21 de março de 2015

Professores, profissionais injustiçados

Hoje é até arriscado ser professor, eles deveriam pleitear "adicional de periculosidade". E com o declínio da educação familiar, muitas bombas estouram nas costas dos professores.

Em todos os níveis do magistério as condições de trabalho são ruins. Faltam laboratórios para aulas práticas, pesquisas, faltam equipamentos, o salário é baixo (comparativamente com outras classes de profissionais) e ainda têm que engolir sapos de alunos mimados pelos pais, ou mal educados mesmo, ou rebeldes em causa.

E no nível superior, aturar despreparados que entram nas universidade via cotas sociais e que não conseguem acompanhar o ritmo da turma atrapalhando os colegas e degradando o ensino.

Por isso estou transcrevendo uma sentença, não de um Juiz bacana almofadinha, coxinha, de São Paulo ou Rio, mas de um magistrado do Nordeste - Eliezer Siqueira de Sousa Junior - que deu uma interpretação perfeita, judiciosa, calcada no bom senso e na avaliação criteriosa dos fatos.

Eis a sentença:


ALUNO PROCESSA PROFESSOR POR TER TOMADO CELULAR EM SALA DE AULA


juiz Eliezer Siqueira de Sousa Junior, da 1ª Vara Cível e Criminal de Tobias Barreto, no interior do Sergipe, julgou improcedente um pedido de indenização que um aluno pleiteava contra o professor que tomou seu celular em sala de aula.

De acordo com os autos, o educador tomou o celular do aluno, pois este estava ouvindo música com os fones de ouvido durante a aula.

O estudante foi representado por sua mãe, que pleiteou reparação por danos morais diante do "sentimento de impotência, revolta, além de um enorme desgaste físico e emocional".

Na negativa, o juiz afirmou que "o professor é o indivíduo vocacionado a tirar outro indivíduo das trevas da ignorância, da escuridão, para as luzes do conhecimento, dignificando-o como pessoa que pensa e existe”. O magistrado se solidarizou com o professor e disse que "ensinar era um sacerdócio e uma recompensa. Hoje, parece um carma". Eliezer Siqueira ainda considerou que o aluno descumpriu uma norma do Conselho Municipal de Educação, que impede a utilização de celular durante o horário de aula, além de desobedecer, reiteradamente, o comando do professor.

Ainda considerou que não houve abalo moral, já que o estudante não utiliza o celular para trabalhar, estudar ou qualquer outra atividade edificante.

E declarou:
"Julgar procedente esta demanda, é desferir uma bofetada na reserva moral e educacional deste país, privilegiando a alienação e a contra educação, as novelas, os realitys shows, a ostentação, o ‘bullying intelectivo', o ócio improdutivo, enfim, toda a massa intelectivamente improdutiva que vem assolando os lares do país, fazendo às vezes de educadores, ensinando falsos valores e implodindo a educação brasileira”.

Por fim, o juiz ainda faz uma homenagem ao professor.

"No país que virou as costas para a Educação e que faz apologia ao hedonismo inconsequente, através de tantos expedientes alienantes, reverencio o verdadeiro HERÓI NACIONAL, que enfrenta todas as intempéries para exercer seu ‘múnus’ com altivez de caráter e senso sacerdotal: o Professor."

Nota do editor: pessoas como a juiza federal Adverci Rates Mendes de Abreu, que mandou extraditar o Battisti assassino italiano tutelado pelo Lula, e este juiz sergipano que decidiu de forma corajosa, independente e dentro da lei em favor de um professor que por seu turno também agiu adequadamente, merecem nosso aplauso e, principalmente, respeito.

9 comentários:

Jorge Carrano disse...

