Carlos Frederico March
(Freddy)
Os recursos naturais da Terra estão se esgotando. Seja por
mau uso, seja por conta do "crescei e multiplicai-vos" que já se
tornou anacrônico e vai nos levar a um cenário de superpopulação e escassez de
alimentos, o fato é que em poucas décadas viver aqui será um suplício.
É bem verdade que a Natureza as vezes dá o seu jeito. Pode
ser uma praga de proporções planetárias, pode ser uma catástrofe meteorológica
inesperada ou até uma extinção global vinda do espaço como há 65 milhões de anos
atrás, quando um asteroide ou cometa caiu na região onde hoje se encontra o
Golfo do México e causou uma alteração de vulto na distribuição de seres vivos
na face de nosso planeta. Extinguiu-se a raça dominante (grandes répteis,
dinossauros) e aos poucos os pequenos mamíferos se estabeleceram, e daí viemos
nós.
Contudo, esperar pela Mãe-Natureza é jogar roleta-russa,
dado que implicaria numa provável extinção da raça humana. A saída seria
estancar imediatamente o crescimento populacional e ainda por cima mudar
hábitos no consumo dos recursos existentes, criando maneiras de usar energia
renovável (a solar sendo a mais efetiva de todas) e gerenciando o uso de terras
cultiváveis, de modo que a necessidade de grande produção de alimentos não destrua
de vez o delicado equilíbrio ecológico.
Pelo que acompanhamos no noticiário, nada disso será
realizado no curto prazo. Por conta disso cientistas começam a pensar em
alternativas. Não as havendo na Terra, por que não buscá-las no espaço? Ficção
científica? Para a humanidade, nada muito diferente do que varar os oceanos à
procura de novas terras nos idos de 1500, tendo como meio de transporte nada
mais que toscas naus e instrumentos rudimentares, sujeitos à inclemência do
tempo e a doenças de toda espécie. E sem saber se e onde chegariam!
Caindo na realidade atual, há conhecimento e ideias, há
hipóteses e projetos, a escassez é financeira. Ainda não chegamos ao ponto de
arriscar tudo pela sobrevivência da espécie.
Vamos, portanto, nos restringir à apresentação das hipóteses.
Não há, no Sistema Solar, nenhum planeta nem satélite que tenha condições de
abrigar com conforto o ser humano, a não ser a própria Terra. O estabelecimento
de colônias humanas em astros próximos só seria viável através de grandes
redomas estanques, verdadeiros containers isolados do meio ambiente hostil.
Isso não é "colonizar", no máximo é implantar uma base científica.
Comparação de tamanhos: Mercúrio, Vênus, Terra e Marte
|
Uma saída seria alterar um ou mais deles de
modo que se tornem habitáveis. A esse processo chamamos de TERRAFORMING, que
pode ser livremente traduzido como manipular as condições existentes num
determinado astro ao ponto dele apresentar condições similares à que
encontramos aqui na Terra. Pelo que os astrônomos conhecem do Sistema Solar, a
curto prazo os locais mais prováveis de estabelecimento da raça humana seriam a
Lua, por proximidade, e Marte, por semelhança. Locais mais exóticos como
algumas das luas de Júpiter ou Saturno estão, mesmo hoje, longe demais de nossas capacidades tecnológicas.
Comparação de tamanhos entre Terra e Lua
|
A Lua é muito pequena (D = 3.476 km frente ao diâmetro da
Terra D = 12.756 km) e não apresenta condições de terraforming estáveis,
principalmente pela baixa gravidade (1/6 da nossa) e por efeitos provocados
pela proximidade da Terra (separação média de 384.000 km). Por conta disso, a
Lua jamais reteria uma atmosfera produzida artificialmente.
Mercúrio (D = 4.878 km) é muito próximo ao Sol, totalmente
rochoso e sua atmosfera é residual (na prática inexistente). Vênus (D = 12.102
km) é o inferno tornado realidade, com um efeito estufa levado ao extremo,
temperaturas superficiais dignas de derreter estanho e chumbo (cerca de 460ºC)
a uma pressão impensável (92 vezes maior que a da Terra), não bastassem as
numerosas nuvens de ácido sulfúrico.
Consideremos então Marte (D = 6.787 km). Calcula-se que no
passado esse planeta tenha desenvolvido um ambiente similar ao que hoje
encontramos na Terra e que, por motivos diversos ao longo de milhões de anos, o
perdeu. Hoje Marte é um imenso deserto, árido, com uma atmosfera existente mas
extremamente tênue. A construção de redomas estanques, laboratórios herméticos
que abrigariam os primeiros exploradores seria um passo inicial para a
exploração do planeta. Não obstante, a situação do meio ambiente marciano é um
tanto mais hostil que apenas uma atmosfera tênue. Os astrônomos colecionam
registros de épocas em que, por anos a fio, o planeta ficou tomado por nuvens de
poeira resultante de violentas tempestades de extensão planetária.
