31 de outubro de 2015

FUTEBOL SEGURO É NO SOFÁ DE CASA




Por
Riva








Rodrigo “Rodo” Barros é um escritor fluminense, autor de livros, contos e poesias. Reside em São Paulo, e freqüenta o Twitter desde 2009. Sou um dos seus 2.345 seguidores.

Quem quiser segui-lo no Twitter, acesse @rodoinside. Ou veja seus contos em http://www.rodoinside.com.br/.

Decidi compartilhar seu post aqui no nosso GE em razão da gravidade do evento que ele presenciou na Allianz Parque do Palmeiras essa semana, nas arquibancadas do jogo Palmeiras x Fluminense, que culminaram com o óbito de um torcedor do Fluminense.

O fato está sendo pouco explorado pela mídia, sabe-se lá porque .... que não sejam as mesmas supostas razões da quase uma dezena de penalties a favor do Palmeiras nos últimos jogos, assunto esse largamente debatido pelos jornalistas esportivos da ESPN essa semana.

Comecei a freqüentar estádios de futebol em 1960, quando meu tio me levou ao Maracanã para assistir a final Fluminense x América, de amarga recordação. Meu pai, que era América, não foi ao jogo, e com isso não assistiu à última grande conquista do seu time de coração.

De lá para cá, talvez uma centena de partidas assistidas, sem brigas, sem mortes, só alegrias e tristezas com os resultados das partidas.

Leiam o post do Rodrigo, e me digam se ainda vale a pena acompanhar seu time do coração fora do sofá .....


O meu prazer agora é risco de vida
Por Rodrigo “Rodo” Barros

Não lembro a primeira vez em que estive em um estádio para acompanhar uma partida de futebol. Meu pai tinha por hábito me levar desde bem pequeno ao Maracanã. Naquela época, era comum as torcidas se sentarem lado a lado. Não entrarei no mérito sobre o que levou as torcidas serem separadas. Quando isso ocorreu, era apenas por uma corda, algo mais simbólico que uma separação de fato.

Os tempos hoje são outros, as mazelas da nossa sociedade passaram a refletir de forma ainda mais intensa no esporte de maior popularidade do País. O nosso futebol absorve tudo de equivocado que ocorre em nosso dia a dia e, ando bem cansado do que acontece em nosso País. Fico com a impressão de que carregamos conosco o DNA da corrupção. Todo instante percebo uma tentativa nova de ser ludibriado por outrem, seja um troco dado de forma equivocada, um taxímetro adulterado, uma nova tentativa dos nossos governantes em criar leis que só os beneficiam e, no esporte isso não seria diferente.

Não sou inocente ao ponto de acreditar em erros de arbitragem constantes sejam ao acaso. Muito menos que isso ocorra para todos os clubes. Não ocorre. Ocorre de forma sistemática para os mesmos clubes, passando em branco pela imprensa esportiva, que finge não ter noção do certo e do errado para que com isso ajudar o “sistema” a se manter, exatamente como ocorre no cenário político.


Acontece a olhos vistos, estádio sendo construído com dinheiro público e entregue de mão beijada a um dos clubes de maior torcida. Alguns recebendo patrocínio de empresa pública, com a TV distribuindo cotas três vezes maiores que a de seus adversários e para colocar uma cereja no bolo, os erros de arbitragem que os mantém em um ritmo constante de vitória ainda que não estejam em seus melhores dias.

Sempre me pego pensando porque ainda insisto nisso. Já não é mais um lazer, não há mais prazer. É um estresse constante acompanhar futebol. Como costumamos dizer, temos que ganhar “contra tudo e contra todos”. Deveríamos lutar somente para ganhar na bola e dos nossos adversários, não deles e da arbitragem, da imprensa, dos patrocinadores e das federações. Se assistimos a uma partida na casa do adversário, todos esses problemas se ampliam.

Enquanto torcidas organizadas, repletas de marginais, são escoltadas até o estádio, o torcedor comum é tratado como bandido, com a truculência policial, com a violência dos adversários, e com preços superfaturados para transformar o sentimento pelo clube do coração em mais uma maneira de lesar o próximo.

Ingressos a preços surreais, falta de estrutura, ruas fechadas, estacionamento custando metade do valor do ingresso e sempre com o risco iminente. Esse foi o cenário que encontrei no Allianz Parque para assistir a segunda partida da semifinal da Copa do Brasil de 2015. O ingresso custava 120 Reais, o estacionamento do shopping ao lado estava inacessível, porque todas as ruas estavam fechadas pela polícia, tomadas por torcedores e ambulantes trabalhando sem alvará da prefeitura. Um trajeto que faço sempre, pois resido em São Paulo, estava fechado. Fechado pra mim e para os diversos moradores e trabalhadores da cidade. Após pagar 40 Reais para estacionar em um local que assim como os ambulantes não tinha alvará de funcionamento, adentrei ao novo estádio do Palmeiras.


