Por
Claudia C. Almeida
É engraçado falar dos tempos do colégio... Parece que foi em outra encarnação, que essas lembranças não pertencem a Cláudia de hoje.
As coisas eram tão diferentes: o medo e respeito
com os professores, a vergonha de por qualquer mínima razão ser chamada a
atenção, a responsabilidade com as obrigações escolares.
Vejo
essas duas ou talvez três gerações posteriores à minha com ações e reações
escolares totalmente opostas. Meu filho ainda é mais respeitoso por ter uma
criação mais rígida (assim eu acredito...), mas os jovens de hoje tratam os
professores como colegas de sala, as discussões são feitas no tom que lhes é
conveniente, e muitas vezes tentam convencer no grito. Os professores não têm
voz, sob pena de um processo de assédio moral...
Mas vamos ao que interessa. Comecei meus
estudos na Escola Estadual Raul Vidal, que ficava em frente ao prédio onde eu
morava, do outro lado da Avenida Feliciano Sodré, no centro de Niterói. Saí direto de casa para a sala da 2ª. série,
por já ser alfabetizada. Foi terrível...
Levava uma foto 5x8 em preto e branco da
minha mãe e ficava chorando em cima dela. O drama digno de uma grande atriz
durou cerca de 2 semanas, que foi o tempo que os adultos julgaram suficiente
para minha adaptação. Depois a água subiu e rapidinho comecei a nadar...
Quem me conhece hoje não acredita, mas até a
5ª série eu era extremamente tímida, não tinha amigos, não falava com ninguém.
Em casa qualquer estratégia para faltar às aulas tava valendo.
A partir da 5ª. série fiquei mais solta, fiz
minha turminha e tive uma vida escolar relativamente tranquila.
Algumas coisas que me lembro do 1º. Grau,
hoje Ensino Fundamental: a reunião semanal onde era hasteada a bandeira e
cantávamos o hino Nacional; os ensaios para a quadrilha da festa junina; as
aulas de música com a professora tocando piano e nós cantando aquelas música
politicamente corretas, típicas do governo militar; os gritos da professora de
educação física me chamando de lerda e preguiçosa (acho que se o conceito de
bulling tivesse surgido em 1978, eu seria bem mais feliz...).
Sobre isso, nas veladas ameaças onde minha
mãe falava o que aconteceria em um caso trágico e hipotético de se repetir o
ano, a única vez em que fiquei em recuperação final foi em educação física. Por
faltas. Nas férias tive que frequentar
algumas aulas de recuperação e a situação foi resolvida sem maiores problemas.
Com 13 anos fiz minha inscrição para a prova
de admissão no Colégio Estadual Aurelino Leal, que ficava no bairro do Ingá. Por
que esta informação tão precisa? Naquela época, ou talvez minha família fosse
assim, não sei, a gente se virava sozinha. Tirei foto num lambe-lambe em frente
à Igreja de São João, peguei o ônibus, levei a documentação, preenchi todos os
formulários. Vê se hoje é assim??? Enfim, no fatídico domingo marcado, fiz na
prova. Passei. Fiz meu 2º. Grau, hoje Ensino Médio, nesse que era na época, um
excelente colégio técnico.
O dinheiro sempre foi tão escasso lá em casa,
que eu só pude cursar o 2º. Grau em outro bairro, o que implicava em duas passagens
de ônibus por dia, porque minha irmã do meio, a Andréa, tinha acabado de
concluir o curso Técnico em Contabilidade nesse mesmo colégio, e cessariam os
gastos familiares com as passagens dela. Passagens para duas estava fora de
questão.
O Aurelino Leal foi outro estilo, mas solta e
segura, fui bem feliz. Estudava numa
turma só de meninas: fazia o técnico em secretariado. Fiz um grupo de amigas que durou até ficar
adulta, casada. Depois mudei para longe e as amizades se perderam.
O Aurelino Leal oferecia merenda e almoço, Eu
não perdia nada... Café com leite ou mingau, uma delícia. O almoço tinha uma
variação de feijão, arroz acompanhados de carne seca com abóbora ou carne
moída.
Lá também, tive meus primeiros professores
homens, uma experiência adolescente marcante.
