, ou seja, idêntica a função que exerciam em campo. E, em terceiro lugar, se os times em que jogaram tinham a mesma qualidade técnica, ou seja, se os jogadores que se quer comparar tinham ao seu lado outros atletas do mesmo nível de qualidade de futebol. Isso porque, não esqueçamos, trata-se de um esporte coletivo, nunca individual.

Mesmo que um jogador seja tecnicamente bem superior aos demais, vai ser o trabalho em conjunto, em equipe, que vai determinar o sucesso ou o fracasso do time. O “fora-de-série” pode até desequilibrar um jogo ou outro numa jogada genial e decidir uma partida. Mas, não fará isso sempre e, se seus companheiros de equipe não colaborarem com ele, sua genialidade vai ficar limitada a apenas alguns lances esporádicos. Agora, se alguns dos outros jogadores também tiverem uma técnica de razoável para boa, aí sua individualidade vai aparecer muito mais.

Já vi várias discussões sérias (algumas até transformaram amizades em inimizades) sobre quem seria melhor: Pelé ou Garrincha? Pelé ou Maradona? Maradona ou Messi? Zico ou Dida? Gerson ou Didi? Ademir da Guia ou Rivelino?

Pena que, de uns anos para cá, as comparações ficaram mais pobres... A não ser, talvez, Neymar, a nova safra de “craques” não empolga tanto... quando assistimos a atual seleção brasileira entrar em campo e vemos tantos jogadores desconhecidos, que estão fazendo suas carreiras na Europa, alguns tendo jogado apenas uma temporada aqui no Brasil (ou nem isso), não podemos realmente ficar animados...

O mal dessas comparações é que cada um de nós tem sua opinião e acredita piamente que ela é a correta, sem admitir contestações.

Deixem-me dar a minha.

Pelé ou Maradona? Para mim, Pelé. Primeiro, porque ganhou três Copas do Mundo, apesar de ter jogado pouco tempo na de 1962. Maradona só ganhou uma. Os dois foram “pontas de lança” (como preferem alguns), ou “meias avançados” (como preferem outros). Pelé sempre foi mais objetivo, jogava mais visando o gol, fez do Santos um dos maiores times do mundo no início da década de 60. Maradona, mais individualista, “cracaço” de bola, fez do Nápoli, time que nunca chegava ao título, campeão da Itália por duas vezes. O gol que fez contra a Inglaterra na Copa de 86, no México, foi um dos mais bonitos já vistos na história do futebol. Pelé teve ao seu lado Coutinho, Pepe, Mengalvio, Zito, Carlos Alberto. Maradona teve Alemão, Careca, Batistuta e tantos outros extraordinários jogadores argentinos.

Garrincha ou Pelé? Para mim, Garrincha. Pela genialidade, pelo improviso, por ter ganho duas Copas do Mundo, a de 1962 levando o time nas costas após a contusão de Pelé na segunda partida da fase eliminatória. Jogavam em posições diferentes, mas Garrincha, que foi o maior ponta-direita que vi jogar (perdoem-me Julinho Botelho e Stanley Mathews), além de infernizar defesas, na Copa de 62, fez gol de falta e até de cabeça. Pelé ganhou três Copas, mas era muito mais novo que Garrincha. Este último jogou ao lado de Didi, Quarentinha, Paulinho Valentim, Manga, além de Pelé, Zito, Pepe, Vavá, Dida... Garrincha, para mim, foi o maior gênio do futebol mundial, embora ache que ele nem se dava conta disso...

Maradona ou Messi? Maradona, na minha opinião. Também pela improvisação, pelo domínio de bola, pela genialidade. Messi, apesar de ser um “baita” jogador já tem outro estilo, já que foi ainda adolescente para a Europa e lá adaptou seu futebol ao estilo europeu, sendo mais objetivo, pragmático, apesar de às vezes também improvisar. Nunca deu sorte jogando pela seleção do seu país.

Zico ou Dida? Para mim, Dida (sei que vou ser xingado por esta opinião, inclusive por um familiar, flamenguista doente). Mas, acompanhei a carreira dos dois desde o início. Vi Dida estrear pelo Flamengo, juntamente com Babá, acho que no tricampeonato do rubro-negro de 1955. Sempre foi um jogador brilhante, artilheiro nato, decidindo jogos importantes para o seu time. Zico, mais recente, também excelente jogador, irmão mais novo de outros atacantes de sucesso (na minha opinião, Edu, o melhor deles) é mais idolatrado pela torcida do Flamengo por ter ficado mais conhecido e porque a mídia o promoveu muito. Edu, por ter jogado quase toda sua carreira no América, não teve tanta projeção, mas foi um senhor jogador.

