1 de outubro de 2022

Amor e cegueira materna

Negar o talento de Chico Buarque não ouso, mas lamentar o apoio dele a Fidel Castro e Che Guevara, tenho  que registrar. Já nem menciono o Lula porque este não usou paredões de execução.

Enfim, dificilmente o homem está a altura de sua arte. Sem contar que a arte indiscutível no manejo de palavras no caso dele esteja  limitada as músicas populares, eis que ao se aventurar na literatura romanceada, de maior fôlego, tropeçou e perdeu brilho.

Estes prolegômenos  foram necessários para situar o tema desta postagem, afinal uma canção do citado Chico.

Uma análise social, retrato de costumes de uma época, a partir da visão míope de uma mãe. 

Mal comparando, é como pai do Dorival, personagem pai de um filho gay, num quadro do programa humorístico do Jô Soares.

Todos os indícios eram de que o jovem era mesmo  efeminado, mas o pai não enxergava isto.

E o interlocutor (Jô) no quadro humorístico, batendo na boca resmungava : "tem pai que é cego".

Estava morgando, após o almoço deste sábado, quando foi executada no rádio a música "O meu guri". A narrativa da vida de "um menino de rua", levado a criminalidade desde cedo por omissão e descaso das autoridades públicas, que não ocupam  com ações efetivas os grandes espaços especialmente nas periferias e morros das metrópoles.

Com a guarda baixa, distraído, surpreendi-me com lágrimas correndo. A letra, a história narrada, é tão real, tão cruel, tão verdadeira, que o sentimento aflora por mais profundo que esteja. A couraça não resiste.

"Quando, seu moço, nasceu meu rebento 

Não era o momento dele rebentar

Já foi nascendo com cara de fome

E eu não tinha nem nome pra lhe dar

Como fui levando, não sei lhe explicar

Fui assim levando ele a me levar

E na sua meninice ele um dia me disse

Que chegava lá

Olha aí

Olha aí

Olha aí, ai o meu guri, olha aí

Olha aí, é o meu guri

E ele chega

Chega suado e veloz do batente

E traz sempre um presente pra me encabular

Tanta corrente de ouro, seu moço

Que haja pescoço pra enfiar

Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro

Chave, caderneta, terço e patuá

Um lenço e uma penca de documentos

Pra finalmente eu me identificar, olha aí

Olha aí, ai o meu guri, olha aí

Olha aí, é o meu guri

E ele chega

Chega no morro com o carregamento

Pulseira, cimento, relógio, pneu, gravador

Rezo até ele chegar cá no alto

Essa onda de assaltos tá um horror

Eu consolo ele, ele me consola

Boto ele no colo pra ele me ninar

De repente acordo, olho pro lado

E o danado já foi trabalhar, olha aí

Olha aí, ai o meu guri, olha aí

Olha aí, é o meu guri

E ele chega

Chega estampado, manchete, retrato

Com venda nos olhos, legenda e as iniciais

Eu não entendo essa gente, seu moço

Fazendo alvoroço demais

O guri no mato, acho que tá rindo

Acho que tá lindo de papo pro are

Desde o começo, eu não disse, seu moço

Ele disse que chegava lá

Olha aí, olha aí

Olha aí, ai o meu guri, olha aí

Olha aí, é o meu guri"




2 comentários:

Jorge Carrano disse...


Ando muito emotivo, confesso chorar ao assistir aos comerciais do "Médicos sem fronteiras", por exemplo.

RIVA disse...

A propaganda do Médicos sem Fronteiras me arrasa também ....

Um planeta tão bonito, com essa natureza maravilhosa, o mundo animal, e .... o ser humano.