Participava do time de vôlei do colégio,
simplesmente adorava... Numa dividida quebrei o nariz. Ossos e cartilagens do
ofício.
Uma vez por semana almoçava na casa da minha
madrinha, Tia Wanda, que morava próximo ao colégio, também no Ingá, onde mora
até hoje. Ela fazia pratos caprichados pra mim. Muitas vezes deliciosas e
douradas batatinha fritas...
Nunca fui uma aluna brilhante mas passei
muito bem pelo ensino médio. Me destacava pelo bom humor e ao mesmo tempo respeito
com todos os professores. Eu diria que foi uma época feliz. Melhor: uma outra
era, há muito tempo atrás, em que eu fui simplesmente feliz.
P.S. No terceiro ano, ficava no jardim da
frente da escola tentando, com sorte, ver passar meu namoradinho, que fazia
algumas disciplinas de direito no Campus da UFF, quase em frente ao colégio.
Este ano completamos 20 anos de casados...
24 comentários:
Claudia é minha sobrinha e afilhada. Casada com David e mãe do Daniel, reside em Florianópolis.
A foto que aparece no post e que retirei de um antigo álbum, foi tirada quando ela foi nos visitar em São Paulo, no início dos anos 1990. Mas ela pouco mudou, acreditem.
Gostei igualmente deste. Sensível, mas leve e com toques de humor.
Helga
Cara Helga,
No outro dia você perguntou se a Beth era escritora profissional. Agora pergunto eu? Você é crítica literária? (rsrsrs).
(Risos)
Não, não sou. Lembro que já elogiei, com sinceridade, os escritos do blogueiro e de seu filho Jorge.
A sobrinha também escreve bem.
Tá no sangue, talvez.
Helga
Beth,
Somente uma palavrinha do "Um Curso em Milagres": 'Nade real pode ser ameacado. Nada irreal existe. Ai jaz a paz de Deus".
Ricardo
Boca Raton, Fl, USA
Acho bastante interessante como algumas pessoas conseguem extrair de fatos do passado apenas emoções. Tanto Beth como Cláudia o fizeram com bastante êxito, o que me constrange quanto a post vindouro pois sou bastante cartesiano, minha índole de engenheiro sobrepuja a veia artística.
Quem sabe aprendo lendo relatos tão leves e cheios de vida?
Parabéns a ambas.
Freddy
Penso que o comentário do Ricardo, acima, seria para o post da Beth, em
http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2014/05/reminiscencias-ruminantes.html
(copy anda paste)
Claudinha,
Você só lembra das douradas batatinhas?
Beijo para você, David e Daniel.
CARO.RICARDO...
CAPTEI...
SÓ.QUE.ESQUECI.DE.CIRCUNSTANCIAR.MINHAS.REMINICÊNCIAS.DOS.TAMARINDOS...
TUDO.O.QUE.DISCORRI.FOI.VOLTANDO.ÀS.SENSAÇÕES.QUE.EXPERIMENTEI.AOS.6.ANOS.DE.IDADE...
E.ERA.REAL..ALI.JAZIA.A.VERDADEIRA.PAZ.DE.DEUS...
UM.BEIJO.PARA.VOCÊ.E.VALÉRIA.
BETH
Aviso aos desatentos:
Esta conversa entre o Ricardo e a Beth era para estar acontecendo em outro cantinho deste blog, mais precisamente no espaço de comentários do post de autoria da Beth, em
http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2014/05/reminiscencias-ruminantes.html
Além de tudo a linguagem é cifrada.... (rsrsrs lol,lol,lol)
QUE.DELÍCIA.ESSA.CRÔNICA.DA.CLÁUDIA...ESTOU.RINDO.E.SORRINDO.ATÉ.AGORA.
POR.QUE.AS.COMIDINHAS.DAS.VOVÓS.E.DAS.TITIAS.SÃO.TÃO.SABOROSAS.ATÉ.HOJE???
AGORA.ACABEI.DE.LER.QUE.A.CLAUDIA.MORA.EM.FLORIANOPOLIS...E.EU.JÁ.ESTAVA.ME.CONSIDERANDO."VIZINHA.DE.PORTA".DELA.
