De quase todos os carros que eu tive posso citar ao menos um causo interessante, quando não vários. Meu Fusca azul mereceu até um post à parte, mas de alguns dos demais selecionei alguma coisa.
VW
Brasília marrom, ano 75
Foi
meu primeiro carro zero, comprado com meu excelente salário de engenheiro recém
formado (bons tempos aqueles, quem diria?). Já havia adquirido um apartamento
de 2 quartos pelo SFH, mas era solteiro e o dinheiro sobrava. Ainda mais
financiada em 24 vezes, juros baixos.
Mal
saiu da agência, já emplacada (AG-0025) e com seguro, eu a pus na estrada. Fui
com dois amigos acampar em Visconde de Mauá - RJ, na fronteira com Maringá - MG.
Na época, e até recentemente, a subida da serra a partir de Penedo era terra esburacada.
Como eu ainda era meio inseguro como motorista e a estrada seria perigosa,
deleguei a direção a um amigo, já falecido, o Kleber.
Durante
o início da viagem, eu fiquei lendo o manual da Brasília enquanto meu amigo
dirigia a moderados 80 km/h na Ponte Rio-Niterói. Carro zero, motor novo... Eis
que eu leio que a Brasília não precisava amaciar motor. Virei pra ele e
liberei:
"-
Senta o pau!!" - e passamos a trafegar a 120 km/h!
A
subida da serra até Visconde de Mauá foi em estilo motocross. E a descida para
Penedo idem. Na mesma viagem ainda enfrentamos um tosco caminho de mato de
madrugada para chegar a um camping particular em Mury (distrito de
Friburgo-RJ), hoje inexistente. Carro é pra ser usado, mesmo zerado, considerei.
Uma
boa lembrança dessa Brasília se refere à minha foto nº 1, em que ela faz fundo
para minha namorada e hoje esposa Mary, na praia da Barra da Tijuca em 1977. Essa
foto foi assunto de post específico: (http://www.jorgecarrano.blogspot.com.br/2014/01/minha-foto-numero-1.html)
Elas
(Mary e a Brasília) aparecem também na minha foto nº 2, onde nos vemos cercados
de Fuscas (argh!) numa Barra da Tijuca ainda pouco povoada.
Sempre
fui aficionado por som. Com a ajuda de um amigo instalei toca-fitas, console
central, forrei-o e às laterais da lataria internamente com algodão de
estofamento para simular caixas acústicas, afixei alto-falantes Arlen. Para a
época, o som ficou bem legal, equilibrado. Mesmo sem amplificador.
Minha foto nº 2 |
Foi
numa saída noturna para curtir som na madrugada que se deu o causo mais
interessante. Estávamos eu e mais 3 amigos na praia de Piratininga (orla
oceânica, Niterói), por volta de umas 11 da noite. Garrafa de Chivas Regal sobre
o capô acompanhada de um balde de gelo, som baixo e conversando do lado de fora
do carro "em quadrado": cada um tomando conta das costas do outro.
Afinal, era uma praia deserta (nessa época), estava escuro como breu, mas nunca
se sabe...
Eis
que o falecido Kleber dá o alarme:
-
Para-choque branco à vista! São os "meganhas" (polícia)!
-
Como assim, cara? - perguntamos, alarmados.
-
Conheço de longe... Faróis, lanternas e pirulito (sinaleira vermelha) desligados.
(Passaram-se
alguns minutos)
-
Está se aproximando devagar...
Parou
a uns 30 metros de nós, do outro lado da rua de terra. Repentinamente acenderam
o farol da viatura e ligaram o pirulito! Contudo, nada mais fizeram. Nós permanecemos
quietos, procurando manter a calma. Só que nem a gente conseguia mais conversar
nem a polícia se manifestava. Esse meu amigo então se empertigou e declarou:
-
Vou lá tomar satisfações!
-
Mas como?! - exclamamos.
-
Sim, vou lá ver o que eles querem!
Bom,
depois de algumas doses de Chivas, tudo era possível. Mal ele se aproximou,
abriram-se as portas e imediatamente saltaram dois policiais, um de cada lado,
mão no coldre. Deu para escutar:
-
Boa noite! - saudou Kleber.
-
Boa noite! - responderam os policiais, ressabiados.
-
O que os senhores desejam? - Kleber perguntou, totalmente desinibido.
(Só faltava essa, pensamos todos...)
-
É que... - o policial gaguejou - É que recebemos denúncia de que havia 4
sujeitos num carro... praticando delitos na redondeza... e estamos investigando...
(Putz, e nós somos quatro num carro!)
-
O senhor pode ver que estamos aqui, tranquilos, conversando e escutando um som.
-
Sim, eu estou vendo... - o policial ainda parecia inseguro, olhando em torno. -
É, pela aparência não é o que estamos procurando.
-
Mais alguma coisa?
(Vamos acabar presos por insolência, imaginei!)