Já o conhecia, fui a um show do Paul McCartney no local, com muito mais expectadores que o da noite de quarta-feira, mas sem rua fechada, sem policiais dispostos a agredir o público a qualquer momento e sem fãs de outro estilo musical querendo me agredir apenas por ter um gosto diferente do dele. No decorrer da partida o de sempre. Erros de arbitragem, jogando “contra tudo e contra todos” e no fim uma desclassificação nos pênaltis, vida que segue. Fiquei preso por mais de uma hora dentro do Allianz Parque porque a logística (?) de segurança, mantém os torcedores adversários presos no estádio, enquanto a torcida da casa, que comemorava a classificação podia ir embora livremente. Não precisa ser muito inteligente para saber que é o cenário ideal para uma emboscada. Algo mais do que comum na capital paulistana.


Para coroar o cenário de horror, um torcedor do Fluminense passou mal nas arquibancadas. Outros tricolores apelavam de forma desesperada para que os policiais chamassem o socorro, já que nenhum funcionário do Clube ou do Estádio estavam por perto.  Ouvíamos os policiais respondendo com certo desdém “Não sou médico, não posso fazer nada, sai pra lá”, já ameaçando uma agressão caso algum torcedor tentasse ultrapassar o corredor por eles organizado. Depois de muito apelar, um bombeiro do Estádio apareceu e foi conferir o homem que estava deitado recebendo os primeiros socorros de outro torcedor, que por coincidência era médico. Não havia maca, demoraram a descobrir onde a maca estava guardada. Cerca de vinte minutos depois, finalmente, o torcedor foi carregado para o primeiro atendimento. Hoje recebemos a notícia de seu falecimento.



Diferente do que afirmou oficialmente a diretoria do Palmeiras, o torcedor não recebeu pronto atendimento, muito menos deixou o ambiente acordado e respondendo a estímulos. Não sou médico, não posso afirmar que ele sobreviveria, mas suas chances diminuíram bastante após ter sido negligenciado apenas por ser um torcedor adversário. Se policiais estivessem mais preocupados em atender a população do que ameaçá-la, talvez tivesse uma chance, mas ele não teve. Flávio Mendes faleceu porque poucas coisas funcionam nesse País e nada, ou quase nada, vai mudar. Não mudou com o incêndio na boate Kiss, no Sul do País, e nem com a morte do jogador Serginho, do São Caetano ou a queda do alambrado de São Januário na Copa João Havelange.

O falecimento de Flávio reforçou um pensamento que já carregava comigo há algum tempo e que estava quase em definitivo na noite de ontem. O futebol de hoje tem pouco a me oferecer. Não há prazer algum em ser “roubado” na bilheteria ou em campo. Perdi o gosto de ir aos estádios e espero que a minha paixão pelo Fluminense não seja maior que meu bom senso, pois o que aconteceu ao Flávio, poderia ter acontecido comigo. O que aconteceu no Allianz Parque poderia ter acontecido em qualquer outro lugar, porque o torcedor é o que menos importa para aqueles que administram o nosso futebol.


Se antes só me sentia ameaçado por marginais travestidos de torcedores, agora, com quase quarenta anos, a ameaça é outra.

Posso vir a ter o mesmo fim de Flávio, que faleceu aos 51 anos, por negligência e falta de interesse pela vida alheia. Como diria o poeta, o meu prazer agora é risco de vida e a minha vida vale mais que isso. 

Programação do blog

Feriadão, desde ontem. Funcionários públicos  tiveram seu dia comemorativo (28) transferido para o dia 30. Decreto do governo estadual.

Com isso meu trabalho ficou meia boca, porque não havia fórum ontem, sexta-feira.

Bem, os funcionários públicos tiveram 4 dias e os outros mortais, que trabalham, terão apenas 3. Não que eu ache que funcionários públicos não trabalhem ... tenho certeza.

Então, nestes próximos dias, nada de política e tampouco economia, dois segmentos que só nos trazem aborrecimentos, angústias e incertezas.

Resolvi pesquisar na rede e localizar trechos, cenas,  de filmes dos quais gosto muito. Elas ficaram em minha memória por causa da música que escora, da interpretação dos atores, pela dramaticidade, ou simplesmente a beleza das atrizes.

