27 de outubro de 2013

UM LIVRO ASSUSTADOR

Por
Riva



Terminei de ler um livro assustador. Sim, chama-se "SECONDS TO DISASTER" (2012), de Glenn Meade e Ray Ronan. O livro conta em detalhes algumas das principais falhas na fabricação e operação da aviação comercial, que culminam em gravíssimos acidentes, geralmente com muitas mortes.
 
Glenn é jornalista e especialista no campo dos simuladores de vôo. Ray é jornalista e capitão de Airbus A320. Suas contribuições são enormes em fóruns de segurança na aviação, e também é instrutor de tripulação.
 
Sou um fanático por aviação comercial, desde criança, e também fascinado pelas investigações das causas dos principais desastres aéreos, que na verdade contribuem imensamente para a melhoria contínua dos processos construtivos e de operação do setor.
 
Aproveito minhas viagens aos Estados Unidos para trazer livros que jamais serão publicados no Brasil. É impressionante a quantidade de livros à venda por lá sobre o tema.
 
Estou escrevendo esse post para, de forma bem resumida, passar para os leitores do Generalidades Especializadas os principais e assustadores pontos levantados pelos autores sobre o atual estágio de segurança da aviação comercial.
 
Para começar, o prefácio é escrito por Tim van Beveren, piloto , editor de publicações de aviação, e analista de segurança aérea. E ele termina seu texto dizendo :
“ Se você gostaria de manter seu entusiasmo e uma fotografia positiva da aviação, é melhor deixar de lado esse livro, agora mesmo. Mas se você quer se informar sobre o que está errado no dia a dia atual no campo da aviação, e os porques, continue a leitura cuidadosamente.”
 
Como mencionei antes, de forma resumida, os autores publicam e debatem tudo a que tiveram acesso nas informações de investigações ou em conversas com seus colegas de profissão. Eis um resumo conclusivo :
 
1
Não voem em companhias aéreas letais. Essas empresas estão proibidas de entrar na Europa e nos EUA, e a relação está à disposição no link :
2
Pilotos de várias empresas aéreas estão voando com excesso de trabalho, cansados, estressados. Nós, passageiros, não temos como saber detalhes dos nossos vôos em relação a isso.
 
 
 
3
As empresas aéreas estão cortando custos de treinamentos super importantes, em busca de melhores resultados operacionais. O recente acidente da AIR FRANCE (vôo 447), bem como o famoso desastre da COLGAN AIR (vôo 3407) nos EUA, tiveram como causa principal a, acreditem, falta de treinamento dos pilotos em situação de “stall”, que significa o momento em que o avião perde as condições de sustentação e começa a cair. Um dos autores diz que os simuladores não tem esse tipo de situação extrema nos programas para treinamento !

 
4
A tecnologia “Fly by Wire” (operação por softwares) implementada nos aviões da AIRBUS não estão contempladas na maioria dos simuladores de vôo para treinamentos. E existem muitos casos de incidentes (e até acidentes) em que a operação do software confundiu os pilotos na retomada de decisões, em momentos de alto estresse no vôo. Resultados são alarmantes.
 
O pai dessa tecnologia, Bernard Ziegler, admitiu em uma entrevista a Tim van Beveren, que uma aeronave tão automatizada como um Airbus, não está preparada ainda para todas as  eventualidades.
 
Há registros sérios de quase acidente em um vôo 44 da Lufthansa em 1º de março de 2008, outro em um vôo da Qantas com um moderníssimo Airbus A380, em 4 de novembro de 2010, sem falar na tragédia do Air France no Atlântico.

 
5
As companhias aéreas não investiram na proteção de crianças pequenas, em situação de pousos de emergência. A maioria das crianças se machuca gravemente ou vai a óbito, tendo em vista que o cinto de segurança utilizado esmaga a criança até a espinha.
 
Colocar a criança no colo nesse momento, certamente causará o impacto da cabeça do pai/mãe na cabeça da criança.
 
Pouquíssimas empresas têm o equipamento certo para crianças pequenas (CARES System), e mesmo assim, se for solicitado. Uma delas é a TAM, brasileira.

 
6
Existe um incrível e mega mercado de peças não originais, sendo aplicadas nas manutenções dos aviões em todo o planeta ! Muitos acidentes já foram comprovadamente causados por peças fora da especificação de resistência e componentes originais.
 
O mesmo acontece em função de procedimentos básicos não cumpridos e não supervisionados durante as manutenções preventivas.
 
O maior desastre em função disso ocorreu no Japão, com mais de 500 mortes na queda de um Jumbo, que perdeu a cauda em vôo !!! É impressionante a foto do Jumbo, voando sem a cauda .... antes de cair.
 
