5 de outubro de 2013

Antes que eu me chame saudade


Já ressaltei a importância e o grande valor musical e literário dos poetas populares. Está em http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2011/03/poetas-populares.html

Hoje, num momento de reflexão sobre os destinos do país e o meu futuro, lembrei de um dos maiores poetas, autor de memoráveis versos, e responsável por um dos momentos de que mais me envergonho na vida.

E isto agora é uma confissão, pois acho que quando abordei o episódio, em outro momento do blog (vou pesquisar), faltei com a verdade (eufemismo para a mentira), por pura vergonha.

Deu-se que neguei ao poeta uma dose de pinga, por julgar absurdo alguém tomar cachaça as 8:00 h da manhã. Não paguei, não obstante a forma peculiar do pedido: “vai pagar a pinga do poeta?”.

Isto foi na década de 1960, não posso precisar o ano, mas foi num bar  na Rua Visconde Inhaúma, no centro do Rio de Janeiro, nas proximidades da Praça Mauá. Na época eu trabalhava na Cia. Fiat Lux, de Fósforos de Segurança, cuja sede ficava no número 134 da citada rua.

O balconista me advertiu que ele não estava começando o dia, como eu, mas sim terminando o anterior. Era um boêmio inveterado.

Volto aos dias atuais dando pistas sobre minha reflexão. Aos 73 anos de idade, minhas chances de chegar aos 146 são  tão nulas  quanto o Vasco ganhar o campeonato nacional deste ano, na série A.
Logo, estou no trecho descendente da curva, perto do "point of no return". E a cada dia mais me aproximo.

Estou, também,  encerrando minhas atividades profissionais por desilusão e cansaço. Tenho ainda deveres a cumprir, por compromissos já assumidos, mas novas empreitadas estão fora de cogitação.

Aí lembrei dos versos do Nelson Antonio da Silva, ou simplesmente Nelson Cavaquinho.

Veja a letra inspiradíssima e tristemente realista, e vejam e ouçam na voz de Beth Carvalho, utilizando o link

Também quero aqui e agora, o que seja justo e de direito.

Não precisam fazer significativos depósitos em minha minguada conta bancária (se insistirem forneço o número) ou me mandar uma caixa de Mouton Rothschild, safra 1986, bastam e-mails ou telefonemas com manifestação de carinho, apreço e amizade, ou, ainda, comentários com cumprimentos aqui mesmo no blog, pelo conjunto de minha obra como filho, pai, amigo, profissional do Direito.

Os versos são um primor, ou não? 

Quando Eu Me Chamar Saudade


Sei que amanhã
Quando eu morrer
Os meus amigos vão dizer
Que eu tinha um bom coração
Alguns até hão de chorar
E querer me homenagear
Fazendo de ouro um violão
Mas depois que o tempo passar
Sei que ninguém vai se lembrar
Que eu fui embora
Por isso é que eu penso assim
Se alguém quiser fazer por mim
Que faça agora.

Me dê as flores em vida
O carinho, a mão amiga,
Para aliviar meus ais.
Depois que eu me chamar saudade
Não preciso de vaidade
Quero preces e nada mais

 

2 comentários:

Freddy disse...

Um psicanalista talvez dissesse que você está precisando de colo. É uma expressão usual nas sessões (já fiz análise com 3 médicos diferentes, gosto muito).

A aposentadoria, no sentido de encerrar uma atividade que se faz há bastante tempo, pode ser uma decisão natural mas, para pessoas que tiveram a sorte de exercer a profissão que se alinhava com sua vocação, muitas das vezes com abnegação, pode ser traumática. Pode dar uma sensação de que não somos mais úteis, que aquilo que sabíamos fazer e pelo que nos pagavam agora não existe mais.

Como parêntesis, digo que comigo não foi assim. Já se vão mais de 7 anos e ainda estou esperando pelo tal desejo de voltar a trabalhar. Se o fizer, será por necessidade, nunca por vontade. Como é bom não fazer nada e depois descansar!

O seu caso é outro. Gosta do que faz e se ressente do momento tenebroso em que a ética e a justiça estão em xeque, justo ao fim de anos de profissão, hora em que esperava fogos e brindes pelo conjunto de sua obra. Bem, meu testemunho é curto, pois raras oportunidades fiz uso de seus serviços. Recebi profissionalismo e dedicação, o que fez nascer um grande respeito por você. Depois, nosso convívio se estreitou por vias virtuais (participação neste blog), e o respeito continua aumentando.

Espero que encare o tempo vago, que fatalmente aparecerá em sua vida, com afinco e alegria. Sempre haverá amigos, família, viagens, gastronomia, livros, música, blogs.
Quem sabe não conseguirá apreciar a expressão "feliz idade"?
Bola para a frente, grande abraço.
Freddy

Riva disse...

Não sei o que dizer ...o falecido Chorão (poeta do Charlie Brown Jr) dizia que ...cada um é cada um.

Hoje me sinto como um molho de espinafre, rumo a uma fervente panela.

Amanhã é outro dia, e como dizia Robert Plant (do Led Zeppelin),,,tomorrow never follows today.

Abração amigo.