14 de agosto de 2012

Caminhar na contramão


Meu pai dizia, porque ele mesmo ouviu algumas vezes, uma frase recorrente: “faça o que digo e não faça o que faço”. Ou que fizera.

Isso em relação a várias coisas, tipo, não comer a gordura tentadora que vinha entorno do bife de alcatra (ou contrafilé) ou a pele da coxa de frango, não fumar,  enfim, estas coisas banais.

Já o governo, incluído o congresso, porque nele tem maioria, prega uma coisa e faz outra diferente ele mesmo. Caminha na contramão do caminho que sinaliza.

Por um lado cria um programa de bolsas de estudos para mestrados e doutorados no exterior, por outro não consegue controlar uma greve nas instituições públicas de nível superior, com sérios prejuízos para os estudantes.

Estabelece uma política salarial para o magistério, com plano de carreira, que privilegia os professores com doutorado e MBA, sob considerar que é necessário melhorar o nível do corpo docente estimulando o aprimoramento e oferecendo uma contrapartida remuneratória. Por outro lado aprova um sistema de cotas para ingresso nas universidades que é uma ducha de água fria nos mestres mais qualificados, porque nenhum professor com doutorado ou cursos de extensão obtidos no exterior ficará feliz tendo em sala de aula cotistas sem qualquer preparo, sem qualquer base que lhes permita acompanhar as aulas.  Será um desestímulo para os bons e mais preparados professores.

Sistema de cotas é um crime que não ficará impune. O futuro vai cobrar um preço alto. Lembram da reserva de mercado na área de informática?

É incoerente buscar a excelência no ensino e colocar nas universidades públicas matéria prima (estudantes) de baixa qualidade (despreparados). Não haverá santo que de jeito.

E tem o seguinte, um ministério que não sabe realizar, com seriedade, sem fraudes, uma prova de ENEM, com um ministro que anuncia a criação, no país, de campus de universidades como Havard ou instituições de excelência de ensino como o MIT, ambas sediadas em Boston, nos USA, para depois ouvirmos da direção destas mesmas instituições que isto seria impossível pois eles não admitem filiais, em especial em outro país, pode ser levado a sério?

Ou seja, estamos perdidos nos dois sentidos, mas em especial no figurado.

Ademais, e finalmente, se a nossa Suprema Côrte de Justiça, também conhecida como STF, fosse constituída por ministros menos comprometidos com vinculações político-partidárias e fossem mais  guardiões do fiel cumprimento dos preceitos constitucionais, atuando com independência, sem demagogia e populismo, obedientes apenas às leis, esta política discriminatória seria considerada inconstitucional.


Nossa Carta Magna tem um princípio, já consagrado no direito pátrio, de que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natutreza,...” (Art. 5º da Constituição Federal)

Ora, aquele que estudou mais e está mais preparado, poderá ficar alijado, sem oportunidade de ingresso na universidade, porque a vaga que devia ser sua, por mérito, está ocupada por um cotista.

Isto é ou não discriminatório?

E queremos melhorar o nível de ensino no país com esta política obtusa, anacrônica, absurda.

8 comentários:

Freddy disse...

Esse assunto me incomoda porque recoloca o Brasil na famigerada rota da segregação racial.
Ademais, temos também um claro movimento no sentido de sucatear o ensino superior, de sorte que ter diploma não significará mais nada, com a consequente queda do padrão salarial - fato que interessa ao empresariado.
Assunto deprimente esse...
=8-/
Freddy

Jorge Carrano disse...

