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Nossa sobrevivência como espécie está diretamente ligada à
capacidade de articular linguagens e viver em grupos, com regras sociais mais
ou menos civilizadas.
O próprio conceito de civilização não existe fora do contexto
social. Somos todos seres sociais. Outras espécies também o são – as formigas,
como primeiro modelo óbvio e bem sucedido – mas somente nós produzimos cultura.
Na evolução tecnológica que marcou nossa história desde a invenção
da roda, há cerca de 6 mil anos, as redes sociais surgem não como uma
“revolução” de qualquer tipo, mas como uma evolução ou amplificação dos
recursos criados pela internet – essa sim, “revolucionária”- e suas conexões
com dispositivos móveis, estes também bastante inovadores. Basta lembrar que
celulares foram, durante décadas, objetos possíveis somente na ficção
científica.
Voltamos então à pergunta original: o que leva as pessoas a
estarem nas redes sociais? A resposta beira o ridículo, de tão óbvia: estão lá
porque os outros estão. Se sua família e todos os seus amigos se mudarem de
cidade, você não ficaria tentado a ir também? Se todos resolverem se vestir
apenas de branco ou preto, será que você nem ao menos cogitaria o mesmo? A
força do grupo é inegável no ser humano. Observe as multidões nas manifestações
ou na saída dos jogos de futebol. As mesmas pessoas cordiais do dia a dia se
comportam como selvagens. Nosso modelo social baseado no imediatismo, no
egoísmo dos interesses e na falta de respeito pelo outro, que aqui inclui o
planeta, nos reduziram a babuínos com cartões de crédito.
O Facebook tem hoje cerca de um bilhão de usuários. Quantos são,
efetivamente, ativos, é difícil saber, mas creio que boa parte esteja lá apenas
porque os outros estão. Fazem seus perfis e colocam lá umas bobagens quaisquer
apenas para não terem que se justificar, diante dos amigos, de que não estão.
Seriam vistos como “obsoletos” e mesmo muito jovens, seriam “dinossauros” para
seus antenados amigos.
O problema do Facebook, assim como de todos os ambientes que
envolvem pessoas é que ele sofre com o ritmo de crescimento e, inegavelmente,
de envelhecimento dessas pessoas. Todos já achamos graça, aos 15 anos, de
coisas que hoje nos parecem ridículas. Ou mesmo infames. Quem de nós nunca
experimentou a estranha sensação de ficar anos sem ver um amigo de infância e,
ao reencontrá-lo 20 anos depois, achar que ele continua um adolescente? “Fulano
não mudou nada!” O que pode haver de pior do que isso?
O fim do Facebook é certo. A questão é só quando. O Facebook não
acabará, no entanto, por conta de uma briga comercial com a Apple ou Google,
como parte da Imprensa, de modo maniqueísta, afirma. Ele acabará naturalmente,
com o passar do tempo. Seus usuários se cansarão daquelas fotos todas iguais,
daquelas toneladas de “lindaaaaaaaaaa”, “eu queroooooo”, “kkkkkkkkk” e outras
que até lembram algum idioma, mas são outra coisa.
O fim do Facebook virá quando seus usuários crescerem, e
perceberem quão fútil ele se tornou. Ou simplesmente quando não tiverem mais
tempo para ele. Quando nos tornamos mais velhos, valorizamos outras coisas.
Numa fórmula simples, trocamos “quantidade” por “qualidade”.
Alguém então dirá que você pode restringir o número de amigos, em
busca dessa “qualidade”. Mas ao fazer isso, a rede perde o sentido. A graça
está em ter um monte de supostos amigos, boa parte desconhecidos ou quase,
porque do contrário não haverá um volume significativo de imagens e posts para
“curtir”, “comentar” ou “compartilhar”.
Temos muitas outras opções de diversão. A internet traz inúmeras
possibilidades, as TVs por assinatura oferecem cada vez mais canais, o modelo
de streaming é
uma realidade da banda larga, os games estão cada vez mais incríveis e uma
alternativa cada vez mais acessível e o celular já se tornou uma arena de puro
entretenimento.
As redes sociais, conceitualmente, são decorrentes da internet e
não deixarão de existir. O Facebook, em especial, é um fenômeno sem
precedentes. Em poucos meses atingiu 50 milhões de usuários. O rádio levou 34
anos para atingir essa marca. A televisão levou 13 anos. Embora o ritmo
de crescimento da rede já esteja desacelerando em países como os EUA e
Inglaterra, ainda continuará forte nos países em desenvolvimento. Por terem uma
grande parcela de população formada por jovens e, no caso do Brasil, uma
população que recentemente começou a ter acesso a computadores esmartphones, esses
países ainda levarão algum tempo a atingir um nível de saturação.
A abertura do capital da empresa, em maio de 2012, trouxe um sinal
preocupante. As ações, alguns dias após o IPO, valiam cerca de U$ 19, metade
dos U$ 38 do dia de seu lançamento. Não vamos nos iludir. O “mercado”, essa
entidade abstrata e pragmática, avalia sem qualquer viés sentimental as
empresas.
Esta abertura do capital produziu novos milionários, que
abandonaram ou abandonarão a sociedade com Zuckerberg em busca de sua própria
empresa, ou simplesmente de gastar seus milhões numa praia do Caribe. Esses
engenheiros, programadores e outros profissionais que fizeram o sucesso da rede
farão falta. E há ainda os investidores, que exigirão da empresa atitudes mais
transparentes, algum nível de governança corporativa. Isso tudo tem impacto na
forma e na velocidade de fazer negócios.