Nos próximos dias (1, 2 e 3), irei compartilhar. Se tiver interesse, tempo e paciência para assistir cenas de cinco minutos, bastará clicar.

Se quiser dar opinião, endossando ou reprovando as escolhas fique a vontade.

Filmes como As Pontes de Madison, Casablanca e Os Brutos Também Amam, têm uma coisa em comum. No final os amantes (ou pessoas que se amam), não terminam juntos. Ou seja, não há, neste particular, um happy end.

Outros contam com atrizes lindas: Grace Kelly, Anita Ekberg, Ursula Andress,  Catherine Deneuve, Ingrid Bergman. UFA!!!

Se você quiser fazer sua própria seleção de cenas  e quiser ve-las publicadas é simples. O procedimento a ser adotado, passo a passo, é o seguinte:
1) indique o titulo do filme, inesquecível, marcante, antológico.
2) mencione a cena mais marcante.
3) faça um breve comentário (sobre a atriz, a música, a paisagem, etc). Comentário curto, até 5 linhas.
4) tentarei localizar na internet e, achando, acrescentarei o link.
5) se você tem o e-mail do blogueiro envie pelo correio eletrônico. Caso contrário esqueça, você está fora da brincadeira (rsrsrs).

Divirtam-se. Eu já assisti e assistirei de novo.

Nota do editor: este post é uma encheção de linguiça porque esperávamos uma colaboração da Alessandra e não chegou. No dia 4, depois da série sobre os filmes, teremos um post do Freddy (Uma louca viagem).

30 de outubro de 2015

Doze imagens do Londres

Através do olhar, e das lentes, do amigo Carlos Lopes, que também ira degustar uma Guinness por mim, num dos centenários pubs da cosmopolita cidade.

Ele prefere Paris a Londres, mas a não ser por este fato (perdoável) ele tem bom gosto. Ah! Tem outra coisa igualmente tolerável: torce pelo Botafogo.
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Nota do editor: peço e  aguardo as legendas de identificação das fotos numeradas de 1 até 12. Sim, qualquer um pode participar do quiz.

Duas clicadas sobre as fotos e elas ampliam.

29 de outubro de 2015

Amostragem da "pátria educadora"

Recebi como sendo de prova aplicada em Minas Gerais (UFMG).

Tinha como tema "A TV forma, informa ou deforma"

Eis trechos de algumas das provas:

"A TV possui um grau elevadíssimo de informações que nos enriquece de uma maneira pobre, pois se tornamos uns viciados deste veículo de comunicação".


"A TV no entanto é um consumo que devemos consumir para nossa formação, informação e deformação".


"A TV se estiver ligada pode formar uma série de imagens, já desligada não..."


"A TV deforma não só os sofás por motivo da pessoa ficar bastante tempo intertida como também as vista"


"A televisão passa para as pessoas que a vida é um conto de fábulas e com isso fabrica muitas cabeças"


"Sempre ou quase sempre a TV está mais perto denosco, fazendo com que o telespectador solte o seu lado obscuro"


"A TV deforma a coluna, os músculos e o organismo em geral"


"A televisão é um meio de comunicação, audição e porque não dizer de locomoção"


"A TV é o oxigênio que forma nossas ideias"


"...por isso é que podemos dizer que esse meio de transporte é capaz de informar e deformar os homens"


"A TV ezerce poder, levando informações diárias e porque não dizer horárias"


" E nós estamos nos diluindo a cada dia e não se pode dizer que a TV não tem nada a ver com isso"


"A televisão leva fatos a trilhares de pessoas"


"A TV acomoda aos tele inspectadores"


"A informação fornecida pela TV é pacífica de falhas"


"A televisão pode ser definida como uma faca de trezgumes. Ela tanto pode formar, como informar, como deformar"


Nota do editor: agradeço ao Paulo Bouhid o envio destas pérolas.

28 de outubro de 2015

Papo de Astronomia - Status das missões espaciais (2)




Por
Carlos Frederico March
(Freddy)








Referências iniciais

De 1 a 4 de março de 2015 abri 3 temas relacionados com importantes missões espaciais em curso neste ano. Estão em artigos publicados conforme os links a seguir:

Dia 1- Apresentação geral:
Dia 2 - Missão DAWN em Ceres:
Dia 3 - Missão ROSETTA ao cometa Churyumov-Gerasimenko (67P) :
Dia 4 - Missão NEW HORIZONS a Plutão e seus satélites:

Em 26/04/2015 foi publicada uma atualização das missões abordadas nos posts acima, sendo que em seu setor de comentários há uma série de outras pequenas atualizações à medida que as notícias vinham sendo colhidas na mídia especializada. Conferir no link:
http://www.jorgecarrano.blogspot.com.br/2015/04/papo-de-astronomia-status-das-missoes.html

O presente  texto se propõe a fazer um fechamento com o que foi possível colher das missões DAWN e ROSETTA  até o presente momento. Sobre a NEW HORIZONS em Plutão e seu séquito, apresentarei texto separado.

