6 de agosto de 2012

Cheia de charme e cheia de pichadores


Por
GUSMÃO


Novela com linguagem e foco um pouco diferente do usual, embora o lugar comum da empregada que depois se descobre filha bastarda do patrão, “Cheias de Charme” vem obtendo ótimos índices de audiência para uma novela daquele horário.

Esta apelação comum em folhetins (verossímil pois acontece na vida real), do personagem não conhecer o pai  ou imaginar que é outro, que não o legítimo, que só descobre mais tarde, não compromete, antes pelo contrário ajuda no desenvolvimento da trama.

A trilha sonora, se não foi composta especialmente, se encaixa perfeitamente no enredo. Uma das músicas, esta certamente composta sob encomenda, resume boa parte do roteiro e o clip está bombando na internet.


As atrizes estão muito bem em seus papeis, mas destaco, em especial, o desempenho da Claudia Abreu, que faz a personagem Chayene, uma cantora em decadência que não aceita a perda de prestígio e faz de tudo para se manter no topo. Não tem medidas para desbancar as concorrentes. Simula gravidez, tenta infiltrar empregada, que chama de curica, na equipe do trio de empreguetes (cantoras concorrentes), seduz patrocinador, enfim faz qualquer coisa, sem escrúpulos.

As concorrentes no caso, são três ex-empregadas domésticas que viram celebridades, depois de constituírem um trio de cantoras que circunstancialmente conquistam o público, depois que um vídeo amador vai parar na internet.

O trabalho da Claudia Abreu já foi comparado por alguém com o de Regina Duarte em “Roque Santeiro”. Com efeito a Viúva Porcina e a Chayene têm alguns traços em comum.

O Carrano deve estar muito contente porque o Vasco é citado a todo instante porque é o time de preferência de alguns personagens da trama.

Esta novela, a exemplo de uma de suas antecessoras, intitulada “Cordel Encantado”, que também inovou, pois misturou uma fictícia cidade do sertão brasileiro com um suposto reino de características europeias, são um alento para a mesmice das novelas do chamado horário nobre e que alguém em comentário aqui neste blog, apropriadamente chamou de horário pobre.

Mas o que me levou a propor este post ao blogueiro, foi a presença, na novela, de um moleque, pichador travestido de contestador, típico rebelde sem causa, que pretende reformar o  mundo, transgredindo a lei e cometendo delitos como invasão de domicílio, danos a patrimônio alheio e outras pequenas infrações que estão ficando impunes. Pelo menos até agora.

Crítico do sistema, mas sem conhecimento político ou filosófico, utiliza discurso mofado típico de bonecos de ventríloquo e adotado por aqueles que não têm objetivos na vida, senão a contestação, sem propostas de modelos melhores.

Um tiro n´água dos autores, que estão dando muita visibilidade ao moleque pichador, rotulado na trama de grafiteiro artista.

O personagem precisa ser punido por emporcalhar a cidade e causar danos ao patrimônio de terceiros.

Trata-se de uma arte menor, de desocupados. E o marginal sem preparo contesta pela contestação,  como fim em si mesma.

Uma lástima porque a novela é leve e interessante.


2 comentários:

Incógnita disse...

Concordo com o autor do post. A novela esta sendo um diferencial no meio dos dramalhões apresentados. Os vilões acabam se dando mal o que alivia nossas frustrações com o panorama político brasileiro.
Quanto ao personagem pixador, me parece, está caminhando para ser cooptado pelo sistema que tanto condena. Já vi muito disso vida à fora.

Gusmão disse...

Obrigado, Incógnita. Espero, como você está prevendo, que o pixador mude de pensamento e procedimento, não precisando, necessariamente, aderir ao "sistema" que condena. Basta respeitar o direito do próximo e se comportar de maneira civilizada.
Bom saber que não estou isolado em meus valores.
Abraço