Gerson ou Didi? Para mim, Didi. Conheci Gerson quando tinha doze anos de idade, ele, acho que dois anos mais velho do que eu. Treinávamos futebol de salão no Canto do Rio, em Niterói, ele já despontando como uma grande revelação do futebol da época. Em 1955, ele disputou os Jogos Infantis pelo clube (jogos patrocinados pelo então Jornal dos Sports) pelo time até quinze anos de idade, formando ala com Jardel, que depois jogou por vários clubes, inclusive Internacional e Fluminense). Deram um show de bola e ganharam facilmente o torneio. Eu, nem me atrevi a disputar pelo time de até 13 anos, onde teria poucas chances de ser titular (Carlos Pio jogava nesse time) e preferi participar do torneio de tênis de mesa, que também praticava no clube. Gérson teve carreira meteórica, passando para o juvenil do futebol de campo do Canto do Rio e depois transferindo-se para o Flamengo. Excelente visão de jogo, passe de primeira, sempre encontrando um jogador desmarcado. Jogou pelo meu Botafogo, pelo São Paulo e encerrou a carreira no Fluminense. Didi, quase dez anos mais velho, era o rei do meio de campo. O “Príncipe Etíope”, como o chamava Nelson Rodrigues. Jogou pelo Madureira, depois Fluminense, campeão carioca pelo Botafogo em 1957, bicampeão do mundo pela seleção brasileira em 1958 e 1962, foi tentar o sucesso no Real Madrid, não se adaptou, voltou ao Botafogo onde chegou a jogar algumas partidas ao lado do Gérson, no que foi chamado na época de “super meio de campo”. Ficou pouco tempo, foi ser técnico no Peru. Célebre ficou sua atitude num jogo da Copa do Mundo de 1958, quando, após o Brasil levar um gol, foi até o fundo das redes, pegou a bola, colocou-a debaixo do braço e, calmamente, em passos estudados, foi andando com ela até o meio do campo para dar nova saída. O Brasil virou o jogo e ganhou por 5 X 2. Grande craque.

Ademir da Guia ou Rivellino? Prefiro Ademir da Guia. Estilo clássico, muito tranquilo, domínio de bola extraordinário, para mim um dos grandes injustiçados na seleção brasileira. Jogou na mesma época de Gérson e Rivellino, que tinham muito mais cobertura da mídia (carioca e paulista), por isso era sempre preterido nas convocações da seleção. Filho do extraordinário Domingos da Guia, um dos maiores zagueiros do Brasil das décadas de 30 e 40, começou no Bangu e foi ainda muito novo para o Palmeiras, onde construiu sua carreira. Rivellino, cria do Corinthians Paulista, era adorado pela torcida do clube, ganhou o apelido de “Garoto do Parque”, também excelente meio de campo. Diferente de Ademir, temperamento explosivo, irritadiço, nunca conseguiu se firmar na seleção brasileira, até que, em 1970, Zagallo o colocou para jogar na ponta esquerda, como um ponta recuado, como ele próprio, Zagallo, jogara em seus tempos de Flamengo, Botafogo e seleção. Adaptou-se bem à função e foi um dos melhores jogadores da seleção campeã mundial de 1970. Já na seleção de 1974, titular absoluto do meio de campo, não alcançou o mesmo sucesso. Jogou no Fluminense e fez muito sucesso com a camisa tricolor.

Poderíamos tentar fazer outras comparações. Domingos da Guia ou Djalma Dias (este último, o melhor zagueiro que vi atuar; não vi Domingos).

 Leônidas da Silva, Heleno de Freitas ou Ademir Menezes? Não vi Leônidas; Heleno, só vi a última partida que jogou (meio tempo, pois foi expulso, em 1950, com a camisa do América, no Maracanã); Ademir, realmente, o melhor centro avante que vi jogar. Queria ter visto Heleno em seu auge, na década de 40.

Zizinho ou Didi? Para mim, Zizinho, que também vi jogar já em final de carreira, pela equipe do Bangu.

