O primeiro dia do ano pode começar de muitas formas. Assistindo queima de fogos, pulando sete ondas, brindando com champagne (espumante proseco ou mesmo sidra).
Bem, tem outras formas que cada um já viveu e não é necessário enumerá-las, pois não serão como foi o meu dia 1º de janeiro de 1972.
À meia-noite, estava na casa de minha irmã Sara, com minha mãe, cunhado, outra irmã (Ana Maria), sobrinhas e dois filhos. As crianças, todas cinco, pequenas. Um casal vizinho (Dulce e Targino) e amigo de minha irmã e a sobrinha deles.
Quem eram as pessoas presentes não tem a menor relevância para o fato que vou contar, mas dá volume ao texto. E testemunhas.
Brindamos a chegada do novo ano, beliscamos algumas coisa (a ceia tinha sido servida mais cedo), despedimo-nos e fui para minha residência, no caso um apartamento.
Crianças dormindo. Eu e Wanda sololentos, chegamos ao prédio onde residia.
Um filho no colo (estava com meses) o outro (5 anos) arrastado pela mão.
O elevador estava parado no térreo. Então, muito afobado, antes de acionar o botão para subida até nosso andar, resolvi tirar do bolso a chave da porta.
P’ra quê. A chave escapuliu de minha mão e embora tivesse todo o piso do elevador, ou do hall do prédio para cair, foi cair justo entre o piso da cabine do elevador e o chão do hall. Era uma fresta estreita. Se eu fosse tentar jogar a chave de sorte a que ela caísse naquele vão, entre o elevador e piso, provavelmente tentaria mil vezes e não conseguiria.
Naquele dia, às 02:30 horas, com sono, cansado e duas crianças dormindo, consegui a proeza. A chave passou exatamente no estreito espaço.
Olho para Wanda, na vã esperança de que ela estivesse portando a chave dela. Mas qual o que: - “a minha ficou na outra bolsa, em casa”, foi o que conseguiu articular.
Impossível acessar o fundo do poço do elevador. Ao contrário da façanha que algumas pessoas conseguem, de chegar ao fundo do poço e se reerguer, a chave, ser inanimado, não conseguiria.
Por sorte (aquela altura qualquer palpite seria um ato de sorte), o Porteiro disse que na Rua Barão do Amazonas, no centro da cidade, havia um chaveiro que morava nos fundos e que atendia 24 horas.
Será que nestas 24 horas estão computadas as primeiras horas do primeiro dia do ano? Pensei pessimista. Entretanto, seria melhor tentar do que ter que dormir num fusca 1968, carro que possuía na época.
Fomos até lá. As duas crianças resmungando ou dormindo. Achei a casa. Sem campainha. Então começo, inicialmente, a bater na porta, depois esmurrar, com duas preocupações: o chaveiro ficar mal humorado e bater com a porta em minha cara, ou algum desocupado vadio (na época tínhamos menos assaltantes nas ruas), querer tirar proveito da situação (dizem que a ocasião faz o ladrão).
Nem uma coisa nem outra. Quando eu já chutava a porta, quase botando-a abaixo, ela foi aberta.
Pedidos de perdão pela hora e pelo dia. Explicações dadas. Pediu um minuto para pegar as ferramentas e fomos para minha casa.
No percurso relatos de casos inusitados de perdas de chaves e uma confissão:
Dentro de casa, enquanto eu batia na porta desesperado, ele estava apreensivo e na dúvida se abria ou não. Chegando a pensar em chamar a polícia pelo telefone.
Isto porque já fora acordado uma noite por alguém que perdera a chave e depois de abrir a porta, ser anunciado que era um assalto a residência. O freguês não era o dono da casa. Os donos estavam em viagem.
Como agira inocentemente e colaborou com a polícia na descrição do bandido, ficou livre da acusação de cumplicidade.
Uma reles chave rende uma história. Cada um dos leitores pode ter vivenciado história com chave, como por exemplo, trancá-la no cofre, como fez o pai do Fernando Palma; e eu mesmo no Simba Safari, em São Paulo, deixando a chave na ignição da Brasília.
Mas ai já são outras histórias.
5 comentários:
Também já passei sufoco com perda de chave. Inclusive do automóvel, que deixei cair no rio, em Cachoeiras de Macacu.
Realmente você começou mal aquele ano. Espero que tenha terminado bem.
Abraço
Carrano, minha única experiência ruim com chave foi na volta de uma festa, 3 horas da manhã. Eu, esposa e filha mais velha. A chave estava na mão. O que a gente não contava era que a outra filha havia trancado a tetrachave de segurança mas não a retirara! Resultado: a gente abriu inocentemente a fechadura comum e na hora de abrir a de segurança... a surpresa! Nossa chave não entrava!
Rapidamente identifiquei o problema. Obviamente tocamos a campainha diversas vezes. Batemos na porta. Ligamos pelo celular para o telefone fixo (nessa época só eu e a esposa tínhamos celular), não atendia. Desci e peguei uma ferramenta no carro, na vã esperança de conseguir, através de umas "porradinhas técnicas", fazer a chave que estava por dentro cair. Efetivamente caiu, depois de destruir o segredo! Resultado: nem a minha nem outra chave qualquer abririam a maldita fechadura de segurança.
Ah, sim, as chaves da porta principal? Dentro de casa, bem guardadinhas. Só havíamos levado as chaves da porta de serviço. Tentamos chamar novamente a filha por campainha, batendo na porta (coitados dos vizinhos...) e telefonemas. Nada! Será que ela estava desmaiada? Morta?
Bom, restava-me a "solução final": joguei meu modesto "corpitcho" de 100 kg contra a porta e a derrubei! Foi até fácil, o que me fez reforçá-la cuidadosamente depois, quando do reparo.
Bom, a essa altura querem saber porque minha filha não ouvira nada disso. Que ela estava em casa a gente sabia. No entanto, dormindo com um headphone daqueles que envolvem a orelha, profissional, embalada por disco-music nos seus belos sonhos.
Abraços
Carlos
Caramba, como pude ter me esquecido de comentar para os amigos? Em atenção ao primeiro parágrafo do seu jocoso texto, informo que no primeiro dia de cada ano eu sempre estive (com 2 ou 3 raras exceções) envolvido na comemoração de meu aniversário!
Proposital ou inadvertidamente, o mundo todo eleva um brinde à minha data natalícia!
Abraços
Carlos
Gostei do jocoso, Carlos. A ideia era esta mesma, porque o tempo transforma fracassos, micos, transtornos e obastáculos em folclore.
Ainda bem.
Abraço
Conosco (eu e a Isa) aconteceu uma vez, e foi traumático tb rsrsrs.
Chegamos em casa tipo 3h da manhã, e nossos 3 filhos estavam dormindo trancados em seu quarto, com o ar condicionado ligado. Estávamos sem a chave.
Minha sorte foi que eu moro imediatamente acima do playground, mas com certeza acordei a vizinhança inteira.
A cena final foi eu em cima de uma escada, na janela deles, socando violentamente o vidro pra acordá-los. E nada !
Depois invadi minha varanda, que fica fechada, e de lá comecei a berrar muito até que um deles apareceu. Isso deve ter levado uns 30 minutos. Inesquecível ...rs.
Depois dessa passamos a usar com eles uma estratégia referente a ....chaves !
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