Missão DAWN ao planeta anão Ceres

A NASA se propôs a realizar uma série de sobrevôos de Ceres, cada vez mais perto. Esses sobrevôos são polares, ou seja, as órbitas da Dawn são perpendiculares ao plano da órbita de Ceres em torno do Sol. Essa aproximação em fases se deveu a segurança, dado que situá-la logo perto demais apresentaria riscos que o controle da missão não pretendia correr - um errinho, um delay num comando ou um evento inesperado poderiam fazer a sonda se chocar com o planeta-anão ao invés de se colocar em órbita.

Como que comprovando que todo cuidado é pouco, soube que a Down foi alvo de um raio cósmico que alterou o programa inicial, modificando os procedimentos anteriormente programados para a primeira órbita.

Tendo chegado em Ceres,  a Dawn se postou a 13.500 km de altitude em 23/04/2015. As primeiras fotos e medições foram enviadas para a Terra. Caso algo acontecesse nas próximas fases de aproximação, os cientistas já teriam dados para analisar. Depois de 2 semanas baixou para 4.350km e ali ficou por 3 semanas, refinando as observações. Mais uma aproximação e chegou a 1.470km onde permaneceu por alguns meses.

O objetivo final é chegar a apenas 375km de altitude em relação à superfície de Ceres, onde se pretende observar em close por ao menos 3 meses os sítios mais interessantes, definidos nas análises anteriores. Os propulsores para mudança de altitude foram acionados no dia 26/10/2015, segundo notícia fresquinha postada nas redes sociais pela NASA.

Contudo, por mais que fotos e medidas estejam sendo realizadas cada vez mais perto, nada de novo se descobriu com relação a Ceres, a não ser a topografia com as habituais crateras e também com algumas montanhas. As manchas brancas como a neve, que inicialmente provocaram um grande frisson na mídia e entre cientistas, apesar de criteriosamente fotografadas e estudadas, não deram resultado algum a mais do que já se imaginava. Julga-se que a queda de meteoros, cometas ou pequenos asteroides sejam o causador das manchas: provavelmente é neve revirada do manto de gelo logo abaixo da superfície.

O famoso ponto branco na cratera Occator, em 09/09/2015


Detalhe do planeta anão Ceres, em 10/06/2015

 Ceres parece ter semelhanças com muitos dos satélites de outros planetas. Uma teoria sugere um núcleo rochoso coberto de um imenso manto de água congelada e uma fina crosta de poeira e detritos bem escura (há um esquema no texto sobre a Dawn, ver no link apresentado no início do post). Análises baseadas nessa teoria levam à conclusão que há mais água no manto de Ceres que somando toda a água existente na Terra.

Outra teoria, derivada das recentes observações feitas bem de perto pela Dawn, sugere que haveria um manto superficial de material poroso bem mais espesso do que a suposta fina camada de poeira e detritos . A conclusão é derivada de observação de curiosas crateras. Se o solo é firme, um impacto gera uma cratera e o “projétil” (cometa, meteoro) repica ou se desintegra. Se o solo é poroso, a cratera é formada mas é bem profunda e o “projétil” fica nela incrustado. 

Para leigos, julgo que nem essas notícias (nada de novo nem bombástico) nem as fotos  (Ceres é feio) apresentam qualquer atrativo.

Missão ROSETTA ao cometa Churyumov-Gerasimenko (67P)

Fazendo breve recordação, a sonda Rosetta foi lançada pela agência européia ESA em 02/03/2004 carregando consigo um módulo, denominado Philae, com a ambiciosa meta de alcançar o cometa periódico 67P e segui-lo em sua peregrinação em torno do Sol. Alcançou o cometa e começou a orbitá-lo em 06/08/2014, tendo lançado em sua direção o módulo Philae em 24/11/2014.

Apesar de ser um feito histórico, houve problemas com o pouso do Philae, ele se chocou com o 67P no ponto previsto mas repicou 2 vezes antes de aterrar na encosta de uma escarpa até hoje desconhecida. Por ter ficado na sombra (depende da iluminação solar para recarregar), Philae parou de transmitir poucas horas após aterrar. Independente disso, Rosetta continuou a seguir o cometa conforme programado.