-
Não, mas tomem cuidado. Isso aqui é meio perigoso.
-
Pode deixar, tomaremos cuidado.
(Os policiais entraram na viatura)
-
Bom serviço! - Kleber saudou e ainda acenou para eles, que sumiram na noite.
VW
Gol LS branco, ano 81
Foi
o único carro que eu comprei usado (o Fusca azul não conta, pois foi presente).
Adquiri do sogro de um técnico de minha seção, que depois de comprar 2 carros
zero (um para ele e outro para a mulher) decidiu que um casal de idosos só
precisava de um veículo. Apenas 4 meses de uso, motor de Brasília, 1600 a água.
Relacionado
com ele, destaco a ocorrência de uma chuva de granizo que caiu em Friburgo-RJ,
no ano de 1984. Nós ainda não tínhamos apartamento de veraneio naquela cidade,
o primeiro deles foi adquirido em 1988. Estávamos hospedados no Villa Rica
(pertencente à rede Pargos Club de férias compartilhadas), na estrada
Mury-Lumiar, km 2,5.
Repentinamente
um temporal mudou de jeitão e começaram a cair as pedras, do tamanho de bolas
de ping-pong! Cheguei a cogitar tirar o Gol do descampado e abrigá-lo sob umas
árvores, mas aquilatando o tamanho do granizo, considerei que o carro a gente
conserta, mas a cabeça... (!)
Depois,
ficou até bonito! O gelo nos paralelepípedos e cimento derreteu logo, mas o que
caiu sobre os extensos gramados permaneceu um tempo, dando impressão de neve,
tudo branquinho. As crianças adoraram, brincando naquele cenário inusitado.
Teto
e capô do Gol, frágeis, ficaram totalmente marcados. Centenas de pontinhos
afundados, apesar da tinta ter sido preservada. Cheguei a cogitar um
"martelinho de ouro", mas desisti, tal a magnitude do serviço e o
preço. Vendi-o bem mais tarde e quem comprou nem ligou para as marcas.
Fiat
Prêmio CS prata, ano 85
Foi
o único carro a álcool que comprei em toda a minha vida, para nunca mais! Tive
tanto problema de motor que até hoje não entendo porque não o vendi antes -
fiquei 4 anos com ele. Fiquei tão traumatizado que até hoje jamais coloquei
etanol em meus carros flex, que só consomem o álcool que já vem misturado à
gasolina.
O
maior sufoco que passei, no entanto, foi por uma dose de imprudência. Subindo a
serra de Friburgo, vi se aproximarem 2 carretas Scania: uma branca, com reboque
longo, comum; outra rosa, com reboque tipo tanque. Ambas vazias, estavam
desenvolvendo incrível velocidade para o tamanho.
Chegaram
finalmente atrás de mim, a branca fungando que nem doida. E eu, tenso. Na nossa
frente, um caminhão começou a morcegar. Numa curva para a direita, onde
teoricamente seria proibido ultrapassar, a Scania branca joga para a contramão
e inicia uma ultrapassagem de nós dois, em plena curva!
Meu
raciocínio foi em frações de segundo: se a carreta está fazendo isso é porque
viu ao longe que não vem ninguém. Se ela pode, eu também posso! E me joguei na
frente dela, iniciando também a arriscada ultrapassagem do caminhão. O cara
ficou puto, pois teve de dar uma meia-trava... Aquela buzina de estrada, longa
e estridente, deu o tom do ódio do motorista - e então eu me vi participando de
um filme "Encurralado"!
Falei
pra Mary: "- Se segura que eu vou voar! Esse cara NÃO pode me ultrapassar
porque vai me imprensar!" Ela quase
chorou mas não havia saída. Subi o restante da serra que nem louco, cantando
pneu e colocando a cada curva mais distância das duas carretas Scania, que
estavam também num ritmo alucinante de subida da serra.
Escapei
só Deus sabe como...
Ford
Escort LX cinza chumbo, ano 89
Foi
a única vez em que eu me acidentei de verdade. Era 14/11/1990 e eu estava
prestes a fazer mais uma viagem a Friburgo para aproveitar o feriadão da
República. Voltando da Embratel, engarrafou na descida final para a Av. Jansen
de Melo, em frente ao Batalhão da PM em Niterói.
Eis
que um ônibus fretado da Viação Real, lotado de crianças, perde o freio na rampa
e sai abalroando todos os carros que encontrou. Foram 13, entre eles o meu... Foi
quando testemunhei o que se chama "saco de gatos": 40 crianças
desesperadas tentando sair e a porta do ônibus emperrada...
O
ônibus veio pela pista do meio, abrindo seu caminho por entre as duas filas de
veículos parados na rampa. Abalroado por trás por um Monza, que veio empurrado
pelo ônibus desgovernado, pelo próprio ônibus e batendo por sua vez no carro da
frente e na amurada, meu Escort rodou 180° e acabou totalmente amassado dos 4
lados!
