2 de dezembro de 2016

Enfim, dezembro

Esperei onze meses, mas por fim chegamos ao mês que foi, por muitos anos, o meu preferido.

Para começar marcava o início das férias escolares, se não tivesse ficado em recuperação (segunda época). E começava o verão o que significava temporada de diversão fora de casa: soltar cafifa, bolas de gude, pião, peladas na Rua São Diogo (ainda de terra batida), escambida (espécie de pique), carniça, ufa!

E as brincadeiras mistas, com a participação ou iniciativa das meninas. Brincadeiras como a da passagem do anel; de roda; pera, uva ou maçã (eu gostava); chicotinho queimado e outras sobre as quais  a memória não me socorre neste momento.


O clima na família era de festa. Haveria o Natal coletivo na casa de minha avó materna, com a presença de suas seis filhas e respectivos maridos e de seu filho com a mulher. Claro também os netos.

Presentes, para dizer a verdade nem eram muitos, melhor dizendo, muito poucos. Meus filhos anos depois e principalmente meus netos, mais recentemente, ganharam muito mais.

A explicação é muito simples. Estávamos saindo da II Guerra Mundial e a vida era dura para a maioria das pessoas.

Meu pai, por exemplo, tinha dois empregos em órgãos de imprensa. Um deles à noite.

Havia, entretanto, fartura na mesa. Uma ceia comme il faut, embora portuguesa. Como minha avó era de Viseu, em Portugal, onde nasceram as minhas duas tias mais velhas, que casaram no Brasil com portugueses, era natural que a ênfase do cardápio fosse a cozinha lusitana.

Vinho de garrafão, bacalhau, rabanadas (inclusive de vinho para aos adultos), e as tradicionais castanhas. Também não faltavam todos aqueles “coquinhos” como eu chamava as nozes, as amêndoas e as avelãs. Era tudo importado. Meu tino Manuel, casado com minha tia mais velha – Arminda – era dono de armazém e comprava tudo nos atacadistas que forneciam para seu estabelecimento, que ficava no bairro do Grajaú, na Rua Borda do Mato.


O clima festivo do mês de dezembro foi mantido, e não só na minha família, até poucos anos.

De uns tempos a esta parte, em especial nos últimos dois anos, o cenário econômico sombrio, com desemprego e receio de desemprego da parte daqueles que, sortudos, ainda mantêm os seus, diminuiu a pompa e circunstância deste período de festas.

A decoração das lojas e ruas ficou bem mais pobre. Até mesmo em alguns condomínios, ou estão aproveitando as árvores e os presépios de anos anteriores, ou nem estão decorando. A competição que havia entre os prédios nem ouvi falar mais.

Para os cristãos a data comemorativa do nascimento de Cristo deveria remeter à reflexão, retiro, preces, mas qual o quê, muito pouca gente se lembra que se comemora é o nascimento do filho de Deus.

Dezembro nos reserva, no último dia, a festa de Réveillon. Muita bebida, muito foguetório, muitas flores para Iemanjá (rainha da mar) e muitos pedidos a Ogun e a Xangô. Também alguns poucos agradecimentos.


Para muitos o final de ano representa renovação de esperanças. 

Se o ano em término foi muito bom (estou falando em tese), o pedido é para que o próximo não podendo ser melhor que seja pelo menos idêntico. Se foi um ano ruim então a esperança é de que as coisas melhorarão no próximo.

Os votos e promessas de que farão exercícios físicos, deixarão o sedentarismo, abandonarão o cigarro, procurarão novo emprego não chegam ao Carnaval do ano seguinte.


A vantagem do término do ano é que o deletamos se não foi generoso e ficamos na expectativa  de que melhores dias virão.

Na minha idade não dizemos "mais um ano que se foi". Dizemos "menos um ano de vida".

Imagens Google.

4 comentários:

GUSMÃO disse...

Reitero o pedido feito ontem, em nosso encontro ocasional, que faça chegar até sua irmã os meus votos de plena e rápida recuperação.


Jorge Carrano disse...

Já o fiz, caro Gusmão. Grato, de novo.

Jorge Carrano disse...

"Vai o ano correndo manso entre noites e dias, entre nuvens e sol, e quando mal nos precatamos, chegamos ao fim e é Natal. Para incréus empedernidos, como eu sou, o caso não tem assim tanta importância.
E o cronista, que no fundo é um pobre diabo a quem as vezes falta o assunto, não resiste à conspiração sentimental da quadra, e bota a fala da circunstância."

José Saramago, em "A Bagagen do Viajante"
Companhia fdas Letras - 1996

Também ao blogueiro vez ou outra falta assunto. Mas no meu caso se falta inspiração sobram saudades.

Jorge Carrano disse...

Tsk tsk tsk tsk

Leiam esta:

http://educacao.uol.com.br/noticias/2016/12/06/pisa-441-dos-alunos-brasileiros-tem-desempenho-menor-que-o-adequado.htm