Negar o talento de Chico Buarque não ouso, mas lamentar o apoio dele a Fidel Castro e Che Guevara, tenho que registrar. Já nem menciono o Lula porque este não usou paredões de execução.
Enfim, dificilmente o homem está a altura de sua arte. Sem contar que a arte indiscutível no manejo de palavras no caso dele esteja limitada as músicas populares, eis que ao se aventurar na literatura romanceada, de maior fôlego, tropeçou e perdeu brilho.
Estes prolegômenos foram necessários para situar o tema desta postagem, afinal uma canção do citado Chico.
Uma análise social, retrato de costumes de uma época, a partir da visão míope de uma mãe.
Mal comparando, é como pai do Dorival, personagem pai de um filho gay, num quadro do programa humorístico do Jô Soares.
Todos os indícios eram de que o jovem era mesmo efeminado, mas o pai não enxergava isto.
E o interlocutor (Jô) no quadro humorístico, batendo na boca resmungava : "tem pai que é cego".
Estava morgando, após o almoço deste sábado, quando foi executada no rádio a música "O meu guri". A narrativa da vida de "um menino de rua", levado a criminalidade desde cedo por omissão e descaso das autoridades públicas, que não ocupam com ações efetivas os grandes espaços especialmente nas periferias e morros das metrópoles.
Com a guarda baixa, distraído, surpreendi-me com lágrimas correndo. A letra, a história narrada, é tão real, tão cruel, tão verdadeira, que o sentimento aflora por mais profundo que esteja. A couraça não resiste.
"Quando, seu moço, nasceu meu rebento
Não era o momento dele rebentar
Já foi nascendo com cara de fome
E eu não tinha nem nome pra lhe dar
Como fui levando, não sei lhe explicar
Fui assim levando ele a me levar
E na sua meninice ele um dia me disse
Que chegava lá
Olha aí
Olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
E ele chega
Chega suado e veloz do batente
E traz sempre um presente pra me encabular
Tanta corrente de ouro, seu moço
Que haja pescoço pra enfiar
Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro
Chave, caderneta, terço e patuá
Um lenço e uma penca de documentos
Pra finalmente eu me identificar, olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
E ele chega
Chega no morro com o carregamento
Pulseira, cimento, relógio, pneu, gravador
Rezo até ele chegar cá no alto
Essa onda de assaltos tá um horror
Eu consolo ele, ele me consola
Boto ele no colo pra ele me ninar
De repente acordo, olho pro lado
E o danado já foi trabalhar, olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
E ele chega
Chega estampado, manchete, retrato
Com venda nos olhos, legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente, seu moço
Fazendo alvoroço demais
O guri no mato, acho que tá rindo
Acho que tá lindo de papo pro are
Desde o começo, eu não disse, seu moço
Ele disse que chegava lá
Olha aí, olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri"
2 comentários:
Ando muito emotivo, confesso chorar ao assistir aos comerciais do "Médicos sem fronteiras", por exemplo.
A propaganda do Médicos sem Fronteiras me arrasa também ....
Um planeta tão bonito, com essa natureza maravilhosa, o mundo animal, e .... o ser humano.
Postar um comentário