De tudo o que comentei, resumo: comparações são sempre difíceis, traiçoeiras, até mesmo infelizes. Tudo depende de preferências pessoais, clubísticas, época em que jogaram, estilo de jogo de cada um, qualidade dos companheiros de time...

Mas, como futebol é paixão, cada um se apaixona como acha melhor...


25 de novembro de 2020

Filhos e pais ... no futebol

 

             


         J
orge Carrano

          Carioca, do Andaraí, octogenário, vascaíno.



Vou pegar o gancho de meu amigo Carlos Lopes, que comentou em seu blog, cujo link de acesso vai a seguir, que nossas histórias sobre futebol rendem:

http://calfilho.blogspot.com/2020/11/o-torneio-inicio.html

Vou fazer render o tema, mas ficando ao redor de minha família.

Alias também me inspirei no título, que é dele – Carlinhos - invertida a ordem. Confiram em:

http://calfilho.blogspot.com/2020/11/pais-e-filhos-no-futebol.html

Meu pai foi ligado ao esporte, especificamente ao futebol, nas décadas de 1950 e 1960, antes da fusão do Estado do Rio de Janeiro com o Estado da Guanabara, ocorrida na década de 1970.

BENEMÉRITO - Federação Fluminense de Desportos

BENEMÉRITO - Sepetiba Futebol Clube

Presidiu um clube em Niterói e outro em São Gonçalo, embora nunca tivéssemos residido naquele município.

Em Niterói foi o Sepetiba, que mais tarde o agraciou com um título de benemérito. 

Em São Gonçalo presidiu o Carioca. Fui ao Google em busca ade informações sobre o clube, curioso quanto ao que aconteceu com a agremiação desde o óbito de meu pai, quando não mais tive qualquer contato com eles.

Durante sua gestão assistia aos jogos. O campeonato gonçalense era bastante disputado. Entre outros clubes, tinha o Metalúrgico, o Mauá, o Tamoio, o Vidreira ... mais não lembro.

O orçamento do Carioca era modestíssimo, diferentemente de alguns outros clubes que tinham empresas patrocinadoras ou apoiadoras. A sede era numa casa emprestada. E não possuía campo de futebol. Mandava sus jogos no campo do Metalúrgico, este patrocinado pela Siderúrgica Hime.

Faço este registro aqui, sobre  a Hime, porque adiante vou explicar a escolha do título da postagem – filhos e pais ... no utebol – e esta siderúrgica tem a ver com o caso.

Para minha frustração, na Wikipédia nada tem registrado sobre o Carioca, como se pode verificar:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Carioca_Football_Club_(S%C3%A3o_Gon%C3%A7alo)

Igual sorte está aresservada ao Sepetiba F.C., que também etá na Wikipédia, sem conteúdo. Acessem:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Sepetiba_Football_Club

Sepetiba e Carioca eram, ou são, rubro-negros o que para meu pai seria um plus já que torcedor do Flamengo.

Anos mais tarde, estando desvinculado dos clubes, foi nomeado para compor o Tribunal de Justiça Desportiva, entidade que presidia quando faleceu em 1963.

JUIZ do TJD Fluminense

Onde eu entro na história e sou comparado ao meu pai?

A horas quantas de minha vida profissional, exerci o cargo de Gerente Administrativo da supramencionada Siderúrgica Hime.

Quando contratado, durante a entrevista com o residente da empresa, de nome  Carlyle Wilson, que era cumulativamente vice-presidente do Grupo Bozano Simonsen, então proprietário da siderúrgica, ele me exibiu o projeto que pretendiam implantar, de recreação, lazer e integração dos empregados e suas famílias.

Em tal projeto o campo de futebol, de dimensões oficias, era fundamental. Seu uso passaria a ser exclusivo, privativo da empresa e de seus empregados.

Resumo da ópera, no exercício de minhas atribuições funcionais, tive que tomar as providências de retomada da posse direta do campo de futebol.

Esta providência despertou o inconformismo da Federação Gonçalense de Desportos, repercutiu semanas na imprensa (O Fluminense e O São Gonçalo), originou visitas do então presidente da Liga – Antonio Di Batista – e revolta dos dirigentes do clube Metalúrgico.

Como inevitável um dos órgãos de imprensa fez comparação entre minha atitude (tomaram como decisão pessoal) e a atuação de meu pai enquanto “saudoso desportista”, ligado ao Carioca, e enaltecendo sua "habilidade, inteligência e compreensão" . Como pode ser lido no texto.

