13 de maio de 2014

Time Enough for Love - I Amor sem Limites




Por
Carlos Frederico March
(Freddy)










Num post chamado “Recontar”, publicado no Generalidades Especializadas em 12/02/2013, eu declarei que já li o livro “Amor sem Limites” 4 vezes e que não me faria mal algum relê-lo mais algumas vezes.  Talvez também já tenha falado nele em outro post a troco de argumentação sobre algum assunto, não importa, hoje ele é o tema central.

É um clássico da ficção científica de autoria do já falecido guru do gênero, Robert Anson Heinlein (americano, nascido em 07/07/1907 e falecido em 08/05/1988). Seu título original é “Time Enough for Love” e foi publicado no Brasil pela Record, estando fora de catálogo. Chegou a merecer uma apresentação em capa dura, lançada em 1988. A edição que eu tenho é a primeira, em brochura.






 









A obra de Heinlein é bastante extensa. Posso destacar  “Um estranho numa terra estranha”, obra galardoada com o Prêmio Hugo (o mais importante do gênero) em 1962, sendo considerado o mais famoso romance de ficção científica jamais escrito.

Citaria vários outros, dos quais aprecio bastante “Friday”, um intenso estudo sobre segregação racial com um desfecho pra mim surpreendente, e “Não temerei mal algum”, uma deliciosa estória em que o cérebro de um moribundo riquíssimo é transplantado para o primeiro corpo que aparece totalmente compatível com o dele => uma linda mulher! Sua adaptação, uma vida inteira como machão ferrenho, ao novo e exigente corpo tem momentos hilários!

Robert A. Heinlein, dentro de seu acervo,  escreveu diversos contos que permitiram aos editores (ele mesmo não havia se dado conta) reunir e chamar de “A História do Futuro”. Foram editadas 3 compilações que trazem no prefácio uma “linha do tempo” onde enredos, personagens, tecnologias futuristas e outros eventos significativos são cuidadosamente ordenados:

“Os Filhos de Matusalém” (1941)
“O homem que vendeu a Lua” (1950),
“Revolta em 2100” (1953)

“Amor sem Limites” (1973), que pode ser considerado o fechamento da série por conta de rígida aderência ao universo acima mencionado, foi escrito depois de um hiato de cerca de 10 anos, período em que Heinlein se declarou farto de escrever.

Permitam-me reproduzir a “orelha” da edição brasileira em brochura, o que me economizará bastante em termos de explicação do enredo, sem chegar a ser um “spoiler”.
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Lazarus Long, personagem central desta história, é o representante mais velho da raça humana: ele tem mais de 2.300 anos de idade! Nascido em 11 de novembro de 1890, submete-se a vários rejuvenescimentos, vive diversas vidas sob nomes diferentes, de cada uma das quais faz a sua crônica.

No ano de 4272, as pessoas têm a grande preocupação de conhecerem a origem de suas famílias. Apesar das fabulosas conquistas da ciência e da tecnologia, o homem continua obcecado pela própria identidade e pelo conhecimento do seu passado. Acha-se que qualquer pessoa física ou jurídica sem tradição, sem história, estará meio condenada à destruição pelo trauma que tal situação implica.

É imenso o progresso material do mundo em 4272, mas a civilização regrediu, visto que o avanço da genética e o advento da implantação de clones fazem com que a moral convencional sofra uma profunda reviravolta, alterando conceitos firmemente gravados na consciência humana desde os seus primórdios. O incesto deixa de ser imoral graças à impossibilidade da procriação de descendentes defeituosos garantida pela ciência (como prova o amor tórrido de Ted Bronson, de fazer inveja a Sófocles...) A busca pelo hedonismo é avassaladora. O Homem torna-se um animal na verdadeira acepção da palavra, assegurando sua longevidade pelo acasalamento consangüíneo de exemplares selecionados, tal como o gado e os animais de laboratório.

