No início da década de 1970 eu acabara de aportar em São
Paulo, que era a meca dos jovens executivos (yuppies – Young Urban
Professional).
Na empresa onde estava há dez anos e que me propiciara toda
sorte de desenvolvimento e crescimento profissional, eu me considerava um pinheiro
plantado num pequeno vaso. Estaria confinado em pouco espaço e jamais seria uma
grande conífera. Imagem pobre e visão míope.
Cegueira de jovem. Anos mais tarde entendi o sentido das
palavras de Nelson Rodrigues. Meu futuro estava lá mesmo, naquela empresa que
resolvi deixar. Mas não enxerguei.
O fato é que amigos se mobilizaram e até que um deles
arranjou-me um contato em São Paulo, num banco onde havia oportunidade de
emprego para alguém com minha formação e experiência.
Fiz entrevista, agradei, fui contratado e seis meses depois
estava desempregado. O banco era o Português do Brasil, que sofreu intervenção
federal e pouco depois passou ao controle do Itaú.
A sorte é que em São Paulo, naquela época, o mercado de trabalho
borbulhava e antes mesmo de fazer as malas para retornar a Niterói, onde morava
anteriormente, apareceu outra oportunidade. E no maior grupo privado do país.
Assim fui parar no Grupo Matarazzo.
Em 1971 apareceram alguns casos de meningite na cidade de São
Paulo, e não obstante algumas ações governamentais os casos se multiplicavam e
virou uma epidemia em 1974, ápice dos casos
registrados.
A esta altura minha mulher e meus filhos já moravam comigo na
cidade. Imaginem a preocupação. Não havia vacinas em quantidade suficiente nos
postos de saúde. A coisa ficou preocupante.
Francisco Matarazzo Júnior, o segundo conde |
A par de seu prestígio pessoal e da influência no terreno da
economia e negócios, o Grupo tinha um hospital entre suas várias atividades.
Nessa época, se alguém me perguntasse quais eram as atividades
econômicas do Matarazzo, eu preferiria enumerar pelas exclusões, pelo que eles
não exploravam. Seria mais fácil e rápido. Estavam nos segmentos de papel e papelão,
têxtil, alimentício, químico, agropecuário, tinham banco e hospital. Uma
potência. Um conglomerado de respeito.
E tudo verticalizado. Se do boi só se perde o berro, do
algodão nem isso, pois ele não berra.
Fazem-se algodões diferentes, para indústria têxtil, para aplicação hospitalar/ farmacêutica, do caroço é extraído o óleo comestível e do que resta da extração, a pasta resultante, vira ração animal. Isso por exemplo.
Fazem-se algodões diferentes, para indústria têxtil, para aplicação hospitalar/ farmacêutica, do caroço é extraído o óleo comestível e do que resta da extração, a pasta resultante, vira ração animal. Isso por exemplo.
Pois bem, um detrator do Conde, destas pessoas pessimistas,
que criticam indiscriminadamente e em tudo enxergam maldade, segunda intenção,
disse que o propósito dele – Conde Matarazzo – era se preservar.
A prioridade na vacinação seria para empregados que diretamente
ou indiretamente poderiam ter contato com ele. Ele estava preocupado com ele mesmo,
não com seus colaboradores.
Fiquei matutando sobre isso até que recebi o recado de que no
dia seguinte deveria estar num determinado local para ser vacinado. Eu era gerente
de primeira linha (recursos humanos) numa das empresas do grupo.
Qual teria sido o critério adotado para vacinação?
Imagens: Google
Post relacionado: http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2016/12/as-intencoes-mal-entendidas-ou-nao.html
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3 comentários:
Empresas visam lucro. O capital empregado deve ter uma remuneração superior ao mercado de ações, visto que implica não só no risco financeiro, como também no know how e em todo o trabalho envolvido.
Os benefícios aos empregados e familiares é um bônus social, e em geral, dedutíveis de impostos.
Claro que os empresários mais antenados sabem que funcionário feliz trabalha melhor e mais, desde que não seja cooptado pelos sindicatos. Se forem, nenhum benefício ou abono irá satisfazê-lo.
No mais, é demagogia. Empresas investem, administram para ter retorno, e como ganho secundário, cria empregos e paga impostos.
Ah! Nem todos pagam impostos ou cumprem obrigações sociais para com os funcionários? Pra isso deveria haver fiscalização de agentes do governo e sindicato honestos.
Só quem teve empresa no Brasil sabe o trabalho que dá.Por si só, o empreendedor já merece louvor.
Entrei na Embratel em 1974 e mal entrara o ano de 1975 eu estava num curso longo (4 meses) na NEC em Guarulhos. A vacinação contra a meningite estava à toda em São Paulo, que era minha base para estada. Eu, vindo do Rio, não estava me ligando muito nisso mas um grande amigo meu, que também estava passando um tempo na capital, me pegou no hotel na marra e me obrigou a ir com ele a um posto de saúde. Um de seus colegas de quarto na pensão onde estava hospedado acabara de morrer e ele estava genuinamente apavorado!
E assim acabei me vacinando...
Se bem me lembro 1974 foi o pior ano. A epidemia alarmou toda a população da cidade de São Paulo. Claro, também na região metropolitana.
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