Vejam as imagens a seguir:



 

 



Nota: claro que não foi uma decisão minha, fui apenas o executor de decisão da presidência e acionistas do empresa.


23 de novembro de 2020

PAIS E FILHOS... NO FUTEBOL...

      


Calfilho

Carioca de Olaria, botafoguense de coração, niteroiense por adoção, copacabanense por predileção, parisiense e europeu por admiração ... 78 anos de idade, tentando chegar aos 80, se Deus ajudar.

 

Em talvez oitenta por cento das hipóteses, os filhos seguem os caminhos que os pais já desempenharam em suas próprias vidas. 

Assim, muitos médicos também se formam em medicina porque seu pai ou sua mãe foram médicos. O mesmo ocorre na advocacia (com suas variantes para a magistratura ou Ministério Público, mesmo Defensoria), engenharia, odontologia e outras carreiras de nível superior...

Não porque, necessariamente, já tinham vocação para seguir a mesma profissão,  mas, quase sempre pela influência familiar... talvez até por comodismo, por já encontrarem o escritório ou consultório do pai ou da mãe estabelecido, o bom nome que eles já conquistaram no exercício de suas profissões e a maior facilidade que teriam em começar uma atividade laborativa após o término de seus ciclos de estudos convencionais...

Cada um deve ter sua própria história para contar. Muitas delas são iguais, outras parecidas, algumas bem diferentes...

Vou contar a minha, se me permitem. Meu pai era médico e acho que um dos seus maiores sonhos era que eu também fizesse medicina. Por isso, cursei o antigo científico, que era preparatório para medicina, engenharia, odontologia, entre outras carreiras.

Estudei, sem necessidade, matemática mais avançada, desenho, química, física, matérias que nunca utilizei no futuro. 

Acabei cursando Direito (poderia ter feito o clássico e me livrado daquelas matérias) e segui outra carreira, mesmo sem ter vocação para ela. Sei que decepcionei profundamente meu pai, mas acho que fiz o que achei que era melhor para mim na ocasião. Seria um médico apenas razoável, acabei um magistrado também apenas razoável...

No futebol, meu pai também não me influenciou... Na realidade, não sei para qual time torcia. Senti nele uma leve predileção pelo Vasco, mas foi apenas minha impressão. Entretanto, levou-me várias vezes ao Maracanã para assistir jogos de times diversos, entre eles até o São Cristóvão. Com ele, assisti partidas diurnas e noturnas, do campeonato carioca e do antigo torneio Rio-São Paulo. Minha opção pelo Botafogo, depois de minha fase cantorriense foi tomada somente por mim, por mais ninguém.

Já em relação aos meus filhos foi um pouco diferente. Não dei nenhum palpite sobre a carreira que deveriam seguir. Deixei exclusivamente a critério deles essa escolha. Minha filha mais velha e dois dos meus filhos homens escolheram Direito, não sei o motivo. 

Não advogo depois que me aposentei (nem revalidei minha inscrição na OAB), não tenho escritório e pouco posso ajudá-los, já que o Direito mudou muito depois da minha aposentadoria.

Outro filho meu cursou Física e hoje é professor da UFRJ, tendo vários cursos de mestrado, doutorado e pós-graduação nos EEUU., Europa, até China.

Já quanto ao futebol, aí não. Ainda crianças de colo me acompanharam devidamente uniformizados com a camisa, calção e meia do Botafogo a jogos no Maracanã. Hoje, são quatro botafoguenses doentes. Um deles, como eu, é sócio proprietário do clube.

Já meu neto, doutrinado pelo pai, é tricolor, não consegui influenciá-lo.

Democracia em tudo, menos no futebol...

22 de novembro de 2020

Os goleiros

               


           J
orge Carrano

                Carioca, do Andaraí, octogenário, vascaíno.


Durante anos ser goleiro era estigma, pelo menos nas nossas peladas. Quem tinha pouca habilidade para jogar com os pés inevitavelmente ia parar no gol.

A não ser que fosse o dono da bola. Logo, era uma função de excluídos.

Importávamos goleiros até do Paraguai, país tido e havido como “vendedor de muambas”.

Os casos mais notórios, num certo período, foram os de Garcia e Victor Gonzáles, que jogaram, respectivamente, no Flamengo e no Fluminense.