Calma, porque ainda vem o pior ..........

 
7
Se quiser se preocupar em um vôo, fique esperto a tudo nos 3 primeiros minutos de vôo, e nos 8 minutos que antecedem o pouso.
É quando ocorre a quase totalidade dos acidentes. São os famosos 11 minutos.

 
8
E aí vem uma bomba, literalmente .... em 1998, a Boeing jogou tudo para derrubar o sucesso do Airbus A320. Investiu em um projeto de construção dos Boeings 737, com processos de montagem 100% automatizados : precisão milimétrica, ausência total de ferramentas convencionais usadas até então pelos funcionários de montagem, etc, produzindo assim aviões com tolerâncias muito superiores aos da Airbus, com elevada resistência, e super leves.
 
Contudo, de acordo com os funcionários da Boeing, tudo deu errado com o protótipo.

 
 
A automação não conseguiu promover os encaixes com precisão, furos desalinhados tiveram que ser “refurados” manualmente, diferenças nas peças de até 2 polegadas (5 cm), enchimentos nas partes danificadas, etc. O mais grave, segundo os autores, é que esses enxertos e correções não foram feitos em partes sem importância do avião (se é que existem), mas foram feitas no que eles chamam de PSE´S – Primary Structural Elements !! A ponto de nos manuais de reparo dos Boeing 737 ter o seguinte alerta : A FALHA DE PSE`S RESULTA EM FALHA CATASTRÓFICA DA AERONAVE.
 
Esse processo de fabricação continuou, e só foi estancado com a chegada de uma nova gerente de compras, chamada Gigi Prewit.
 
Bem, daí para a frente aconteceu de tudo entre a BOEING , a FAA (Federal Aviation Administration), a NTSB (National Transportation Safety Board), e até os Departamentos de Defesa e de Justiça dos EUA.
 
Um 737 novo da American Airlines se espatifou na aterrissagem na Jamaica em dezembro de 2009, e nada foi comprovado em relação à montagem do avião, em sua fabricação.
 

Constataram fadiga com 8 anos de operação, em um avião projetado para voar 30 anos !



Alto funcionário da FAA, Dr. Michael Dreikorn, diz estar seriamente preocupado com uma catastrófica falha na cabine de um 737, em vôo !! Que cedo ou tarde, a estrutura de um 737 vai perder a habilidade de se manter unida ..... !!
300 desses Boeings 737, fabricados nessas condições, estão nos céus ,,,, sabe Deus onde !





9
Algumas dicas dos autores :

- não entre em aviões de companhias aéreas desclassificadas pela FAA.
- baixo custo de passagem não significa baixa segurança, mas ...... se a companhia luta para
sobreviver, com certeza significa.
- tente de qualquer maneira assentos próprios para crianças, Questione a empresa sobre isso.
- sempre que possível, não entre em um avião se o tempo estiver muito ruim, especialmente
em empresas de pequeno porte.
- evite, sempre que possível, voar em regiões onde normalmente ocorrem acidentes aéreos –
especialmente na Áfric e Rússia (sic).
- prefira assentos na “zona de sobrevivência” : corredor, e no máximo a 5 assentos de uma
saída (porta).
 
 
 
10
Tem mais ..... vai piorar ....... declaração de John Hoyte, um “Training Captain” e fundador da Aerotoxic Association : “ This is aviation´s best kept secret.” ( Este é o segredo mais bem guardado da aviação comercial).
 
De forma a ter um ambiente confortável e suficiente pressão no ar para a respiração em grandes altitudes dentro dos jatos comerciais, um suplemento de ar comprimido quente é necessário (e resfriado posteriormente). O suplemento desse tipo de ar é criado pelas próprias turbinas dos aviões, e é conhecido como “bleed air” ( não consegui a tradução correta do termo). Vejam sua definição completa em http://en.wikipedia.org/wiki/Bleed_air .
 
Esse ar é misturado internamente na aeronave com o ar que já recircula na cabine de passageiros, ou seja, no fim das contas todo o ar acaba sendo gerado pelos compressores das turbinas dos jatos.
Mas para não se contaminar com os fluidos dos motores, esse processo todo tem que ser muito bem filtrado. E aí reside o grande problema !
 
 
O desgaste desses sistemas de filtragem, aliados a uma manutenção mal feita, impedem 100% de filtragem nos gases. Em resumo : estatisticamente, segundo as autoridades governamentais do Reino Unido, mais de 50.000 passageiros têm sua saúde afetada anualmente devido a essa contaminação, que resulta numa série de sintomas e doenças graves.
 
