Já informo que seu nome não
é uma homenagem ao deus grego, filho de Zeus e um dos doze habitantes do
Panteão, no monte Olimpo. Até poderia
ser, mas não é.
Até porque, na verdade, seu nome é Florihermes, porque seus
pais pretendiam homenagear Floriano Peixoto e Hermes da Fonseca, generais e
ex-presidentes.
Lógico que é mais conhecido pela parte inicial do nome,
simplesmente Hermes.
Conhecemo-nos, como a muitos de meus amigos, nas lides
estudantis, fora e dentro das salas de aula. Também ele foi diretor de esportes
da Federação de Estudantes Secundário de Niterói. Hoje pode parecer uma
entidade sem importância, mas na época era de extrema relevância.
Para inicio de conversa só a FESN podia vender os passes estudantis,
para que os estudantes pudessem pagar apenas 50% do preço. A partir de certo
ponto também os cinemas, para o mesmo fim de meia-entrada, só aceitavam a
carteirinha de estudante e não mais a caderneta do colégio.
Bem, foi na FESN que nos conhecemos e fui seu sucessor como
diretor de esportes. Como o post não é
exatamente a meu respeito, aproveito o ensejo (falar da FESN) para fazer
meu comercial: fui chefe de delegação e
técnico do futebol-de-salão, na competição estadual realizada em Volta
Redonda. Em 1959.
Eu prestava o
serviço militar, ainda no 3º RI, vide
(http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2015/03/refratario-sim-insubmisso-nao.html) e só consegui a licença para viajar e me ausentar em licença por três
dias porque o goleiro reserva do time era filho do subcomandante do regimento. A vida é assim mesmo. O QI é muito
importante.
Voltando ao Hermes. Ele conseguiu para mim o primeiro
emprego: chefe de contas correntes no Banco Metropolitano. Espera ai, indagarão
os mais atentos, como assim primeiro emprego já como chefe?
Explico. Ele – Hermes – era o chefe das contas correntes. Mas
estava de saco cheio porque o trabalho, mecânico, repetitivo, puramente
burocrático, ainda exigia habilidades que ele não possuía.
Ademais, já estudante de psicologia, queria fazer alguma
coisa relacionada com esta ciência.
Conversou com o comendador Clarimar Fernandes Maia, dono do banco, e disse que queria sair, mas deixaria uma pessoa de confiança em seu lugar. Bastaria um mês de treinamento, com ele, durante o aviso prévio. Dito e feito. Fui admitido.
Conversou com o comendador Clarimar Fernandes Maia, dono do banco, e disse que queria sair, mas deixaria uma pessoa de confiança em seu lugar. Bastaria um mês de treinamento, com ele, durante o aviso prévio. Dito e feito. Fui admitido.
Conta-corrente, naquela época, era muito diferente do que é
hoje. Não existia o caixa-executivo; eles limitavam-se a pagar e receber, sem
quaisquer outras atribuições.
Se você queria descontar um cheque, ia até o balcão,
entregava o cheque que era levado para o setor de contas correntes, onde era
conferida a assinatura (havia os cartões de autógrafos) e verificada a
existência de saldo. O chefe colocava um carimbo, pequeno e redondo e
rubricava.
Então o cheque ia para o “caixa” que só fazia pagar o valor.
À tarde, cabia ainda ao chefe do setor fechar as contas e
apresentar um balancete. O saldo da conta “conta corrente” do dia anterior,
acrescida dos depósitos do dia, e deduzidos os cheques que pagou e/ou os administrativos,
naquele dia, tinha que espelhar o total dos saldos de todos os clientes. Ou
seja, demonstrar quanto o banco tinha em seu poder, dos diversos clientes. E
isso era feito numa máquina contábil, eletro-mecânica horrorosa.
E mais duas curiosidades, que somente os mais idosos sabem, se é que lembram. Os bancos funcionavam aos sábados, até o meio-dia. E remuneravam o saldo da conta-corrente (não tinha a poupança nos moldes atuais), com juros de 6% ao ano.
E mais duas curiosidades, que somente os mais idosos sabem, se é que lembram. Os bancos funcionavam aos sábados, até o meio-dia. E remuneravam o saldo da conta-corrente (não tinha a poupança nos moldes atuais), com juros de 6% ao ano.
Também não aguentei muito tempo lá no banco, e uma vez mais
foi o Hermes quem me conseguiu outro emprego.
Ele já trabalhava no setor de seleção da Fiat Lux, aplicando
testes psicotécnicos. A empresa estava recrutando rapazes com nível secundário,
mesmo sem experiência, para trabalhar na
fábrica em São Gonçalo.
Foi assim que deixei o banco e fui parar na Fiat Lux, onde,
ao longo de 10 anos, fiz uma carreira até a gerência de recursos humanos, no
escritório central.
Na semana passada encontrei o Hermes na rua da Conceição.
Depois de alguns comentários sobre amigos nossos que já morreram: Vantelfo,
Castelar, Salvatore, Bazhuni, Hudson, Cacau, Sergio (Buda), muitos deles
mais novos do que nós (Hermes está
chegando aos 80), ele me disse que inda conserva o caderno no qual anotava as partidas de biriba. Durante dois anos fizemos uma dupla, disputando
inclusive competições e só perdemos três partidas ao longo deste período (mais
de 100 jogos). E sem trapaça, podem acreditar. Num jogo em que o componente sorte influi bastante.
E mesmo quando os adversários trapaceavam fazíamos pilhéria.
Não vou entregar aqui os pais, figuras respeitáveis, de amigos nossos que,
jogando em dupla roubaram descaradamente no jogo, e ainda assim perderam.
Jogando na casa de um deles, professor.
Para não parecer fanfarrice não contarei os dois episódios
nos quais tivemos que enfrentar situação de risco, mas bancamos e saímos
ilesos.
Hermes lia muito. De tudo. Aventuras de capa e espada,
histórias de detetives particulares (Shell Scott, p.e) e os clássicos. Tinha uma estante
abarrotada de livros. E por causa disso eu lia bastante nesta época.
Quando ele me recomendou e
emprestou “Chapadão do Bugre” desconfiei e achei que era uma roubada.
Afinal nunca ouvira falar de Mario Palmério. Mas peguei o livro e levei para
casa sem muito ânimo.
Quando ele me emprestou “O coronel e o lobisomem” já não
pestanejei. Ele – Hermes - realmente, tem bom gosto literário. Palmério e José Candido de Carvalho não são
autores de muitas obras comerciais, mas estes dois livros são muito bons.
Hoje já não lê tanto, prefere ver TV. Futebol (é tricolor
roxo) e noticiário. E pouco vai a cinema que era uma de suas distrações
preferidas.
Além de me emprestar, presenteou- me com vários livros. Vajam, entre muitos outros:
Além de me emprestar, presenteou- me com vários livros. Vajam, entre muitos outros:
Por meu intermédio Hermes e Castelar viraram amigos. E foram até sócios num colégio, conforme já relatei.
Hermes tem livros publicados, com contos e poesia.
Hoje, procurador aposentado da câmara de vereadores, atua na
área criminal. Defende bandidos. Ninguém é perfeito. Como disse Caetano, “de
perto ninguém é normal”.
2 comentários:
O final foi arrasador ! .... "defende bandidos".
Está aí uma situação que, do alto dos meus mais de 60 anos, não consigo entender : o que leva um advogado a defender bandidos ?
Fui ali me enforcar !
Tentando agregar ao possível debate :
http://wagnerfrancesco.jusbrasil.com.br/artigos/153027396/defender-um-cliente-nao-significa-defender-sua-conduta-criminosa
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