15 de agosto de 2012

Música nas Olimpíadas de Londres


Por
Carlos Frederico March
(Freddy)

Eu não pretendo comentar todo o cenário musical das cerimônias de abertura e fechamento das Olimpíadas de Londres. No entanto, não posso negar que estava ligado desde que a bandeira olímpica foi repassada ao prefeito de Londres em Beijing, dado que tivemos como pano de fundo Jimi Page (Led Zeppelin) tocando Whole Lotta Love, letra e música que representam uma selvagem relação sexual. O que esperar a partir disso?!

A Inglaterra foi o berço do estilo musical que mexe com minhas entranhas. Se ele tem raízes nos blues americanos, nas garagens dos subúrbios, tocado em pubs cavernosos, não me interessa. Uma guitarra com distorcedor arrepia meus cabelos mais íntimos, eu que fui criado ouvindo Mozart, Beethoven, curto um coral religioso e toco Chopin...

Não pretendo discutir com meus neurônios...


                             Mike Oldfield - Tubular Bells

A cerimônia de abertura começou com Mike Oldfield tocando trechos de Tubular Bells (que foi usada no filme O Exorcista), e terminou com Pink Floyd (Eclipse, faixa de encerramento de seu mais famoso disco, Dark Side of the Moon) e a seguir Sir Paul McCartney. Ele tocou a minúscula The End (bem a propósito) e emendou com Hey Jude para incendiar o estádio com o indefectível coro, que teve recentemente no Rio de Janeiro sua expressão mais emocional, com a convocação via redes sociais para  que o povo viesse todo com placas que formaram um mar de "na-na-na-nanana-na" na multidão.

A cerimônia de encerramento teve diversos elementos dos Beatles, além de muitos outros ícones do presente e passado, muitos dos quais eu confesso desconhecer.

Tivemos Queen com imagens de Freddy Mercury e The Who! Tivemos George Michael, Bond (aquelas lindas mocinhas tocando violino e cello), MUSE, reunião das Spice Girls...
Completem com os outros que vocês conhecem.

Vangelis no estúdio
E durante todas as cerimônias, tivemos como pano de fundo o tema principal da trilha sonora do filme Charriots of Fire, composição de VANGELIS, nome artístico do grego Evangelos Odysseas Papathanassiou, também one-man-band como Mike Oldfield, mas especialista apenas nas artes dos teclados e sintetizadores. O referido filme versa sobre superação em esportes olímpicos.

O que eu gostaria de destacar nisso tudo, abertura e  encerramento? Por partes...

A escolha de MIKE OLDFIELD logo no início me emocionou. Um de meus ícones do rock progressivo, esse multi instrumentista típico representante do que denominamos de one-man-band toca quase tudo - e não estou falando das modernas produções computadorizadas com sintetizadores. Ele toca instrumentos reais, um monte deles, de cordas a percussão, de teclas a sopros. Seu imenso galpão de instrumentos parece uma eclética loja de música! Digamos que, a par do uso de sua conhecida trilha do Exorcista na cerimônia, evidenciar um músico que tem tal habilidade foi no mínimo uma sincera homenagem à classe. Na oportunidade ele tocou, se não me falha, baixo.

THE BEATLES usado à larga. Não é de se espantar pois é referência musical no mundo todo, comercialmente falando. Sir Paul (abertura) não tocou seus sucessos da era solo, tocou Beatles. No encerramento tivemos "A day in the life", espetacular descrição do cotidiano de um apressado londrino, bem escolhida dentro do enredo da cerimônia.

The Beatles - Abbey Road

Tivemos de quebra a impressionante performance virtual de John Lennon tocando Imagine, cuja letra pode nos levar às lágrimas numa cerimônia que envolve, entre outros, diversos países em conflito.

Pink Floyd - The Dark Side of the Moon
PINK FLOYD... Rock progressivo originalmente com uma veia psicodélica, é a meu ver a maior expressão musical de todo o cenário rock. Uma apresentação deles ao vivo (ou DVD) é de deixar você pelo menos uma semana sem querer ouvir mais nada.

Destaco o fato de usarem-no, como aos Beatles, em ambas as cerimônias. Na abertura, achei curioso escolherem Eclipse, fechamento de um disco que descreve o ocaso mental de Sid Barrett, fundador da banda que enlouqueceu pelo uso de drogas pesadas. No encerramento, o uso de Shine on You Crazy Diamond foi bacana porque possibilitou efeitos audiovisuais interessantes (o equilibrista e o cara de terno pegando fogo, referências da capa do referido disco).

Freddy Mercury (Queen)
QUEEN, com imagens virtuais de Freddy Mercury e a apresentação ao vivo de Brian May. O que acho paradoxal nessa inclusão é típico do sutil humor britânico. Primeiro, o nome da banda: Rainha - seria uma falta de respeito com a Família Real? Depois, a homossexualidade explícita de seu falecido líder, um dos maiores cantores do rock.

Nada demais, não fosse usual os concertos do Queen terminarem com o dito cujo adentrando o palco seminu, envolto no manto real mais cetro e coroa, ao som do hino da Grã-Bretanha tocado pelo restante da banda!