 
Nesse capítulo, bem maior, os autores entram em detalhes assustadores, pois a solução do problema requer altíssimos investimentos dos fabricantes em novos projetos ou em retrofitagem de aviões em uso. E por isso, nada é feito ; vai-se adiando uma decisão. O novíssimo BOEING 787 já contempla um sistema de compressores separado do sistema das turbinas, para gerar esse ar comprimido sem contaminação.
 
 
Em 17 de setembro de 2010, um Boeing 757 fazia um voo de Phoenix para o Hawaii, e teve que fazer um pouso de emergência em San Francisco, pois sua cabine de passageiros estava enfumaçada !!!!
 
Esse é o resumo que consegui fazer para os leitores do blog. Espero ter levantado um assunto que, tenho certeza, não é do conhecimento de muitas pessoas que utilizam aviões para se deslocar a passeio ou a trabalho.
 
E quando for entrar em um BOEING 737, reze, mas reze muito mesmo para ele não ser um daqueles 300 fabricados daquela maneira.

17 comentários:

Freddy disse...

Eu tinha mais confiança no Boeing 373 do que em qualquer AirBus e Embraer. Agora então o melhor é ficar em terra firme!
Sim, em casa, porque as estatísticas de acidentes de carro e ônibus (nem falei de assaltos em frequência crescente) e de navio estão também assustadoras.
Permaneçam nas montanhas! Mas cuidado com as encostas!
=8-(

Jorge Carrano disse...

Nunca tive sobressaltos em viagens aéreas. Desde os tempos do Electra , um avião turboélice que operava na Ponte Aérea Rio-São Paulo.
Nunca sofri em viagens nacionais e nem internacionais. A única exceção deu-se com um Bandeirante, fabricado pela Embraer, que pertencia a TAM (na época Transportes Aéreos Marília), que atendia percursos regionais.
Trabalhava no Grupo Matarazzo, e a sede ficava em São Paulo. Todavia a sede da empresa têxtil, onde eu gerenciava a área de recursos humanos, ficava em Ribeirão Preto.
Muitas vezes fiz este percurso pela Anhanguera, de automóvel, mas algumas poucas vezes fiz de avião, no tal Bandeirante, que tinha sérios problemas de pressurização.
A titulo folclórico relembro que o serviço de bordo, neste percurso, limitava-se a uma garrafa térmica e copinhos de plásticos, que passavam de mão em mão, a partir da cabine de comando e ia assim da primeira fila até o final da aeronave.
Bem, certa feita, um destes temporais de verão, fomos apanhados em pleno voo e nos assustamos, todos, com água entrando na aeronave e escorrendo pelo estreito corredor que separava as duas fileiras de poltronas.
E a cada trovão a fuselagem estremecia toda. Foi um pequeno susto.

Jorge Carrano disse...

Caro Riva,
Estou com viagem planejada para Escócia e Irlanda, em abril/maio do próximo ano. Teu post foi broxante.(rs)
Aproveito para informar que o enxerto do texto, com a colocação do item 10, desarrumou toda a diagramação e agora pela manhã quando fui ver como estava publicado (deixei programada a publicação para 01:00h), levei um susto. Tentei consertar, mas o melhor que consegui é o que se pode ver. Sou mesmo um amador como editor de blog. Alguém poderá perguntar: só como editor de blog?(rs)

Helga Maria disse...

Não era nos Electras que havia um lounge na rabeira da cabine, onde as pessoas ficavam de frente umas para as outras?
Helga

Jorge Carrano disse...

Era sim, Helga. Vinhamos conversando e tomando um drink. Acreditem os mais jovens, na Ponte Aérea serviam lanche e drinks. Interessante que eu pedia um que agora não posso nem pensar nele : Campari. Pedia, e era atendido, com uma fatia de limão. Bons tempo. O problema do Electra era só na aterrissagem.

Freddy disse...

O novíssimo Boeing 787 Dreamliner era uma de minhas esperanças para não sofrer demais nas longas viagens. Entre outras benesses, a pressão interna emula algo em torno de 1800m, bem melhor que a de 2400m que é o padrão atual nos jatos. No entanto problemas com incêndio das baterias vêm assolando esse belíssimo avião e a Boeing ainda não deu solução definitiva e confiável.
Será que o AirBus A350XWB vai ser a solução?
Abraços
Freddy

Riva disse...

