1 de dezembro de 2016

chaPECoense

Deixei baixar a emoção a um nível um pouco mais racional, para falar de dois assuntos que dominaram o noticiário nos últimos dias.

Os dois temas estão no titulo do post. A PEC que se destina a limitar gastos públicos, e o acidente doloroso com avião que transportava a delegação da Associação Chapecoense de Futebol, que na Colômbia iria disputar a primeira partida da fase final da Copa Sul-Americana.

Um grande feito para um clube com apenas 47 anos de existência, chegar às finais de uma competição internacional.

Era para encimar, como uma cereja de bolo, outro feito já bastante significativo, que foi ascender, no cenário interno, em 6 anos até  série “A” (primeira divisão do campeonato brasileiro).

Com efeito a Chapecoense tendo iniciado a caminhada pela série “D”, em 2007, num  curto espaço de tempo, até 2013, passou pelas séries “C” e “B” e chegou à elite. Chegou em 2013 e permaneceu. Outros clubes mais tradicionais e com mais poder econômico caíram de 2013 a esta parte.

Impressionante e comovente a repercussão mundial. O espirito de solidariedade de clubes e entidades, as manifestações de atletas de várias modalidades.

Muitos clubes, mundo afora, inclusive alguns dos mais importantes, além de prestarem homenagens as vítimas fazendo silêncio antes do início de treinamentos, estão oferecendo atletas para recomposição do elenco, reduzido agora a 11 jogadores.

Como tem sido amplamente divulgado clubes brasileiros e do exterior estão  oferecendo ajuda a Chapecoense, com cessão de jogadores, sem ônus para a equipe catarinense.

Outros tantos clubes estão colocando o escudo da Chapecoense em seus uniformes como homenagem. Também antes do início de algumas paridas pelos vários campeonatos nacionais, nos diferentes continentes foi obedecido o minuto de silêncio, o que, diferentemente do que ocorre no Brasil, é respeitado mesmo. O silêncio no estádio fica tumular, como vimos na Inglaterra, por exemplo.

Também entidades de outros esportes, ligas nacionais como a NBA e a NFL, colocaram nos telões de estádios o escudo da Chapecoense. E os atletas prestaram homenagens. O público, mesmo sem saber alguma coisa em relação ao clube brasileiro, também ficou consternado.

Jornais e telejornais de todo o mundo em vários idiomas e sotaques divulgaram a tragédia e também homenagearam as vítimas e seus familiares.

Uma das mais bem-humoradas e criativas foi a charge do diário argentino "Olé". Vejam abaixo: 


Muito digna e respeitável a iniciativa de jogadores e dirigentes do Atlético Nacional,  que seria o adversário da Chapecoense, sugerem que o titulo seja outorgado ao Clube de Santa Catarina. Bonito gesto. Pessoalmente acho que a Conmebol deveria proclarar as duas equipes campeãs.

O impedimento talvez seja a vaga para disputar a Taça Libertadores da América que é assegurada ao campeão da Copa Sul-Americana.
http://esporte.ig.com.br/futebol/2016-11-29/jogadores-atletico-nacional-titulo-chapecoense.html

Só não vi ainda ações concretas para amparar as famílias das vítimas, material e psicologicamente. O clube poderia fazer campanha para aumentar o quadro social e vender camisas alusivas à competição sul-americana. E com a renda dar assistência aos familiares. Imagino que nem todos estavam com situação econômica confortável.

Passando ao outro assunto sugerido no título, que é uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição), no caso a de nº 241, que trata do limite de gastos públicos, o que tenho  a dizer, repetindo a mesma coisa, até a exaustão, de forma monocórdia, é que algo tem que ser feito para impedir a ação malévola dos vândalos, mascarados ou não, que atuam nas ruas.

Não, não sou contra manifestações públicas: passeatas, comícios, ou coisas do gênero. Desde que de forma civilizada eu participo, como já participei.

