Homem jogava futebol. Se era mais alto, acima da média, talvez jogasse basquete. Voleibol era para as mulheres e alguns poucos meninos que eram então chamados de viados. Agora seriam homossexuais (homoafetivos).
Tinha exceções, como por exemplo na equipe do Liceu Nilo Peçanha. Vide foto abaixo, na década de 1950.
Até o treinador da equipe secundarista da FESN* era uma mulher, portanto no caso treinadora. Chamava-se Nelize Tortelli (com perdão se grafia está equivocada). Os professores de educação física não valorizavam o voleibol feminino. Com raríssimas exceções.
Nos últimos anos a prática do voleibol disseminou pelo país, atraindo jovens altos e fortes, melhorando muito o desempenho das seleções nacionais, que têm obtidos resultados internacionais importantes, em Olimpíadas e campeonatos mundiais.
O jogo das mulheres também evoluiu muito, quando as jogadores deixaram de ser apenas bonitinhas, cm shortinhos justos (nada contra) e passaram a desenvolver força e impulsão.
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Voleibol feminino, do Liceu Nilo Peçanha |
Futebol era jogado em qualquer espaço plano. Nas ruas, com os gols improvisados entre sandálias ou pedras. Nas praias, com balizas onde existiam, ou gols improvisados com a colocação de camisas emboladas ou calçados: tamancos, sandálias ou tênis.
Isso porque em geral, nas peladas*, uma equipe jogava com as camisas vestidas a outra tirava a camisa. Camisa comum, não a de um clube. Era raro a petizada ter dinheiro para comprar a bola de jogo, imaginem comprar camisa de clubes. Impensável!!!
Se não havia bola de capotão - a número 3 - pois a 5 era a profissional, jogávamos com bola de borracha, ou de meia*, ou qualquer coisa que deslizasse se chutada.
Mesmo os meninos sem habilidade (é coisa inata), podiam jogar as peladas desde que fossem os donos da bola. Nem que fosse como goleiro eles tinham lugar garantido.
Jogar no gol era a condenação para os inabilidosos ou os donos da bola (quando sem talento, vocação para o jogo). Daí que no Brasil levamos anos até que fossem criados treinamentos para formação de goleiros.
Como mencionei, havia dificuldade para comprar as bolas; então os meninos de famílias com mais posses, que ganhavam bolas no Natal ou em seus aniversários, garantiam presença nas peladas ... no gol.
Dando um salto adiante comento que as partidas oficiais hoje em dia são interrompidas no verão para hidratação dos jogadores. Isso ocorre em meados de cada tempo de jogo.
Pois saibam, os mais jovens, que no passado os jogos oficiais tinham início às 15 horas. E vale frisar que havia sempre uma preliminar de aspirantes que tinha início às 13 horas. Refiro-me ao "Campeonato Carioca", seguramente o torneio regional mais importante do país. Mas nos outros Estados era a mesma coisa.
Ninguém morria de insolação ou desidratação. E olha que durante anos eram proibidas as substituições. Muito tempo depois passou a ser permitida a substituição do goleiro, em caso de contusão durante a parida; somente muito depois passaram a ser permitidas as substituições de quaisquer jogadores, inicialmente limitadas a uma e posteriormente , como hoje, a três alterações.
Niterói tinha um campeonato tido como amador disputado por clubes como Manufatura, Fonseca, Fluminense, Sepetiba, Byron, Ipiranga e outros que não recordo. Em São Gonçalo havia igualmente um campeonato muito disputado, por equipes como Mauá, Tamoio, Carioca, Vidreira, Metalúrgico e outros.*
Percebe-se pelos nomes dos clubes, que muitos deles eram patrocinados (ou mesmo mantidos) por empresas locais. O Manufatura era de uma fábrica de tecidos, o Metalúrgico pertencia a Siderúrgica Hime, o Vidreira à fabrica de vidros, no Barro Vermelho, em São Gonçalo.
O caso de maior visibilidade e importância era o Bangu, patrocinado e dirigido pela família Silveira, donos da fábrica de tecidos que tinha também o nome do clube.