Lamento discordar, Freddy, mas este assunto deveria interessar a todos os brasileiros conscientes.
Ser patriota não é cantar o hino e agitar bandeirola nas competições esportivas.
Ser patriota é estar preocupado com o futuro do país e de seus cidadãos, alguns dos quais meus e seus, filhos e netos. E sem educação e cultura estamos condenados a ver a juventude que tem brio, tem projeto de vida, tem ambições maiores de conhecimento, ir buscar no exterior melhores oportunidades.
A minha indignação não tem conotação racial, até porque o sistema de cotas agora adotado é mais abrangente, pretendendo ser econômico-social.
O sucateamento a que você se refere foi pior na escola pública de primeiro e segundo graus, que no passado se não atingiam um nível de excelência aspirado, cumpria um bom papel. Capaz de preparar, dando boa base para ingresso nas universidades, sem cursinhos vestibulares.
Lembra do "nosso" Liceu Nilo Peçanha? Pois é.
Se o governo conseguisse cumprir seu papel (obrigação) de prover bom ensino fundamental e médio, os egressos de escolas públicas não precisariam do privilégio de cotas, sejam as étnicas, sejam as sociais.
Isto é miopia de governos demagogos, compostos por gente do tipo destes que estão sendo julgados e, o que é pior, do tipo dos julgadores que estão lá no STF.
Abraço

Ricardo dos Anjos disse...

Bem, particularmente aprecio as cotas, a saber:
ricota
cocota
chacota
terracota
maricota
tricota
barcota
Além de outras palavras com cota iniciadas:
cotação
cotacoulão
cotada
cotado
cotador
cotalício
cotamento
cotanilho
cotanoso
cota-parte
Ah, essa foi então minha cota de virtual sacrifício léxico. Isso sem nomear a Tia Cota, Dona Cotinha para os íntimos.

Saudações psicodélicas!







Jorge Carrano disse...

Cota-parte não é redundância meu caro Ricardo? É pergunta mesmo. Até onde eu pensava saber, cota, do latim quota, significaria "parte".
As antigas convenções de condomínio têm grafado quota, ao se referirem à parte que cabe ao condômino no rateio das despesas. Atualmente escreve-se cota.
Sei que é léxico, mas acho estranho escrever cota-parte.
Abraço

Ricardo dos Anjos disse...

Por estranho que pareça, é isso mesmo. E tb como Vc assinalou, observando a redundância. Cota-parte mesmo que cota. Veja o que o Aulete registra:

COTA-PARTE, QUOTA-PARTE
1 A parte de um todo que cabe a cada um de seus possuidores; COTA; QUINHÃO
2 Quantia que corresponde à parte de cada participante em negócio, despesa específica, formação de capital etc.; COTA

Eu prefiro COTA ao invés de QUOTA.
e CATORZE ao invés de QUATORZE.
Ora, surpreendomo-nos discutindo
o sexo dos anjos, os lá de cima rs rsrs

Gusmão disse...

Este tema, ensino, foi objeto de matéria hoje no Jornal Nacional. É espantoso o nível baixo dos universitários brasileiros.
As faculdades particulares, segundo depoimento de um entrevistado, abrigam alunos que não têm preocupação com aprendizado, senão com o diploma, de um lado; de outro,recebem alunos com baixíssimo preparo nos ensinos fundamental e médio, o que os impede de acompanhar as matérias no nível superior.
O que jogam no mercado, com diploma, mas sem conhecimentos suficientes para o exercício profissional é uma festa.
O assunto merece debate nacional.
Abraços

Ana Maria disse...

Esse recurso de cotas, representa em síntese o empurrar com a barriga o problema que cabe ao governo resolver. A solução deveria ser o fornecimento de ensino de qualidade para todos, acompanhamento extra curricular, e tudo que fosse necessário para fornecer a igualdade de direitos e oportunidades. Isso implicaria em equipar e manter escolas, remunerar professores e elaborar planejamento globalizado.
Como não querem... concedem cotas.
Estatísticamente tudo fica solucionado.

Freddy disse...

Carrano, eu não disse que não me importo, disse que me incomoda...
Para não ser repetitivo, diria que concordo com o comentário da Ana Maria.
Além de estatisticamente ficar tudo solucionado, manter o povão inculto ajuda os governos a se manterem, seja esse ou outros tantos que o precederam - a coisa não veio de hoje.

O debate deveria ser nacional, mas a maioria está a receber as benesses assistencialistas, como envolvê-los num debate consciente?

Estamos presos num círculo vicioso e (não sei qual seria a melhor solução, mas lá vai) o sistema é democracia, ou seja, a voz da maioria é que direciona os rumos do país...

Calo-me de momento...
Abraços
Freddy