7 de março de 2012

CARTA DE NOVA PETRÓPOLIS - RS


 Por
Ricardo Augusto dos Anjos




DICIONÁRIO VÍTIMA DE ATENTADO

A insanidade humana do momento (leia-se Ministério Público Federal de Uberlândia) resolveu investir contra o léxico, censurando algumas acepções que considera pejorativas, preconceituosas. Daí ajuizou ação civil pública pedindo a retirada de circulação do Dicionário Houaiss.


Pior é que o procurador, em seu arbítrio, acha mesmo que está combatendo um preconceito. Julga-se no direito de tutelar a sociedade em sua liberdade de expressão. E essa liberdade é cláusula pétrea da nossa Carta Magna.


Ora, quem faz a língua é o povo. E os dicionários existem pra conceituar, definir e decodificar a língua em sua realidade, registrando os significados das palavras, sejam positivos ou negativos.

Leio aqui, no ZERO HORA (um dos mais modernos jornais do Sul, quiçá do País, de vanguarda mesmo), que o tal procurador considerou ofensiva a acepção do termo CIGANO usado pra designar um indivíduo “velhaco, trapaceiro, burlador”.


Mas o Dicionário adverte que seu uso é pejorativo. Não será a supressão arbitrária de uma palavra que fará a população deixar de usá-la, pronunciá-la. Assim como JUDEU (gentílico da antiga Judeia) é empregado popularmente pra definir uma pessoa avarenta, usurária. E outras palavras como o substantivo MADRASTA, empregado no sentido de pouco carinhosa, ingrata e malvada.

Como disse inicialmente, trata-se de pura, ou melhor, impura insanidade ousar censurar um dicionário. É vandalismo. É quebrar, é desconstruir, palavra por palavra, a identidade de um povo, de uma Nação. Questão se Segurança Nacional.


Há que se resistir então a essa recorrente tentativa nazifascista. Já basta a patética ameaça recente aos livros infanto-juvenis de Monteiro Lobato. 

11 comentários:

Jorge Carrano disse...

O procurador da República que patrocina esta idiotice, esta babaquice, se chama Cleber Eustáquio Neves. Ele sempre poderá alegar que o faz por dever de ofício, mas não é bem assim.
Além da indefensável censura à obra de Monteiro Lobato, citada por você, chamando-a apropriadamente de patética, vale lembrar George Orwell e seu "ministério da verdade" que transporta para o século XXI uma previsão ficcional do início do século passado. Há um patrulhamento em favor desta coisa esdrúxula a que chamam de postura politicamente correta, que por vezes tangencia o bizarro. E quantas tolices estão sendo perpetradas em nome desta excrescência, não é mesmo?
Terão que retirar dos dicionários a palavra baiano, que relativa ao nascido no Estado da Bahia, tem em São Paulo uma outra conotação, que é a de designar todos os nordestinos (e são muitos) que migraram e vivem naquela cidade.
Abraço e obrigado pelo oportuno post.

Gusmão disse...

A escrita, com boa caligrafia ou não, como escreveu o Carlos em post anterior vai desaparecer, porque as pessoas não saberão como escrever e o que escrever.
Eu já entro em pânico com a adequação ao tal, desnecessário, acordo ortográfico. Agora precisamos ter cuidado com as palavras mais comuns para saber se não foram cassadas, ou se não são politicamente corretas.
Este é um pais que coloca sob censura um de seus mais populares e importantes nomes da literatura, criador de um mundo encantado.
Abraços

Jorge Carrano disse...

Assiste parcial razão, a meu juízo, ao Gusmão.
Na verdade alguns vocabulos não devem, censurado/excluídos dos dicionários ou não, ser usados num contexto pejorativo. Senão vejamos: judeu, como qualidade do avarento.
Assim como sabidamente certos nomes feios, palavrões (obcenos), são evitados dependendo da hora, do local onde estamos ou de nossos interlocutores.
O que não se deve tolerar, e precisamos reagir, como propõe o Ricardo, é a censura aos dicionários, que registram a linguagem do povo, erudita ou não. Os dicionários são o repositório da linguagem. Nâo podem ser impostos limites, desde que registrem os diferentes significados das palavras; se é uma giria, um galicismo, ou pejorativo num caso peculiar.
Volto a minha opinião; não se deve usar certas palavras, como "cigano" que deu origem a malsinada ação pública, no sentido de tranbiqueiro, de trapaceiro, para não ofender ao povo cigano (senão intramuros, na calada da noite, à sorrelfa). Como fazemos com as palavras de baixo calão, que são utuilizadas com as reservas impostas pelo contexto.
Mas o uso pejorativo assim como o impropério deve fcar por conta e risco do que fala e escreve.
Assim como toda forma de amor vale a pena, toda forma de expressão deve ser livre, assumidos os riscos inerentes.
Abraço

Gusmão disse...

