6 de janeiro de 2014

Sentença de 1587 - Trancoso, Portugal - Arquivo Nacional da Torre do Tombo

SENTENÇA PROFERIDA EM 1587 NO PROCESSO CONTRA O PRIOR DE TRANCOSO(Autos arquivados na Torre do Tombo, armário 5, maço 7)

"Padre Francisco da Costa, prior de Trancoso, idade de sessenta e dois anos, será degredado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes distritos, pelo crime que foi arguido e que ele mesmo não contrariou.

Sendo acusado:

·         de ter dormido com vinte e nove afilhadas e tendo delas noventa e sete filhas e trinta e sete filhos;

·         de cinco irmãs teve dezoito filhas;

·         de nove comadres trinta e oito filhos e dezoito filhas;

·         de sete amas teve vinte e nove filhos e cinco filhas;

·         de duas escravas teve vinte e um filho e sete filhas;

·         dormiu com uma tia, chamada Ana da Cunha, de quem teve três filhas.

Total: duzentos e noventa e nove,

sendo duzentos e catorze do sexo feminino e oitenta e cinco do sexo masculino, tendo concebido em cinquenta e três mulheres".

Não satisfeito tal apetite, o malfadado prior, dormia ainda com um escravo adolescente de nome Joaquim Bento, que o acusou de abusar em seu vaso nefando noites seguidas quando não lá estavam as mulheres.

Acusam-lhe ainda, dois ajudantes de missa, infantes menores, que lhe foram obrigados a servir de pecados orais completos e nefandos, pelos quais se culpam em defeso de seus vasos intocados, apesar da malícia exigente do malfadado prior.

 [agora vem o inesperado:]

"El-Rei D. João II lhe perdoou a morte e o mandou pôr em liberdade aos dezessete dias do mês de Março de 1587, com o fundamento de ajudar a povoar aquela região da Beira Alta, tão despovoada ao tempo e, em proveito de sua real fazenda, o condena ao degredo em terras de Santa Cruz, para onde segue a viver na Vila da Baía de Salvador como colaborador de povoamento português. El-rei ordena ainda guardar no Real Arquivo esta sentença, devassa e mais papéis que formaram o processo".


Arquivo Nacional da Torre do Tombo

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6 comentários:

Jorge Carrano disse...

Isso explica muita coisa.

Riva disse...

O livro 1808 também é arrasador .... entende-se muitas coisas que acontecem hoje, depois de ler a pesquisa fabulosa do Laurentino em seus livros (li também 1822)...e rasga-se os livros de História que usamos na infância.

Freddy disse...

Bolas, fiquei curioso!
Quantos filhos e filhas mais teve o real colaborador na Santa Terrinha? Isso demonstra que, ao menos em Portugal, o pessoal controlava as coisas. Aqui, nenhum registro!
<:o)
Freddy

Jorge Carrano disse...

Caro Freddy,
Aqui no Brasil, nos casos de assédio sexual e principalmente estupro, se os casos forem denunciados, no processo judicial que se forma constam as vitimas.
Em alguns processos de vara de família, caso por exemplo de investigação de paternidade, fica-se sabendo o número de filhos legítimos ou adulterinos.
Enfim, não há um rigor estatístico, mas casos como este narrado certamente tomariam as manchetes e seriam contabilizadas as vítimas.

Freddy disse...

Já era assim em 1587?
Ou não houve denúncias? Ou quem sabe na viagem de navio cruzando o Atlântico, sujeito a doenças variadas, o malfadado prior adoeceu e perdeu suas... habilidades extraordinárias?
<:o)
Freddy

Freddy disse...

Legal a arquitetura do Arquivo Nacional de Torre do Tombo:
T T
<:o)
Freddy