Quanto ao módulo Philae, ele chegou a acordar de seu sono em 13/06/2015, depois que eventualmente suas baterias foram toscamente recarregadas - isso era uma esperança do controle da missão. Contatos intermitentes foram mantidos durante o restante do mês de junho. Os controladores chegaram a realizar alguns  experimentos programados, aqueles que requeriam menos energia.

Philae conseguiu retornar dados para a Rosetta (que os retransmitia para a Terra), porém a comunicação foi prejudicada pela intermitência dos contatos. Não só a posição exata de Philae ainda é desconhecida como a Rosetta se mantém circulando o cometa, portanto em boa parte do tempo está do lado oposto da possível localização do módulo. A última comunicação registrada foi em 09/07/2015.

A crescente emissão de gases e poeira pelo Churyumov-Gerasimenko foi criteriosamente observada e fotografada pela Rosetta . Gases foram “cheirados” pelo Philae, tendo conseguido transmitir importantes dados nos breves momentos em que funcionou. A análise desses dados levaram à conclusão de que se tratam de gases com compostos orgânicos. Existência de vida microbiológica no interior ou na superfície dos cometas passou a ser uma possibilidade real. Essa informação causou frisson no meio científico, pois comprova teses existentes de que a queda de cometas pode ter sido o fato gerador do aparecimento de vida na Terra (conforme o subtítulo “Panspermia” mais abaixo).

É interessante ter em mente que a Rosetta não pode ficar sempre muito próxima ao 67P, porque a emissão de gases e poeira - que formam a cabeleira e cauda característica dos cometas - pode não só sujar equipamentos como prejudicar todo o sistema de navegação da sonda. Ela usa permanentemente comparação visual com estrelas conhecidas para manter-se corretamente posicionada. Se a visibilidade dessas estrelas guia se tornar nublada pela interposição da cabeleira ou cauda, a sonda perde o rumo e pode ser até impossível recuperar contato.

Conforme programado, Rosetta segue circulando 67P em sua atual órbita solar, dele ainda afastada entre 325 e 340km por segurança, tendo o cometa atingido o periélio (ponto de maior aproximação do Sol) em 13/08/2015, quando então aconteceu sua maior emissão de água e poeira - fato derivado do maior calor recebido.

Cometa Churyumov-Gerasimenko, em 22/08/2015

Quando Rosetta chegou ao 67P em agosto/2014, a emissão de vapor d’água era cerca de 300g/s. No periélio e ainda hoje (mesmo ultrapassado o periélio, ainda está bem próximo do Sol) é cerca de 1.000 vezes mais, ou seja, 300kg/s de vapor d’água. Além disso, emite aproximadamente 1 tonelada de poeira por segundo, criando um ambiente realmente hostil para a Rosetta, caso ela se aproxime demais.

Análise complementar levou à conclusão de que com muita probabilidade o Churyumov-Gerasimenko é resultante da união de dois corpos bastante diferentes entre si, acontecida nos primórdios do Sistema Solar. Os 2 corpos se uniram sem no entanto destruírem um ao outro. A contínua evaporação de vapor d’água e emissão de poeira a cada passagem perto do Sol - 67P tem período de 6,45 anos - vem erodindo sua superfície desigualmente e atualmente ele tem um estranho formato.

Cometa Churyumov-Gerasimenko, em 11/09/2015

Panspermia

Mui recentemente (janeiro de 2015) o luminoso cometa Lovejoy foi objeto de observação terrestre por grande radiotelescópio durante seu periélio. A análise posterior dos dados levou à descoberta da presença de 21 moléculas orgânicas, destacando-se álcool etílico e glicolaldeído, um tipo de açúcar.

Junte isso aos compostos orgânicos achados no Cometa Churyumov-Gerasimenko pela dupla Rosetta/Philae e temos um dos cenários previstos pelos cientistas: há compostos básicos para a formação de vida nos confins do sistema solar.

A teoria da panspermia propõe que a vida não é nativa da Terra e sim foi aqui implantada ou estimulada pela queda contínua de asteroides e cometas durante o período de maior bombardeio de sua superfície, o chamado “intenso bombardeio tardio”, há 3,8 bilhões de anos.

Não é por outro motivo que cientistas e astrônomos insistem nas missões a cometas, asteroides e objetos do cinturão Kuiper, considerados remanescentes intocados da formação do Sistema Solar há 4,6 bilhões de anos.