Pense e responda caro amigo leitor: alguém pode, em sã consciência achar que é um equívoco limitar os gastos públicos? A resposta honesta e uníssona deveria ser NÃO.

O que poderia ser discutido é se o limite imposto deveria ser linear, atingindo todos os programas, todas as áreas sociais (saúde e educação, por exemplo) e todas as esferas da administração pública (inclusive forças armadas e judiciário).

Mas o que vimos foram os arruaceiros de sempre, os vândalos de carteirinha, invadindo e depredando prédios públicos, quebrando vidraças e incendiando veículos de particulares.


Esses bandidos, delinquentes, mascarados ou não, acabam por comprometer as ações civilizadas, as discussões acadêmicas que teriam por finalidade flexibilizar a norma proposta, em vias de votação, moldando-a de sorte a preservar este ou aquele ministério, ou, este e aquele programa social específico.

Mas esta gente truculenta, selvagem, não tem como objetivo manifestação de desagrado, de desaprovação. Eles são incitados a fazer exatamente o que fazem: destruir, quebrar, inutilizar equipamentos públicos que depois terão que ser restaurados ou substituídos a custa de nossos impostos.


Essa gentalha acha que o caminho da violência leva a algum lugar onde as pessoas serão mais felizes, com igualdade social, liberdade de expressão, e melhor distribuição de riquezas.

Eu quero tudo isto, mas o caminho é escolher com responsabilidade os homens que colocaremos no Congresso.

Aliás, para ser sincero, a necessidade de melhor seleção não é só para o legislativo; também para o judiciário. Para o executivo nem se fala.
https://pt.wikipedia.org/wiki/PEC_do_Teto_dos_Gastos_P%C3%BAblicos


Notas do autor:
1) Depois de escrito o texto, enquanto programava a publicação, li no portal globo.com que a CBF mantém uma apólice de seguro para os jogadores, e que 19 dos atletas da Chapecoense estão cobertos.
2) Outra coisa que abordei, que foi o quadro de associados, também já existe movimento positivo. O número de sócios da agremiação está aumentando, inclusive de fora da cidade de Chapecó.

Ler em:
http://globoesporte.globo.com/blogs/especial-blog/bastidores-fc/post/familias-de-jogadores-da-chape-vao-receber-indenizacao-de-seguro-da-cbf.html

http://globoesporte.globo.com/sc/futebol/times/chapecoense/noticia/2016/11/presidente-em-exercicio-revela-adesao-de-13-mil-socios-fora-de-chapeco.html

9 comentários:

Jorge Carrano disse...

Comoção assim, não lembro.
Talvez a morte do Senna, mas foi mais internamente.
Já acompanhava futebol em 1949 (já era torcedor do Vasco), mas as noticias não chegavam rapidamente. Por isso lembro do acidente com a equipe do Torino, mas sem maiores detalhes.
Os modernos sistemas de comunicação, em especial a internet, deram outra velocidade a divulgação dos acontecimentos. A informação chega viva, mercurial, aos 4 cantos do mundo, em segundos.
Ainda acho que falta um pouco de foco em relação as famílias das demais vítimas, que não os jogadores da Chapecoense.

Jorge Carrano disse...

Não assisti, mas recebi do Paulo Bouhid um e-mail no qual relata uma cobertura televisiva, diretamente da Colômbia. Eis o que ele conta:

"Bom dia, Jorge.

O canal 26 transmitiu a homenagem feita pela Colômbia, ontem à noite, no estádio onde seria disputada a partida. Mais de 40.000 pessoas vestidas de branco, portando velas, e certamente o dobro disso nas ruas ao redor do estádio.
Fala de um daqui, fala de um dali... citação nominal dos jogadores... curtas declarações (o Serra foi lá)... e o estádio em peso gritando "Viva Chape"!!

Meu amigo... rolou uma lágrima... nunca vi nada parecido feito por um país (time) estrangeiro, por outro time.

