Carlos Frederico March
(Freddy)
O famoso Halloween, muito festejado nos Estados
Unidos e outros países anglo-saxônicos no próximo dia 31, é uma controvérsia
aqui no Brasil. Não raro a gente dá de cara com cartazes e outdoors espalhados
na cidade criticando a adesão a essa festa. Sua denominação como Dia das Bruxas
é exclusiva de povos de língua portuguesa.
Entrar em detalhes sobre como apareceu o
Halloween é chover no molhado, na Wikipedia o assunto é dissecado aos ossos.
Para ser bem conciso, a palavra parece descender da expressão Hallow Evening (ou
All Hallows Even) que se refere à véspera do Dia de Todos os Santos. Sua origem
na Idade Média e uma relação direta com a Santa Inquisição perpetrada pela
Igreja Católica fazem parte da história do Halloween.
Para as crianças dos países onde o Halloween é
tradicional, ele é motivo de brincadeiras o dia todo, as árvores sendo enfeitadas
com doces e adereços alusivos à data. Elas alegres, inocentemente fantasiadas
com temas vampirescos e cavernosos,
passeiam de casa em casa e o mote "trick or treat" faz parte de suas tentativas de angariar
guloseimas em geral.
Jack o' Lantern, o mais conhecido símbolo do Halloween |
Tradições e origens à parte, para mim é como se
fosse um carnaval de um dia só, uma festa como outra qualquer. Participar dessas
alegres reuniões, com muita música e dança, fantasiados com temas ligados à
bruxaria, parece-me uma despreocupada maneira de passar uma noite. Nada
relacionado com devoção ao Diabo ou adesão a ritos macabros.
Em nosso âmbito familiar, nós temos realizado
diversas festas de Halloween. Decoramos nosso apartamento a caráter, montamos
som e luzes e estimulamos as pessoas a se fantasiar. Coisas bizarras podem ser
eventualmente usadas para aderência maior ao tema. Exemplos?
- ratos, lagartixas e aranhas de plástico são
espalhados em locais estratégicos
- fantasmas, bruxas, morcegos, são pendurados a
esmo pelos ambientes.
- corvos empalhados foram usados, eu tenho 2
muito convincentes
- o banheiro pode ter uma placa identificando-o
como "necrotério"
- na mesa, alguns acepipes podem ser identificados
como:
-- "vermes em conserva"= uma deliciosa berinjela ao vinagrete
-- "bolinhos de cadáver de boi" = quibes
-- "ovos de cem anos" = ovinhos de
codorna
Ou seja, um animado e estranho baile de máscaras.
Vejo, decerto, uma limitação. Na minha opinião, a festa tem de ser
exclusivamente familiar, com participação de amigos bem chegados. Festas de
Halloween públicas são frequentemente palco de confusão e desentendimento, com gente
ligada a seitas macabras usando-as para ritos selvagens ou coisas similares,
tornando sua frequência por pessoas comuns um tanto arriscada, para não dizer
perigosa.
Família do autor e amigos num Halloween caseiro |
O que mais me incomoda, no entanto, é o clamor popular
de que o Halloween é uma festa "importada". Estaríamos nos rendendo a
uma cultura estrangeira, maculando valores de nosso povo. Que valores?
Nosso Natal tem algodão nas árvores emulando
neve e Papai Noel vem numa carruagem puxada por renas! Servimos castanhas e nozes na nossa mesa da
ceia, além de frutas secas e doces típicos de um inverno rigoroso que raramente
temos aqui e, quando o temos, certamente não é em dezembro.
O que é uma festa junina a não ser uma tradição
europeia? As danças de quadrilha são marcadas até hoje, meus amigos, em francês
!! Celebramos com alegria uma Oktoberfest tipicamente alemã, sendo que a de
Blumenau já é considerada a 2ª maior do mundo, perdendo apenas para a original
em Munique!
Até o Carnaval, ao qual demos enorme
contribuição em conteúdo e forma, chegando a exportá-lo, teve origem na
antiguidade, alcançou grande expressão na França e veio para o Brasil através
do Entrudo português.
Muito pouco de nossa "cultura" tem
raízes originadas em nossa própria terra - teríamos apenas festas indígenas.
Apesar disso tudo, Halloween não pode. Só
consigo identificar nessa restrição uma hipocrisia imensa de gente que não tem
o que fazer e adora estragar a alegria alheia.
Autor, esposa e cão a caráter para a festa |