É bem verdade que o Botafogo ainda tem um paraguaio – Gatito Fernández - mas é exceção a regra.

Argentinos foram muitos os que jogaram em equipes nacionais, como por exemplo Chamorro,  no Flamengo e Andrada, no Vasco. Este último entrou para a história menos por seus méritos (e eram muitos), mas pelo fato de ter tomado o milésimo gol de Pelé.

Lembro de um uruguaio, bigodudo, que jogou no Santos: Rodolfo Rodríguez. E de um chileno, que protagonizou uma bizarra e dramática encenação, simulando haver sido atingido por um sinalizador, ao tempo em que defendia a seleção chilena. Chama-se Augustín Cejas, e o fato lhe custou o banimento do futebol.

Hoje, no dizer de Dadá Maravilha, a posição de goleiro é uma “profissão”, como é a de centroavante goleador.

Estamos exportando talentos, que se destacam em clubes da primeira linha europeia, como por exemplo Alisson, no Liverpool e Ederson, no Manchester City, ambos, claro, na Inglaterra e Neto, atualmente no Real Madrid, na Espanha. Mas estão por lá vários outros.

Os goleiros atualmente além dos predicados clássicos, tipo elasticidade e impulsão (que permitiam que baixinhos jogassem no gol) e senso de colocação, precisam ter alguma habilidade com os pés.

A estatura, como não poderia deixar de ser, também passou a ser importante, posto que nas bolas cruzadas na área, principalmente nos escanteios, zagueiros do adversário, geralmente altos, sobem tentando o cabeceio. Sem falar dos centroavantes de boa altura, envergadura  e impulsão.

Antes destes goleiros tipo exportação tivemos bons e sortudos goleiros em atividade aqui. A sorte sempre foi fator que chamava a atenção, tanto assim que criaram o apelido de leiteiro para os guarda-metas que contavam com as traves e bolas raspando sem entrar.

O goleiro Carlos Castilho, ídolo do confrade Riva, era um destes sortudos e alvo do apelido de leiteiro.*

Alias que o tricolor carioca tem tradição de grandes goleiros. Tanto que dois deles, ao mesmo tempo, foram convocados para a seleção brasileira: o já citado Castilho e Veludo, considerado por muitos melhor do que o titular.

Bem, os goleiros agora têm mais status, existem até estirpes - tradições familiares - como comprovam o Alisson e o Muriel irmãos, que jogam no Liverpool da Inglaterra e no Fluminense; pai e filho, como Gato e Gatito Fernández (ora no Botafogo) e Kasper Schmeichel, atualmente no Leicester, da Inglaterra, que é filho do festejado Peter Schmeichel, que jogou no Manchester United também da Inglaterra.


*Não sei a razão, não vejo relação entre a profissão de leiteiro e a sorte do goleiro. Alguém sabe?

 

http://memoria.bn.br/pdf/182664/per182664_1955_00905.pdf

20 de novembro de 2020

O TORNEIO INÍCIO...

     


Calfilho

Carioca de Olaria, botafoguense de coração, niteroiense por adoção, copacabanense por predileção, parisiense e europeu por admiração ... 78 anos de idade, tentando chegar aos 80, se Deus ajudar.

 

 

Nos primeiros anos da década de 50 do século passado, já totalmente fascinado pelo futebol, meu pai me levou algumas vezes ao Maracanã. Acho que já comentei isso aqui: só não o acompanhei na final de Brasil X Uruguai, porque tinha apenas oito anos de idade e ele ficou com receio do tumulto que seria a saída do estádio após a vitória tida como certa da equipe brasileira. Bem, naquele tempo, não havia Uber, nem ponte, o bonde era a condução até a praça XV, e dali uma barca da Cantareira para Niterói... Primeira vez que a seleção conquistaria a Copa do Mundo de futebol... Infelizmente, o verbo “conquistar” ficou apenas no condicional, uma das maiores vergonhas do futebol brasileiro, que só seria suplantada muitos anos após, já no século seguinte...

Já tinha formado meus times de futebol de botão. Mas, ainda, sem definição como torcedor. Tinha várias equipes, muitas deles compostas de “jogadores” feitos com casca de coco, botões velhos que minha mãe não usava mais, mas nunca meus times eram desses botões que vemos atualmente, todos iguais, em material plástico, com o escudo dos clubes em cima. Os goleiros, normalmente, eram caixas de fósforos com chumbinho de pesca em seu interior, para não caírem ou virarem...