Créditos das imagens:
1 - Cratera Occator: página da NASA no Facebook
2 - Detalhe de Ceres: NASA, colhida no Google
3 e 4 - Cometa Churyumov-Gerasimenko: ESA NaviCam, colhidas no Google

27 de outubro de 2015

Recado para o Riva

Você tem sido o único seguidor deste blog a valorizar minhas mal traçadas linhas. E tem permitido o resgate de antigos posts que ganharam pneu, ou seja, nem um mísero comentário quando publicados. 

Em 2009, quando iniciei o blog, confabulava somente com meus botões. Jogava garrafas ao mar e elas jamais retornavam. 

Permaneci ilhado muito tempo. Tal qual um Robinson Crusoé dos tempos modernos, fiquei  isolado (e olha que tinha comunicação via satélite, GPS, estas coisas modernas).

Escrevi sobre santos, frutas e animais, uma trilogia de sandices (com licença do Freddy, dono dos direitos) que, sem modéstia, melhor trabalhados, poderiam dar bom caldo.

O relativo aos animais teve um só comentário, seu Riva, isso quatro anos após a publicação. Está em: 

O texto referente as frutas continua virgem como deveria ter permanecido Eva pelo gosto do Criador. Vai lá e comenta para tirar o pneu (rsrsrs).

E o post sobre santos continua intocado, sem comentários, já nem digo inteligentes. Qualquer um. Esse post, dos animais, está como certas encíclicas papais todo mundo cita mas ninguém lê. Ele foi mencionado nos últimos dias, mas comentários neca de pitibiribas. Olha lá:

Ô Kayla, dá uma força. Não tendo com você a mesma intimidade que tenho com o Riva, faço o apelo aqui escondidinho no final. Vai que você não quer ser conhecida como "aquela que frequenta o Pub da Berê".

Gente, não me deixem só!!! (Êpa essa é do Collor).



Artesanato - decoração

Wanda  faz crochê, segundo ela desde criança, e gosta de fazer. Não domina todas as técnicas e não faz roupas, por exemplo.

Vez ou outra "inventa" alguma coisa, como o forro para o cesto de roupa suja do banheiro. Ficou legalzinho.






Enquanto assiste TV, faz colchas ou centro de mesa. E até cortina em crochê.




Faz também colchas de retalhos. Só na aparência porque compra os tecidos a metro, para depois cortar nos formatos e tamanhos próprios para o modelo que vai fazer.

Com a idade ficou mais penoso trabalhos na máquina de costura. Pronto! Vou dormir na sala hoje (rsrsrs).




Cortina e almofadas, em retalhos, para as cadeiras, usados durante um período na sala de TV.



Nossa casa é decorada, também, com telas que pintou há alguns anos. Abandonou a pintura por falta de motivação.A temática das duas telas abaixo é uma referência de infância: fogões à lenha.



Abaixo uma colcha feita de fuxico com crochê. Eu gosto muito do efeito.





Super Wanda
Nota do editor: além destas habilidades, por assim dizer artísticas, faz um pão de batata delicioso, e uma feijoada dos deuses. Mas se os deuses forem mais exigentes, também faz muito bem salmão no forno. Bacalhau divino ... e o meu bife de mignon mal passado (uma vez por ano, por causa do preço absurdo da carne no país que tem o maior rebanho bovino).
Ah! Sim, criou dois filhos, ambos com certificação ABNT  NBR ISO 9000:2005, me atura há 50 anos, ou 54 se considerarmos o período de namoro e noivado (no passado se usava isso). And last, but not least, gasta muito pouco com maquiagem e produtos de beleza. 

26 de outubro de 2015

Abraço de afogados

Tribuna da Bahia, edição de 22 de outubro de 2015

Joaci Goes foi senador, é empresário e escritor. A recomendação é que seja lido imaginando um sotaque baiano, para dar um tempero bem a caráter.

Clique  sobre o texto (duas vezes) para aumentar o corpo de letra.


25 de outubro de 2015

Regras do céu



Obtive, com exclusividade, uma cópia do Regimento Interno do Céu. É um documento monocrático, elaborado singularmente pelo próprio Criador.

Não havia um plenário ao qual ele pudesse submeter o texto para referendo. Claro, ele não havia, com tantos afazeres (o mundo estava por fazer), elaborado o projeto Criaturas, o  que ocorreu a seu tempo.

A propósito, já antecipo, porque é publico e notório, tal projeto foi um fiasco. A obra, mal acabada, revelou-se imperfeita. No século XX, Millôr Fernandes sentenciou: o ser humano não deu certo.

