14 de maio de 2014

Time Enough for Love - II Amor sem Limites




Por
Carlos Frederico March
(Freddy)











Referenciando o texto anterior sobre o livro “Amor sem Limites” de Robert Anson Heinlein (“Time enough for love” no original), gostaria de listar mais ditos e expressões constantes do “Caderno de Notas de Lazarus Long”, em que o longevo personagem reúne parte de sua larga experiência no convívio com a raça humana em seus 2300 anos de vida.  

Ressalto que as frases e parágrafos não configuram “spoiler” por não fazerem menção ao enredo. Foram pinçados aleatoriamente dentro das dezenas de existentes em dois capítulos do livro dedicados exclusivamente ao “Caderno de Notas”. Alguns se complementam, outros são totalmente independentes.

  
..................................................................................................................................

Nunca amedronte um homem pequeno. Ele o matará.

Investir contra moinhos de vento causa mais danos a nós do que aos moinhos.

Ceda à tentação. Pode ser que ela não se apresente outra vez!

A história não registra em qualquer parte e em qualquer tempo religião alguma que tenha qualquer base racional. A religião é uma muleta para as pessoas não suficientemente fortes enfrentarem o desconhecido sem ajuda. Mas, como a capa, a maior parte das pessoas têm uma religião, gastam tempo e dinheiro nela e parecem sentir um prazer considerável em brincar com ela.

Os homens raramente conseguem conceber um deus superior a si mesmos (se é que conseguem). A maioria dos deuses têm os modos e a moral de uma criança mimada.

Talvez Jesus estivesse certo quando disse que os humildes herdariam a terra - mas herdariam lotes muito pequenos, com cerca de dois metros por um.

A ideia mais absurda que o Homo Sapiens já concebeu é que o Senhor Deus da Criação, Modelador e Soberano de todos os Universos, deseje a adoração açucarada de Suas criaturas, possa ser influenciado por suas preces e se torne petulante se não receber esta bajulação. No entanto, esta fantasia absurda, sem uma sombra de prova para ampará-la, paga todas as despesas da mais antiga, maior e menos produtiva indústria de toda a história.

A segunda ideia mais absurda é da cópula ser intrinsecamente pecaminosa.

Deus é onipotente, onisciente e onibenevolente - isto está dito bem aqui no rótulo. Se você tem uma mente capaz de acreditar em todos estes três atributos divinos simultaneamente, tenho uma pechincha pra você. Nada de cheques, por favor. Dinheiro e em notas pequenas.

O pecado consiste apenas em magoar as outras pessoas desnecessariamente. Todos os outros “pecados” são bobagens inventadas. Magoar-se a si próprio não é pecado - é estupidez.

Os animais podem ser levados à loucura colocando todos juntos num recinto pequeno demais. O Homo Sapiens é o único animal que faz isso voluntariamente consigo mesmo.

Ingrediente supremo para um casamento feliz: pague à vista ou passe sem isso. Os juros debitados não absorvem apenas o orçamento familiar. A consciência do débito destrói também a felicidade doméstica.

Outro ingrediente para um casamento feliz: orce o supérfluo primeiro!

Mais um (para homens): numa discussão familiar, se for verificado que você tem razão... peça desculpas imediatamente!

A mulher não é uma propriedade. Os maridos que pensam diferente estão vivendo num mundo de sonhos.

É impossível um homem amar sua esposa de todo coração sem amar um pouco todas as mulheres. Suponho que o inverso deve ser verdadeiro entre as mulheres.

Amamentar não diminui a beleza dos seios de uma mulher; acentua o seu encanto, fazendo-os parecer habitualmente ocupados e felizes.

Não prejudique os seus filhos tornando suas vidas fáceis.

..................................................................................


Observação:

O livro “Time Enough for Love” foi editado e publicado no Brasil pela Editora Record, com o título “Amor sem Limites”, em brochura e em capa dura. Ambas estão fora de catálogo.

5 comentários:

Jorge Carrano disse...

