Por
RIVA
Há muito desejava escrever sobre o assunto, mas não sabia se
devia, se as pessoas aceitariam ler sobre .... a maioria evita o assunto morte por crenças, superstição, receios e
desinformação ou falta de vivência no evento.
Já passei por muitos eventos de falecimentos. Nos primeiros
eu era muito jovem, quando faleceram meus avós .....na minha cabeça era uma
coisa normal, do envelhecimento, do cronograma natural do ser humano. Alguma
exceção para minha avó materna, que foi realmente minha mãe (já expliquei o
porque em outros posts), pois foi definhando após duas quedas e fraturas de
fêmur.
E de repente começaram eventos mais relevantes, muito mais
... a passagem do meu pai e da minha sogra querida. Forte demais. Aquele puta
sentimento de perda.
Alguns anos depois, meu querido sogro também partiu, mas não
foi uma coisa súbita, mais ou menos, e minha mãe, mais do que esperado. Sei lá,
estou escrevendo em cima do que hoje sinto como foi ..... exceção para a
inesperada morte do meu pai e da minha sogra, os outros fatos foram mais ou
menos gerenciáveis emocionalmente. Perdas tipo “sei que vai rolar”!
Então, sempre pensei o desaparecimento como uma linha natural
do tempo, até vivenciar a morte do filho de um amigo do futebol do ABEL, com
apenas 21 anos, em um desastre de automóvel. Uma cena devastadora no velório. A
inversão da linha do tempo ... FODA !
E aí você cai na real da sua pequenez defronte ao TODO
........
Já faz tempo que isso aconteceu, mas essa avaliação, essa
tentativa de entender tudo isso, passa pela minha cabeça, me amedronta. Minha
pequenez.
Por que estou teclando aqui sobre tudo isso ? Porque o
falecimento do Freddy, meu irmão, foi um divisor de águas em minha vida em
relação à morte. Não tenho explicação para isso. Mas foi, fato.
Escrevi no Facebook sobre a minha imensa perda :
CARLOS PARTIU ....meu
irmão amado partiu. E com ele levou pra si nossas lembranças de uma infância,
adolescência e maturidade rica em semelhanças e diferenças.
Compartilhamos por mais
de 20 anos as mesmas 4 paredes, suas marcas e cicatrizes de alegrias e
tristezas, que fazem parte do nosso crescimento e formação como pessoas.
E a vida nos conduziu
por mais 40 anos, muito próximos.
Eu só tenho que
agradecer ao Cara Lá de Cima ter-me proporcionado nascer e me desenvolver ao
lado de um cara como ele, pois nossas semelhanças e diferenças naturais foram
um combustível para o nosso crescimento como crianças, como garotos e como
homens.
Mas partiu,
precocemente, e isso dói muito para quem fica aqui, muito mesmo.
Não sei se doeu para
ele, mas acredito pelos últimos momentos e expressões dele que não doeu, que
estava consciente de uma passagem normal e tranquila espiritualmente, cercado
por pessoas especiais em sua vida.
É o que creio, e o que
vi em seu rosto na véspera da sua passagem, especialmente com meus filhos
Rodrigo e Paulinho.
Sei que o tempo vai
acalmar tudo isso, por experiência própria com meus queridos pais, avós e meus
amados sogros. Ficam os momentos maravilhosos que compartilhamos, fica a IMENSA
saudade de tudo que fizemos, e aquela culpa pelo que não fizemos, naturalmente,
é sempre assim ....
Neto, jogador da
Chapecoense sobrevivente da tragédia, na 3ª feira passada, nos enviou a
seguinte significativa mensagem : Não esperem o avião cair para dizer EU TE
AMO.
Irmão, te amamos
demais. Muita LUZ pra você nesse novo caminho. Saudades eternas.
Paulo, Isa, Rodrigo,
Breno e Paulinho
Acompanhei, à distância, a vigília do Freddy diante dos
fatos, um cara mega inteligente, informado, que sabia o que o esperava.
Enfrentou TUDO com uma altivez impressionante, mandando fotos alegres do seu
tratamento da doença, recebendo amigos e parentes em casa para os acepipes e
bate-papo que foram uma marca em sua vida social, com todas as suas limitações.
No hospital, na última estada, pouco falava...sentia,
escutava tudo, e lembro das suas palavras ao olhar o entorno da sua cama : “amigos
!”, falou pra mim. Revivo seu olhar
quando viu meu filho Paulinho adentrar o quarto do hospital para visitá-lo ...
que alegria em seu olhar. Nunca vou apagar da minha memória essa imagem ....
Enfrentou a situação, por ele mais que conhecida, com
coragem, força, naturalidade do inevitável .... sim, naturalidade. E isso mexeu
demais comigo, me modificou em relação a tudo isso, me fortaleceu, me confortou
frente ao inevitável, em qualquer forma que venha.
Desaparecer .... o livro mais vendido no Brasil hoje é algo
tipo a A SUTIL ARTE DO FODA-SE.
Sim, que se foda preocupação com o sol, a chuva, a SKY, o
Congresso, o Lula, o IPTU, o trânsito, o dólar, o Trump, etc, etc ......
Vivam a VIDA, com naturalidade, muita mesmo, devagar ......
Segue uma foto da nossa última jam session na casa dele.