Este é o extraordinário tema da mais recente e ambiciosa obra de um grande mestre da ficção científica. 'Amor Sem Limites', como o classificou a crítica americana, "é um romance completo, extremamente rico em detalhes".
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Obra de 632 páginas na edição que possuo, ela foi escrita obedecendo a uma estrutura curiosa. Entremeado com o enredo principal, Lazarus Long conta suas aventuras de modo que pode-se extrair do livro duas novelas completas e independentes: “A história dos gêmeos que não eram gêmeos” e “A história da filha adotiva” .

A primeira lida explicitamente com incesto, dentro do espírito polêmico que Heinlein dá a suas principais obras. Sim, além de homossexualismo e sexo livre total, o incesto é tratado de maneira particularmente liberal ao longo de todo este livro (não seria outra a razão de seu título em português).

A segunda conta a estória do envolvimento de Lazarus Long, em uma de suas andanças por planetas em início de colonização humana, com uma menina “não longeva” pela qual se apaixona à medida que ela se torna adulta. A crítica especializada em ficção científica considera essa novela a mais comovente de todas as já escritas no gênero. Eu concordo, as discretas lágrimas não me deixam mentir.

Inseridos no enredo há também dois capítulos com exemplos da enorme experiência do “Senior”, como é apelidado pelos demais personagens, no seu convívio de 2300 anos com a raça humana.  Sob o título “Extraído do Caderno de Notas de Lazarus Long”, inúmeras e quase sempre polêmicas frases e parágrafos foram compilados, dezenas deles.

Sem considerar isso um “spoiler” dado que são ditos soltos e sem relação explícita com o enredo, permitam-me relacionar alguns, colhidos a esmo. Espero que suscitem críticas e comentários.

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Uma geração que ignora a história não tem passado - e nenhum futuro.

Não há nenhuma prova conclusiva de vida após a morte. Mas não há nenhuma prova de qualquer tipo contra ela. Muito em breve, você saberá! Assim, por que se preocupar com isso?

Se você não gosta de si mesmo, não pode gostar das outras pessoas!

Todos os homens são criados desiguais.

Só há uma maneira de consolar uma viúva. Mas lembre-se dos riscos...

Tudo em excesso! Para gozar o sabor da vida, dê grandes bocadas. A moderação é para os monges.

Elefante: um camundongo construído segundo as especificações do governo!

Uma comissão é uma forma de vida com seis ou mais pernas e nenhum cérebro.

A democracia se baseia na presunção de que um milhão de homens são mais sábios do que um homem. Quer repetir? Acho que perdi alguma coisa...

A autocracia se baseia na presunção de que um homem é mais sábio do que um milhão de homens. Vamos tocar tudo isso de novo também.  Quem decide?

A História registra algum caso em que a maioria estivesse certa?

As pessoas que vão à falência de uma maneira estrondosa nunca perdem nenhuma refeição.  É o pobre trabalhador inexperiente, tímido, diante de meio dólar, que tem de apertar o cinto.

Os impostos não são arrecadados para benefício dos contribuintes.

Querida, a verdadeira dama despe sua dignidade junto com as roupas e pratica o máximo de devassidão. Em outras ocasiões, aí sim, você pode ser tão modesta e recatada como sua persona exige.

Se o Universo tem qualquer objetivo mais importante do que trepar com a mulher que se ama e fazer um bebê com a sua ajuda entusiástica, nunca ouvi falar nele.

Quanto mais se ama, mais se pode amar - e mais intensamente se ama. Nem há nenhum limite para quanto se pode amar. Se uma pessoa tem tempo suficiente, pode amar toda essa maioria decente e justa. 



Nota: esta citação é uma alusão ao título original da obra.
“Time enough for love” = “Tempo suficiente para amar”


7 comentários:

Riva disse...

Freddy, estou tentando me lembrar do conteúdo .... me refresca a memória :
- ele consegue morrer ? Por que pelo que me lembro, chega a um ponto tal que não há porque prolongar o viver eterno. É isso mesmo ?

Jorge Carrano disse...

Legal, Riva. Quem não leu, ficou curioso e pretendendo ler, já sabe que tem um personagem que quer porque quer morrer.
É como a situação antiga, na fila do cinema, no filme de suspense, e o cara passa informando que o assassino é o mordomo(rsrsrs).

Riva disse...

