31 de outubro de 2013

Pouso no Rio Hudson : Nem milagre, nem impossível, apenas extrema precisão.




Por
Rick Carrano
(South Carolina - USA)






No dia 15 de Janeiro de 2009, um grande aviador entrou para a história. Seu nome é Chesley Burnett Sullemberger III ou “Sully” para os íntimos.

Chesley Burnett Sullemberger III 
Sully nao é mais um caso de 15 minutos de fama, ou celebridade oportunista, mas ao executar um perfeito pouso de emergência nas águas geladas do Rio Hudson, consequentemente não apenas salvou a vida de seus 150 passageiros, 4 tripulantes, sua própria, além de potencialmente incontáveis outras no solo pois voava sobre uma região densamente povoada, mas também nos deixou uma grande lição de vida.

Naquele dia o Primeiro Oficial Jeffrey Skiles, executou normalmente todo o procedimento de decolagem. Era um dia frio do inverno de N. York mas com boa visibilidade para o voo 1549 da US Airways, partindo de La Guardia (NY) com destino ao Aeroporto Internacional de Charlotte-Douglas, Carolina do Norte.


Vale também ressaltar que o triangulo Newark-La Guardia-JFK é considerado o pedaço de espaco aéreo de trafego mais intenso do mundo. Alias não é nem mesmo um triangulo pois ainda existe o Aeroporto de Teterboro, umas 7 milhas ao norte de Newark, que passa despercebido a maioria dos passageiros, por ser destinado a aviação de menor porte, mas para quem está no Controle de Trafego (ATC), ou pilotando, não importa o tamanho do pássaro, o que importa mesmo é que exista a necessária separação entre eles.



Dizem que as vezes as melhores coisas da vida acontecem com rapidez; bem, se este é o caso, ocorre que quando o Airbus A320 ainda estava a uma altidude de aproximadamente 3000 pés (~ 970 m) acima do solo, voando para seu nível determinado de cruzeiro, colidiu com uma formação de pássaros, que adentraram ambos os motores (lembro que turbina é apenas uma parte de um motor a jato), incapacitando-os de imediato.

Assim Sullemberger assumiu os controles do Airbus equipado com o sistema “Fly by Wire” e então, a partir dai e em apenas três (3) minutos tudo aquilo que poderia ter sido um “11 de Setembro involuntário” se resolveu devido a sua extrema pericia, experiência, conhecimento e autoconfiança.



Quem ouve o áudio gravado entre Sullemberger e o ATC fica mesmo embasbacado com sua calma, rapidez de decisão e gerenciamento de cabine.

• Link para o audio do ATC (Air Traffic Control):
Funciona ou funcionou mais ou menos assim: Sullemberger colocou então o A320 na sua melhor razão de planeio, e cortou os motores após o impacto dos pássaros pois, 80 a 90% da potência já tinha sido perdida, e com isso não poderia ganhar altitude e evitaria um incêndio.

Lembro que naquele momento o A320 estava com os tanques quase cheios, no inicio do voo e também que não haveria tempo hábil para gastar ou despejar o combustível como as vezes se faz quando se tem tempo e/ou se voa sobre uma área despovoada o que não era o caso.

Skiles, então executou parte da sequência do seu check-list para este tipo de emergência (não deu tempo de novo). O Controle de Trafego perguntou se Sullemberger voltaria para La Guardia a fim de providenciar a prioridade, mas olhando sua altidude rapidamente decidiu que era impossível e olhou na direção de Teterboro, enquanto já avistava o Hudson como alternativa.


Com esta pouca altitude que lhe restava, decidiu era também inviável, mas que teria velocidade e altitude suficientes sem correrem risco de um stall (perda abrupta de sustentação) a baixa altitude para voar sobre a Ponte George Washington e fazer um “ditch” (pouso de emergência na água) sem correr risco de incêndio, mas que deveria então ser executado, e foi com máxima suavidade e precisão, para evitar o possível desmembramento da aeronave e prováveis fatalidades no impacto.

Bem, como disse, o que é que se faz em 3 minutos? Tudo que foi possível falar aos passageiros foi que se preparassem para o impacto isso quando estes já se viam voando abaixo do nível dos edifícios de Manhattan, o que deve ter sido um pouco preocupante, porque não tinham como ver o que estava a frente.

Assim, após o A320 tocar a água, houve uma grande preocupação em resgatar logo os passageiros com os ferrys do Rio Hudson, da Guarda Costeira e Policia, pois alguns se jogaram na água ao invés de esperar pelo resgate sobre as asas como foram orientados.

Agora veja só: imagina que coisa mais patética seria morrer de hipotermia na água gelada após sobreviver ao que até hoje considero “ O Pouso do Seculo”.

Passado o susto, Sullemberger, hoje com 62 anos, só voa por prazer apesar de ainda ser Instrutor Chefe e Oficial de Seguranca da US Airways, e além disso viaja pelo mundo afora dando palestras não somente ao círculo da aviação onde já é considerado uma lenda viva, mas em varias Universidades e empresas.

