Falei de ter jantado com Ermelino Matarazzo, no La
Casserole, mas não disse o porquê.
O Grupo Matarazzo era poderoso, presente em vários setores da
economia, era, talvez, mais fácil listar o que eles não faziam ou não tinham,
do que relacionar o que produziam,
vendiam ou prestavam de serviços.
Além de tudo que fabricavam, geravam energia em algumas cidades, tinham um banco e um bem equipado hospital, na capital paulista. E uma enorme fazenda em Santa Rosa do Viterbo onde exerciam atividade agropecuária.
Quando ingressei no Grupo, contratado para área de Recursos Humanos, na administração
central, não tinha ideia do poderio dos Matarazzo.
Afinal, carioca e criado em Niterói, conhecia a família, de
nome, por causa das colunas sociais e das feiras de moda (FENIT) nas quais
pontuavam os tecidos fabricados pela empresa têxtil do Grupo.
Mas me surpreendi com o tamanho dos negócios, os mais
diversificados, e verticalizados. Nunca saberei, mas talvez apenas o Votorantim
se aproximasse em faturamento.
Falo de verticalização e explico. Se você planta e colhe algodão,
quando o beneficia obtém muitos resultados, muitos produtos, sem prejuízo de um
em favor de outro. Vejam que além de aproveitar o algodão para fiar e com os
fios fabricar tecidos, você pode trabalhar os caroços, dos quais obtém óleo
comestível e até a pasta resultante do esmagamento dos caroços, vira tortas que
servem de alimentação para gado e suínos.
Dizem que do boi só se perde o berro, porque tudo o mais tem
valor de mercado. Até mesmo seu excremento é um bom adubo. Assim, couro tem
várias aplicações; os ossos e chifres têm valor como matéria prima para botões;
até a gordura (sebo) é útil, eis que utilizada para fabricação de glicerina, que por
sua vez é empregada na fabricação de sabonetes e alguns cosméticos.
Visto isso, nada de anormal, vou contar, como me contaram,
duas bizarrices para uma família com título de nobreza. O título, por sinal,
conferido pelo rei Vitor Emanuel III, e depois confirmado por Benito Mussolini.
Não conheci este conde, conheci o filho dele, Francisco
Matarazzo Junior, que deu continuidade ao trabalho de expansão do pai, nos
negócios da família.
Estive em seu sepultamento, tendo ido ao velório que
aconteceu na mansão da Avenida Paulista. Nesta época trabalhava em Ribeirão Preto,
na empresa têxtil do grupo.
Mas quando contratado, como já mencionei, fui lotado no
escritório central, no bairro do Belenzinho. Pouco tempo depois, por causa da
minha qualificação, fui remanejado para responder pela área administrativa,
como gerente, na empresa mais nova do grupo, que atuava no ramo de supermercados,
sob a denominação de Superbom.
E foi por causa desta empresa de supermercados, que rapidamente cresceu
e se espalhou em São Paulo, Minas e Paraná, que fui jantar no La Casserole,
porque o Dr. Ermelino resolveu homenagear
a direção da empresa pelo bom desempenho. Assim, foram convidados o diretor e
os gerentes: administrativo, financeiro e comercial.
Tenho em meu currículo a inauguração de várias lojas de supermercados
e hipermercados. Gente! É uma loucura.
Foram lojas em Maringá e Londrina, no Paraná; Uberaba e
Uberlândia, em Minas; e na capital
paulista dois hipermercados grandes, nos bairros de Tuiuti e Água Branca (Lapa), uma próxima do Corinthians, na zona
leste, e outra ao lado do Palmeiras, na zona
oeste.
Para selecionar e, sendo necessário, treinar mão-de-obra para as inaugurações, muita criatividade, improvisação e um pouco de falta de
ética.
Em São José dos Campos, por exemplo, como o prédio estava em
construção e não havia como receber os candidatos a emprego, alugamos a garagem
de uma casa bem próxima e além de um pequeno aluguel ao proprietário, pagamos o
estacionamento para ele, em outro local.
As duas selecionadoras ainda ganharam, como cortesia e gentileza
da dona da casa, o café da tarde (pão com manteiga e por vezes bolo).
Gente muito educada e gentil ao extremo, de certo modo contentes porque seriam
vizinhos de um moderno supermercado na cidade.
Tinha outra rede já instalada na cidade. E foi de lá que
através de sedução e oferecimento de melhores salários, tiramos o pessoal com
certa especialização, cujo treinamento demandaria tempo que não teríamos.
Falo de padeiros e açougueiros, principalmente.
Por isso um dia o Gelsomino, que era o diretor, convocou-me
para ir até a sala dele porque teríamos uma reunião com a direção da rede
concorrente chamada Peg-Pag (tinha loja no Rio). Eles telefonaram propondo uma reunião, porque estávamos
tirando o pessoal da loja deles e queriam estabelecer um protocolo para evitar
a continuidade da prática.
Foi uma reunião delicada, inicialmente tensa, porque de um
lado o Gelsomino teria que admitir que a prática resvalava na falta de ética,
mas por outro lado (internamente) estava feliz com o desempenho da nossa área
de recursos humanos. Claro, estávamos resolvendo um problema que poderia
complicar a inauguração.