Satélites naturais de Marte |
Além disso, Marte pode ser alvo da queda de pequenos
asteroides ou cometas, que - dirão - também pode acontecer conosco aqui na
Terra, mas temos não só a Lua para nos proteger como também uma densa atmosfera
para desintegrar a esmagadora maioria dos que aqui chegam (quem não conhece as
"estrelas cadentes"?). Marte só tem dois pequeninos satélites, Phobos
(27 km) e Deimos (16 km), nenhum das quais poderiam servir de guardiões
celestes. O que chegar pelo espaço atinge o solo, podendo com certa probabilidade
ofender a estanqueidade das bases científicas.
O que fazer, então? Usar o conceito de terraforming.
Através de procedimentos paulatinos, que seguirão um projeto de décadas podendo
chegar a alguns séculos, o ambiente marciano será meticulosamente alterado. Os
modelos atuais são diversos. Em geral, seguem uma receita genérica:
1 - A
temperatura superficial deverá ser aumentada
2 - A
pressão atmosférica tem de ser aumentada
3 - A composição química da atmosfera terá de ser alterada
4 - A
superfície deve ser tornada úmida
5 - A
radiação UV na superfície tem de ser reduzida
Em primeiro lugar, há necessidade de se aumentar a pressão
atmosférica marciana, que é muito baixa: 6 milibares. Na Terra, ao nível do
mar, temos 1.013 milibares e mesmo no pico de uma montanha como o Everest, a
8,84 km de altura, ainda temos cerca de 365 milibares. Portanto, é uma ação
prioritária, senão humanos teriam de viver com trajes espaciais ou dentro de
redomas pressurizadas. Para tal, a ideia é primeiro aumentar a temperatura de
Marte através de enormes espelhos orbitais que refletiriam luz solar sobre seus
polos, aumentando-lhes a temperatura e derretendo a camada de gelo seco. Isso inundaria
a atmosfera com CO2 criando efeito estufa e uma coisa puxa a outra, até que se chegaria
a um valor aceitável de pressão e temperatura.
Essa pressão razoável seria obtida em algumas décadas/séculos,
mas o ar daí resultante seria irrespirável para humanos, que não suportam uma
concentração maior que 5% de CO2. O passo a seguir seria alterar a composição
dessa atmosfera. Com o uso de bactérias e fungos cuidadosamente escolhidos,
seriam iniciadas transformações químicas que produziriam uma composição que, se
não igual à da Terra, seria ao menos tolerável para
humanos.
Nesse meio tempo, alguns vegetais especiais seriam aos
poucos plantados, o que colaboraria não só para a transformação química da
atmosfera como iniciaria a ocupação do solo. Através de cuidadosa manipulação
mineral e biológica, o aumento da quantidade de vapor d'água seria o próximo
passo. Teríamos chuva e, com o tempo, lagos e mares.
Ainda teríamos de lutar contra um adversário implacável.
Teme-se que a atmosfera conseguida nos passos 1 e 2 não teria a espessura
adequada para bloquear a radiação UV incidente (oriunda do Sol), o que seria um
grande ofensor ao restante do processo, dado que ela é letal aos organismos e
plantas usados nos passos seguinte e aos próprios seres humanos, depois. Na
Terra contamos com a blindagem da camada de ozônio, além da própria espessura
da atmosfera. Contudo, cuidados tomados e dando tudo certo, ao fim de todo o
processo, que duraria alguns poucos séculos (há quem aposte em apenas dois), teríamos
um planeta finalmente habitável.
Evolução teórica do terraforming de Marte |
No entanto nem tudo são flores... A gravidade superficial de Marte é muito baixa, 38% da terrestre. Os colonos e principalmente aqueles seres humanos nascidos e criados num ambiente de baixa gravidade teriam modificações importantes na estrutura óssea. Na verdade não temos experiência científica para determinar as reais consequências físicas para esses homens e mulheres nascidos marcianos. Decerto não poderiam visitar a Terra.
Seria uma
raça de monstros disformes?
Uma vertente de cientistas afirma que, ao invés de adequarmos
o meio ambiente marciano ao que imaginamos como ideal para terráqueos, visão
atual do modelo terraforming, daqui a alguns séculos já teríamos progressos em
medicina e tecnologia suficientes para nos adequar geneticamente como humanos a
um meio alternativo, nem terráqueo nem marciano. Em tese, isso facilitaria todo
o procedimento de ocupação de Marte pela nova e adaptável raça humana
(humana?!).
Temos agora de levar em consideração outros aspectos,
principalmente éticos. Há muitas pessoas que se negam a sequer aventar o
processo de terraforming pois defendem a linhad e preservar o meio ambiente
atual de todos os corpos do Sistema Solar. Temem que a intromissão humana vá
destruir e descaracterizar os novos mundos.
Paisagem atual marciana
|
No entanto, está sendo feita uma pesquisa astronômica
profunda para verificar se há manifestação biológica alienígena no Sistema
Solar e a própria comunidade científica está preparada para não interferir em
nenhum planeta ou satélite que tenha a mais remota chance de abrigar vida. Esse
é o caso por exemplo de Europa, satélite de Júpiter que contem um profundo
oceano de água (elemento primordial para a vida como a conhecemos), ou do
próprio planeta Marte, que apresenta vestígios de erosão por água em alguma
época passada.
