26 de março de 2015

Ainda os professores

Segundo o remetente o autor é desconhecido. Mas o exercício de futurologia é bem verossímil. Daí que repercuto aqui, pedindo identificação do autor, para os devidos créditos, se alguém conhecer.

O FIM DOS PROFESSORES
(autor não conhecido)

O ano é 2209 DC, ou seja, daqui a 200 anos. Uma conversa entre avô e neto tem início a partir da seguinte interpelação:

- Vovô, por que o mundo está acabando?

A calma da pergunta revela a inocência da alma infante. E, no mesmo tom, vem a resposta:

- Porque não existem mais professores, meu anjo.

- Professores? Mas o que é isso? O que fazia um professor?

O velho responde, então, que professores eram homens e mulheres dedicados, que se expressavam sempre de maneira muito culta e que, muitos anos atrás,  transmitiam conhecimentos e ensinavam as pessoas a ler, falar, escrever, se comportar, localizar-se no mundo e na História, entre muitas outras coisas. Principalmente, ensinavam as pessoas a pensar.

- Eles ensinavam tudo isso? Mas eles eram sábios?

- Sim, ensinavam, mas não eram todos sábios. Apenas alguns, os grandes professores, que ensinavam outros professores, e eram amados pelos alunos.

- E como foi que eles desapareceram, vovô?

- Ah, foi tudo parte de um plano secreto e genial, que foi executado aos poucos por alguns vilões da sociedade. O vovô não se lembra direito do que veio primeiro mas, sem dúvida, os políticos ajudaram muito. Eles acabaram com todas as formas de avaliação de alunos, apenas para mostrar estatísticas de aprovação. Assim, sabendo ou não sabendo alguma coisa, os alunos eram aprovados. Isso liquidou o estímulo para o estudo e apenas os alunos mais interessados conseguiam aprender alguma coisa.

Depois, muitos familiares estimularam a falta de respeito pelos professores, que passaram a ser vistos como empregados de seus filhos. Estes foram ensinados a dizer: “Eu estou pagando e você tem que me ensinar” ou “para quê estudar se meu pai não estudou e ganha muito mais do que você?”, ou ainda, “meu pai me dá mais de mesada do que você ganha”. Isso quando não iam os próprios pais gritar com os professores nas escolas.

Para isso, muito ajudou a multiplicação de escolas particulares, as quais, mais interessadas nas mensalidades do que na qualidade do ensino, quando recebiam reclamações dos pais, pressionavam os professores, dizendo que eles não estavam conseguindo “gerenciar a relação com o aluno”. Os professores eram vítimas de violência – física, verbal e moral – que lhes era destinada por pobres e ricos.

Viraram sacos de pancada de todo mundo. Além disso, qualquer proposta de ensino sério e inovador sempre esbarrava na obsessão dos pais com a aprovação de seus filhos no vestibular, para qualquer faculdade que fosse: “Ah, eu quero saber se isso que vocês estão ensinando vai fazer meu filho passar no vestibular”, diziam os pais na reunião com as escolas. E assim, praticamente todo o ensino foi orientado para os alunos passarem no vestibular. Lá se foi toda a aprendizagem de conceitos, as discussões de idéias, tudo, enfim, virou decoração de fórmulas.

Com a Internet, os trabalhos escolares e as fórmulas ficaram acessíveis a todos e nunca mais ninguém precisou ir à escola para estudar a sério. Em seguida, os professores foram desmoralizados. Seus salários foram gradativamente sendo esquecidos e ninguém mais queria se dedicar à profissão. Quando alguém criticava a qualidade do ensino, sempre vinha algum tonto dizer que a culpa era do professor.

As pessoas também se tornaram descrentes da educação, pois viam que as pessoas “bem sucedidas”, eram políticos e empresários que os financiavam: modelos, jogadores de futebol, artistas de novelas de televisão, sindicalistas – enfim, pessoas sem nenhuma formação ou contribuição real para a sociedade. Ah, mas teve um fator-chave nessa história toda. Teve uma época longa chamada “ditadura”, quando os milicos colocaram os professores na alça de mira e quase acabaram com eles, que foram perseguidos, aposentados, expulsos do país, em nome do combate aos subversivos e à instalação de uma república sindical no país. Eles fracassaram porque a tal república sindical se instalou, os tais subversivos tomaram o poder, implantaram uma tal de “educação libertadora” que ninguém nunca soube o que é, fizeram a aprovação automática dos alunos com o apoio dos políticos... foi o tiro de misericórdia nos professores. Não sei o que foi pior: os milicos ou os tais dos subversivos.

- Não conheço essa palavra, vovô. O que é um milico?

- Era, meu neto, era, não é. Também não existem mais.    

Nota do editor: Embora encimado como de autoria desconhecida, o texto é da lavra do professor Ricardo  Vieira, conforme alerta do Paulo Bouhid, em comentário.

8 comentários:

Paulo Bouhid disse...

Caro Jorge, dê uma olhada no link abaixo. Em todos os demais blogs é dito que o texto circula na internet desde 2009, e colocam "autoria desconhecida".

http://www.velhosamigos.com.br/DatasEspeciais/diaprof5.html#fim

(Autor Professor Ricardo Vieira)

Jorge Carrano disse...

Obrigado, Paulo.
Acessarei.

Jorge Carrano disse...

No sitio apontado pelo Paulo encontrei vários textos alusivos aos professores.
Com efeito o reproduzido neste post é de autoria do professor Ricardo Vieira, a quem rendo minhas homenagens e peço perdão pelo desconhecimento da autoria.
Darei o crédito em nota do editor, que acrescentarei hoje.

Jorge Carrano disse...

Com Eurico na presidência os pênaltis a favor do Vasco são marcados, até na prorrogação. Ou não?

Freddy disse...

Sim, com certeza algo mudou... e para melhor, por pior que nos pareça!
<:o)

Paulo Bouhid disse...

"Me sinto muito gratificante..." (jogador do Vasco que fez os dois gols hoje, ao final da partida)

Jorge Carrano disse...

Já pode escrever posts aqui no blog (kkkkk).

Riva disse...

.... com ou sem crase ? .... rs