Tive como vizinho e cliente, um português esclarecido e que fora muito bem sucedido em negócios na África.
Uma revolução ou guerra civil em Angola obrigou-o a fugir praticamente com as roupas do corpo, tendo
o cuidado de nelas ocultar algumas joias de valor, e com duas filhas menores.
E veio dar com os costados aqui no Brasil.
Se eu pretendesse, isso daria uma tese e um post. Alguém pode,
partindo de Portugal, pretender chegar ao continente africano e se afastar tanto, na busca por ventos
favoráveis, que vem parar no Brasil.
Mas igualmente alguém pode precisar, partindo da costa africana,
retornar a Portugal e pelo caminho resolve vir para o Brasil, em busca de
calmaria, exatamente o que assustou Cabral.
Enfim, aceitando o que me relatou, o patrício veio para o Brasil
porque constava que era o país do futuro, assim como a África ainda tinha muita
coisa para ser realizada.
Inclusive uma Copa do Mundo da FIFA, muito tempo depois.
Quando nossa conversa resvalou para os guetos ele enrubesceu,
não por vergonha que não tinha nem um pouco se o assunto fosse a segregação de
negros em suas próprias terras de origem.
A questão da raiva era o conceito de gueto.
Quando se aquietou, percebendo que não o acusava de coisa
alguma como colonizador, narrou-me o que verdadeiramente aconteceu e não foi
devidamente explicado e compreendido por historiadores e antropólogos.
Europeus, civilizados há anos, tendo migrado para a África
não só em busca de aventuras, senão também de riquezas e oportunidades comerciais,
a horas tantas se deram conta que era difícil, dispendiosa e pouco eficiente a ajuda humanitária que
queriam – e precisavam – dar aos trabalhadores a seus serviços nas empresas que
lá foram instalando; planejaram e organizaram os chamados guetos.
Na verdade o que inspirou os colonizadores, ou a maioria
deles, foi maximizar os serviços de água e esgoto, e, mais ainda, o atendimento
médico especialmente para as crianças que conviviam com toda sorte de doenças.
Claro que dar atendimento médico aos empregados com cada um
deles morando a longa distância da sede da firma e muito longe uns dos outros, dispersos naquela enorme área geográfica, era difícil e cansativo para os dois
ou três médicos e enfermeiras, obrigando-os a longas jornadas em estradas
poeirentas.
O mesmo se diga em relação ao encanamento de água potável.
Seria absurdamente custosa e ineficiente uma rede tão vasta de encanamentos
para atingir as casas de todos, que como já mencionado moravam em pontos
remotos e distantes entre eles mesmos.
A solução encontrada a partir de uma ideia de alguém isoladamente ou
coletiva, num brainstorming – e sobre isso não havia provas – era juntá-los
todos num mesmo local a ser urbanizado.
E com isso tornar mais fácil, menos dispendioso e mais eficaz
o serviço de abastecimento de água potável, escola e assistência médica num posto de saúde, nas
mesmas condições das desfrutadas pelo patrões/colonizadores.
Poetas e comunistas, em suma gente que não tem contato com
realidade, que acreditam em nirvanas e paraísos, vivem no mundo da lua, e enxergam em cada
situação uma exploração do homem pelo
homem, uma escravidão, uma subjugação, começou a alardear que brancos construíam
guetos na África, onde confinavam os negros, isolando-os dos arianos, cultos e
educados. E rotularam estes colonizadores de imperialistas, num sentido pejorativo.
Meu amigo Gusmão, em conversa antiga, tentou me alertar que os
colonizadores não estavam preocupados com o bem estar dos negros, seus
empregados. A postura era egoísta, interesseira.
Na verdade pretendiam tê-los mais próximos do local de trabalho
podendo explorar mais ainda suas atividades laborativas, e se ficavam menos
doentes não faltavam tanto e tinham mais vigor para executar tarefas mais
penosas, como extração de pedras preciosas e metais nobres.
Imagens: Google.
Imagens: Google.
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