A revista Veja desta semana tras uma entrevista com Daniel Everett, conceituado (eu não sabia) linguísta e etnólogo.
Em resposta a uma pergunta ele afirma: " Nossas linguas são resultado de uma combinação de três fatores: capacidade cognitiva do homem, a cultura dos povos e o que as sociedades querem comunicar. Cada uma dessas peças influencia as outras".
Mais adiante ele fala da palavra "jeito", que usamos bastante, mas segundo ele não existe correspondente na maioria das outras linguas.Certamente outras palavras serão exclusivas ou mais usuais em uma lingua do que em outra.
Ta aí um aspecto interessante.
Abraço e perdão por me estender em demasia.

Freddy disse...

Primeiro, uma observação jocosa, para descontrair: ainda bem que já tenho o meu Houaiss, muito mais fácil e abrangente que o também popular Aurélio. Cabe-me a partir de agora preservá-lo cuidadosamente!

<:o) Carlos

Freddy disse...

Agora, mais sério e preocupado: acho que atitudes incompreensíveis e arbitrárias como essas citadas são no fundo parte de um todo muito maior, arquitetado para engessar a classe intelectualizada e formadora de opinião.

O objetivo é, entre outros, mudar o foco de nossa atenção, irritar-nos com pequenas injustiças, de modo que nos falte tempo e serenidade para nos concentrarmos nas medidas mais profundas para preservar nossa cultura, nossa nação.

Sou inculto a respeito, mas parece-me que há livros sobre como se manter no governo e/ou subjugar um povo através de medidas pequenas e pontuais.

É fácil perceber que um processo desses está em andamento contra nós - em vários setores.

=8-( Carlos

esther disse...

Caros,

Se os etnólogos fossem enólogos também poderiam sentir pelo aroma no que uma palavra dará; conciliação ou guerra. Geralmente as palavras provocam guerra, interessante, não? quando seriam meio de entendimento.
As palavras embriagam a quem ocupa poder. E como todos acreditamos ter algum -poder- vivemos embriagados.
A humanidade me cansa.
Parabéns pelo debate em torno de muitas palvras: um dicionário, o mais completo que temos>

Paulo disse...

Como disse Carrano, os dicionários são os repositórios da linguagem, da cultura de um povo. Um crime contra o ser humano censurar um dicionário.
Não sei se é um plano arquitetado pelo Lado Mau, como disse Carlos, mas faz sentido o comentário dele. Li "1000 dias de solidão" do Cláudio Humberto sobre a ascensão de Collor ao poder,e seu "louco" projeto de ali ficar por 30 anos. Ou seja, ele e sua troupe sabiam ser possível realizar um projeto assim no Brasil de hoje (faz pouco tempo). Por que não hoje, novamente ?
Eu escrevo muito, e transporto integralmente para a escrita meu modo de ser, de pensar (tem pessoas que não conseguem fazer isso).E hoje isso é perigoso, muito perigoso. Com o advento do email então .... !!
A interpretação de texto virou uma arma letal contra aqueles que ousam escrever, se comunicar, usando todo o potencial do repositório disponível.
Emendando esse post em um recente de Carlos sobre caligrafia, parece que estamos mesmo a caminho de escrever menos, cada vez menos, e num futuro ainda distante, calar a boca ... afinal, os ETs nem boca têm.

Ana Maria disse...

Este Judiciário está em consonância com o Ministério da Educação, que determina que críticas a erros de português, tais como "nós vai" ou "a gente somos" devem ser encarados como preconceito linguistico.
E alem disso, o Alecsandro perdeu dois pelnatis... kkkkkkkkkkk
Não há pressão arterial que resista não é, brother?

Ricardo dos Anjos disse...

Significado do nome do indigitado procurador e censor de dicionários Cleber Eustáquio Neves:
PADEIRO CARREGADO DE ESPIGAS COM SINAIS NA PELE. Explico, é simples, pois consultando alfarrábios, aos quais o moço tem ojeriza, descobri significados de nomes próprios e, propositalmente, os que compõem o dele. Vejamos, então, sem maiores delongas:
CLEBER que dizer PADEIRO (origem teutônica); EUSTÁQUIO,trata-se de
CARREGADO DE ESPIGAS e vem do grego; e NEVES,do latim, significa SINAIS NA PELE...
Logo, o nome todo do procurador é Padeiro Carregado de Espigas com Sinais na Pele. Não é lindinho? Parece nome de príncipe. Inicialmente pensei que o significado de Eustáquio seria Batráquio, bem mais consentâneo no caso (não querendo ofender a classe dos anfíbios).

Jorge Carrano disse...

Aguardamos novas cartas de Nova Petrópolis, caro Ricardo.
Abs.