No corredor do prédio da Av. Amaral Peixoto onde morava, eu e meus irmãos jogávamos animadas partidas de futebol, com bola de meia ou de borracha, o que deve ter causado muitos aborrecimentos aos vizinhos dos outros apartamentos do mesmo andar.

Só no final de 1951, quando mudamos para a rua Nilo Peçanha, no Ingá, foi que pude verdadeiramente praticar o futebol na rua e na praia... Deliciosa época, em que fechávamos a rua com balizas improvisadas com tijolos e só éramos interrompidos quando passava um carro de duas em duas horas, ou uma senhora transitava pela calçada.

-- Para a bola!!! -- um de nós gritava e o “racha” era momentaneamente interrompido...

Mas, voltando às minhas idas ao Maracanã...

Um dos espetáculos de que mais gostava era o extinto Torneio Início, que abria o campeonato carioca de cada ano... Normalmente, os grandes times não mandavam para esse torneio de abertura seus times principais, por não darem muita importância ao mesmo... Todos os times da Federação Carioca de Futebol o disputavam, como uma festa de abertura do campeonato que começaria na semana seguinte. Deixem-me tentar lembrar quais eram as equipes no início dos anos 50: Vasco, Flamengo, Fluminense, Botafogo, América, Bangu, Madureira, São Cristóvão, Olaria, Bonsucesso, Canto do Rio... Anos mais tarde, entraram Portuguesa e Campo Grande...

No Torneio Início, todos os times cariocas compareciam ao Maracanã e, como os vestiários não eram suficientes para abrigar os jogadores de todos os times, alguns deles ficavam sentados no gramado, ao lado dos túneis dos vestiários.

Era realmente muito legal ver seus ídolos sentados ou deitados displicentemente no gramado aguardando a hora em que os jogos de seus times iriam começar. As partidas tinham a duração de vinte minutos, com dez minutos para cada tempo e eram eliminatórias. A final tinha 60 minutos, com 30 para cada tempo. As primeiras partidas, normalmente, eram entre os times considerados “pequenos” (Canto do Rio, Olaria, Bonsucesso, São Cristóvão, Madureira...), sendo a metade deles logo eliminada, e os vencedores iriam disputar com os “grandes” (Vasco, Flamengo, Botafogo, Fluminense, América e Bangu) os jogos restantes.

Era uma verdadeira festa, que tinha início ao meio dia e, muitas vezes terminava com o dia já escurecendo...

Se um dos jogos terminasse empatado, a decisão era por pênaltis ou pelo número de escanteios concedidos  ( três rodadas de pênaltis  até a definição do vencedor e todos os pênaltis deveriam ser batidos pelo mesmo jogador – segundo a Wkipedia).

A primeira edição do torneio foi em 1916 e a última em 1967 tendo havido uma edição especial m 1977, também segundo a Wikipedia.

Apenas por curiosidade e para não dizer que o então meu time de coração não ganhou nada, o Canto do Rio foi o campeão de 1953. Tinha a seguinte formação: Celso, Nanati e Garcia; Cleuson, Rubinho e Heber; Milton, Miltinho, Jaime, Dodoca e Jairo. A final teve prorrogação e tudo e o Cantusca “goleou o Vasco por 3 x 0...

 




Minha fonte foi a Wikipedia e a foto da equipe campeã do torneio início de 1953 é do “Sport Ilustrado”.


19 de novembro de 2020

Técnico não ganha jogo ... mas perde

 


Jorge Carrano

Carioca, do Andaraí, octogenário, vascaíno.




Você acredita nisso? Pensa assim também?

Eu não. Técnico também ganha, como provaram, por exemplo, na Premier League: Alex Ferguson, escocês,  26 anos a frente do Manchester United e Arsène Wenger, francês, 22 anos de Arsenal.




Alguns conquistaram títulos importantes, nacionais e continentais, dirigindo diferentes clubes em diferentes países, com diferentes culturas e idiomas. Falo, por exemplo, de Mourinho e Guardiola.

O primeiro técnico de futebol que chamou minha atenção, no Brasil, foi Flavio Costa, que dirigia o Vasco e a seleção nacional.

Vitorioso no Gigante da Colina, mas perdedor de uma Copa do Mundo, em casa, jogando pelo empate, depois de haver aberto o placar.*

O Uruguai reverteu e virou o resultado para 2X1, sagrando-se campeão, pela segunda vez.

