8 de setembro de 2014

Incongruências

Você pode dirigir seu automóvel falando no celular? Não, não pode e não deve mesmo. Não se pode distrair no trânsito.

Mas porque é possível ao motorista de ônibus dirigir o veículo, com toda responsabilidade que isso envolve, e cobrar a passagem e fazer troco ao mesmo tempo?

Aqui pode.

Você não pode e não deve mesmo dirigir se ingeriu bebida alcoólica. Se for apanhado no teste do bafômetro pagará multa e perderá pontos na carteira de habilitação. Se ferir ou matar alguém sua embriaguez será agravante.

Mas e os viciados em outras drogas, injetáveis ou aspiráveis, que não são identificadas no bafômetro? E o fuminho básico? Vale a aparência do usuário?

Já não sei como andam as coisas, mas houve tempo em que era menos grave atirar no guarda florestal do que no jacaré. E olha que a população de jacarés é muito maior do que a de guardas florestais.

Não sei como vai funcionar na pratica pois ainda não vivenciei nenhum caso e tampouco tomei conhecimento de caso concreto. 

Mas se a lei assegura o direito de propriedade, como você poderá ser compelido a deixar seu apartamento se o seu comportamento for considerado, numa assembleia de condôminos, de antissocial?

Por que um menor de 16 anos de idade pode votar, escolhendo quem vai dirigir o país e elaborar nossas leis, mas não pode ser condenado à prisão por assassinato, ou tráfico de drogas?

As incoerências, as bizarrices, as contradições são difíceis de entender e digerir.

A degradação do ser humano, nossa involução, é inversamente proporcional ao desenvolvimento tecnológico. O que no passado era ato de boa educação, espontâneo, como, por exemplo, dar prioridade à gestante nos transportes públicos, ou aos mais idosos, agora é obrigação decorrente de lei.

Antigamente as crianças eram educadas para não se apropriarem do que não lhes pertencia. Nem por engano era admissível ficar com o lápis ou o brinquedinho do coleguinha na escola.

Vou confidenciar um caso verídico, acontecido na família. Meu filho mais velho apareceu em casa com um livro que não havíamos comprado. Indagado, ele titubeou na resposta. Minha mulher, no dia seguinte, levou o livro e tentou devolver à professora.

Esta não aceitou e recomendou: “a senhora manda ele mesmo devolver, ele pode me dizer que já leu e por isso está devolvendo”.

Estou absolutamente seguro de que ele jamais se apropriou de alguma coisa que não lhe pertença... desde os sete anos de idade (rsrsrs).

Eram tempos em que as mães, que não trabalhavam fora, e as professoras mais preparadas, sob o ponto de vista pedagógico, exerciam o importante papel de  EDUCAR (lato sensu).

O varredor de rua que encontra um pacote de dinheiro e procura o dono para devolver é louvado por seu comportamento. Embora ele fosse mesmo obrigado, por lei, a devolver, fazendo jus, entretanto,  a uma recompensa de 5%. Ou seja, o gesto de dignidade, civilidade, educação e bons princípios  é recompensado em espécie. Tudo capitulado nos códigos penal e civil.

As leis valem mais do que a moral e a ética. Moral e ética não têm aplicação coercitiva. Que falta fazem!

A lei assegura gratuidade aos idosos. A lei maior - Constituição Federal - deveria valer mais, não é? Mas neste caso vale mais a prática introduzida pelas empresas de coletivos como o beneplácito do poder público, que impõem ao velhinhos a tortura das máquinas biométricas, além do porte de carteira específica para tal fim.

Nenhuma organização ou comissão de direitos humanos se manifesta para acabar com esta absurda prática imposta por pessoas que não têm escrúpulos. Só ganância.

Nota do editor: Posts relacionados

http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc05/quimsoc.pdf

8 comentários:

Riva disse...

Novos tempos, novos valores, um mercado muito louco e competitivo que mexe com os mais primitivos sentimentos e instintos da raça humana, em busca de uma única coisa : sobreviver, a qualquer custo.

Gabeira comentou hoje na CBN um Brasil que a grande maioria desconhece. O retorno do cangaço. Disse que as cidades pequenas do interiorzão estão sendo saqueadas, com uma estratégia simples estilo Lampião : o bando entra na cidade e domina a delegacia local, geralmente pequena em tamanho e efetivo. Saqueiam a cidade e vão embora para a próxima.
O novo fato recente, segundo Gabeira, é que passaram a matar pessoas nesses saques, o que antes não faziam.

Niterói está ficando vazia à noite. Meus 2 filhos que por aqui a frequentam, atestam isso. O sintoma mais relevante da gravidade da situação de hoje é que os meus filhos NUNCA deram atenção à nossa preocupação com a segurança deles, quando saíam. Diziam .... não esquenta pai, tá tudo bem.
Hoje, estão preocupados, e mudando seus hábitos, para ir e vir a locais públicos à noite. Está assustador.

NY quase foi à falência num evento parecido, mas eles tinham um prefeito mega inteligente e ativo, que costurou um plano sensacional de parcerias com a Polícia, mídia, transporte urbano, empresários locais, com ajuda de especialistas israelenses e da própria população. E deu certo ....

Jorge Carrano disse...

Vamos dar o devido crédito ao homem, Riva:
Rudolph William Louis Giuliani , nasceu em Nova Iorque, é um político americano, descendente de imigrantes italianos da região da Toscana, ex-chefe do governo municipal da sua cidade natal.Tornou-se famoso por implementar uma política de "tolerância zero" contra criminosos, o que diminuiu sensivelmente as taxas de criminalidade da cidade. (wikipedia)

O segredo está na TOLERÂNCIA ZERO, além, claro, das parcerias costuradas.

Freddy disse...

A prioridade política é a cidade do Rio de Janeiro, sede das próximas Olimpíadas e foco da atenção mundial. Foi a pior coisa que poderia acontecer com as cidades vizinhas, receptáculo de bandidos por - esse é o problema - conivência das instituições que cuidam da segurança com o tráfico. Em vez de erradicá-lo (como seria de se esperar da polícia), negociam a transferência para outras praças(já que há dinheiro escuso circulando entre as partes).
Não há saída a curto prazo.
=8-(
Freddy

Jorge Carrano disse...

E você enxerga saída a médio e longo prazos?

Ana Maria disse...

Se dizem que a criminalidade é decorrente da pobreza extrema e, o governo afirma ter diminuído a miséria com a bolsa família, pergunto: porque a criminalidade tem aumentado?

Riva disse...

Na minha leitura, a criminalidade tem aumentado e vai continuar aumentando enquanto não houver um maciço programa de Educação no país, de forma a colocar as crianças nas escolas, com perspectivas futuras reais de crescimento dentro da sociedade - emprego.
Se o governo destinasse 100% dos seus recursos à educação e à saúde, e deixasse todo o resto para a iniciativa privada, talvez daqui a uns 50 anos começássemos a ver um novo Brasil.

Nosso futuro é aterrador ....

Freddy disse...

E eu me achava o Freddy Apocalíptico...

Eu acho que há uma crise de instituições. O exemplo lá de cima é o pior possível, a impunidade grassa solta e a população de baixo discernimento e alta carência perde as referências.

Não vejo saída a médio prazo. Talvez a longo prazo se começarmos a educação em massa, com horizonte mínimo de uns 20 anos pela frente para resultar algo de efetivo.
"Also sprach Brizola".
<:o)
Freddy

Jorge Carrano disse...

Agora, como dito num e-mail, restam duas classes no Brasil, que aguardam os próximos acontecimentos: as armadas e as alarmadas...