Apesar de todos esses aspectos, é a banalização dos conteúdos postados
pelos próprios usuários, que fará com que as pessoas abandonem
o Facebook. A síndrome da felicidade permanente, a ditadura do sorriso e
aquela sensação de estar eternamente num comercial de margarina deixam de ter
graça depois de certo tempo.
O Facebook, entretanto, não se extinguirá integralmente. Outros
recursos serão oferecidos, e outros usuários chegarão, por certo. Mas uma vez
que, conceitualmente, a rede comece a ser percebida de forma menos inovadora, o
próprio processo de entrada de novos usuários sofrerá desaceleração. E,
finalmente, irá parar. E é assim que o Facebook, a exemplo do que aconteceu com
o Orkut, começará a morrer.
É como um carro, que anda velozmente numa estrada reta que parece
não ter fim. Em certo ponto da estrada, a gasolina acaba, ou o motorista para
de acelerar. O veículo ainda seguirá algum tempo, embalado na inércia animada
de seus passageiros. Mas vai ficar pela estrada, como tantas outras invenções,
tecnologias e novidades ficaram. Em determinado ponto, passará outro veículo
por ele, mais leve, mais veloz, com gente mais animada, seguindo o curso
natural das coisas.
N. do E: original publicado em http://www.cavernaweb.com.br/2013/03/o-fim-do-facebook/
6 comentários:
Há pouco que acrescentar às opiniões dadas no excelente texto. Batem com minhas impressões. Posso, sim, dar um testemunho pessoal de minha conturbada relação com essa rede social. Lá vai!
Inscrevi-me no Facebook há um tempo atrás. Saí 1 hora depois (parece brincadeira, mas é verdade!). Sua invasão de privacidade me assustou! Dias depois, após leitura de instruções detalhadas, entrei novamente e simplesmente engessei o site. Desativei TUDO até o ponto dele não mais funcionar. Desativar significa programar que só EU posso ver as coisas. Demorou umas 2 ou 3 horas, mas valeu.
Depois, aos poucos, fui soltando função após função (colocando "só amigos") e consegui ficar mais ou menos à vontade. De vez em quando eu abria mais uma porta, fechava outra, e assim fui levando. Quando entrou a Linha do Tempo, quase saí de novo! Mas aos poucos aprendi a reengessá-lo e vou levando. Tive uma crise quando fui avisado por Riva que o Facebook dedurara um site pornô que eu havia visitado. Passei mais algumas horas reaprendendo a desativar parâmetros. Sem o aviso dos amigos, ficarei sem saber como o Face me trata...
Minhas filhas dizem que eu sou maluco e que não tenho perfil para ser filiado a uma rede social. Deve ser verdade, só gosto de liberar informação que eu permito, não a que o site deseja. Parece uma coisa simples, ao menos pra mim. O Facebook foi feito para tornar sua vida um livro aberto para tudo e para todos. Realmente não me serve, mas eu o engessei e acho que venho tendo sucesso. Tenho orgasmos mentais quando entro num Globo da vida e num canto está escrito que se eu não ativar a plataforma do Face meus amigos não saberão de nada. Ótimo!
Depois eu conto mais!
Abraços
Freddy
Em termos de uso, ele pouco me serve. Já aprendi que se eu postar cães e gatinhos, fotos minhas bebendo cerveja ou vinho, gera curtidas e comentários.
Se eu entrar com uma foto mais séria ou um texto sem foto, pouco rende. Repassar meu gosto musical é zero! Raras curtidas, nenhum comentário.
Comentar post dos outros, só se forem elogios. Se der o azar de discordar ou fazer uma crítica, construtiva que seja, pau nele! Ou seja, em mim!
Fui "ameaçado" de ser deletado da lista de... bem, deixa pra lá... porque fiz críticas e essa pessoa me disse que eu a estava prejudicando, pois todos os seus "amigos" iam ler o que eu escrevi.
Ou seja, muito cuidado ao postar no face... Ou comentar... Ou repassar... Pra que serve essa porcaria, então? Pra repassar cães e gatinhos e fotos de santos?
Diz Zuckerman que o Brasil é o país que pior uso faz do Facebook. Acredito. Brasileiro só faz m... Não duvido o Papa nos visitar e pedirem à Sua Santidade pra dançar um sambinha... Só pra agradar aos fiéis...
=8-/ Freddy
Fechando...
No sábado passado baixei o aplicativo Facebook móvel no meu recém comprado smartphone. (É, tive de comprar um pra aprender a esfregar dedo como todo mundo!)
Não consegui achar as páginas de configuração para desativar tudo => saí no domingo e não pretendo voltar. Continuo então acessando meu "Facebook engessado" através da internet normal.
Abraços
Freddy
Difícil imaginar o fim do Facebook. Acho que, como qqer ferramenta que se disponha a ficar, o grande desafio será estar sempre inovando, alinhado com os anseios dos usuários. Árdua e contínua tarefa.
Se vão aguentar ? Não tenho a menor idéia.
De qqer forma, o conceito veio para ficar. Como a tecnologia anda em saltos quânticos, muitas inovações vão surgir para tornar o aplicativo cada vez mais interessante.
Nós, "das antigas", iniciamos isso tudo com o nosso famoso CADERNO, com perguntas diversas, que os amigos iam preenchendo, e vc preenchendo os dos amigos, lembram ?
Esses cadernos nos quais interagíamos com os amigos era coisa criada pelas meninas (rs).
A gente ia na onda delas só para ciscar no terreno.
Nessa época tinha o caderno da "venda" da esquina.
Nós somos jurássicos, Riva.
São passados dois anos desde a publicação deste post. Noutro dia ouvi um comentário de que os jovens já não se sentem atraídos pelo Facebook. Estão mais ligados em outras redes sociais.
Será verdade?
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