Em comentário ao post anterior, Freddy nos alerta para as frases do Caderno de Notas de Lazarus.
Li-as com atenção e interesse.
Uma das considerações diz respeito ao Criador e acho que embora o tema já tenha sido debatido aqui neste cantinho virtual, pode render um novo post.
Trata-se da seguinte: "A ideia mais absurda que o Homo Sapiens já concebeu é que o Senhor Deus da Criação, Modelador e Soberano de todos os Universos, deseje a adoração açucarada de Suas criaturas, possa ser influenciado por suas preces e se torne petulante se não receber esta bajulação. No entanto, esta fantasia absurda, sem uma sombra de prova para ampará-la, paga todas as despesas da mais antiga, maior e menos produtiva indústria de toda a história."

Segundo o autor a religião é uma indústria, é isto? Ou ainda não acordei direito?
Se for esta a ideia, acho que tem muita indústria poluidora no parque industrial do planeta.

E me ocorre a genial frase de Mario Quintana:
"A religião é o caminho mais longo para chegar a Deus"

Nos dois casos, Quintana e Heinlein, parece que a existência de um Deus é uma premissa aceita.

Evangélicos dizem que "Deus é fiel" o que me causa grande estranheza. Agora, no livro em referência, na cabeça de um personagem, surge a questão de um Deus que se tornaria petulante se não for bajulado.

Deus aprecia bajulação?
Conviverei com esta dúvida até a morte. Não, a dúvida não é se ele admira e protege bajuladores. É se ele existe mesmo.

Helga Maria disse...

A frase de que gostei está na primeira parte, no outro post, porque me levou a pensar, e tentar relembrar, pelo menos um caso concreto:
"A História registra algum caso em que a maioria estivesse certa?"
Helga

Riva disse...

Todas as frases são fenomenais ... o livro é fenomenal !

Das frases que Freddy mencionou, a que mais me chamou a atenção, pelo que já passei em 60 anos de convívio no Planeta Terra, é :
- Nunca amedronte um homem pequeno, ele o matará

Aqui cabe uma profunda reflexão sobre o que é "um homem pequeno" .... estamos falando de um homem humilde, de um homem inferior a você, pela sua leitura ? Ou estamos falando da pequenez do homem ?

Haja whisky .....

Leiam o livro .... é muito bom mesmo !!

Freddy disse...

Minha interpretação de homem "pequeno" é um homem que tenha valores morais e culturais limitados e mesquinhos. Um homem "grande" conhece e aceita a pluralidade de opiniões, tem cultura ampla e um comportamento social de elevado nível. Interpreto também metaforicamente "ele o matará" como ele vai tentar retaliar, prejudicá-lo onde for de seu alcance.

Obviamente a frase também pode ser levada ao pé da letra em ambientes mais hostis.

Como sou daqueles que conseguem ler uma estória repetidas vezes, com objetivo de a cada releitura perceber os detalhes escondidos que não captamos numa primeira passada, quando estamos mais interessados no enredo e desfecho, já li "Amor sem Limites" 3 vezes, e não descarto lê-lo outras vezes, nem que seja pelo prazer de rever os personagens e degustar os meandros da estória.

Relembro que, como todo livro de ficção científica, requer algum conhecimento básico de astronomia e física para que o leitor não se perca em detalhes que esse gênero considera corriqueiros.
Abraços
Freddy

Freddy disse...

Robert A. Heinlein foi um escritor de ficção científica reverenciado pelos adeptos e odiado pelos fundamentalistas, pois em muitos de seus livros criticou aberta ou veladamente conceitos tidos como básicos na sociedade atual.

"Amor sem Limites" certamente chocará puritanos, pois que a liberalidade sexual em suas 632 páginas chega ao obsceno, sem ser nunca pornográfico.

Recomendo do mesmo autor: "Um estranho numa terra estranha" (seu mais famoso romance) e "Friday", a estória de uma moça gerada em laboratório através de manipulação genética com dotes especiais para ser uma combatente e espiã, mas que enfrenta a mais absurda das discriminações raciais que você possa imaginar.

Abraços
Freddy