Por coincidência, leio hoje que o filho do autor do gol da vitória - Ghiggia - quer vir trabalhar como técnico no Brasil, de preferência no Botafogo ou no Vasco.

Leiam em:

https://globoesporte.globo.com/futebol/copa-do-mundo/eliminatorias-america-do-sul/noticia/aluno-de-tabarez-filho-de-ghiggia-procura-botafogo-e-vasco-com-sonho-de-treinar-no-brasil.ghtml


Flavio Costa introduziu no Brasil o sistema WM utilizado na Europa, especialmente na Inglaterra. As equipes, neste sistema, jogavam com dois zagueiros, três jogadores na linha média e cinco atacantes.

O time da Vasco, com poucas variações, tinha a seguinte formação: Barbosa, Augusto e Wilson; Eli, Danilo e Jorge; Friaça, Maneca, Ademir, Ipojucam e Chico.

Mais tarde, seja pelos resultados alcançados, seja pelo folclorismo em torno de seu nome, passei a admirar Gentil Cardoso, pernambucano campeão em vários clubes.

É dele o ensinamento, válido até hoje, contido na frase: "quem se desloca recebe; quem pede tem preferência".

Essa assertiva é válida até nossos dias. Num futebol solidário, os jogadores precisam se movimentar, oferecer opção de passe ao companheiro, deslocarem-se buscando espaço, enfim coisas do gênero.

Outra boa história sobre o Gentil é que sendo ele um defensor da bola na grama, rasteira, explicava: "a bola é feita de couro (na época era mesmo); o couro vem de onde? Do boi ou da vaca não é? E o boi se alimenta do quê? Capim ou grama, né!? Logo a bola tem que ficar rente ao gramado".

Mas a melhor frase dele é a que define e distingue o craque: "o craque trata a bola de você, não de excelência".

Três irmãos - os Moreira - trabalharam como técnicos no futebol  brasileiro:  Zezé, Aymoré e Ayrton Moreira. Dois deles com um pouco mais de destaque.

Aymoré conseguiu um feito que não lembro de outro treinador que tenha conseguido, dirigindo a seleção nacional: um campeonato mundial (nosso bi), uma Copa Roca (disputada com a Argentina), uma Copa Rio Branco (disputada com o Uruguai), uma Taça Bernardo O'Higgins (disputada com o Chile) e uma Taça Oswaldo Cruz (disputada com o Paraguai).

Zezé, outro irmão Moreira, criou e aplicou o sistema de marcação por zona que fez relativo sucesso no Fluminense. A defesa ficava muito bem protegida. E eu odiava meu time pressionar o tempo todo e ao final da partida o placar mostrar Fluminense 1X0.

Quem não lembra de Rinus Michels, claro se de minha geração ou a do Paulo March, posterior a minha,  pois os mais novos não sabem de quem se trata mesmo.

Foi o célebre criador do futebol total (carrossel holandês) implantado na seleção holandesa de 1974, também chamada de "laranja mecânica". Foi uma novidade, tentada, sem sucesso, em outros seleções e equipes. Segundo Rinus, dependia muito do nível de inteligência dos jogadores.

Agora os portugueses estão na moda. No Brasil e em outros países, inclusive na Venezuela, onde José Peseiro dirige a seleção nacional.

Dentre os lusitanos laureados e elogiados, destaca-se José Mourinho. Na Wikipédia seu curriculum é invejável. Leiam:

https://en.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Mourinho

Mas no Brasil técnico português cobiçado é coisa mais antiga, como faz prova o anúncio veiculado pelo Vasco, em 1946, de sorte e permitir a candidatura de  Ernesto Santos  que era professor na escola de educação física.


Ernesto foi contratado em substituição ao uruguaio Ondino Vieira artífice do "Expresso da Vitória.

Alguns treinadores criam rivalidade séria entre eles. Discutem, se alfinetam e se xingam.

Abaixo flagrante de desentendimento entre Mourinho, então do Chelsea e Wenger, no Arsenal.


Elegantemente trajados mas prontos para as vias de fato.

* Na época o regra era diferente. Na verdade não houve uma final. Os primeiros classificados nos grupos (eram 4 de 4 equipes em cada um), disputariam um quadrangular. O quadrangular foi formado por Brasil, Uruguai, Espanha e Suécia. O Brasil goleou Suécia e Espanha e perdeu para o Uruguai.

