Meu primeiro contato
com a obra teatral de Nelson Rodrigues ocorreu na década de sessenta do século
passado. Fui assistir e peça “Perdoa-me por me traíres”.
Foi uma das primeiras
vezes que fui assistir a uma peça com elenco profissional.
Conhecia algumas de
obras (folhetins, contos, crônicas) através de publicações nas páginas dos
jornais (O Globo e Ultima Hora), onde assinava com o pseudônimo de Suzana Flag, ou
com o próprio nome.
Mais tarde revelou sua
face apaixonada por futebol (torcedor do Fluminense) e publicou em jornais excelentes crônicas esportivas. Muitas depois
reunidas em livros.
Participante da Grande
Resenha Facit, a melhor “mesa redonda” já produzida na TV brasileira, onde pontuava
com suas frases de efeito, irônicas e bem-humoradas, em meio a feras do
jornalismo esportivo, do quilate de Armando Nogueira, José Maria Scassa e João
Saldanha.
Certa feita foi acusado,
pelo Scassa, flamenguista (arg!), de não entender de futebol. Retrucou na hora:
“Meu querido Scassa, futebol é paixão e
eu sou um dramaturgo, portanto tenho conhecimento suficiente”.
Esse era o Nelson.
Repentista, raciocínio brilhante. Ótimo observador e cronista do cotidiano.
Quase um sociólogo diletante. Se exagero me perdoem pois não sou expert
em teatro, sequer frequentador assíduo, mas ele é, ainda, o melhor dramaturgo
brasileiro.
Suas peças de teatro e
seus folhetins provocavam aplausos, mas também muita ira. Foi taxado de imoral,
obsceno, pornográfico e até de tarado.
Rotulado por alguns
poucos como reacionário, sobretudo por suas posições políticas de apoio ao regime
militar, abrandou mais tarde sua aprovação aos governos por causa de envolvimento
de um filho com a esquerda contestadora.
Frases do Nelson são recorrentes
em discursos e palestras e mencionadas ad
nauseam em crônicas e matérias dos mais conhecidos e festejados articulistas.
Sua opinião sobre a esquerda e os
imbecis de todas as etnias, credos e ideologias é irretocável. Confiram:
"Antigamente, o silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores que
emudecem. O grito, a ênfase, o gesto, o punho cerrado, estão com os idiotas de
ambos os sexos.
[Até o século XIX] o idiota era apenas o idiota e como tal se
comportava. E o primeiro a saber-se idiota era o próprio idiota. Não tinha
ilusões.
Julgando-se um inepto nato e hereditário, jamais se atreveu a
mover uma palha, ou tirar um cadeira do lugar.
Em 50, 100 ou 200 mil anos, nunca um idiota ousou questionar os
valores da vida. Simplesmente, não pensava. Os "melhores" pensavam
por ele, sentiam por ele, decidiam por ele.
Deve-se a Marx o formidável despertar dos idiotas. Estes
descobriram que são em maior número e sentiram a embriaguez da onipotência
numérica.
E, então, aquele sujeito que, há 500 mil anos, limitava-se a babar
na gravata, passou a existir socialmente, economicamente, politicamente,
culturalmente etc. houve, em toda parte, a explosão triunfal dos idiotas.
Outrora, os melhores pensavam pelos idiotas; hoje, os idiotas
pensam pelos melhores. Criou-se uma situação realmente trágica: - ou o sujeito
se submete ao idiota ou o idiota o extermina.”
Nota
do autor:
Ler algumas das frases do Nelson Rodrigues utilizando o link a seguir:
Um comentário:
"A vida como ela é", contos publicados pelo Nelson, e a excelente coluna do jornalista Sérgio Marcos Rangel Porto, sob o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, fizeram-me leitor diário do jornal "Ultima Hora".
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