No item 9 do meu post, é a famosa foto amadora do JUMBO da Japan Airlines, ainda voando, antes do impacto nas montanhas.
Reparem que está sem o leme traseiro (cauda). Completamente descontrolado.
Para vcs terem uma idéia do que é voar sem o leme, os pilotos faziam as curvas dando mais ou menos propulsão nas turbinas de determinada asa.
Não conseguiram ......

Jorge Carrano disse...

Acho que vou aprender a cavalgar e voltar à idade média para viagens longas. Sendo perto, irei á pé mesmo (rs)

Ricardo disse...

Um post muito interessante. Como cheguei atrasado, pois no ultimo fim de semana estive meio que fora da rede, vou entao lhes enviar um post fazendo comentarios sobre oq ue o Riva escreveu, de um ponto de vista otimista. Nao vou na verdade contrapor o criticar o que foi escrito aqui porque concoro com quase tudo, mas apenas postar uma extensao do assunto. Abracos, Rick.

Jorge Carrano disse...

Ainda bem, primo. Preciso me tranquilizar.
Abraço

Freddy disse...

Voar de avião é uma sensação assustadora porque você não tem controle sobre nada e não pode pedir para saltar.
No entanto as estatísticas provam que ainda é um dos meios mais seguros de se viajar.
Dirigir um carro numa estrada pede atenção 100% do tempo pois tudo pode acontecer a qualquer momento. A cada curva da serra quando você cruza com uma carreta em sentido contrário é um alívio! Ou mesmo um carro, muitos fazendo as curvas meio desgovernados... de cara pra você (não foi, Riva?).
Ônibus... Bem, fora os assaltos, o motorista pode dormir, a manutenção pode estar defasada, um pneu pode estourar...
Em navios, temos lido relatos de frequentes panes, epidemias a bordo, navios afundando ou ficando à deriva...
Em resumo, mesmo com os perigos crescentes relatados, avião apresenta um risco menor que os demais meios de transporte, apesar de ser psicologicamente aterrador para muitos.
Abraços
Freddy

Riva disse...

Meus caros ...além de já ter lido vários livros sobre as investigações de acidentes aéreos (acabei de comprar mais 3 livros na Amazon), acho que já vi todos os programas MAYDAY que passam na SKY, super legais.

Com isso, mal ou bem, adquiri algum conhecimento do assunto, longe infelizmente do conhecimento que um piloto tem (e como tem).

Mas o que aprendi com tudo isso é que a falha humana está e sempre estará elencada como um dos principais fatores da queda de um avião. E a única coisa que pode mitigar isso é MUITO treinamento e aprendizado contínuo, e sei que isso custa muita grana para as empresas aéreas.

Fica a questão : quando essas empresas vão conscientemente, em conjunto, não medir esforços pela segurança aérea ?

Reparem que mencionei a palavra EM CONJUNTO ....sim, porque a concorrência entre elas é cruel, e infelizmente qualquer corte nos custos operacionais pode significar vendas muito maiores que as concorrentes ....

O post é bem sintético. Aqueles que puderem, comprem o livro (em inglês). Val a pena ler.

Jorge Carrano disse...

Vocês viram esta notícia? Passageiro pilota o avião e consegue pousar:

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/10/passageiro-pousa-aviao-apos-piloto-desmaiar-na-gra-bretanha.html

Freddy disse...

Lembra-me piada muito antiga, quando um comissário, frente a uma iminente tragédia porque ambos, piloto e copiloto, passam mal na cabine simultaneamente, pega o microfone e pede:

"- Por favor, quem dentre os passageiros souber jogar o Flight Simulator do Boeing 737, favor se apresentar na cabine de comando!"

Fecha o pano!
<:o)
Freddy

Jorge Carrano disse...

Acabo de lar, sobre este acidente com um 737 na Russia, hoje dia 17 de novembro:
Um Boeing 737 saiu do aeroporto de Domodedovo, em Moscou, com destino a Kazan, na república russa do Tartaristão, a 720 quilômetros ao leste do ponto de partida. Após duas tentativas de pouso frustradas, o avião perdeu altitude, bateu e seu tanque de combustível explodiu com o impacto no momento da aterrissagem.

Riva, quero morrer seu amigo!

Riva disse...

Se isso tiver sido a causa do acidente do 777, nem sei mais o que pensar antes de entrar num avião ....

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/03/agencia-alertou-que-corrosao-pode-levar-boeing-que-caiu-despedacar.html

Jorge Carrano disse...

Puxa, será que os caras nunca ouviram falar de zarcão, ou técnicamente, tetróxido de chumbo ?
É tóxico mas pelo menos você morre intoxicado e não despedaçado numa queda e avião.
Seria melhor? Sei não...