TODOS.OS.LUGARES.QUE.ELA.DESCREVE.CONHEÇO.BEM...MEUS.AVÓS.PATERNOS.MORAVAM.NO.INGÁ,.PRAIA.DAS.FLEXAS..CONHECI.A.PEDRA.DO.ÍNDIO,COM.O.ÍNDIO.LÁ...E.O.TRAMPOLIM.TAMBEM.AINDA.EXISTIA.E.ERA.USADO...ENTÃO,.PASSEIEI.DE.NOVO.POR.NITERÓI.E.RELEMBREI.DE.TUDO...
PARABÉNS,CLÁUDIA...ADOREI,.NÃO.SÓ.O.SEU.TEXTO.,MAS.TAMBÉM.TÊ-LA-COMO.VIZINHA.DE.PORTA...
ESTE.MUNDO.É.MESMO.PEQUENO...
BETH
É visível que a Beth está convivendo com problemas sérios de operação no seu notebook. Seus comentários ficam truncados por causa da formatação, e só consegue escrever em caixa alta.
Por isso editei e publico abaixo o comentário dela na íntegra (não empastelado).
"QUE.DELÍCIA.ESSA.CRÔNICA.DA.CLÁUDIA...ESTOU.RINDO.E.SORRINDO.ATÉ.AGORA. POR.QUE.AS.COMIDINHAS.DAS.VOVÓS.E.DAS.TITIAS.SÃO.TÃO.SABOROSAS.ATÉ.HOJE??? AGORA.ACABEI.DE.LER.QUE.A.CLAUDIA.MORA.EM.FLORIANOPOLIS...E.EU.JÁ.ESTAVA.ME.CONSIDERANDO."VIZINHA.DE.PORTA".DELA. TODOS.OS.LUGARES.QUE.ELA.DESCREVE.CONHEÇO.BEM...MEUS.AVÓS.PATERNOS.MORAVAM.NO.INGÁ,.PRAIA.DAS.FLEXAS..CONHECI.A.PEDRA.DO.ÍNDIO,COM.O.ÍNDIO.LÁ...E.O.TRAMPOLIM.TAMBEM.AINDA.EXISTIA.E.ERA.USADO...ENTÃO,.PASSEIEI.DE.NOVO.POR.NITERÓI.E.RELEMBREI.DE.TUDO... PARABÉNS,CLÁUDIA...ADOREI,.NÃO.SÓ.O.SEU.TEXTO.,MAS.TAMBÉM.TÊ-LA-COMO.VIZINHA.DE.PORTA... ESTE.MUNDO.É.MESMO.PEQUENO...
BETH "
Não adiantou, Carrano, continua tendo de rolar a tela para ler tudo.
<:o)
Freddy
Tio,
A foto é bem desse tempo aí, da escola...
Que eu não mudei, bem, o que são os olhos de um padrinho amoroso...
É sempre um prazer participar ouvir os elogios no seu blog. Muito obrigada pela oportunidade.
Cláudia
Muito bacana também esse post, colocando com simplicidade suas emoções, todas muito parecidas com as nossas ....estou com a impressçao que vou escrever umas 40 páginas .... rs
Estou lamentando não haver morado em Niterói.
Helga
Eu e Carrano estamos devidamente sentados, esperando suas 40 páginas de memórias...
<:O)
Freddy
Freddy,
O Riva já mandou dois posts (4 páginas).
10% da promessa realizados!
Faltam só 36!
<:O)
Freddy
Freddy, é que uso os outros 90% do meu tempo procurando trabalho para pagar as contas.
Então, é 10% mesmo.
Sds TETRAcolores, trabalhando upgrade para PENTA.
Faço votos para que transforme logo a procura em emprego, pra ficar mais calmo.
<:o)
Freddy
Claudia,
Muito obrigado! Volte sempre porque você enriquece o blog, com seus escritos bem temperados com humor inteligente.
Beijo
De vez em quando é bom a gente lembrar que está na linha de comentários de um post, que tem um assunto, uma mensagem a ser lida e degustada, quiçá debatida.
Mas não é a primeira vez, não é? Por exemplo, não raro qualquer post, sobre qualquer assunto, se transforma num intenso bate-papo futebolístico!
<:o)
Freddy
Fiquei curioso quanto às "douradas batatinhas", mas a Cláudia não reagiu .... rs
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