Como o intuito aqui não é tratar de aspectos de ética e
moral, e sim dar uma dimensão das dificuldades enfrentadas quando há
necessidade de contratar mão-de-obra com alguma especialização, vou relatar um
último caso que envolveu muita ação e tarimba.
A loja da Água Branca, ao lado do Parque Antártica, antigo estádio
do Palmeiras, foi toda remodelada. Melhor, reconstruída, porque virou um imenso
hipermercado, com dois andares (mezanino), vendendo praticamente tudo, desde gêneros
alimentícios, passando por bazar, confecções masculina e feminina, eletrodomésticos,
enfim seria quase um shopping ou loja de departamentos.
Aí surgiu um problema. Em algumas lojas já tínhamos padarias
e lanchonetes, mas em nenhuma tínhamos sorveteria. E ninguém da área comercial entendia
de sorvetes. Solução? Importar um sorveteiro do Rio de Janeiro. Na época os
sorvetes tipo italiano faziam o maior sucesso, e foi em Copacabana que
conseguimos encontrar um disposto a ir para São Paulo, com casa, comida e roupa
lavada, além de um razoável salário, para treinar pessoal e gerenciar a
sorveteria.
Falei de duas bizarrices, mas não contei quais eram. Como
está ficando muito grande esta postagem e como certamente voltarei à minhas aventuras
na área administrativa, vou direto às duas coisas estranhíssimas, pouco verossímeis.
Ambas envolvendo a condessa Mariangela, esposa do conde
Matarazzo ( o segundo). Uma é que ela mantinha uma loja de tecidos (de boa
qualidade), chamada "Étoile", na Rua Augusta, tradicional da cidade, com comércio elegante na
época, onde havia um jardim de inverno, decorado com bela mesa de armação
metálica e tampo de vidro, com cadeiras estofadas, para ela poder, vez ou
outra, tomar chá com amigas.
A outra é que a empresa do grupo que fabricava sabonetes, passou
a fabricar, também, velas coloridas e de diferentes tamanhos, porque a condessa
gostava de decorar a mesa de refeição com convidados, na mansão da família, com
vários castiçais e velas especiais. Vender mesmo, como produto do grupo, não
vendia nada. Não havia mercado para aquele produto.
Outro dia escreverei sobre a mansão, o que Luiza Erundina
pretendia fazer com ela, quando foi eleita prefeita de São Paulo, e a solução encontrada
pelo meu amigo, engenheiro, espanhol de Valencia, cujo nome preservarei, da
diretoria do grupo, para abortar o plano da prefeita então petista.
Nota do editor: sobre São José dos campos clicar em
http://cclbdobrasil.blogspot.com.br/2011/10/como-nasceu-sao-jose-dos-campos.html
Nota do editor: sobre São José dos campos clicar em
http://cclbdobrasil.blogspot.com.br/2011/10/como-nasceu-sao-jose-dos-campos.html
6 comentários:
Aiaiai, Jorge. Que susto você me deu!
quando vi - jantar no Casserole - fiquei bege ou bolada, como fala meu sobrinho. Pelamordedeus!! Não falem em comida. Ashuashuashua.
Não mencionei o cardápio, Kayla. E nem o vinho, exatamente para não judiar.
Não sei hoje, mas na época era um bom restaurante. O Dr. Ermelino foi atendido pelo Roger. Eram velhos conhecidos.
Achei na rede:
http://www.lacasserole.com.br/home.php
Acessei. Não conhecia nem de nome.
Mas conta o que seu amigo engenheiro aprontou para cima da Erundina.
Gusmão,
Erundina era, ou é (sei lá), uma mentecapta, esquerdista daquelas que acham que empresário é inimigo de empregado, só pensa em escravizar o trabalhador.
Sabe a velha rivalidade capital x trabalho? Pois é, coisa rançosa, arcaica, discurso esfarrapado de quem não se atualiza. Tem gente que até, e parece ser o caso do Lula, tem rancor e ódio no coração.
Pois bem, Erundina queria desapropriar a mansão dos Matarazzo para lá instalar, acredite, um museu do trabalhador. Na época eu era trabalhador. Ainda sou, apenas agora autônomo. Não queria museu e nem trabalhador nenhum. E num prédio bem acabado e localizado em área nobre da cidade.
Só para argumentar, digamos que o Conde tenha sido um mal empregador. Transformar a casa dele em museu iria redimir seus pecados, punir seus erros?
Claro que esta coisa seria uma bandeira do PT. Idiotice a ser usada como propaganda enganosa.
Bem, o que meu amigo fez, na tentativa de inviabilizar a cretinice, só posso contar se o crime prescreveu (vou verificar).
O imóvel ainda era da família, por isso ele teve a ideia.
Caramba! Só rindo mesmo.
Recebi o e-mail com a explicação. Quero distância deste seu amigo.
Não é mesmo?
Mas se fosse você gostaria de ter aproximação com ele. É dono da melhor adega particular que conheço. E olha que conheço algumas. E sabe receber com fidalguia. Tem prazer em receber.
Postar um comentário