O que é mais engraçado para mim nisso tudo é que dizem (como sempre os curiosos da imprensa não especializada) que como Sullemberger é tambem piloto de planador (glider em inglês), e que esta experiência lhe permitiu sucesso no pouso do Hudson.

Nada disso!

Ele só o fez com precisão por ser, e é,  um exímio piloto de A320 que usou a experiência de uma vida de mais de 20.000 horas de voo na emergência mais bem sucedida da história recente.

Portanto, podem confiar nos pilotos porque eles estão lá para nos proporcionar belos voos, mesmo que de vez em quando, o passageiro quase entre (literalmente) neste caso, em uma fria.

Em tempo : O Airbus A320, N106US, está hoje em exposição no Museu de Aeronáutica em Charlotte, Carolina do Norte.

Rick Carrano : Piloto Privado, Capitão, Civil Air Patrol (USAF Auxiliary), Time de Busca & Salvamento SAR, Safety Officer, Squadron 032-Greenville, Carolina do Sul.

21 comentários:

Jorge Carrano disse...

Muito oportuno o seu post, Rick, depois do terrorismo que o Riva andou fazendo aqui (rs), com duras críticas à engenharia aeronáutica, desacreditando as viagens aéreas, seu texto é um alívio. A perícia de alguns pilotos merece mesmo todos os encômios.
Além deste caso relatado, outros menos comentados, de perícia salvadora dos pilotos, chegaram aos meus ouvidos.
Cumprimento a todos por seu intermédio. Há anos conheci um comandante que entre outras coisas me abastecia de cigarros (fui fumante até 1982) americanos e camisa Lacoste (antes de chegarem ao mercado nacional).

Helga Maria disse...

Entendi muito pouco da conversa entre piloto e torre, mas realmente eles aparentavam a tranquilidade possível para quele momento. Sem pânico.Lembro de visto na TV a matéria no dia do acidente.
Helga

Jorge Carrano disse...

Pois é, Helga, e o comandante não saltou de paraquedas como teria feito o Schettino (kidding).

Anônimo disse...

Não caberia elogiar o trabalho do pessoal de solo? Estou entendendo que a ação do Controle de Tráfego Aéreo, dos Bombeiros, da Polícia e da Guarda Costeira também foram muito eficientes.

Riva disse...

Existem várias histórias na aviação de pilotos que fizeram ações espetaculares de competência, perícia, enfim, gerenciamento de cabine, evitando uma tragédia totalmente ou parcialmente.

Conheço algumas, como o caso de um Airbus sem nenhum combustível nos céus da Europa, e com isso só tinha uma chance de aterrissagem, e conseguiu. Outra também espetacular de um Jumbo cujos 4 motores apagaram devido a poeira vulcânica. Outro de um 737 (se não me engano) que perdeu parte da fuselagem em vôo. Em todos esses casos o trabalho da cabine em conjunto com a torre mais próxima foi espetacular e fundamental para o sucesso da operação de emergência.

Infelizmente aqui no Brasil não honramos nossos heróis, e temos um entre nós.

Texto da Wikipedia :
Sequestro do voo 375 foi uma ação de sequestro ocorrida no voo 375 da VASP em 29 de setembro de 1988 por Raimundo Nonato Alves da Conceição, que tinha como objetivo colidir o avião com 98 passageiros e 7 tripulantes a bordo1 contra o Palácio do Planalto em Brasília. O voo, numa aeronave Boeing 737-300, partiu de Porto Velho rumo ao Rio de Janeiro, fazendo escalas em Brasília, Goiânia e Belo Horizonte. Na fase final do voo, entre a capital mineira e o Rio de Janeiro, foi sequestrado e desviado para Brasília. O sequestro não teve êxito e a aeronave acabou pousando em segurança em Goiânia. A única vítima fatal em decorrência do sequestro foi um dos co-pilotos, Salvador Evangelista.
Fernando Murilo de Lima e Silva, o piloto que evitou a tragédia, foi homenageado em outubro de 2001 pelo Sindicato Nacional dos Aeronautas e recebeu o troféu Destaque Aeronauta por ter evitado a morte dos quase cem passageiros que estavam a bordo do Boeing 737.

Continuando meu comentário ... esse piloto, Fernando, é idolatrado fora do Brasil, é considerado um ícone entre os pilotos do planeta Terra.

Mas aqui no Brasil ......

Quanto ao post do Rick, muito bom, mas pensei que ele fosse acrescentar mais detalhes aos que detectei no livro Seconds to Disaster, ou até contrapor alguma coisa. De qualquer forma realmente temos que abradecer, e muito, e sempre (rs), ao trabalho dos pilotos.

Sds

Ricardo disse...

