28 de julho de 2017

NELSON RODRIGUES

Meu primeiro contato com a obra teatral de Nelson Rodrigues ocorreu na década de sessenta do século passado. Fui assistir e peça “Perdoa-me por me traíres”.

Foi uma das primeiras vezes que fui assistir a uma peça com elenco profissional.

Conhecia algumas de obras (folhetins, contos, crônicas) através de publicações nas páginas dos jornais (O Globo e Ultima Hora), onde assinava com o pseudônimo de Suzana Flag, ou com o próprio nome.

Mais tarde revelou sua face apaixonada por futebol (torcedor do Fluminense) e publicou em jornais  excelentes crônicas esportivas. Muitas depois reunidas em livros.

Participante da Grande Resenha Facit, a melhor “mesa redonda” já produzida na TV brasileira, onde pontuava com suas frases de efeito, irônicas e bem-humoradas, em meio a feras do jornalismo esportivo, do quilate de  Armando Nogueira, José Maria Scassa e João Saldanha.


Certa feita foi acusado, pelo Scassa, flamenguista (arg!), de não entender de futebol. Retrucou na hora: “Meu querido Scassa, futebol é paixão e eu sou um dramaturgo, portanto tenho conhecimento suficiente”.

Esse era o Nelson. Repentista, raciocínio brilhante. Ótimo observador e cronista do cotidiano. Quase um sociólogo diletante. Se exagero me perdoem pois não sou expert em teatro, sequer frequentador assíduo, mas ele é, ainda, o melhor dramaturgo brasileiro.

Suas peças de teatro e seus folhetins provocavam aplausos, mas também muita ira. Foi taxado de imoral, obsceno, pornográfico e até de tarado.

Rotulado por alguns poucos como reacionário, sobretudo por suas posições políticas de apoio ao regime militar, abrandou mais tarde sua aprovação aos governos por causa de envolvimento de um filho com a esquerda contestadora.

Frases do Nelson são recorrentes em discursos e palestras e mencionadas ad nauseam em crônicas e matérias dos mais conhecidos e festejados articulistas.

Sua opinião sobre a esquerda e os imbecis  de todas as etnias, credos e ideologias é irretocável. Confiram:

"Antigamente, o silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores que emudecem. O grito, a ênfase, o gesto, o punho cerrado, estão com os idiotas de ambos os sexos.

[Até o século XIX] o idiota era apenas o idiota e como tal se comportava. E o primeiro a saber-se idiota era o próprio idiota. Não tinha ilusões.

Julgando-se um inepto nato e hereditário, jamais se atreveu a mover uma palha, ou tirar um cadeira do lugar.

Em 50, 100 ou 200 mil anos, nunca um idiota ousou questionar os valores da vida. Simplesmente, não pensava. Os "melhores" pensavam por ele, sentiam por ele, decidiam por ele.

Deve-se a Marx o formidável despertar dos idiotas. Estes descobriram que são em maior número e sentiram a embriaguez da onipotência numérica.

E, então, aquele sujeito que, há 500 mil anos, limitava-se a babar na gravata, passou a existir socialmente, economicamente, politicamente, culturalmente etc. houve, em toda parte, a explosão triunfal dos idiotas. 

Outrora, os melhores pensavam pelos idiotas; hoje, os idiotas pensam pelos melhores. Criou-se uma situação realmente trágica: - ou o sujeito se submete ao idiota ou o idiota o extermina.”

Nota do autor:
Ler algumas das frases do Nelson Rodrigues utilizando o link a seguir:


Um comentário:

  1. "A vida como ela é", contos publicados pelo Nelson, e a excelente coluna do jornalista Sérgio Marcos Rangel Porto, sob o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, fizeram-me leitor diário do jornal "Ultima Hora".

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