Alguns dos jogadores consagrados profissionalmente deram seus primeiros chutes nas citadas equipes amadoras de Niterói e São Gonçalo.
Assim como os chamados clubes pequenos do Rio de Janeiro, que disputavam o "Carioca", como Olaria, Bonsucesso, Madureira, São Cristóvão, Campo Grande e Canto do Rio*, que também foram celeiros de grandes jogadores pois ao despontarem nestas equipes financeiramente menores eram contratados pelos grandes como Vasco, Botafogo, Fluminense, Flamengo, América e Bangu.
Sim, América e Bangu figuravam no rol dos clubes grandes. E conquistavam títulos.
Pasmem, mas salvo uma ou outra briguinha limitada a tapas e empurrões, as peladas eram realizadas sem juiz e os próprios participantes gritavam marcando a irregularidade: SAIU, FORA, HANDS (mão), quando a bola saia dos limites imaginários convencionados da área de jogo, quando realizado nas ruas, ou se havia toque de mão na bola. E o jogo parava.
Parava, também, quando nas ruas e passava um veículo. E havia respeito às senhoras que tinham que transitar pelo local onde jogávamos: "para, para, olha dona fulana passando". Alguém alertava. E o jogo era interrompido, recomeçando de onde estava a bola.
As partidas não eram controladas por tempo de jogo (cronometradas), ma sim pelo número de gols marcados. Por exemplo, a partida seria encerrada quando uma equipe atingisse dez gols. Era necessário trocar o lado do campo, para dar igualdade de condições às equipes; por isso se a parida era de 10, quando atingidos 5 gols os times mudavam de lado. Dizia-se "a partida será de 10 virando em 5".
Em muitos terrenos baldios na cidade eram improvisados campos de futebol. Nos bairros ou trechos que abrangiam algumas ruas, havia sempre quem organizasse um time formado por moradores locais*. Políticos doavam séries de camisas e as bolas eram adquiridas mediante listas de doações dos familiares. A chamada "vaquinha".
Eram comuns as olimpíadas estudantis, fossem internas, no âmbito de cada escola, fossem intercolegiais.
Atualmente os meninos, assim como as meninas, ficaram viciados nos smartphones, nos joguinhos eletrônicos e no WhatsApp. Brincadeiras ao ar livre, nas ruas e praças ficaram muito raras.
NOTAS:
1) FESN = Federação do Estudantes Scundartistaa de Niterói. Ganhamos uma edição das Olimpíada estadual da classe, realizada em Volta redonda, com o time masculino dirigido pela Nelize, que era professora de educação física.
2) Peladas = eram assim chamadas as partidas em que os participantes jogavam descalços, fosse nas ruas, fosse em terrenos baldios.
3) Bola de meia = as meias utilizadas para fazer bolas eram geralmente as de nylon, femininas, então enchidas com panos velhos ou jornais. No processo vira e revira até atingirem um diametro aceitável. Estas meias "corriam fio" e ficavam impróprias para uso. As mulheres então descartavam-nas.
4) Canto do Rio = o clube era, como é, localizado em Niterói, mas excepcionalmente era admitido a disputar o campeonato do outro lado da Baia da Guanabara, desde do tempo em que o Rio de Janeiro era a capital da República. Os nascidos no Rio de Janeiro eram chamados "cariocas". Os nascidos deste outro lado da baia eram chamados "fluminenses".
5) Pequenos e informais times locais (de bairro ou parte dele) = no meu caso, criado no bairro Ponta d'Areia, foi formado pelo colega Toninho Caravela o "Palmeirinha". Quando era possível jogava-se no campo do Vianense (gramado, demarcado e com balizas) que ficava no bairro. Ou no campo do Diário Oficial, órgão oficial de divulgação do Estado, que ficava na Av. Jansem de Melo. Ou no campo da Polícia Militar na Av. Feliciano Sodré.
6) Alguns colegas do Liceu jogavam voleibol. Não me consta que fossem gays.
7) Imagens do Google e acervo pessoal.