23 de abril de 2025

Não tenho religião, mas tenho fé

Esta imagem, em gesso, ganhei de minha mãe quando completei 13 anos de idade.

A razão principal foi o fato de a partir de então, com nossa mudança para um apartamento maior do que a casa onde morávamos, passei a ter meu próprio quarto.

Um quarto para chamar de meu, com privacidade e equipado com um guarda-roupa exclusivo para meu uso.

Este móvel, de duas portas, tinha num lado gaveteiro e sobre ele um vão com cabides. Do outro, um vão livre acima, com prateleira que cobria o calceiro abaixo.

Era neste vão livre que colocava esta imagem do Santo Guerreiro, único no qual deposito fé e confiança, como um genérico para  todas as aflições.

Antes de explicar  o motivo da falta de religião, mas fé num santo ou orixá; conto mais adiante.

Neste passo quero chamar a atenção para um fato, imagino raro. Raro porque estamos tratando de uma imagem em gesso que já foi transportada de um lado para outro várias vezes, em função de minhas mudanças de casa, que foram muitas.

De cidade para outra e até de um Estado para outro.

Ela se mantém íntegra, sem um lascado, pequeno que seja. A única intervenção ocorrida, há mais de 20 anos, deu-se na pintura, reavivada quando minha mulher estudava pintura no atelier da Ana Canela.

Miracolo!!! Não, cuidados.

O caso da devoção tem raízes mais profundas, mas me animo a explicar, antes, porque me batizaram de Jorge.

Não guarda relação como fato de haver nascido num 21 de abril, data próxima a da celebração de São Jorge, que ocorre no dia 23 do mês.

Minha mãe, filha brasileira de uma mãe portuguesa que veio para o Brasil com outras 3 filhas nascidas em Lamego, Portugal.

A mais velha delas - Arminda - que se casou com um patrício - Manoel - no Brasil, deu ao primeiro filho o nome de Jorge, por motivo de devoção.

Minha mãe, entre os 13  e 15 anos, foi ama seca deste sobrinho, que tratava como se fora uma mãezinha. E prometeu a si mesma, que tendo um filho se chamaria Jorge.

Pronto, aí está porque meu nome de batismo é Jorge.

Meu pai não fez objeção ao nome escolhido por minha mãe para o primeiro filho, até porque também ele tinha por protetor Seu Ogum. E como sabem, no sincretismo brasileiro, e no espectro da Umbanda, são a mesma entidade.

Minha mãe nunca me desejou, ao ir para a escola ou cinema "que Deus te acompanhe". Mas sim, "São Jorge te acompanhe".

Lógico que ficou embutido em minha mente que eu tinha uma companhia espiritual a me proteger.

Quando estive prestes a ser reprovado em latim, no terceiro ano do ginásio, mais que depressa pedi ao santo que me ajudasse e não fosse reprovado. Fiz promessa de que tal situação não se repetiria.

Qual o quê, fui aprovado, mas no ano seguinte a situação de descaso com a língua dos romanos se repetiu e a reprovação estava iminente.

Sem pudor algum, minto, envergonhado, pedi de novo as graças de São Jorge, que de novo me atendeu.

Depois de velho, valorizei o latim e tive muita inveja do João Ubaldo Ribeiro, que além do latim, falava (traduzia e entendia) grego.

Mas aí já teria início nova história. 







3 comentários:

Jorge Carrano disse...

Ele sabe que sou e serei grato sempre, mas deixo aqui o registro público na data comemorativa e de celebração a Jorge da Capadócia.
Nascimento: 275 d.C., Capadócia, Turquia
Falecimento: 23 de abril de 303 d.C.

Jorge Carrano disse...

Deu tudo, ou quase tudo, certo. Formei-me. Constituí família. Tive boas oportunidades profissionais, Sobrevivi, sem sequelas, a um AVC. Sai com pequenos arranhões de um acidente de automóvel quando derrapei e cai numa pirambeira. O carro ficou danificado, eu assustado e com uma lição.
Estou aqui, com meus 85 anos, dedilhando o teclado.
Agradeço por tudo isso. Haverá quem diga que ter fé é coisa tribal, de aborígenes, ingênuos e incultos.
Será? Eu não tenho dúvidas.

Jorge Carrano disse...

Sei que o planeta Terra é redondo. Acredito na teoria evolucionista, em contraposição à criacionista.
Sou contraditório (quem não é?), mas aberto ao aprendizado, ou conhecimento.
Acho as vacinas um avanço, uma importante conquista humana. Acho Lula um beócio sem noção, quem tem o nível de ambição muito acima de sua (his) realidade. Bolsonaro me provoca engulhos.
Completando a autobiografia, sou vascaíno e portelense porque gosto das vitórias e dos vitoriosos. E o passado não é sonho.