THE WHO... OK, quem se lembra do início dessa banda? Em plena década de 60, The Who era famoso pelos seus concertos absurdamente energéticos, que invariavelmente terminavam com Pete Townshend selvagemente quebrando sua guitarra. Compositores da mais famosa ópera-rock de todos os tempos - Tommy - The Who atravessou as décadas como representante inquestionável da história do rock e foi mui adequadamente homenageado na grande festa, terminando com See Me, Feel Me, canção ícone da referida ópera.

The Who (nos anos 60)
Em resumo, os britânicos mostraram ao mundo sua imensa contribuição ao que hoje consideramos corriqueiramente como música pop / rock. Não se avexaram em evidenciar o ácido humor visual do Queen, o explícito psicodelismo do Pink Floyd, a selvageria do The Who, misturado a outras tantas vertentes musicais antigas - destacando The Beatles - e atuais que têm como berço a Grã-Bretanha. Tudo em nome de apresentar a história da música como escrita por eles, britânicos.

Dificilmente teremos outras Olimpíadas como as de Londres.


12 comentários:

Jorge Carrano disse...

Caro Freddy,
Como tive oportunidade de comentar em email, quando recebi seu texto, gostei muito da abordagem.
Para aqueles que, como seu, não são muito versados em rock, progressivo ou não, trata-se de uma excelente bula.
Obrigado pela colaboração.
Abraço

Gusmão disse...

Acho que os Beatles estão para o rock, como Monet está para o impressionismo, Back para a música erudita e Pelé para o futebol. São todos eternos.
Abraços

Anônimo disse...

Gostei, na abertura, da sacada de colocar o Agente 007, a serviço de Sua Majetade.

Jorge Carrano disse...

Caro Gusmão,
Acho que você queria se referir a Bach, na música. Foi traído pelo teclado do computador. É o chamado erro de digitação. Afinal o K e o H estão próximos, não é mesmo?

Quanto ao comentário Anônimo, também achei bem bolada a cena com a rainha, e admirei seu (her) desprendimento, sendo, como é, tão austera e presa a protocolos e convenções.
Abraço

Anônimo disse...

Se estão falando de Johann Sebastian Bach, concordo que seja referência na chamada música clássica.

Também acho, como o blogueiro, que o post está bem articulado.
:D Fernandez

Gusmão disse...

Agradeço a generosidade com que trataram meu equívoco de grafia.
Da próxima vez darei Vivaldi como exemplo, porque terei menos chance de errar ao escrever (rs).
Abraços

Riva disse...

Freddy,
Conclui falando da parte brasileira no final ......e o que nos aguarda.

Riva

Freddy disse...

Não chegaria ao ponto de dizer que Monet, que Bach, que Pelé abriram caminhos, ou que os Beatles o fizeram sem a ajuda de outros tantos que com eles conviveram na mesma época e compartilhando os mesmos espaços. O contexto histórico e cultural do momento em que viveram ajudou.

Para mim, arte é arte. Eu não gosto muito de classificar, apesar de concordar que é didático. Como escrevi no post, se meus pelos arrepiam com o som de uma guitarra distorcida, não discutirei com meus neurônios dizendo que eu deveria gostar mais de uma harmonia erudita, ou de um piano Steinway, ou do som de um violino Stradivarius. Arrepiou? Tô gostando!
Abraço
Freddy

Gusmão disse...

Perdão, Freddy, mas não disse que os citados artistas abriram caminhos. Disse ou pretendi dizer, que eles são referências, ícones, em cada um dos segmentos de arte: pintura impressionista, música clássica, rock e futebol.
Quanto ao mais sou como você, tem que emocionar para me agradar. Ou pelos arrepiados ou olhos umedecidos.
Abraço

Freddy disse...

Sobre a parte brasileira, confesso que me surpreendi positivamente. Acho que elementos audiovisuais que são usados em desfiles de carnaval podem ser efetivos. Há muita riqueza de folclore (considerando o país como um todo). Essa riqueza usada com parcimônia e inteligência pode resultar numa bela festa.

Creio que a cerimônia de enceramento é que vai ser uma zona, os organizadores vão soltar a franga! Mas aí já terminou...
Abraços
Freddy

Anonimous disse...

Gostaria muito de assistir Jogos Olímpicos na Áustria. Sintonia fina, certamente. O resto é periferia metida à besta.

Jorge Carrano disse...

Dificilmente haverá Olimpíadas na Austria.
Repito aqui o comentário feito em
http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2012/08/nossas-homenagens.html
“Precisamos parar de produzir turistas olímpicos. A lei de incentivo tem que ser mudada. Não podemos desperdiçar dinheiro assim”.
Você pensa que esta frase é de alguma autoridade esportiva brasileira? Errou!
Ela é do ministro dos Esportes da Áustria, Norbert Darabos, fazendo críticas ao rendimento dos atletas do país, que não conseguiram uma medalha sequer.
(Lido na página globo.com)