Mas Carrano, Freddy não mordeu a isca .... continuamos sem saber se ele morre ou não.

Freddy disse...

O objetivo maior do post é que as pessoas comentem as frases do Caderno de Notas de Lazarus Long porque contém opiniões interessantes.

Por exemplo, sua opinião sobre democracia e autocracia, que é o dilema que vivenciamos atualmente no Brasil. Estamos reféns de uma maioria ignorante, sem cultura, pronta a trocar seu voto por qualquer pequena benesse.
Assim como a democracia atualmente nos é desfavorável, uma autocracia também seria discutível. Qual seria o meio termo?

Sua definição de comissão é tão perfeita que usei amiúde em minha carreira. Critiquei abertamente todo o tipo de comissão criada para resolver qualquer assunto que fosse, citando essa frase como reforço.

A metáfora do elefante e do camundongo é bem ácida, também, pois revela o peso da máquina governamental quando se trata de projetos de qualquer natureza (nem considero o superfaturamento, que transformaria o elefante num colossal mastodonte pré-histórico)).

Observa-se uma liberalidade exacerbada quanto à prática de sexo, pois que Lazarus afirma que nada no Universo que supere o prazer de uma boa transa. Concordo plenamente com ele e olha que sou um cara com uma veia artística e cultural bastante ampla, portanto poderiam esperar que eu tivesse "orgasmos" com música, pintura, escultura, literatura, fotografia, pode juntar aí o que você quiser. NADA supera o êxtase de um orgasmo bipolar trifásico, quando envolve a mulher que você ama.

<:o) Freddy

Freddy disse...

Não tem sentido fazer deste post um "spoiler" e contar o final da estória. Mas posso dar uma pala do começo.

Na sociedade do século XLIII, através de procedimentos de rejuvenescimento de tecidos e órgãos, a menos que o sujeito tivesse uma morte acidental definitiva, ele só morreria se quisesse.

Só que depois de cerca de 300 ou 400 anos de idade (uns 30 casamentos, 20 profissões, viver em dezenas de planetas diferentes, viajar pelo Universo se assim o desejasse) era comum as pessoas se cansarem de viver e resolverem não mais se submeter ao processo. Existia uma lei que garantia aos cidadãos esse direito, o de se deixar morrer quando achasse que chegara a hora.

E eis que descobrem, por relatos, que existia um único homem no Universo inteiro que conseguira ter motivação suficiente para não querer morrer. Ele teria cerca de 2.300 anos. Era conhecido nas lendas como o Senior da Humanidade.

Descendentes de sua família saem à sua procura para que ele relatasse o que o mantinha com essa garra toda para se manter vivo, quando as pessoas comuns se cansavam tão "rápido"! E quando o acham, surpresa! Ele estava finalmente decidido a morrer em paz!

À sua revelia e das leis vigentes, caçam-no e o rejuvenescem na marra! Ele fica literalmente puto da vida! Argumenta (com toda a razão) ter-lhe sido negada a cláusula máxima, o sagrado direito à morte digna quando assim o desejasse.

O que segue é uma espécie de 1001 noites. Fazem um trato com ele: se conseguissem descobrir uma coisa que ele jamais tivesse feito em seus 2.300 anos de vida e que o interessasse o suficiente para continuar vivendo, ele não se suicidaria.

Durante o tempo em que estivessem procurando essa coisa, ele se comprometeria a contar e registrar as suas memórias, o máximo que conseguisse se lembrar de suas peripécias pelo Universo, para que a Humanidade tivesse o testemunho vivo de alguém que conseguira superar a média de expectativa de vida de 300 a 400 anos.

A estória é, portanto essa: relatos variados das experiências de Lazarus Long, o Senior da Humanidade, enquanto seus parentes saem desesperados à cata de algo que o cara nunca tivesse feito em seus 2.300 anos de vida.

<:o)
Freddy

Ana Maria disse...

Agora fiquei curiosa. Já localizei o e-book. Grata pela dica.

Riva disse...

.....bingo ! me lembrei, mas não vou contar !
Vou é reler o livro que tenho ainda, de capa dura ....