Chacoalhando
dentro do carro, fui jogado violentamente de encontro à porta, que não abriu
mas ficou totalmente afundada para fora com meu peso (!). Foi quando descobri
um defeito no cinto de segurança: não travou e acabei dando uma porrada com o
peito no volante, imprensando minha mão direita. Logo ela...
Quebrei
meu primeiro osso na vida (o segundo foi o mindinho do pé esquerdo, na borda de
uma cama). A fratura consolidou apenas com uma tala, o que me ferrou mais
ainda, encurtando um tendão já prejudicado por um acidente em 1968. Para
acertar teria de operar e isso eu não quis.
Só
o teto e os vidros ficaram ilesos. O chassi também empenou, mas a seguradora não
deu perda total. Por incrível que pareça, não fotografei o carro todo amassado!
A Grande Rio (hoje Barrafor em Niterói) fez o reparo, excelente diga-se de
passagem. Por via das dúvidas, vendi-o em seguida, porque fui sorteado no
consórcio da VW Parati e preferi ficar com ela (modelo 91).
Outros
Quase
fui jogado do viaduto de acesso à Ponte Rio-Niterói por um ônibus com meu Polo
Classic 1.8Mi 1998, porrei um quebra molas inesperado em Pouso Alto-MG com
minha Palio Weekend Adventure 2002, tive um Idea Adventure 2006 cuidadosamente
esfregado com Scotchbrite por um lavador ignorante... Quem sabe outro dia eu
entro em detalhes?
11 comentários:
Realmente eram tempos diferentes, em que fazíamos algumas coisas impossíveis no dia de hoje (refiro-me à segurança e grana sobrando).
Sempre gostei muito do Monza Hatch cinza escuro, e um belo dia, chegando em casa do trabalho, tive que sair para comprar sabão para a máquina de lavar louças. Peguei meu carro e fui no Centro de Niterói, onde tinha uma loja Brastemp.
Na volta vi .... um Monza Hatch cinza escuro numa loja.
- Oi, achou o sabão pra máquina ? - perguntou minha esposa quando cheguei.
- Sim, e aproveitei e comprei mais uma coisa. Vai lá na garage ver !
Isso foi em 1983.
Recebi mensagem falando em golpe econômico amanhã (dia 18), similar ao do Collor...
=8-/
Não vejo necessidade disso, comparando a situação em 1990 e hoje, mas pode acontecer algo envolvendo a classe média. Algum tipo de imposto abusivo que não atinja em absoluto o eleitor médio da Dilma, ou seja, os pobres assistidos.
Seria uma retaliação da Dilma às manifestações da elite branca, rica e encastelada.
Ué, PT privatizando a PTbras ?
Vai entender ....
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/03/1603846-petrobras-vai-por-a-venda-fatia-de-distribuidora-postos-e-termeletricas.shtml
Na foto é uma Brasilia ou um avião?
Anônimo,
Se bem entendi, é prefixo PP (papá papá) (particular - pessoa física na matricula).
O tema do post é "carro", portanto fique atento a(o) Brasilia.
he he he he
Então vamos respeitar.
Melhor assim, Anônimo.
No mistério que me intriga devo descartar a hipótese de que você é uma mulher?
Ou não tem nada a ver e mais vale um gosto do que dois vinténs como diria minha avó?
Gostaria de comentar que mulher sempre gosta de elogio. Minha esposa não é diferente, de modo que até sorriu, feliz e um tanto nostálgica. Volta e meia a gente relembra como éramos diferentes em nossa juventude, que não volta mais...
De minha parte não me importei, ou nem a teria exposto no blog. Nosso casamento vai fazer 38 anos na semana que vem, portanto não cabe mais ciúme a essa altura da vida. Nosso amor já está mais que consolidado.
Que legal!
Parabéns a ambos. Não só pelos 38 anos de convívio, mas pela compreensão.
Freddy.
Não li todo o seu relato. Fui até a chuva de granizo, mas já gosto de você pelas suas aventuras por Visconde Mauá e Friburgo, onde eu tive uma casa em Mury (eita lugarzinho lindo) até 2006 e lamento até hoje tê-la vendido. É que esse meu pessoal tem mau gosto e só curte praia. Principalmente a dona encrenca. Aliás eu costumo dizer que nasci em país errado, pois não gosto de praia, samba, pagode e outras porcarias mais. A única coisa que eu tenho de brasileiro é torcer pelo MENGÃO e meu sonho é visitar o Alaska, na época do inverno, por, pelo menos 1 mês.
Abs, a gente se vê por aqui.
Em atenção ao Adilson, parece que temos algumas coisas em comum, como gostar de frio e serra, além da sensação de ter nascido no país errado. No momento estou em Gramado-RS, apesar de que não faz tanto frio como eu gostaria, mas está melhor que no Rio ou Niterói.
Abraços
Freddy
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