31 de janeiro de 2014

Na vida nada é imutável


Quando fiz o AVC, em 2010, a causa identificada foi hipertensão arterial. Com efeito eu era pilhado, ligado em 220 W, despejando adrenalina no sangue o tempo todo, com o estresse em níveis elevadíssimos.

E tudo sem controle natural ou artificial. Ou seja, comia sem restrições em relação ao sal e as gorduras. E não tomava medicamento.

Extremamente ansioso, queria resolver todos os meus problemas pessoais e profissionais todo dia, e ficava frustrado quando não conseguia.

Resumo da ópera: vinte e um de pressão e interrupção momentânea do fluxo sanguíneo. Como sou um protegido dos astros, dos santos e  dos orixás, sai com pequenas sequelas,  regressíveis,  na base da fisioterapia e vontade. Segundo o médico, chamuscou mas não queimou.

Agora vejam só a recomendação do cardiologista para o qual fui encaminhado pelo neurologista: baixar o colesterol (com medicamento), fazer uma dieta alimentar e me exercitar. A pressão teria que ficar, sob controle, na faixa default de 12X8.

Pois bem. Há poucas semanas uma matéria científica, tornada pública pela imprensa, dava conta de que para certos indivíduos, dependendo da faixa etária, do histórico familiar, e outras variáveis menores, é tolerável que a pressão arterial oscile em torno dos 13 ou 14, na alta.

Olha eu enquadrado na faixa de segurança, escapando do grupo de risco. Quem sabe sem remédio.

Mas isto é confiável? Até quando? 

O até quando é fundamental, posto que ao longo da minha vida já aprendi e tive que esquecer muitas coisas. Nada, ou muita pouca coisa, tem sido imutável.

Desde as calmarias que trouxeram Cabral ao nosso costado marítimo, que, sabe-se agora, era um desculpa esfarrapada, passando pela célula ser a menor porção de matéria, como afirmava meu professor Elias, de ciências naturais, no início da década de 1950. Agora até o átomo é fissurado.

A professora de Geografia também não escapa ilesa, porquanto me ensinava que o pico da Bandeira era o ponto mais elevado do território brasileiro.

No campo religioso aprendi e tive que desaprender, para voltar a aprender diferente, a oração do Pai Nosso, a mais importante na minha opinião  de ateu não praticante. Era assim, num determinado trecho: “ perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores”.

Juro, eu era coroinha e era assim que eu rezava. Eu e todo mundo na igreja. Não sei exatamente  a quantas centenas de anos depois alguém resolveu mudar o texto. São Jorge foi cassado e reabilitado. E já não é preciso confessar os pecados e guardar jejum até o recebimento da hóstia, como quando fiz a primeira comunhão.  Confessei no sábado, à tarde, e fiquei sem comer até o domingo pela manhã, quando da  comunhão.

Hoje acho uma coisa bizarra contar a um padre os pecados (?) e receber penitência (absolvição) em troca de umas orações.

Outra coisa que aprendi e agora acho risível - e olha que aprendi na escola, que cobrava para me ensinar -  é que a face oculta da lua é diferente  da visível. Ensinavam que a face voltada para o planeta Terra era plana e a outra, no lado oposto, era ovalada.

Isto, inclusive, foi motivo de gracejos e piadinhas maldosas, porque um colunista social da época, escreveu em sua coluna que a Av. Atlântica era como a lua, só tinha um lado.

O que ele pretendia passar  é que apenas um lado da avenida famosa tem prédios e numeração, pois do outro lado está o oceano.

Voltando ao mundo acadêmico, à ciência, fico matutando como hoje estão os conceitos da lactose e da cafeína. Já foram enaltecidas e açoitadas como substâncias nocivas e perigosas. Não sei se estão reabilitadas.  Em outras palavras, o tradicional café com leite das tardes de minha infância fizeram mal ? E minha mãe, coitada, achava que estava cuidando de meu crescimento saudável. E estava me envenenando?

Afinal o ovo faz mal? O colesterol do ovo é perigoso para  a saúde?  Hoje não sei porque não li os jornais.

E assim vamos vivendo e aprendendo. E desaprendendo compulsoriamente em muitos casos.

6 comentários:

Helga Maria disse...

Gostei do sarcasmo bem humorado, de não saber sobre o colesterol porque não leu os jornais hoje. Realmente o que era bom ontem hoje já é nocivo, e a gente fica sabendo no noticiário.
Helga

Jorge Carrano disse...

Muito obrigado Helga. Aqui todos somos bem-humorados. Somos criativos, imaginativos, cultos e inteligentes. Alguns sabem até cozinhar. Em suma somos prendados. As mães da antiga diriam que somos bons partidos. (rsrsrs)

Freddy disse...

Que a ciência descubra a cada dia coisas novas, algumas delas sepultando noções antigas, eu acho razoável. Mas a "dança" das recomendações médicas...
Bem, basta ler seu texto! Ótimo!
Abraços
Freddy

Freddy disse...

Uma pergunta que já quero fazer há muito tempo, aproveito agora.
Por que as pessoas "fazem" e não "sofrem" um AVC? A medicina quer dizer que a gente é que é culpada do acidente?
Sai prá lá, ó meu!
<:o)
Freddy

Jorge Carrano disse...

Freddy,
No meu caso uso o dialeto médico. É assim que eles se referem. Observe.
Assim como utilizam o mesmo verbo (fazer) na prescrição de medicamentos.
Você vai fazer um anti-hipertensivo e um ansiolítico.

Helga Maria disse...

O vilão da vez é o Glúten, que se encontra no trigo e outros cereais.
Mas o blogueiro não falou da frutose e da carne vermelha que também são ora recomendadas, ora condenadas.
Helga