Todo o exposto acima não passa de hipótese que beira a
ficção científica. No entanto, temos de admitir que a ficção científica já foi
ultrapassada em diversos aspectos do nosso cotidiano, de modo que uma hipótese
a mais ou a menos não deve causar espanto algum.
De concreto, a certeza de que nenhum de nós testemunhará o
futuro da história humana.
11 comentários:
Acho que para o homem não há limites, em face de nossa capacidade de realização, inventiva e adaptação as circunstâncias. Das cavernas até aqui já foi um empreitada grande.
Abraços
Gostei muito da firmativa contida no último parágrafo. Não gostaria de morar em Marte.
Teria que alterar todos os meus documentos e impressos, para atualizar endereço (rsrsrs).
Ficção científica! Tem gente que acredita que o homem foi à Lua. E quando chegará ao Sol? Tudo montagem, pura ficção científica que atrai leitores e aguçam a imaginação. Papel aceita tudo que é imagem. A TV também.
Tô com meu velho e reacionário sogro e não abro! A ciência, a tecnologia digital, essa sim, tudo cria, transforma. E ilude. Frauda fatos e os apresenta com ares de conhecimento,de credibillidade, de evolução. Com o istagram então... Particularmente acredito que a Atmosfera ninguém ultrapassou. Só em filmes de Lukas e Spielberg.
Sabe, Anonimous, meu sogro pensava igual ao seu. Já relatei no blog que ele não aceitava a descida do homem na lua. Para ele era fraude, montagem.
Morreu convicto de que a lua era inatingível e os americanos estavam blefando.
Bem, ele era homem de poucas letras, como se diz, com pouco saber e muita sabedoria (proporcionada pela vida).
O pensamento de meu sogro está colocado no post a seguir:
http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2011/04/outras-historias-de-meu-sogro.html
As pegadas dos astronautas foram feitas num deserto qualquer.
Caro Freddy,
Imagino o trabalho de pesquisa necessário,independentemente dos conhecimentos que você já acumulou sobre a mecânica do universo, como astrônomo amador e estudioso de assuntos galáticos e interestelares.
Reitero meus agradecimentos e cumprimentos manifestados em email.
Abraço
O obscurantismo sempre foi um entrave para o escoamento das criações científicas. Ceticismo não cabe no presente assunto, que exige pesquisa paciente a par da dialética indispensável para se chegar a um consenso de clareza na informação & comunicação.Um "não acredito" banal é imobilidade num mundo que se move aceleradamente e, apesar dos projetos secretos ou de retardado anúncio,suas descobertas
aprovadas e comprovadas já se colocam visivelmente ao alcance de todos, inclusive dos céticos que a utilizam, muitas vezes automaticamente, ignorando a riqueza da fonte. O Criador continua criando. Há que se ter olhos de ver e ouvidos de ouvir.
Carrano,em primeiro lugar tenho imenso prazer em escrever sobre este e outros assuntos. Pesquisar ou estudar faz parte.
Com relação ao tema em pauta concordo que pareça ficção científica. Mas como seria para as pessoas em meados do século XIX se alguém lhes descrevesse uma mera cidade do século XXI, com automóveis, aviões, celulares, rádio, TV, internet, remédios, procedimentos cirúrgicos? Foi só 150 anos depois!
Temos de admitir que a velocidade com que a civilização/sociedade evolui hoje é inimaginavelmente maior que a que testemunhamos no período acima citado. Afirmo que, dentre os cenários possíveis para o futuro da humanidade nos próximos 150 anos (desde os otimistas até os pessimistas), há um tenebroso, com superpopulação faminta, escassez de áreas agrícolas e de água potável, poluição no ar, aquecimento global. Nesse caso específico, fugir do planeta será uma saída para colonos intrépidos.
Abraços
Freddy
Carrano, o Globo tem notícia sobre planos da NASA para continuidade da exploração de Marte, segundo a agência uma prioridade, visando estabelecer as bases para uma futura missão humana.
http://oglobo.globo.com/ciencia/nasa-anuncia-lancamento-de-nova-missao-para-explorar-marte-5850899
Abraços
Freddy
Um dos únicos homens que poderiam testemunhar sobre a chegada à lua, o astronauta Neil Armstrong faleceu ontem. Foi ele, segundo assistimos na TV, o primeiro homem a pisar o solo lunar, em 1969. Com ou sem truque.
A NASA , depois da recente descoberta de água em Marte, começa a acelerar seus planos de colonizar o Planeta Vermelho como plano B de sobrevivência da Humanidade.
Ontem era ficção científico, depois passou a ser hipótese, vieram as missões não tripuladas dos EUA, da Europa, Índia, e o interesse foi aumentando à medida que mais se conhecia o planeta.
Agora temos notícia de que a NASA pretende pôr homens em Marte, numa missão de ida sem volta, já em meados de 2030.
Isso é "amanhã", em termos de humanidade.
Detalhes em
http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/nasa-detalha-seu-projeto-para-colonizar-marte-ate-2030-17733437
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