17 de novembro de 2020

MEMÓRIAS FUTEBOLÍSTICAS...


 




       


Calfilho

Carioca de Olaria, botafoguense de coração, niteroiense por adoção, copacabanense por predileção, parisiense e europeu por admiração ... 78 anos de idade, tentando chegar aos 80, se Deus ajudar.




Provocado por um dileto amigo, vou tentar escrever algumas linhas sobre futebol...

Acompanho o esporte desde 1950, quando tinha oito anos de idade...

Não torcia por um clube definido, gostava de ver os times jogando, a beleza das camisas coloridas, o Maracanã grandioso, mas ainda um pouco triste, depois da derrota para o Uruguai, na Copa do Mundo de 50... Meu pai às vezes me levava para assistir uma partida, seja do Vasco, Fluminense, Botafogo, América, até mesmo do São Cristóvão. 

Com a chegada da televisão em nossos lares, passei a acompanhar com mais frequência os jogos que os clubes permitiam a transmissão.

O Vasco era o grande time da época, base da seleção brasileira que disputou a malfadada Copa de 50. Barbosa, Augusto, Eli, Ademir, Maneca, Friaça, Tesourinha, Chico, jogavam pela equipe cruzmaltina. Foi o campeão carioca daquele ano.

O Fluminense tinha Castilho, Píndaro, Pinheiro, Clóvis, Telê, Vítor, Bigode, Orlando Pingo de ouro, entre tantos outros excelentes jogadores. Foi o campeão de 1951.

O Flamengo tinha um timaço, sendo reforçado com a vinda de Rubens e Adãozinho, que chegaram do futebol paulista. Garcia, Biguá (mais tarde Tomires) e Pavão; Jadir, Bria (depois Dequinha) e Jordan; Joel, Rubens, Adãozinho (mais tarde Índio), Benitez e Esquerdinha. Ainda entraram Evaristo, contratado ao Madureira e uma dupla que fez muito sucesso por vários anos: Dida e Babá. O Flamengo foi tricampeão carioca em 1953, 1954 e 1955...

O Botafogo, que fora campeão em 1948, depois da saída de seu melhor jogador, Heleno de Freitas, para o Boca Juniors, não conseguia formar um bom time. Até que, em 1953, surgiu um endiabrado ponta-direita, de nome Manuel Francisco dos Santos, apelidado de Garrincha, que fez voltar a alegria aos botafoguenses. Contratou Didi ao Fluminense, além de Paulinho Valentim e Quarentinha, dois excelentes artilheiros. O time foi campeão em 1957.

Já agora, eu era um fã incondicional de futebol, assistindo todos os jogos passados na televisão ou indo aos estádios de Caio Martins, Maracanã, São Januário, Álvaro Chaves e até mesmo Bariri, Teixeira de Castro, Figueira de Melo.

Era sócio do Canto do Rio F.C., clube de Niterói, que disputava o campeonato carioca. Passei a torcer por ele e a acompanhar seus jogos pelos estádios onde jogava. Em 1955, o clube contratou alguns jogadores já em final de carreira e conseguiu formar um time razoável: Garcia (Veludo), Ary Marron, Vítor, Lafayette, Eli do Amparo, Caboclo, Mituca, Zequinha, Osmar, Jairo...

Como o meu amigo Carrano já explicou em seu “post”, as tardes de domingos começavam às 13 horas com os times de aspirantes. Às quinze horas tinha início o jogo de profissionais. E, nas manhãs ensolaradas havia a partida entre os juvenis. Não vi ninguém morrendo de insolação, nem havia parada técnica para reidratação...

Eu mesmo costumava “rachar” na areia da praia de 9 da manhã ao meio-dia...

Já disse isso em outras matérias do meu blog: defini qual seria o clube pelo qual torceria depois da final do campeonato carioca de 1957, quando o time da estrela solitária goleou o Fluminense por 6 X 2, com exibições primorosas de Nílton Santos,  Garrincha, Didi, Paulinho Valentim, Quarentinha...

Devo ter dado sorte nessa escolha, pois no ano seguinte, 1958, o Brasil, finalmente, foi campeão do mundo, tendo em sua equipe justamente Nílton Santos, Garrincha e Didi. E repetiu a dose em 1962, com mais Zagallo e Amarildo no time principal, além dos três outros já citados...