FRISSON

Não sei por que tanto frisson em torno da convocação dos jogadores que integrarão a seleção nacional.

Viram o aparato montado? Cenário especial, dezenas de jornalistas, cobertura das TVs e emissoras de rádio. Montaram até um  amplo e confortável camarim para o técnico, maior celebridade do país amanhã, alvo de todas as câmeras e solicitado em todos os microfones.

É muito ôba-ôba para o fim a que se destina. Escolher 23 jogadores é mais importante do que escolher os 513 brasileiros que integrarão a Câmara dos Deputados, o plenário que tem o encargo de propor as leis que regem nosso destino como nação,  e fiscalizar os atos do executivo.

Amanhã o país vai parar às 11:15hs. Uma lástima!

Pergunto eu, contrapondo a opinião de Nelson Rodrigues  (a quem admiro por outras opiniões), nós queremos que a seleção seja  a pátria de chuteiras?

Queremos ser e confirmar que o Brasil é o país do futebol? Acho muito pouco.

Será que os suíços querem ser o país dos queijos? Que os franceses querem ser o país dos vinhos? Os alemães das cervejas? Aposto que não; eles se orgulham de construir e viver em países desenvolvidos, civilizados, que TAMBÉM, e não unicamente, fabricam queijos, vinhos e cervejas.

Gostaria que o Brasil fosse o país das oportunidades para todos, que nosso nome fosse associado às pesquisas científicas de interesse para a humanidade, primeiro em patentes de inventos importantes, que fossemos detentores de tecnologia de ponta nas diferentes áreas.

E principalmente tivéssemos nosso nome - Brasil - associado à erradicação da miséria, ao fim do analfabetismo, ao menor índice de mortalidade infantil no planeta.

Gostaria que fôssemos, enfim, considerados um país de primeiro mundo.

Não seria capaz de torcer contra, mas me incomoda ver os comerciais todos aludindo à competição esportiva, esquecendo tudo o mais (é o circo da célebre pregação?). Tudo virou verde e amarelo. Músicas ufanistas, slogans, vinhetas, tudo está relacionado ao evento esportivo.

Ao custo de alguns bilhões (não menciono as cifras porque os números são contraditórios), que certamente fazem falta na educação, na saúde e na segurança. Nós tínhamos estádios prontos. Neste caso estou com o presidente da Infraero: bastaria maquiagem.

E como o governo está apostando muito (e precisando do resultado) e a Globo lucrando muito, tenho a coragem de admitir que meu coração não irá parar, nem lágrimas correrão no meu rosto na hipótese de derrota, se ela vier para nos dar melhores perspectivas de futuro, não como país do futebol,  mas como nação respeitada pelo Índice de Desenvolvimento Humano.

Com estes indicadores atingidos poderíamos nos orgulhar e arrostar o resto do mundo: além de tudo somos campeões absolutos no futebol. 

Ouçam e vejam o vídeo abaixo. A linguagem é chula, mas a mensagem é procedente:

https://www.youtube.com/watch?v=FlTULSeGrdM