Tenho muita pena dos professores. Em espacial os do primeiro e segundo graus. Não poder advertir os alunos e seque falar num tom mais enérgico.
O alunos são, com poucas exceções, mal educados e por vezes agressivos.
E sem um professor toma uma atitude punitiva, no dia seguinte pai ou mãe, que em casa não deram educação nem ensinaram boas maneiras e nem incutiram nos seus filhos a ideia de respeito aos mais idosos e aos professores, estão na escola dando “pití” e exigindo punição para o professor.
Em meu tempo de secundarista, quando os professores entrevam na sala de aula, todos nos púnhamos de pé. Era exigido um padrão de disciplina.
No primário algumas vezes fiquei retido depois do horário de aula, de castigo, tendo que escrever, em geral cem vezes, “devo ser disciplinado em aula”. Isto porque fora pego conversando com um colega.
No Liceu tinha professores muito rigorosos. Com todos os aspectos. A professora de inglês, por exemplo, nos diasd de leitura, já advertia “no book, no class”, ou seja, cada qual deveria estar com seu próprio livro, porque sentar ao lado de um colega implicaria em conversa paralela.
E quem não tinha seu livro ficava impedido de assistir a aula.

Riva disse...

Um professor poderia fazer aqui um post tipo "Ser professor no Brasil Bandido".

Jorge Carrano disse...

Rachel! Rachel, onde está você?

Anônimo disse...

Sou professora do ensino superior particular e, embora a maioria dos alunos goste de aprender, não foram poucas vezes que fui afrontada em sala de aula. Os alunos fazem chantagem: professor que será mal avaliado é aquele que quer que os alunos aprendam; professor bem avaliado é aquele que dá nota de graça e usa a aula para fazer piadinha fora de contexto; o que os alunos chamam "professor de boa". Eles chegam a ameaçar a gente de maneira direta: "não dê e nota que eu quero e faço o coordenador te colocar na rua". Outro dia, um aluno me ligou de madrugada e eu tinha deixadO o celular em casa com meu marido: meu marido foi xingado numa mensagem de texto por não ter me chamado. Aluno que se vê como cliente é o fim da educação no país.

Jorge Carrano disse...

Pois é, cara Professora. E estamos numa "pátria educadora", segundo o governo.
É bem verdade que esta mentalidade e comportamento indefensável de alguns estudantes não é culpa do governo, apenas.
Os pais, omissos ou lenientes, são os maiores responsáveis. Faltou educação em casa. E exemplo.
Eu a parabenizo e empresto minha solidariedade.
Tenho filho professor universitário (universidade pública) que convive com outras mazelas.

Anônimo disse...

Sou a professora anônima; muito obrigada por ter publicado e respondido meu comentário. Acompanharei seu blog.

Jorge Carrano disse...

Nós é que agradecemos e ficamos honrados com suas visitas virtuais.
Opine, critique, sugira, pois suas manifestações serão sempre bem acolhidas.

Patricia disse...

Hoje estou num dia bastante dificil, tentei exercer miha profissão de professora ( que faço há quase 30 anos) e por conta de pais despreparados perdi meu emprego ontem. Não se pode mudar o tom de voz com o aluno e eles exigem direitos, reparos... O "bullying", tão na moda hj, é sofrido na maior parte das vezes pelo professor...seja ele da escola pública ou particular. As instituições particulares estão preocupadas com o carne pago e as públicas não tem suporte governamental para fazer diferente. Depois de tanto trabalhar com o que amo, começo a chegar a conclusão que não vale mais a pena...quem dera mais juizes tivessem o dicernimento que este sergipano teve...

Jorge Carrano disse...

Cara Patricia,
Não consigo enxergar no que os novos conceitos contribuem para melhoria do nível educacional e formação ética/moral da juventude.

Não fui da época da palmatória, mas fiquei muitas vezes depois do horário das aulas, de castigo, escrevendo 100 vezes (ou mais): Devo ser disciplinado em aula.

Isto apenas por ter, eventualmente, conversado com o colega ao lado durante a aula. Aquele que era apanhado jogando uma bolinha de papel no colega era excluído da sala, levava uma observação na caderneta, e só ingressava no colégio no dia seguinte se o pai ou responsável tivesse aposto um ciente na observação da caderneta.

Os serem humanos eram mais bem forjados no passado. E os professores exerciam um papel importantíssimo, suplementar à educação recebida em casa.

Lamento seu desânimo, mas não há nada como um dia após o outro. Não é assim?
Boa sorte! E obrigado pela visita virtual.