Obrigado a todos pelos elogios. Eu quiz lhes dar a minha visao deste evento, onde na verdade tb se me extendesse mais, acho que ficaria cansativo, afinal falamos sobre algo que foi resolvido em 3 minutos.
Quanto as equipes de emergencia e Controle de Trafego aereo, cumpriram com sua obrigacao, de maneira eficiente.
Eu nao gosto muito de comentar acidentes com fatalidades, principalmente aqueles mais graves, mas leio relatorios oficiais por motivos didaticos.
Isso porque ja como perdi amigos neste tipo de situacao, sei como especulacoes (normalmente da imprensa nao especializada e sensacionalista) sobre situacoes as quais nem mesmo as vezes a investigacao oficial pode concluir apenas estebelcer causas provaveis podem entao ofender e magoar pessoas e a memoria de pessoas envolvidas neste tipo de evento. Mas isso e' uma posicao pessoal. Nao acho que tenha nada de mau em ler ou comentar sobre estes assuntos.

Jorge Carrano disse...

O que ocorre nos aeroportos, em todo o mundo, me assusta mais do que o que ocorre no voo.
É alteração de portão de embarque, é atraso de voo, é revista, até com farejamento de cães, é tirar o sapato, são as enormes filas na imigração.
Bem, aqui no Brasil, em especial no Rio, na verdade nem aeroporto decente nós temos.
E as comissárias de bordo ou são mais chegadas a esfiha do que a quibe, ou os comissários preferem o quibe.

Ricardo disse...

Uma viagem aerea principalmente as internacionais ja' nao tem amis o glamour de ate uns 25 ou 30 anos atras.
Nao tem como retirar medidas de seguranca porque sei isso for relaxado uma nova tragedia podera' acontecer e quase ja' aconteceu, como foi o caso do terrosista da bomba no sapato.
E' bem chato eu sei mas, necessario. Quanto aos comissarios, vem de longa data que...voce sabe...
Eu ate' prefiro voar em cias brasileiras (por enquanto pelo menos) porque como nao temos terror aereo ainda, o clima e' mais light e relax.
Pra vc ter uma ideia a EL Al cia estatal Israelense nunca teve um caso de sequestro ou terrorismo. Isso porque abre e revista todas as bagagens, pertences e corpos de todos os passageiros sem excessao. Pode ser chato e causar transtorno, mas talvez por viver aqui nos EUA eu compartilhe da opiniao que estes sao outros tempos que demandam certos sacrificios de modo a resguardar a seguranca. Abracos.

Jorge Carrano disse...

Eu entendo, primo.
Mas que é chato é.

Ricardo disse...

Sem divida, chatissimo, tem que ter um saco de Papai Noel !
E' uma pena mesmo que tanto o custo da tecnologia aeronautica e o combustivel sejam hoje exorbitantes, porque eu lembro que se falava nos anos 70 que hoje em dia gastariamos 3 horas entre Miami-Rio ou Paris-NY em voos supersonicos.Velhos e bons tempos de classe e glamour.

Jorge Carrano disse...

Pois é, o Concorde era uma realidade.
Pena não emplacar.

Riva disse...

Passaria horas aqui conversando sobre aviação ... sua operação, segurança, situações de emergência, tecnologia .... simplesmente fascinante !

Para finalizar, e o milagre do irresponsável Comandante Garcez, que conseguiu pousar um 737 à noite na Amazônia, sem combustível, e não matou todo mundo a bordo ? Inacreditável tudo aquilo. Como também foi inacreditável a colisão do Legacy com o GOL, nesse imenso céu ! Impressionante isso acontecer.

Freddy disse...

Estou curioso para saber como está a situação dos Boeing 787 e fiquei sabendo que seu rival AirBus A350XWB já está voando.
Ambos me interessam e muito, porque dentre várias modernidades que interessam às companhias, tem algo que me interessa demais: pressão interna moderada, bem melhor que a dos atuais jatos.
<:o)
Freddy

Freddy disse...

Desculpem a pressa na digitação, o português ficou horroroso: interessa atrás de interessa! Como é mesmo o nome desse erro?
=8-)
Freddy

Freddy disse...

Desculpem o português horroroso por causa da pressa em digitar: ficou interessa em cima de interessa! Como é mesmo o nome desse erro?
=8-)
Freddy

Jorge Carrano disse...

Vou perder o amigo, mas não a piada.
Esse erro se chama "escassez de vocabulário" (rsrsrs).

Freddy disse...

Cara, é impressionante como a gente escreve como se estivesse falando, mas ao ler o que escreveu... Afff !!
=8-))
Freddy

Helga Maria disse...

Fique tranquilo senhor Carlos Frederico. As pessoas que seguem este blog sabem que seus textos costumam ser bem cuidados. E acho que o blogueiro fez apanas uma piada como é de seu feitio.
Helga

Freddy disse...

Obrigado, Helga, só não precisa me chamar de senhor.
rs rs
<:o)
Freddy

Jorge Carrano disse...

Acertou Helga. Foi apenas um chiste.

Riva disse...

Interessante .....

http://super.abril.com.br/tecnologia/como-cai-aviao-626365.shtml?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=twitter&utm_campaign=redesabril_super