Para não colocar a carroça adiante dos burros deixarei para outra oportunidade publicar um relato sobre a construção de Adão e Eva.

Sim, esta história será narrada em outra ocasião e haverá um enredo, para ser filmado em formato de minissérie, com produção da BBC, porque muita gente tem preguiça mental e não lê coisa alguma que não seja ricamente ilustrado. Historia em quadrinhos. Ou então livro escrito em corpo de letra (fonte) 18, e o com muitos parágrafos. Texto sem vários parágrafos ninguém lê.

No papel de Criador deverá atuar um destes cientistas clonadores, que fazem papel de Deus, trabalhando com células tronco. Ou um ministro do STF, porque consta que juiz pensa que é Deus.

Voltando ao fio da meada, assim como a Globo consegue, com exclusividade, segundo alardeia no JN, acesso a laudos, e-mails, depoimentos, delações e documentos os mais diversos, também eu, utilizando meios legítimos, mas ardilosos, consegui uma cópia manuscrita, ainda não digitalizada, das normas disciplinares que seriam de cumprimento obrigatório, no local que tinha o titulo provisório de Paraíso, mais tarde conhecido como Céu.

O Paraíso era o habitat do Criador, ali ele planejava sua obra maior, mais complexa, menos compreensível e inexplicável: o Universo. Sim, a expansão do Universo era ainda um sonho, um desejo do Criador. Parece que foi bem sucedido, a dúvida seria se Ele planejou a retração fazendo tudo se transformar em um bloco compacto, carregado de energia.

Abusando da ingenuidade dele, certo dia, acho que era o sétimo, dedicado ao descanso, entrei sorrateiramente em seu “office”, não, perdão, não era chegado ainda o dia do repouso, acho que foi num momento de distração enquanto lavava as mãos sujas de barro, pois estava esculpindo uma figura que viria a chamar de Adão (sim, eu disse que seria outra história, e será).

Mas o fato é que ele nesta época a qual me refiro já fazia ideia do que pretendia e já testara vários materiais até chegar ao barro, úmido, bem moldável, para seu boneco. Ele se baseou nos bonecos de neve que viriam a ser uma praga no futuro. Não esqueçam que ele era senhor também do futuro, cabendo a Ele decidir como seria.

O primeiro ficou ridículo, mais parecia um espantalho. Mas como na natureza nada se perde, milênios depois o boneco ridículo passou a ser utilizado na lavoura, como proteção contra os pássaros. Até o corvo, tido e havido como muito esperto, cai nesta de temer um espantalho.

Muita gente que chegou até aqui já se perdeu, de sorte que lembro que estava narrando como invadi o local de trabalho do Criador.

Bem, adentrei, pé ante pé, em seu atelier, que se encontrava em desarranjo, com várias folhas de papel rabiscadas, desenhos toscos, em folhas de papiro (anos depois os egípcios iriam cultivar a planta às margens do Nilo) amarrotadas e jogadas na sesta de lixo. Eram os esboços, projetos, de como seria o Universo.


Estes exercícios, muitos anos mais tarde, inspiraram Da Vinci em seus estudos de anatomia, e de invenções as mais variadas. Tudo rascunhado.



Muitas destas folhas amarrotadas encontradas no “office” do Criador caíram em mãos de oportunistas, pois foram surrupiadas por Adão antes dele deixar o Paraíso, expulso que foi.

Alguns destes rascunhos, projetos abandonados porque as ideias iniciais mostraram-se, na prática, defeituosas (e teria que fazer recall), acabaram por causar celeumas, controvérsias, inquisições e o diabo a quatro.


Um deles diz respeito a criação do Sol e da Terra. O primeiro esboço mostrava o Sol girando ao redor da Terra (vide acima). Eu ia dizer entorno, mas fiquei na dúvida como seria a grafia correta,  junto ou separado (em torno ou entorno?).

O sujeito, esperto, que ganhou de Adão, na porrinha (ou balufa, jogo de palitinhos) este papiro com o desenho (exercícios sobre posicionamento do sol), e se  chamava Ptolomeu, achou que poderia ganhar algum dinheiro com aqueles rabiscos engraçados e ininteligíveis.

Passando do pensamento a ação espalhou aos quatro ventos que o Sol girava ao redor da Terra, e ganhou até uma relativa notoriedade que durou todo o período da antiguidade e foi até os anos obscuros da idade média.


Quando os mouros desocuparam a Península Ibérica, ou foram devidamente desocupados, e teve início o Renascimento, um polaco meio nerd chamado Copérnico resolveu questionar Ptolomeu. E inverteu os papeis da estrela e do planeta. E criou o sistema heliocêntrico.

