Quando fiz o AVC, em 2010, a causa identificada foi
hipertensão arterial. Com efeito eu era pilhado, ligado em 220 W, despejando
adrenalina no sangue o tempo todo, com o estresse em níveis elevadíssimos.
E tudo sem controle natural ou artificial. Ou seja, comia sem
restrições em relação ao sal e as gorduras. E não tomava medicamento.
Extremamente ansioso, queria resolver todos os meus
problemas pessoais e profissionais todo dia, e ficava frustrado quando não conseguia.
Resumo da ópera: vinte e um de pressão e interrupção momentânea
do fluxo sanguíneo. Como sou um protegido dos astros, dos santos e dos orixás, sai com pequenas sequelas, regressíveis, na base da fisioterapia e vontade. Segundo o médico, chamuscou mas não queimou.
Agora vejam só a recomendação do cardiologista para o qual
fui encaminhado pelo neurologista: baixar o colesterol (com medicamento), fazer
uma dieta alimentar e me exercitar. A pressão teria que ficar, sob controle, na
faixa default de 12X8.
Pois bem. Há poucas semanas uma matéria científica, tornada
pública pela imprensa, dava conta de que para certos indivíduos, dependendo da
faixa etária, do histórico familiar, e outras variáveis menores, é tolerável
que a pressão arterial oscile em torno dos 13 ou 14, na alta.
Olha eu enquadrado na faixa de segurança, escapando do grupo
de risco. Quem sabe sem remédio.
Mas isto é confiável? Até quando?
O até quando é fundamental, posto que ao longo da minha vida
já aprendi e tive que esquecer muitas coisas. Nada, ou muita pouca coisa, tem
sido imutável.
Desde as calmarias que trouxeram Cabral ao nosso costado
marítimo, que, sabe-se agora, era um desculpa esfarrapada, passando pela célula
ser a menor porção de matéria, como afirmava meu professor Elias, de ciências
naturais, no início da década de 1950. Agora até o átomo é fissurado.
A professora de Geografia também não escapa ilesa, porquanto
me ensinava que o pico da Bandeira era o ponto mais elevado do território brasileiro.
No campo religioso aprendi e tive que desaprender, para
voltar a aprender diferente, a oração do Pai Nosso, a mais importante na minha
opinião de ateu não praticante. Era
assim, num determinado trecho: “ perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós
perdoamos aos nossos devedores”.
Juro, eu era coroinha e era assim que eu rezava. Eu e todo
mundo na igreja. Não sei exatamente a
quantas centenas de anos depois alguém resolveu mudar o texto. São Jorge foi
cassado e reabilitado. E já não é preciso confessar os pecados e guardar jejum
até o recebimento da hóstia, como quando fiz a primeira comunhão. Confessei no sábado, à tarde, e fiquei sem
comer até o domingo pela manhã, quando da comunhão.
Hoje acho uma coisa bizarra contar a um padre os pecados (?)
e receber penitência (absolvição) em troca de umas orações.
Outra coisa que aprendi e agora acho risível - e
olha que aprendi na escola, que cobrava para me ensinar - é que a face oculta
da lua é diferente da visível. Ensinavam que a face voltada para o
planeta Terra era plana e a outra, no lado oposto, era ovalada.
Isto, inclusive, foi motivo de gracejos e piadinhas maldosas,
porque um colunista social da época, escreveu em sua coluna que a Av. Atlântica
era como a lua, só tinha um lado.
O que ele pretendia passar é que apenas um lado da avenida famosa tem prédios
e numeração, pois do outro lado está o oceano.
Voltando ao mundo acadêmico, à ciência, fico matutando como
hoje estão os conceitos da lactose e da cafeína. Já foram enaltecidas e
açoitadas como substâncias nocivas e perigosas. Não sei se estão reabilitadas. Em outras palavras, o tradicional café com
leite das tardes de minha infância fizeram mal ? E minha mãe, coitada, achava
que estava cuidando de meu crescimento saudável. E estava me envenenando?
Afinal o ovo faz mal? O colesterol do ovo é perigoso para a saúde?
Hoje não sei porque não li os jornais.
E assim vamos vivendo e aprendendo. E desaprendendo
compulsoriamente em muitos casos.
6 comentários:
Gostei do sarcasmo bem humorado, de não saber sobre o colesterol porque não leu os jornais hoje. Realmente o que era bom ontem hoje já é nocivo, e a gente fica sabendo no noticiário.
Helga
Muito obrigado Helga. Aqui todos somos bem-humorados. Somos criativos, imaginativos, cultos e inteligentes. Alguns sabem até cozinhar. Em suma somos prendados. As mães da antiga diriam que somos bons partidos. (rsrsrs)
Que a ciência descubra a cada dia coisas novas, algumas delas sepultando noções antigas, eu acho razoável. Mas a "dança" das recomendações médicas...
Bem, basta ler seu texto! Ótimo!
Abraços
Freddy
Uma pergunta que já quero fazer há muito tempo, aproveito agora.
Por que as pessoas "fazem" e não "sofrem" um AVC? A medicina quer dizer que a gente é que é culpada do acidente?
Sai prá lá, ó meu!
<:o)
Freddy
Freddy,
No meu caso uso o dialeto médico. É assim que eles se referem. Observe.
Assim como utilizam o mesmo verbo (fazer) na prescrição de medicamentos.
Você vai fazer um anti-hipertensivo e um ansiolítico.
O vilão da vez é o Glúten, que se encontra no trigo e outros cereais.
Mas o blogueiro não falou da frutose e da carne vermelha que também são ora recomendadas, ora condenadas.
Helga
Postar um comentário