Alguém que transmitia sugeriu - e com muita propriedade - que tão logo fosse jogado o Mundial, com qqr resultado, o Atlético Nacional fosse convidado para participar de um amistoso em Santa Catarina!!

Foi comovente!!!!!!!!"

Jorge Carrano disse...

Mais uma baixa, temporária, no blog. Além do Freddy, ja anunciada aqui.
Ana Maria sofreu uma queda e fraturou a pélvis. Três meses, no minimo, de molho. Cadeira de rodas e as restrições todas de praxe para casos que tais.
Acho que quando as dores aliviarem ela arranjará uma forma de voltar aos comentários.

Com diria a Milton Leite, "que fase, hein!?"

Riva muito triste disse...

Ana, lamento muito pelo ocorrido. Te desejamos um restabelecimento total, com o máximo de qualidade e conforto.

Assisti todo o evento ontem à noite no estádio de Medellin ... chorei.
Uma impressionante demonstração de amor ao próximo.

Postei no Twitter : de hoje em diante sou FLU, serei CHAPE, e sempre terei os colombianos em meu coração.

Jorge Carrano disse...

Obrigado, Riva, por telefone transmitirei a Ana Maria os votos de pronto restabelecimento.
Não creio que ela tenha condições e motivação para vir ao Pub.

Jorge Carrano disse...

Homenagens e medidas que estão sendo planejadas:

http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/2016/12/chapecoense-sera-convidada-para-disputar-o-trofeu-ramon-de-carranza.html

http://globoesporte.globo.com/sc/futebol/times/chapecoense/noticia/2016/12/conmebol-vai-dar-titulo-da-copa-sul-americana-para-chapecoense.html

Freddy disse...

Em primeiro lugar, estimo que Ana se recupere dentro do prazo previsto sem mais desconfortos do que aqueles que terão de ser suportados. Força, Ana.

Assisti toda a cerimônia no estádio Atanásio Girardot e o mínimo que posso dizer é que foi maravilhosamente surpreendente. Cerca de 50.000 torcedores dentro do estádio e dezenas de milhares fora (falam em 100.000 pessoas!) sem ter conseguido entrar mas que se mantiveram por perto, seguindo a emoção. Os momentos de silêncio eram rigorosamente respeitados e as manifestações sinceras e calorosas.

Fala sério... A prefeitura de Medellín e o departamento (estado) de Antioquia tiveram menos de 48 horas para montar aquilo tudo, uma estrutura impecável. Não deve ter rolado propina nem "oxigênio". Conseguiram até compor um pequeno refrão que o estádio cantou, adicionalmente ao conhecido "somos todos Chape".

Tenho de admitir que passei a enxergar a Colômbia com outros olhos. Tanto em termos de organização como em solidariedade com os brasileiros. Não sabia que eles eram capazes de tal feito, ainda mais que aqui a gente se lembra é das FARC e do cartel de Medellín.

Alguém disse que o Atlético Nacional ganhou de repente 200 milhões de torcedores e creio que é verdade. Além disso, em breve deveremos ter reflexos positivos no fluxo turístico para aquele país.

Foi realmente uma cerimônia inesquecível. Chuto que brasileiros jamais teriam pensado nem feito nada parecido se fosse o contrário. Sim, aproveitaram o momento para malhar a PEC e tentar validar falcatruas.

Freddy disse...

Hmmm...
Alguém jogou essa na mesa: por que a Chapecoense contratou esse voo fretado esquisito quando a Gol teria oferecido o mesmo serviço por preço similar? Com a palavra o presidente da Chape...

Jorge Carrano disse...

Pois é, Freddy, a torcida toda aqui do blog agora é no sentido de que você e Ana Maria transponham o mais rápido possível estes contratempos que estão enfrentando.
Fé e coragem não podem faltar. E, claro, paciência ... muita paciência.