Mas Ptolomeu se deu bem durante muito tempo, com o seu geocentrismo. Dizem ser possível enganar muitos muito tempo, mas não todos todo o tempo.

Perdi-me na narrativa, misturando alhos com bugalhos e distanciando-me do mote da matéria que eram as regras do Céu. Nada de muito especial, e quase tudo dedicado a “deveres” e muito pouco a “direitos”, como em algumas convenções de condomínios.

As mais conhecidas eram: proibido pisar na grama, ou seja, aquelas vastas planícies verdejantes (como encontráveis hoje na Escócia) não poderiam ser utilizadas para piquenique.

Não se sabe o porquê, mas é presumível que o gramado estivesse destinado a partidas de futebol depois que todos os títulos de sócios estivessem com os seres que ele criaria, de barro, fibra de vidro ou de carbono (que já estava em fase de teste de durabilidade). Ou seja os herdeiros e sucessores de Adão e Eva & Cia. Ltda.

A mais discutida das regras era a da proibição de comer maçã. Podia chupar, mas o prazer não era completo e de mais a mais Eva e Adão (leia atentamente pois não é "éviadão"), já haviam chupado muita manga fiapuda e cana do brejo.

Notas explicativas:
1) Estou encerrando porque senão o post ficará muito grande.

2) Como eu já existia antes de Adão, que ainda era um amontoado de barro, e consegui entrar no atelier do Homem? Simples, eu era o protótipo do Pinochio, brinquedinho favorito Dele, e ganhei vida repentinamente na hora de um espirro d’Ele. Daí o acesso privilegiado.

3) O escritório era tratado de “office” porque olhando para o futuro o Criador viu o que daria na construção de Babel, ninguém se entendendo, e o  inglês viria a ser um idioma quase universal em virtude do fracasso do esperanto.

4) Quando Stanislaw Ponte Preta compôs o “Samba do Crioulo Doido”, foi festejado, aplaudido, foi gravado e ganhou disco de ouro.

5) Este texto é uma síntese de quantas bobagens a gente memoriza, sem ter necessidade. De que me serve saber que a Idade Média terminou com a expulsão dos turcos da península Ibérica? Que foi durante a Renascença que artistas como Michelangelo, Da Vinci e outros apareceram? Que Da Vinci foi, e é até hoje, uma das grandes personalidades da história da humanidade (pintor, escultor, inventor). Que consta que a Torre de Babel foi construída inclinada, por defeito, porque os trabalhadores, vindos de várias partes, falavam línguas diferentes? Que Ptolomeu era o autor da tese do geocentrismo e Copérnico corrigiu tudo pondo as coisas em seus devidos lugares. Que este Ptolomeu não é o que tem inscrito na Pedra de Roseta, um decreto seu, em três diferentes formas de escrita, o que permitiu a Jean-François Champollion decifrar os hieróglifos, que é uma das três formas usadas na pedra. Ela (pedra) está exposta no Museu Britânico.

Aprendi que o Egito é uma dádiva do Nilo, segundo Heródoto (pai da história) e nas suas margens, entre outras coisas, plantavam o papiro. Li e reverencio Millôr pela cultura, inteligência e humor cáustico (R.I.P). Falei dos corvos, aves espertas capazes de artifícios incríveis para comer. 

Pois é, aprendi tudo isto e, ao fim e ao cabo, não ganhei dinheiro no "Show dos Milhões" do Silvio Santos. Não pediria a ajuda dos universitários.

6) Muita gente está achando este texto ridículo, pobre de imaginação, herético, sem inspiração, mal redigido. Está certo, aceito o julgamento. Mas quero ponderar fazendo um desafio: tenta fazer algo melhor. Mais erudito, mais criativo e original.
Há anos ganhei um livro do Sidney Sheldon. Não passei da página 13. Quando meu filho em telefonema me perguntou se eu gostara respondi que não e não consegui ler até o final. E expliquei que seria fácil fazer sucesso e bater recordes de venda apelando para o inverossímil como o autor.
Explico: há uma passagem em que o personagem, em alto mar, num pequeno barco, vê-se  cercado de tubarões. Entre em pânico e o que faz? Pega uma lata de sardinha, abre e a tampa retirada fica com os bordos como uma faca. Ele corta o dorso de um dos tubarões que se aproximou do barco. O sangue jorrou e os outros tubarões  atraídos pelo sangue foram devorar o ferido deixando em paz o personagem até que chegasse a costa africana.
Quando disse para meu filho que assim era fácil escrever romances, ele me respondeu: tenta!